25 dezembro 2010

Dia de Natal 2010

Ad veni !
Cheguei ! Não certamente com os "graciosos " pés do mensageiro da paz, a atravessar montanhas, de que nos fala Isaías, mas como o Senhor permitiu que eu fizesse esta travessia-
Mais cansada, mais esforçada, mais carente... Apenas creio que mais confiante, Não nos Homens .
A eles devo o cansaço, o esforço sempre desproporcionado quanto à sua eficácia...
No entanto, se cada dia mais confiante, foi na misericórdia divina.
No entanto também, começando a "sentir" com maior definição este NATAL de um Deus para nós, carinhoso e exigente ... Oh! Quanto!
Quão revigorante !

19 dezembro 2010

Presépio antigo

Almofadinha de veludo.
É vermelha.
Barrinha de galões de ouro
e pingos,
lantejoulas
quais estrelas
a brilhar.
Medirá uns centímetros quadrados.
E eu,
toda gestos delicados,
fiz dela a base de um sonho,
um esplendoroso lugar...
Onde
um Menino Jesus
há anos abençoado,
parece nascer ali...
Sem manjedoura ,sem nada...
(que me perdoe MARIA,
que se não zangue José)
mas ESTE
da almofadinha
é todo
por mim criado...
Metáfora simplesinha
do calor da minha fé.

14 dezembro 2010

Os meus nevoeiros


Como, do amargo por dentro

sai ainda

e voa,

com0 pena de ave

a diluir-se

no esfumado que baixa

sobre as ruas

e as esquinas

de madrugadas

leves, tão leves,

ainda nuas ?...


Como, o amargo por dentro

neste aquário sem ruído.

só cinzento ?

11 dezembro 2010

Os meninos

Hoje vieram os meninos e meninas da minha paróquia ,com algumas mamãs e algumas das suas catequistas, uma das quais trouxe a sua viola e todos juntos cantaram para mim cançõesinhas de natal,daquelas que todos sabemos cantar... Foi uma festa, uma chilreada nos velhos ramos secos da minha solidão ! E um deles trazia triunfante uma caixa com um enorme pão-de-ló !O serviço meteorológico arranjou qualquer feitiço e, depois de todos os negrões dos dias até ontem, a manhã de hoje esplendia de sol. Que linda, que linda toda esta alegria ! ! !
Cantámos, falámos, rimos e, como desejavam as jovens mais velhas, contei-lhes de mim coisas que os meninos podiam entender, e mostrei porque tinha a esperá-los um presépio ainda sem o Menino Jesus, umas "grandes" páginas de "grandes" livros com "grandes "fotos dos principais presépios monumentais de Igrejas portuguesas, e ainda o grupo de velas acesas do Advento...Tudo,tudo que aqueles maravilhosos olhinhos pareciam querer registar, guardar...
Não houve muitos porquês? e para quês? , mas eles também já sabem muito, entendem tudo, na maturidade dos seus dez/onze anos. Percebi-o eu na envolvência dos beijinhos e dos braços em redor do meu pescoço, nas despedidas, nos Natal feliz! nos até pró Ano ! e nos imensos muito obrigada...quando era o meu coração que estava a dizer-lhes em silêncio isso tudo .
Vão chegar os tradicionais encontros de Natal, com jantares ou ceias a servirem de pontes de ligação entre pessoas que mais ou menos crêem amar-se muito, pouco ou só um pouco...
Nada disso terá a carga de pureza, de frescura, desta visita que recebi hoje. E aqui nasceu o meu
Natal, do qual social e sentimentalmente esperava quase nada...

07 dezembro 2010

Descobre-te...

Da minha procura de temas para meditação neste Advento resultou que fui reencontrar os antigos dossiers , apontamentos e pequenas notas que compilei em alguns dos cursos e retiros que consegui frequentar e realizar há bem mais de vinte anos.Quanta coisa útil ! Quanto de mim por ali se formou, a partir de quanto se informou!
Não resisto à sedução deste pequeno texto que me aparece isolado e anónimo no meio desse meu thesaurus e aqui o registo como tema de abundantes sugestões para o dia de hoje.
Descobre-te no Evangelho :
És João Baptista quando fores capaz de fazer o deserto em ti e viveres para os outros
És a mulher adúltera quando no chão da tua miséria conseguires ver Deus escrever misericórdia
És Cireneu quando fizeres tua a cruz dos outros
És publicano quando fechando os olhos para o "fora", te vires melhor por dentro
És Nicodemus quando fores capaz de morrer todas as tardes para poderes "renascer" todas as manhãs
És a Samaritana quando nem a água, nem o poço, nem o cântaro te importarem porque só é importante ter essa sede
És o cego quando não chamares desgraçado a alguém só porque não tem olhos, porque percebas que desgraça é não ter "aquela" LUZ.

05 dezembro 2010

Advento - João Baptista


Raça de víboras ... Preparai o caminho do Senhor,endireitai as suas veredas ! ( São Mateus 3,1-12)

30 novembro 2010

Fernando Pessoa

T0da a alma digna de si própria deseja viver a vida em Extremo.Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. Pedir mais é próprio das crianças. Conquistar mais é próprio dos loucos...( Desassossego)
Se hoje a comunicação social toda não tivesse vindo lembrar-nos Pessoa no dia da sua morte, talvez eu não me tivesse demorado particularmente a recordá-lo, porque ,avessa a datas e para mais obituárias, estaria a pensar em coisas muito mais próximas de mim, agora.
Mas, dos meus amores com Pessoa, todos aos altos e baixos, uma coisa sempre me suscitou piedade ( o que ele decerto abominaria):que as suas últimas palavras tivessem sido,primeiro de insegurança e logo seguidamente de pedir os seus óculos...A crermos n a permanência da sua capacidade de raciocinar até ao último momento e conhecendo o seu pensamento que citei, teria ele partido para uma louca conquista que vislumbrava mal naquele transe do seu caminho ?...
Que podemos nós saber dISSO ?

28 novembro 2010

Advento 2010

Vigiai... ...esiai preparados porque à hora em que men0s pensais é que vem o Filho do Homem !
Ponhamos de parte as obras das trevas e passemos a usar as armas da luz !
Vinde pois ! Subamos ao monte do Senhor... que Ele nos ensine os Seus caminhos e nós sigamos pelas Suas veredas.... ...Nem mais se há-de aprender a fazer guerra-
Com que sedutores conselhos estamos a iniciar hoje um novo ano litúrgico, respectivamente pela mão de Jesus( SãoMateus,24, 37-44), São Paulo e Isaías ! Estamos a entrar de novo numa época de expectativa , de um renovar de esperanças, que só a grande força da nossa Fé pode sustentar. Sempre. E agora que, nesta nesga de Terra a que chamamos "nossa", quase desaprendemos quais os caminhos, quais as veredas que nos conduzam para o mais alto, o menos rasteiro com as lamas das virtudes esquecidas, precisamos tanto das "armas da luz" de que fala São Paulo ! Que o Senhor Deus nos ajude a vigiar neste Advento, mais,muito mais do que temos sido capazes de o fazer até agora ! Subiremos ao monte do Senhor com Isaías ?

25 novembro 2010

Thanksgiving day

Creio que foi o presidente Lincoln que, ainda durando a guerra civil americana , decidiu criar este dia votado ao agradecimento a Deus. Do que tenho lido, deduzo que há muitas hipóteses sobre a data de origem desta vontade de agradecer, tanto no que à cidade ou região se refere, como no que na verdade se agradece, mas o certo, certo ,é que na base sempre aparece a ligação à Terra, às colheitas, aos bons resultados de um ano de trabalho. Surgiram as refeições festivas com a família reunida na mesma alegria e lá apareceu o belo perú que foi alimentado dos produtos da terra e que, naturalmente grande, fazia o "prato forte" da festa...E para os americanos , canadianos e até por ligaçóes que desconheço, para os holandeses, nunca mais deixou de se ligar o mais belo perú da quinta á alegria gourmet destas celebrações de perto de um final de.ano maisou menos feliz e bem sucedido.
Por tudo isto, foi com um enorme sorriso e com um verdadeiro encantamento que vi hoje,num noticiário televisivo, um lindíssimo exemplar de perú deslumbrantemente branco e de penas entufadas como uma borla de pó de arroz dos velhos tempos, ser oferecido ao presidente Obhama e ser por ele aceite em cerimónia pública e com direito a um pequeno discurso brincalhão...
Hoje sou eu que faço aqui no meu canto o meu pequeno thanksgiving por ainda haver neste mundo corroído de pesados sentimentos, intrincadamente mal-pensantes, um presidente que aceita entrar publicamente numa das mais inocentes e significativas brincadeiras que ajudam a alegrar e congregar o "seu" povo,,,

21 novembro 2010

« Viver todos os dias cansa »

Um jovem escritor de nome Pedro Paixão tem um seu livro a que deu o título Viver todos os dias cansa e , desde que o li, não saberei dizer quantas vezes me encontro a pensar ou a dizer para mim mesma essa frase, assim à maneira de suspiro fundo,daqueles que nos ajudam a aliviar da demasiada pressão que a vida exerce sobre nós em tantas ocasiões !
E,se aqui estou agora mesmo a"suspirar", é porque, não tendo nenhumas obrigações de rua nos últimos dois dias e tendo alunos meus que sujeitar-se a tolerâncias de ponto dos professores de mistura com cortes de transportes a horas chamadas úteis para eles, fiquei eu serenamente livre para poder encharcar-me da televisão que bisbilhotou para mim em cima do acontecimento toda a insistentemente "badalada" Cimeira Nato em Lisboa. Para quê adoptar aquela atitude blasée dos que dizem« o quê ? ver isso? Nem pensar...» impantes da sua superioridade à vulgaridade de se interessarem,1-pela televisão em si mesma, 2- pela ideologia política que de todo o conjunto irradia...? Claro que vi,ouvi, tornei a ver, tornei a ouvir, tanto quanto me deram e por vezes ainda quanto procurei, para comparar pontos de vista dos relatores. Não vem aqui ao teor deste meu blog falar, de minha justiça, sobre a Nato, organização dentro da qual aliás já estive credenciada durante o desempenho das minhas funções profissionais, por alguns anos.Do que sim quero falar é do que chegou até aos nossos écrans de coordenação de acções diversificadíssimas, de horários cumpridos,de trabalho na sombra, nos bastidores, de presenças onde devia havê-las, bem como de ausências onde assim devia ser. Ver a "vera efígie" dos homens da grande política já não nos surpreende, mas vê-los sorrir ou carregar o sobrolho dá-nos muita informação sobre muita coisa, surpreender um pequeno esgar, um subreptício gesto,quando não sentem o peso das cameras, isso sim pode ser interessante.Então, ao fim de dois dias dessa concentração em muitas coisas e todas intrinsecamente diferentes, a par com a obrigatória gestão doméstica nem sempre fácil ou leve, lá me brotou da alma a frase do Pedro Paixão... E o que costuma acontecer-me quando os dias são assim carregados de um viver que me cansa, é deixar para trás, como o barco atira carga ao mar se quer vencer mais algumas ondas tempestuosas, deixar para trás coisas até bonitas de contar...Coisas que arrecado para um dia...
Hoje porém, sendo domingo e dia de CRISTO-REI,último domingo deste Ano C, que nos proporcionou tão edificantes Leituras, especialmente de São Lucas , meu evangelista preferido, não posso deixar para trás toda a carga que me traz ( e o que me cansa,Senhor, pensar nessa carga !) aquela frase do Pai-Nosso : venha a nós o Vosso Reino...

14 novembro 2010

33º domingo

Hoje é o penúltimo domingo do ano litúrgico que correspondeu ao ano civil de 2010.
Ainda não tive disponibilidade para olhar para trás e fazer o levantamento das coisas boas e positivas deste ano que finda, na sua multiplicidade de aspectos. E, quando digo disponibilidade quero talvez dizer também imparcialidade, objectividade, porque, se nunca consigo deixar de ver, entender, sentir e escolher com as características muito minhas, muito pessoais, só me separarei da subjectividade a poder de algum esforço cívico que advem de aprendizagens várias e isso é um exercício que exige tempo, muito e quase asséptico tempo.
O que sei é que, ao ler o Evangelho deste domingo( São Lucas,21,5-19 ) me não pude furtar a perguntar-me se esta fala de Jesus seria só premonitória...«Quando ouvirdes falar em guerras e tumultos não fiqueis aterrados: assim tem de acontecer primeiro, mas não será logo o fim.
Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e em diversos lugares, fomes e epidemias. Haverá coisas pavorosas e do céu virão grandes sinais...
E tereis ocasião de dar testemunho...»
Que testemunho daremos? Dizia São Paulo aos tessalonicenses que trabalhassem e não vivessem na ociosidade, sem fazerem trabalho nenhum mas ocupados em actividades inúteis e que se alguém não quisesse trabalhar, não deveria comer de graça o pão de ninguém.
O nosso tempo é pois um cúmulo de situações que têm origem em situações e hipóteses com mais de dois mil anos. Acabaremos assim mais um ano sem termos melhorado nada. «Pela nossa constância é que havemos de salvar as nossas almas »,dizia Jesus há dois mil anos. Será que,com tais práticas de vida neste mundo envolvente, conseguiremos, pelo menos, salvar a nossa constância ?

09 novembro 2010

Neste São Martinho(dia 11)

Entrou Outubro e saiu sem me ter permitido aqueles arrobos de voluptuosidade a que por muitos anos me habituou. Anda nas bocas do mundo aquela espécie de refrão-conclusão das meditações sobre os temas mais díspares da nossa actualidade ... isto já não é o que era... Pois não ! Nem mesmo a entrada do Outono. Tivemos um Outubro às vezes doce, ás vezes chuvoso e frio, sem alternâncias previsíveis, e sem aquela doçura de temperatura, brisas e aromas a que nos habituara quando era o que era... E começámos Novembro com os esplendores de um Verão de São Martinho precoce que, tendo deslisado inesperadamente para invernias já até de neves na Serra, nos leva a pensar ,que não virá a ser possivel recordar no dia 11 aquela amenidade que permitiu o longo cortejo fúnebre que acompanhou Martinho, Bispo de Tours, à sua última morada, já sendo rigorosa lá a invernia e acontecendo um tal súbito verão que até desabrocharam rosas nos jardins que o cortejo foi bordejando...Antes o frio nos faz pensar na partilha da capa do vigoroso militar Martinho com o pobre quase nu encontrado na estrada.
É nesta volta do caminho que o nosso pensamento deriva para quantos milagres de bondade, de piedade até, nos seriam bem-vindos, homens e mulheres deste nosso país tão sofredor agora !Por muito que nos queiramos alegrar com a repetição dos provérbios relativos à época que em qualquer país falam do porco, das castanhas e do vinho, tudo são hinos a uma abundância que a nossa realidade actual não consegue entoar...Deles só se aproveita o anúncio do frio que está na hora de chegar. É por causa de tantas incertezas e incumprimentos meteorológicos que eu, « bicho da terra, tão pequeno » me tenho encontrado, não direi insegura, mas como que flutuante ao sabor do quotidiano e dos momentos, tão sem espaço para aquelas meditações longas que ajudam a nivelar os desgostos e as alegrias e a ir guardando-os todos dentro do nosso coração como nos ensinou Nossa Senhora, nas suas secretíssimas tribulações por causa de ter um Filho chamado Jesus. É um aprendizado doloroso. Mas não deixei de rir quando todos esperavam que risse e de chorar quando eu própria não podia impedir-me de o fazer.
E aqui estou acompanhando o meu mundo não desistindo nunca de acertar pelo dele o meu calendário sentimental...

02 novembro 2010

2 de Novembro




" As datas ! As datas e a sua pressão sobre a nossa memória...sobre as nossas recordações ! E a nossa subserviência... Porquê ainda ?
Afectos, gratidões, afinidades, encontros e desencontros, dias felizes, dias sofridos, perdas, achados ...e o amor, os amores ... saudade sempre ! ! !
E foi o 31 de Outubro , e foi o 1 de Novembro, e é o 2 de Novembro... Cada um, sua borbulhante preia-mar a esparzir-se sobre a secura de tantos, tantos, areais que se julgam desertos...
Reza-se, claro. Que seria de nós sem aquela certeza de que algures... ... Um dia... ou hoje, hoje mesmo , a nossa recordação encontra eco onde talvez «memória desta vida se consente »...
Com uma enorme braçada de crisântemos vamos sem bem saber a quais, aonde, porque as lágrimas que procuramos reter nos não deixam ver bem. preferenciar caminhos...

01 novembro 2010

Dia de Todos-os-Santos

Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
_O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
o que não invocou o seu nome em vão.

Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu salvador.

Esta é a geração dos que O procuram.
Salmo 23




Todos Santos? todos mesmo, os que ouviram Jesus ,na sua voz pausada e cativante, lá no alto da montanha, dizer-nos como seremos felizes e como de nós será o Reino dos Céus... Como serão bem-aventurados todos os que souberem multiplicar pelos séculos dos séculos as práticas ali recomendadas... (São Mateus,5, 1-12)

31 outubro 2010

31 de Outubro

Como braçadas de flores vivazes,
As Memórias e a Saudade, sempre.

30 outubro 2010

dia de anos

Dizia João de Deus :com que então caiu na asneira de fazer ........anos Que tolo ! Ainda se os desfizesse !...Mas fazê-los não parece de quem tem muito miolo...
Na verdade é mesmo leviandade, falta de senso talvez, marcar o dia de aniversário de uma forma diferente da de qualquer outro dia da nossa vida.porque, se celebramos o que já vivemos, isso não deixa de ser dar mais um passo em frente no encurtar da vida que ainda temos para viver. Mas não pensamos no que desconhecemos e preferimos celebrar o conhecido.
E assim, lá passei eu o dia dos vasos e ramos de flores qual deles o mais carregado de simbologias mais ou menos explícitas;das mensagens tão simpáticas de pessoas que só aparecem nestas ocasiões para nos dizerem que continuam a gostar de nós e das memórias do que há muito tivéramos em comum; dos convites mais aliciantes com que tantas vezes sonhamos para dias que não são coisa nenhuma de especial; das visitas absolutamente inesperadas e surpreendentes... Enfim um dia de anos próprio de uma senhora da minha idade. Jã não há chocolates, bolos e caramelos, mas há pacotes de chá de boas marcas; não há colares,écharpes ou malas da última moda, mas há chailes fofinhos e sapatinhos de dormir em lás suaves... O que felizmente é de sempre, são os livros, ultimamente substituidos ou acompanhados por aquilo a que já não se usa chamar discos mas apenas DVDs.E tudo isto faz parte da "festa da Vida" junto com as notícias alegres de bébés que vêm a caminho, de sobrinhas que se tornam MESTRES-cientistas, com altas classificações, de livros meus que acabam de sair do prelo, de amigas artistas com uma exposição pronta a apresentar daqui a dias...
Quando o poeta troça e nos leva a troçar dos nossos aniversários em soma de anos, terá pensado na enorme Graça que Deus nos concede em "vivê-los ?

25 outubro 2010

25 de Outubro


Quando eu era aluna, não me lembro de que grau de ensino, mas creio que de todos, neste dia era feriado municipal... Foi mesmo definitivamente libertada da posse mourisca esta Lisboa que eu amo...
Lisboa menina e moça, Lisboa...
E mesmo que faça frio... e os barcos fiquem no rio, parados,sem navegar, passa por mim no Rossio e leva-lhe o meu olhar...
Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa...
Quero cantar-lhe todos estes poemas de poetas cantados e, como eu, "encantados" neste feitiço de amar Lisboa. Porque, para mim, hoje continua sempre sendo o seu dia de anos !

24 outubro 2010

...do humilde publicano

Do Livro de Ben-Sirá,hoje :a oração do humilde atravessa as nuvens... ...e ele não desiste até que o Altíssimo intervenha para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça. Assim ,o publicano da parábola que o próprio Jesus conta,que, quase escondido no seu canto, não foi vangloriar-se como fazia o fariseu, achando-se o mais perfeito cristão dos filhos de Deus (segundo o Evangelho de São Lucas 18,9-14) O Senhor é juiz .e atende a prece do oprimido que se reconhece pecador.
Posso esperar, pois, que as minhas orações atravessem as nuvens... Talvez por isso eu me sinta tão reconfortada quando elas vêm aconchegar o meu céu...

12 outubro 2010

Nel mezzo del camin

Nel mezzo del camin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvggia e aspera e forte
che nel pensier rinova la paura !
Tant'é amara che poco è più morte;
ma per trattar del bien ch'i vi trovai,
diró de l'altre cose ch'i v'ho scorte.
Io non so ben ridir com'i v'intrai,
tant'era pien di sonno a quel punto
che la verace via abbandonai.
Assim se "entra" no INFERNO de Dante. Quem esperaria, nesta nossa selva selvaggia , que fosse escolhida a DIVINA COMÉDIA como leitura recomendada a alunos do Secundário ? E que eles gostassem ? Naturalmente que transmitir a raparigas e rapazes actuais esta tão especial atmosfera que, nos dias deles, nos dias de hoje, me apetece chamar de "virtual", é francamente motivador e por isso me sinto "de parabéns" e estou a dá-los a quem teve esta ideia que bem melhor é do que a de trazer até eles algumas más traduções de modernos autores de romanceadas vivências que pouco ou nada têm a ver com a nossa europeia tradição greco-latina. Por mil e uma razões, é bom que não abandonemos la verace via...

08 outubro 2010

Recomeço

Este meu Outubro cuja chegada representa sempre para mim aquilo que para quase toda a gente representa a Primavera, lá veio com o seu bornal de inigualáveis dias doirados, mansos e pacificantes ,alternando com aqueles primeiros cinzentos, entre pretos e pardos, dos primeiros chuveiros ou trovões destemperados que obrigam as pessoas a correrem aos roupeiros a retirar capas e chapéus impermeáveis que lá descansavam havia alguns meses,meses demais, em minha opinião.
O que não há dúvida é que este cariz de recomeço existe e me aguça o apetite de fazer coisas novas, de limpar gavetas, de deitar fora coisas estafadas tornadas inúteis agora, e de renovar (em casa, nas roupas, em algumas rotinas )... E subitamente, no meio desta ambiência, nasce uma criança ! ! ! É ou não é para ser tomada como a personificação de todos os renovos ? Uma menina, sobrinha bisneta, que me anunciam linda como uma flor, pois nasceu gordinha, quase sem esforço, e por isso sem aquelas ruguinhas e vermelhidões que trazem os bébés cujo parto não foi fácil... E depois de digerida com alguma comoção esta novidade, soltam-se no meu peito as cordas que tangem os tons felizes, obscurecendo tanta sonoridade depressiva que me andava a ensurdecer, mesmo apesar das pretendidas alegrias das comemorações republicanas... O meu jovem gatinho fez ingénuas tolices que me fizeram rir, a atribuição do Nobel ao Vargas LLosa deu por mim uma enorme mão-cheia de créditos àqueles senhores suecos, uma visita de pura amizade, tão inesperada quanto carinhosa, deixou-me o coração maior... E até uma aula sobre poesia trovadoresca, de que nunca fui muito apreciadora, me fez sentir realizada como poucas vezes...
Parece haver de facto razões ainda para um renascer da ESPERANÇA ,neste "meu" outono. É -me concedido pela FÉ. Nada mais o poderia explicar...

02 outubro 2010

Uma sexta feira para recordar

O dia de ontem foi um desses dias que acontecem às vezes e aos quais podemos chamar memoráveis. Não por uma valia grandiosa no nosso registo de memórias, mas por razões a oscilar entre o sentimental e a doce capacidade suavizadora do preciso momento em que se deixou viver,saborear...
Espantosamente o ontem marcava 25 anos sobre o início da actividade em Portugal de uma Organização humanitária internacional à qual me vira ligada logo nas suas primeiras horas de vida portuguesa. Sempre foi de poucos aparatos , o que muito me agradou, mas ,por isso mesmo talvez, não se terá tornado conhecida. Quem ouviu falar nas SOROPTIMISTAS ?
Para quem as ignorava até hoje direi que é uma Organização internacional de MULHERES profissionais e de negócios, voluntárias no trabalho de melhorar a VIDA DAS MULHERES NO MUNDO. O nome da organização foi escolhido por permitir a ligação das palavras soror e optimiste, sendo que a este adjectivo não se pretende tomá-lo como atitude, mas como promotor de uma OPTIMIZAÇÃO.
Das relações que fomos estabelecendo ao longo da vida e que eu costumo dizer que vamos deixando para trás neste caminho que fazemos caminhando, não porque tivéssemos decidido deixá-las, mas porque nos foram escorrendo entre as horas, os dias e os anos como areia entre os nossos dedos, nessas relações tinham há muito caído para mim as Soroptimistes. E eis que agora me aparece sua Presidente uma querida amiga bem mais nova, empenhada numa bela celebração dos 25 anos ! Com a sua natureza internaciomal e com a seriedade e perfeccionismo desta sua actual presidente portuguesa, rapidamente se tornou óbvio que esta celebração tomaria a forma e o cariz de um congresso, "congregador" de todas e todos os internacionais Soroptimistes. E então aí nascem quatro ou cinco dias de acontecimentos, festivos uns, de estudo outros, de apuramentos ,constatações e resoluções,ainda outros. A minha amiga presidente soube rodear-se de uma boa equipa de trabalho e prepararam um excelente programa em que as tipicidades portuguesas não deixariam de ser destacadas.
Foi então assim que, como "clássico" neste género de realizações, teve lugar um jantar- espectáculo inaugural dos trabalhos. Pensaram que seria interessante precisamente na ordem de começar por mostrar as portuguesas peculiaridades ( e porque conheciam o espectáculo) realizar esse evento no Casino Estoril, onde se está a teatralizar O FADO__ A origem de um Povo. E eu, que sorte !, convidada, eu agora um bicho de toca que não saio nunca à noite...
Esta é a segunda parte deste meu dia memorável.
Um espectáculo LA FÉRIA com todas as suas características de bom gosto, bons actores, ousadias de encenação, palcos sem espaços vazios, momentos surpreendentes, tudo isto tecendo uma teia inteligentemente elaborada para justamente demonstrar como, desde o big-bang, o Fado se entrosou geneticamente no ser-se português.Não sei quem escreveu os textos que procuram acompanhar o evoluir da História até aos nossos dias introduzindo por vezes e muito acertadamente passagens dos nossos poetas, mas é perfeito o trabalho de síntese e as correspondentes vivências encenadas, com boa música, bons cantores , bons bailarinos e até acrobatas.A espctacularidade em que o La Féria é mestre, faz com toda a gente saia no fim com uma excelente disposição de optimismo.
Por isso a escolha das SOROPTIMISTAS...

01 outubro 2010

A Música, a Água e nós à entrada de Outubro

DE LA MUSIQUE AVANT TOUTE CHOSE...
Concerto de Aranjuez de RODRIGO
Adagio de ALBINONI
Concerto nº 21 -2º andamento de MOZART
A NONA de BEETHOVEN
Os corais da AIDA e do NABUCCO de VERDI
Bem, isto para fazer um pequeno concerto de preferidos neste meu Dia da Música.
Mas, ligando o rádio, o que é que eu oiço ? Que hoje é também o Dia da Água ! Essa mágica e in dispensável maravilha que amamos, usamos e admiramos em todas as suas multiplas figurações... Então lembrei-me de Debussy que tão bem soube musicar o deslizar das águas...
Que grande,neste dia, a agitação das minhas sinestesias !...

25 setembro 2010

vaidade das vaidades

É assim como uma tradição, a calma leitura de jornais de sábado, daqueles que se multiplicam em anexos e títulos chamativos e nos podem proporcionar leitura da mais variada para o dia todo se assim o quisermos. Nesta fase excitada e excitante da vida política do país é então uma verdadeira orgia de opiniões e contra- opiniões, de deduções, de comentários, de ironias, de insultos, de alinhamentos, de quem?eu não!, de eu sempre disse, e tanto, tanto que hoje,subitamente, me vieram á memória aquelas palavras do ECLESIASTES : vaidade das vaidades,tudo é vaidade ! - Aconselhava aí o Pregador que seria de pensar "antes que o pó volte para a terra donde saiu, e o espírito para Deus que o deu"mas sem os atropelos de uma precipitação ansiosa por causa de emulações inúteis. Tudo tem a sua HORA, debaixo dos céus:
Há tempo para nascer e tempo para morrer , tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, tempo para matar e tempo para dar a Vida, tempo para chorar e tempo para rir, tempo para espalhar pedras e tempo para as ajuntar, tempo para dar abraços e tempo para se afastar deles, tempo para adquirir e tempo para vender, tempo para guardar e tempo para deitar fora, tempo para AMAR, e tempo para odiar, tempo para a guerra e tempo para a PAZ, tempo para FALAR ,e tempo para CALAR...
E neste salto do "diz que disse" dos jornais para o inesperado aconselhamento da extraordinária visão bíblica, pacifiquei o crescendo de sobressaltos em que a minha leitura de sábado me estava a induzir... ( tempo para calar...)

21 setembro 2010

21 setembro


Assim se abre para mim o caminho do OUTONO, a minha estação.
(fotografia feita por mim na Quinta das Torres )

11 setembro 2010

11 de Setembro

Faz hoje nove anos e, pela hora de almoçar, via um noticiário na televisão. Uma apresentadora que, se não me engano, se chamava Andreia, introduz-nos umas imagens e uma notícia de um terrível acidente...Um avião a entrar pordentro de um arranha-céus ! ! ! ? ? ? E nós : isto só na América !... E a apresentadora : parece não ser acidente, aliás... e vemos uma segunda imagem, uma "perfuração" de outro arranha-céus quase encostado ao primeiro... Sucederam-se imagens e notícias, explicações, repetições, mais notícias... sobressaltos... E nós sem fala! Não conhecíamos palavras para AQUILO ! Começaram os telefonemas : tu viste ? que é aquilo? Mas pode ser?...Valha-nos Deus !... E foi então que eu comecei a pensar e a dizer não pode ser, não é verdade, não é verdade, não pode ser verdade...
Claro que a brutal verdade se foi desdobrando aos nossos olhos e ouvidos durante todo o resto do dia, pela noite e pelos dias e noites que se mostraram necessárias para que o Mundo entranhasse esta verdade.
Nove anos passados, admiro-me de já não insistir com toda a veemência de então na recusa de todas as violências que se têem produzido, de tantas e tão grandes maldades que o Homem tem vindo a fazer a si mesmo e ao seu Mundo. Admiro-me.
Mas concluo que"entranhei" realmente o que ao longo destes nove anos me foi tão brutalmente revelado.Teria sido possível resistir ?

07 setembro 2010

Os ázimos dos nossos conceitos

Na leitura ocasional da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios leio hoje algo que me faria pensar em coincidências, se não acreditasse em algo mais. ..
Não vos associeis com os devassos deste mundo, avarentos, roubadores,idólatras ou maldizentes, nem comais com o que se diz irmão...
Limpai-vos,pois, do fermento velho da maldade e da malícia e façamos a festa com os ázimos da sinceridade e da verdade...
Preocupa-se São Paulo com os julgamentos avulsos e com os de Deus. Quão difícil tudo isto, hoje como então !

04 setembro 2010

Justiça

No dia de ontem falou-se muito de JUSTIÇA. Foi aliás o tema dominante dos grandes e pequenos noticiários da Comunicação Social, mas também o de muitas conversas de café, de escritórios e até de donas de casa... Houve um sensacional julgamento de muitos arguidos em crimes repugnantes de ordem moral, social, cívica e até religiosa, ao fim de longos seis anos de arrastamento do caso por instâncias variadas. Foi lamentável, terrivelmente humilhante assistir no fim do dia ao esbracejar daquelas pessoas que, condenadas, se acharam injustiçadas e vieram dizê-lo a nós, entre soluços contidos, esgares de sofrimento, e palavras a espumarem ódios e raivas e ameaças, sugerindo ou dizendo abertamente que as condenações eram consequentes dos preconceitos de todos nós...
Espectadora de tudo isto, como a grande maioria dos portugueses ouvintes , ficou-me um gosto amargo na boca, tão amargo que só tinha vontade de falar com o milhão, os milhões de pessoas boas e bonitas que não conheço"de falar" mas que sei que existem ( não descarto a hipótese que estes gritam de serem realmente injustiçados) e lembrei-me de ir aos meus poetas... E li, do japonês ISSA KKOBAYASHI :
1 - NESTE MUNDO,
POR CIMA DO INFERNO
CONTEMPLO AS FLORES...


2 - CEREJEIRAS EM FLOR ,
E NO ENTANTO
SOFRIMENTO E CORRUPÇÂO...

28 agosto 2010

Registo

Este meu post toma hoje a forma de registo de uma certidão de nascimento.
Dia 26 de Agosto de 201o, pelas 8 horas da manhã, "nasceu"na minha casa um GATINHO, sexo masculino, pelagem tigrada, um escasso palmo de comprimento do pescoço para baixo, longa cauda, nariz cor de tijolo, longos traços negros a prolongarem os olhinhos vivíssimamente curiosos e duas orelhas sempre em riste a captarem o mínimo ruido...
Uma graça, uma gracinha mesmo !
Como acontece isto na casa de alguém que há trinta e tal anos garantia e jurava que não queria repetir as experiências adquiridas com dois anteriores gato e gata cujas companhias totalizaram nada menos de vinte e oito anos ?
Pois bem: 1º- foi um acto de caridade para o gatinho abandonado pela mãe,transformado num presente que me foi feito. 2º-foi a minha esperançosa expectativa de que agora uma companhia a abrir para a dedicação e carinho me faria guarda contra uma promessa depressiva que me assustava. E como é carente este pequenino ser que se vê de repente a viver em casa, com portas. mobílias, almofadas, obrigações a aprender e comida que ainda nem bem pode mastigar, mas que o entusiasma !
Para as minhas memórias já desbotadas, todas as suas atitudes são graciosas, cómicas ou elegantes... É uma sequência de pequenas maravilhas a que vou assistindo e de novo tenho que ir orientando no caminho de um mínimo civilizado.
Para dormirmos à noite, eu na minha cama e ele na sua, é uma empresa complicada.
Mas com muitos mimos, lá vamos, ao som dos seus já sonoros rom-rons...
Por isso - e era o que faltava dizer - ele chama-se Rom-Rom.
E vai seguir-se uma história que terá o seu fim que este gatinho um dia saberá contar...

20 agosto 2010

Livros e releituras

Seria já uma obrigação, se não fosse uma coisa tão prazeirosa ( a tentar escrever a palavra brasileira, será assim ? ), isto de nos fornecermos de leitura para férias. Às vezes aproveitamos o lazer para conhecer novos autores, outras vezes pomos "em dia" o que os autores conhecidos foram publicando e pode também acontecer termos vontade de reler algo que há muito ficou lá entalado na estante, a amarelecer, a descolorir-se na lombada e apenas a recordar-nos um prazer que tivéramos há muito... Nestas férias, porém, eu decidi- me por uma qualidade mais do livro que do autor, como critério de escolha. A propósito, quero recordar aquela história que se conta como anedota de novos-ricos pretendendo a ilustrados e que passou de verdade com alguns pormenores bem ridículos, por um marceneiro que fez alguns trabalhos para mim.Alguém precisa de ornamentar o novo escritório ou a nova biblioteca da novíssima casa vai à livraria comprar certinhos n metros de livros, exactamente quanto medem as prateleiras das estantes que acaba de adquirir; o meu marceneiro teve que fazer uns ajustes nas estantes novas daquele seu cliente. Pois bem : a minha escolha da leitura de férias não foi pelos metros, mas pelos gramas. Procurei dos livros que queria reler por motivos muito variados, os mais pequeninos e mais leves, que não sobrecarregassem a minha bagagem. Devo dizer que tenho uma pequena paixão por livros pequenos, pequeninos, mesmo.Seria despropositado contar aqui as edições pequenas de grandes livros que tenho adquirido, quando as encontro.
Curiosamente, não sendo assim por serem edições especiais, encontram-se maravilhosas edições pequenas de traduções francesas de poetas japoneses. Mas deixando mais ou menos clara a razão do meu critério de escolha das leituras de verão, reli : um pequeno PAPALAGUI, que adoro,um obcessivo Desprezo de MORAVIA, um divertido Marmequer de MIA COUTO, as apaixonantes Nourritures Terrestres deANDRÉ GIDE, um colectivo curioso de primeiros autores de e sobre a CIDADE DE BRAGA , e dois encantadores japoneses Primeira Neve de ISSA KOBAYASHI e uma Anthologie de la Poésie Japonaise Classique. Todos juntos, os meus escolhidos,não deveriam ter ultrapassado o peso de um quilo. Não os pesei, claro está. Mas( usando agora um banalíssimo lugar comum) o que deles ficou de ensinamentos, de constatações, de "material" que vai ajudar-me a reencarar o MUNDO, pesa pelo menos tanto quanto a minha imensa necessidade de o fazer talvez de uma nova maneira...

11 agosto 2010

Férias de fogo

Aconteceram pois uns dias de férias. Se chamarmos sempre férias a uma interrupção temporal e local ou geográfica das nossas vivências habituais... Muda-se de terra, de casa, de horas, de comidas,de ocupações, de companhias, e com este mudar dizemos que fizemos férias. Até agora, eu nunca me tinha lembrado de que há efectivamente a possibilidade de surgirem factores intervenientes que podem corromper totalmente a realização das expectativas que nor malmente adicionamos àquelas perspectivas de mudança,tais como respirar ar novo, dormir sonos repousantes, distender os nervos mais ou menos crispados pelas contrariedadesinhas do dia-a-dia comum, sentir a liberdade, soltar-se, enfim... Pois é. Pois foi ! Veio o tórrido calor dos 40 graus, noite e dia, veio o obcecante odor a madeiras queimadas, veio a total e absoluta ausência de brisas matinais ou noturnas, veio o acinzentado dos verdes circundantes e o abaixamento nunca visto da água do lago à nossa frente... E a nossa roupa a mudar mais de uma vez por dia, por encharcada de suor, e a nossa preocupação pela ingestão de água e a não exposição ao que chamáramos antes ar livre ... Bom, só bom, as noites de veludo, convidando a dormir na relva, no chão...
Parece-me que era a informação que me faltava sobre a minha situação de velha senhora e senhora velha : não tendo trazido de nova o hábito de me despir e banhar em mar, rio ou piscina, não me é possível agora atenuar o sofrimento do calor, passando as piores horas, quase despida e a entrar na piscina a cada momento. Isso o faziam os meus amigos com quem estava e para eles eu percebi que toda aquela agressão da Natureza era bastante mais suportável.
Regressada ao conforto do ar condicionado da minha casa, aqui estou resistindo a esta infernal canícula com que este Verão nos tem presenteado. Lisboa está seca e poeirenta, mas mesmo assim pode ajudar-nos melhor do que esse martirizado país interior que tiranizou as minhas férias...

18 julho 2010

Receber a visita do Senhor

«Marta, Marta, andas inquieta e agitada com muitas coisas, quando uma só é necessária»( São Lucas 10,38.42).
Quando se faz uma ferida ou uma queimadura, corre-se a põr-lhe por cima uma pomada, um líquido, um bálsamo, na busca do alívio, da cura rápida, e normalmente obtem-se um bom resultado. Pois, sem correr e apenas no cumprimento da minha natural devoção de ouvir a missa dominical que a televisão nos proporciona às dez da manhã de cada domingo,foi hoje essa missa o bálsamo sobre uma grande ferida de cansaço, talvez, de enervamento doentio, de mal- estar geral, de medo, o grande medo que me invade sem escrúpulos quando sinto inseguranças físicas ou morais, todo um misto negativo que me cercou e envolveu no dia de ontem... Não sabia que a liturgia de hoje era, desde Abraão, todo um relato de como "receber" JESUS em nossa casa. O "RECEBER" social cujas regras nós trazemos como parte do nosso enxoval, quando montamos casa nossa, põe quase sempre as donas de casa no papel da MARTA do nosso Evangelho: inquietas e agitadas. E vemos que Jesus não o condena( lembremos só como ELE entendeu recompensar Abraão) Só que toda a inquietação pelas coisas materiais, sejam elas quais sejam, não pode, não deve, prescindir da espiritualidade que lhe é inerente mas nós esquecemos demais...Acção e contemplação para receber Jesus será a receita para toda a nossa vida com ELE e a partir dos seus ensinamentos... E também bálsamo eficaz se usado na devida proporcionalidade dos seus ingredientes.

14 julho 2010

Espanta-espíritos

Chegada e ultrapassada que foi a época de exames, a minha casa voltou à sua imobilidade natural ao seu persistente ar de casa cheia de espíritos que cohabitam comigo, colados às paredes e`as coisas e se encontram comigo a horas certas. Há os da manhã lusco-fusco, há os das quatro da tarde e há os de l'heure du loup que me mordem a alma e os da hora de deitar que me fazem sentir confortável... É esta a minha realidade a que já me habituei, mas que se agudiza até ferir nos fins de semana. Os sempre receados, temidos, fins de semana ! Vencê-los sucessivamente ( e depois estão sempre a acontecer, a repetir-se iguais, monocórdicamente ) é uma das grandes empresas da minha vida. Espero-os, adivinho-os, pressinto-os, desde a segunda-feira...É já quase uma fixação e por percebê-lo, tento "armar-me" para o novo encontro... Bem ,espero que as minhas férias me libertem. Isto é agora mais nítido para mim, porque, mais velha, estou mais cansada, e não tenho agora a "valentia" dos meus cinquenta anos, e estou por tudo isso mais carente, mas sempre olhando de frente para a vida. Ponho-me a escrever e as horas voam...
Por causa desses "voos" não tenho vindo dizer em posts as minhas alegrias com as boas notas dos meus meninos( houve mesmo 18s !), nem o meu neo-nato gosto pelo foot-ball / campeonato do Mundo, nem alguns almoços sociais em casas e locais frescos e bonitos com gente bonita que gosta de mim... Tudo porque estou a ESCREVER,mesmo. Elogiaram-me tanto o VIVER, que me entusiasmei . É o meu espanta-espíritos...Irei de férias limpinha dessa névoa que a solidão andou enredando à minha volta !

06 julho 2010

Matilde Rosa Araújo






Matilde: Hoje tem estado a passar tudo pela minha memória, sem dor, só com uma sensação de sem retorno, de vazio maior, sempre maior, na ressaca da notícia da tua partida, pela madrugada. Tudo. Os risos incontroláveis nas aulas onde o riso só cabia para nós, as lágrimas naquele canto do corredor, depois de uma nota imerecida, os teus à-partes sussurrados, os meus bilhetinhos trocistas só para te tirar"do sério"... E depois, os nossos penteados, as tuas golas de rendinhas brancas, o meu casacão de avesso aos quadrados... E os nossos desafios... Até nos zangámos, dois dias, por causa de um trabalho de latim... Lembrou-me a " REVISTA" que levámos à cena no Parque Mayer, no final do curso e cujos textos e poemas e letras a-brincar-com- tudo-nosso, para músicas em voga, foram na maior parte trabalho nosso, Matilde . E tu já só gostavas de escrever históriasinhas para ou de meninos... Foi tabém aquele ritual das FITAS... Tenho aqui a minha pasta, com tudo o que me escreveram já muito desaparecido. Mas o teu voto ainda o lemos bem :A tua simplicidade de menina-boa e a tua inteligência tão humana de Mulher,farão a tua felicidade longe das coisas pequenas mas construida com elas.Sou tua amiga para sempre MATILDE. Não me lembro como retribuí estas palavras na tua fita, mas se acaso não expliquei bem o quanto te estimava e apreciava o local em que me colocavas entre Menina e Mulher, acho que hoje, a esta hora já o saberás, lá onde se sabe realmente o que é «ser amiga para sempre». Até lá, amiga !

04 julho 2010

Sem armas nem bagagens

Jesus envia 72 discípulos-prégadores-missionários- embaixadores- delegados, cordeiros para o meio de lobos, segundo mais uma das suas metáforas... Seriam talvez trinta e tal cidades ou lugares, ou províncias a visitar, porque deviam ir dois a dois, suponho que para se ampararem mutuamente, porque, de resto, nada podiam levar que os amparasse : nem cajados, nem sacas, nem sandálias... A única arma que poderiam usar era uma palavra-chave : PAZ. E muitas recomendações sobre comportamento social, previstas que estavam várias hipóteses das maneiras como poderiam ser recebidos. Reaparece nestas previsões aquela ideia do pó que pode colar-se aos pés ou aos sapatos de quem vem e que deve ser sacudido ostensivamente se foi agreste a recepção feita aos visitantes. Foi com um sorriso mesmo divertido que pela primeira vez ouvi este conselho de Jesus. Pareceu-me uma ironia muito fina e algo até trocista. Mas pensando agora mais fundo...
Enfim,« dou-vos a minha Paz» era uma efectiva vontade de Jesus, mas tão difícil de fazê-la ser aceite ! Porque não compreendida.
Aí deveríamos nós hoje deixar sacos e sandálias e partir armados de PAZ...todos para todos, com ou sem pó nos sapatos... Sabemos que vai havendo cada vez mais entusiasmados jovens voluntários que partem com as suas grandes bagagens de ensino de Deus,mas, na verdade, é impossível de medir o que, de então para cá, a SEARA cresceu !

29 junho 2010

Centésimo décimo aniversário


No mesmo ano em que nasceu o meu Pai, nasceu, um mês depois, o homem a quem não me repugnaria chamar o terceiro Homem da minha vida. Antoine de Saint-Exupéry. Como para mim um e outro se vão da lei da morte libertando, fosse isso possível e eu organizaria uma enorme festa para celebrar o centésimo décimo aniversário do nascimento destes homens aos quais fiquei devendo o núcleo da minha personalidade, da minha capacidade de viver amando, da minha filosofia existir esperando.

27 junho 2010

Exigência

Algumas ausências nas minhas considerações de domingo não significam senão falta de tempo e nunca falta de missa. Agora é tempo de férias. Tenho uma amiga que anda em plena ultimação da sua tese de doutoramento e quase desapareceu do seu blog, mas escreveu nele a frase «outras escritas» o que eu achei uma excelente justificação/explicação. Acontece que também eu ando noutras escritas, não de doutoramento, mas trabalhosas. E só tenho que pedir a Deus que me vá ajudando, permitindo que eu faça um bom uso desta liberdade que me é oferecida pelas férias e de que tanto se ocupa São Paulo hoje, na sua Carta aos Gálatas. Não passa sequer pela minha cabeça entrar no grupo daqueles de que São Paulo diz « se vos mordeis e devorais mutuamente, tomai cuidado em não vos destruirdes uns aos outros». Esta é, está sendo infelizmente, uma realidade dos nossos dias, mas há para nós a escolha de nos deixarmos«conduzir pelo espírito» e é certamente por aí que iremos. Mesmo que nos venha a acontecer como São Lucas nos conta neste Evangelho que aconteceu a Jesus: ser rejeitados. Como aí vemos, não só os Samaritanos o não quiseram receber, como outros a quem Jesus convidava para companheiros, se mostraram tão renitentes a deixar as suas rotinas, os seus hábitos, que Jesus não pôde contar com eles. Pensei aqui muito na sempre latente discussão sobre o celibato dos padres...«Quem tiver deitado as mãos à charrua e olhar para trás não serve para o Reino de Deus» são as palavras atribuidas a Jesus então. E guardei da liturgia de hoje uma tensão de exigência que vai acompanhar-me muito tempo.

22 junho 2010

Cansaço

Entre os feriados, exames e respectivas exigências de alteração de horários, adaptações de boa-vontade, ora para ajudar os alunos no seu último forcing antes das provas, ora para me ajudar a mim própria a aliviar o cansaço que estes abanões na rotina já me vão causando, a minha disponibilidade para vir encarar-me no blog, secou. E até para vir pôr em letra redonda o meu carinho pelo meu Santo António, no dia de festejá-lo, tive que ficar-me por lhe erguer um simulacro dos antigos tronos, o mais ingénuo e kitsch que consegui arranjar, procurando não ser confundida com o folclore de lantejoulas e cetins com que me parece quase o desvirtuam por aí... Foi assim que, de cansaço em alívio e de alívio em cansaço, passaram todos os dias até àquele em que,à hora de almoçar, nos vieram anunciar a morte de José Saramago. Claro que me chocou imenso. Sabia que ele estava debilitadíssimo. E a minha cabeça estava repleta do "como ele pensava" do "onde ele queria chegar " do seu conhecimento dos Mundos, da sua agressividade ainda defensiva... porque o Memorial do Convento estava há semanas mais presente na minha obrigação/devoção de o transmitir incólume aos alunos, do que quase o meu velhinho livro de orações... Quando tive mais espaço mental, fui rever o que duas das suas
"aparições" na TV, em momentos algo contundentes, me tinham levado a registar neste blog.
Curioso que esses posts, ambos revelam que esse grande Nobel, me inspirou piedade...
Acho que Deus sempre soube porquê.
Então agora retomo funções de férias. Estou de novo a tentar escrever. Consegui atender ao telefone uma amiga, sem lhe dizer que tenho pressa. E hoje, sósinha na minha cozinha, como nos tempos de muito antigamente, fiz compota de alperce, a minha preferida...
Do tumulto que nos chega de fora po causa do foot-ball mundial,já duas ou três vezes estive a
deixar-me envolver, sempre naquele intuito de observar como o Homem pode ser generoso e dar-se por causas, todo corpo e também alma...Ponto é que creia...

10 junho 2010

E CAMÕES?

Meu Deus, como são misteriosos os mundos em que nos encontramos ! Não consigo explicar, nem sei de quem consiga, mas paira no ar, desde os alvores de Junho, um ar de festa, uma espécie de descompressão, que faz as pessoas andarem de levante, expressão muito usada na minha juventude e que significava qualquer coisa parecido com de cabeça no ar... Há imensos feriados e dias santos e toda a gente vai passear, viajar, sair, andar,dançar, cantar,festejar, com múltiplos concertos, feiras, exposições, espectáculos, encontros, congressos, mostras, em suma, tudo o que menos seria de esperar viesse instalar-se debaixo daquele mar de nuvens negras que nos taparam todos os horizontes ainda há menos de quinze dias e do qual nos tinham dito que seria para durar pelo menos um ano ou dois, pois no país não havia mais dinheiro nem mesmo para mandar cantar um cego( outra expressão dos tais tempos em que se dava umas moedas na rua a ceguinhos que lá estavam com uma concertina e tocavam para nós se lhes déssemos a esmola que os ajudava a viver). Pois bem ! Esses ceguinhos, felizmente já têm outras vias de ajuda, mas nós é que os vemos substituidos por caríssimos grupos de rapazes e raparigas de muito originais apresentações que vêm de todas as partes do mundo "cantar" ´como vedetas dos tais encontros, concertos, etc, etc. E tudo isto custa dinheiro do que nós julgávamos que não havia, mas afinal há...Pois então, uma pessoa anima-se e vai com as outras, que bom ! Esquecer aquelas arrelias dos IRS, dos IVA, das portagens, das Escolas...
E assim, de festa em festa, acontecem coisas inesperadas. Por exemplo, hoje,e muito bem, houve uma linda festa por ser o DIA DE PORTUGAL( e DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES). Isto é, com tanta coisa na cabeça, pelo menos EU ainda não ouvi fazer nenhuma referência a Camões. Claro que era muito importante mostrar ao povo coisas bem concretas que, mesmo no meio do grave ,até dão para animar. Mas em detrimento de um memorialsinho de Camões é que eu acho muito triste ! Houve uma linda parada militar, houve belos discursos, houve condecorações... Mas a tal raiz, o tal "amor da PÁTRIA" de quem tanto mereceu e tão pouco recebeu dos seus compatriotas lá se vão ficando por aí diluidos em memórias que não "dão" para festas...Mas quem sou eu para não entrar também no que para aí está para vir ainda e é tão colorido, tão alegre e tão tonificante: o nosso querido, queridíssimo Santo António?! O que por aí vai de alegria já programada nesta Lisboa que o adora! Assim Deus nos ajude e lá cantaremos também pelo menos uma quadra que fale do SANTO, de manjericos e de cravos ao luar...

05 junho 2010

Um homem da Ciência e da Fé

Era uma pessoa extraordinariamente introvertida, prova quase sempre de uma inteligência lúcida, como tenho podido constatar na minha experiência de vida. Essa sua lucidez tomava uma certa forma de pudor com que nos abordava, não sendo mais do que o enorme respeito com que cada ser humano era por si encarado. Tímido, dizia-se. Distante, dizia-se também.Mas quando entre si e o outro se abria qualquer espaço de afinidade, intelectual, sentimental, carinhosa mesmo, premiava-nos com um sorriso tão pleno,tão quase doce,quase ingénuo na sua genuinidade , que ali mesmo nascia toda a nossa vontade de confiar. Era vê-lo com as crianças ...Não havia como não adivinhar toda a sua sensibilidade. E como se enternecia no reconhecimento de fragilidades nossas que não sabíamos vencer...
Foi este o Homem, o Sacerdote, que agora perdemos. Professor, doutor, engenheiro,filósofo, pensador... conselheiro e...humilde.
Padre João Resina.

02 junho 2010

2 de Junho


De Eugénio de Andrade :


Correr do tempo ou só rumor do frio

onde o amor se perde e a razão de amar;

- surdo, subterrâneo e impiedoso rio,

para onde vais sem eu poder ficar ?

31 maio 2010

OS VELHOS

Parece ter chegado enfim o tão ambicionado calor com que o português sonha para poder marchar, de armas e bagagens, para os famosos sábados e domingos de PRAIA, ainda que não seja época, ainda que morram alguns afogados e outros de coisas de pele, ainda que se amontoem numa promiscuidade de refegos, barrigas e tops-less e regressem segunda feira ao pé dos que não foram, todos escarlates, ó pá, a água estava óptima !, e com a convicção de que também podiam viver sem praia mas não era a mesma coisa...
Isto para dizer que, como não faço nem nunca fiz parte desta família de praiantes ansiosos, me quedei por casa a adiantar o trabalho de revisão com que ajudo uma amiga na sua Tese de Mestrado. Trata-se de algo que tem que ver com GERONTOLOGIA, PSICOLOGIA e CUIDADOS CONTINUADOS. E de tal maneira o tema me prende há já algum tempo, que nem dou por as horas passarem, quando estou a trabalhar nele. É verdade que ali leio em letra de forma,como usa dizer-se, aquilo de que me reconheço ao mesmo tempo inspiradora, força motriz,e material de pesquisa e observação. Que a pessoa idosa,naturalmente reformada, vê e sente que as suas forças diminuiram, e que, além de ter perdido o trabalho, perdeu com ele o seu status, e parte do seu dinheiro e que, por causa de tudo isso, a sua vida social se vai retraindo também, é um punhado de verdades a que não podemos fugir. Que, se acresce a tudo isto uma situação de doença, é então maior a degradação, e que, se o pano de fundo para o total for a solidão, é sem dúvida urgente que algures na cadeia social,alguém ou alguma coisa estenda a mão a estas pessoas que até querem VIVER e não serem arrumadinhas, muito ordeiramente num sítio onde sejam pouco visíveis e não incomodem os outros...
É disto que trata a minha amiga, quando depois propõe soluções muito humanas,todas na base de ser dada a essas pessoas idosas a dignidade que lhes é devida quanto mais não seja como seres humanos únicos e irrepetíveis até ao fim de suas vidas. E é tão interessante como ela faz entrar o carinho, a esperança, o estímulo, a conversa, a presença e até o afago, no grupo mesmo das medicações( se houver algum caso de doença ) ! O idoso ou o doente são para ela os amigos, tal como tinham sido os seus,de infância.Merecedores de igual tipo de relação.
Dou comigo a pensar, em certos dias, quando suspendo o trabalho «quando eu for velha, quero que me tratem assim...» Que não me empurrem, que não me cataloguem,que não me ignorem,mas que não me vigiem...Apenas que eu caiba na mulher que sempre fui e me tratem como a TESE da minha amiga vai propôr... Só que um pouco mais diminuida então ! ! !E mais, muito mais carente, como estou ficando cada dia mais, agora...

30 maio 2010

Uma certa SABEDORIA

Do meu fascínio pelo Antigo Testamento:
«Quando eu nasci, ainda os abismos não existiam, nem corriam as nascentes de águas abundantes. Antes de as montanhas terem sido fixadas, antes das colinas, fui eu concebida,e ainda o Senhor não tinha feito a Terra e os campos, nem as poeiras do início do mundo. Quando Ele firmou o Céu e limitou com um círculo a extensão do abismo, no momento em que fixou as nuvens no alto e traçou às fontes do abismo os seus limites, quando Ele pôs diques ao Mar para que as águas não passassem do seu termo e lançou os fundamentos da Terra, eu encontrava-me presente.EU estava a seu lado, como um arquitecto, cheia de júbilo,deleitando-me na Sua presença. Deleitava-me sobre a face da Terra e as minhas delícias eram viver com os filhos dos Homens.» Este extracto do Livro dos Provérbios que fez parte da liturgia de hoje, dia que a Igreja dedica à Santíssima Trindade, tem aquela espantosa carga de sugestões poéticas que eu também encontro no Livro do Génesis e que me transporta, hoje muito intencionalmente, ao mais próximo conhecimento deste nosso Deus do qual tentamos sempre compreender a natureza tripla mas que, também hoje, São João nos diz, no seu Evangelho nós«não podemos comportá-la,por agora», muito embora Jesus prometa que um dia nos serão ditas todas aquelas muitas coisas que Ele teria para nos revelar. E será então O Espírito Santo a fazê-lo. Há que aguardar. Mas o que guardo desde já e, ao longo da vida, o venho conseguindo cada vez com mais clareza para mim, é a incomensurabilidade da SABEDORIA DE DEUS e um imenso prazer e uma enorme paz que não sei explicar ao aproximar-me dELA...

28 maio 2010

Aquilo que leio

Há dias, num grupo de amigos, foi-me feito por um deles um reparo curioso : como é que, sendo a minha ocupação quase única ler e escrever, só muito raramente me vêem referir-me a leituras de autores actuais, best-sellers ou não, mas modernos ou, pelo menos, contemporâneos. Fiquei a pensar nisso e até tentei fazer um certo levantamento do que tinha escrito nesse campo . Deve haver uma multiplicidade de razões, tanto mais que a minha casa regurgita de livros. Uns que me oferecem, muitos, muitos, outros que vou adquirindo.E é de tal maneira que eles já se vão apossando de todos os meus espaços, mesmo os não disponíveis, e há aqui em casa livros a espreitarem-me por todos os cantos ou até mesmo do chão ou de cima de armários altos, ou de cadeiras, gavetas entreabertas, tudo como "anexos provisórios "das verdadeiras estantes,a rebentar pelas costuras... Dir-se-á que é uma autêntica balbúrdia, um desmaselo, uma desorganização... Mas não. É este o neu conforto, eu ia mesmo escrever consolo. Porque para além de gostar de ler, eu gosto de LIVROS. Aquele prazer de pegar num livro com ambas as mãos, virá-lo e revirá-lo para oVER bem e até...cheirá-lo, a sério !, seja ele antigo ou acabado de sair do prelo, esse prazer justifica a minha insensatez de ir sempre adquirindo mais um... Já me aconteceu, sim, perder as coordenadas e não encontrar um que me é necessário em certo momento. Até já me aconteceu perder definitivamente alguns. Porque os empresto e nunca me são devolvidos, coisa que me dói e me escandaliza, pela acção, pela perda, pela falta que me faz... Mas, embalada neste aspecto material, deixei fugir a ideia inicial deste post.
Pois, porque não falo deles ? Como comentadora, ou como crítica ou como simples recenseadora ? Principalmente porque, com os anos que já vivi, aprendi que as minhas "circunstãncias"( Gasset ) me levam ás vezes a perceber de uma nova maneira aquilo que tinha percebido numa anterior leitura de certo autor, depois porque verifiquei que tenho uma aptidão natural para "imitar" qualquer estilo pessoal e receio muito que isso depois apareça no que eu mesma produzo. A propósito contarei que tive na Faculdade uma professora francesa para uma "cadeira" de Francês Prático cujas aulas consistiram, na sua maior parte, em ser-nos dado a conhecer um autor francês e em seguida fazermos nós, alunos, um texto nosso de um tema todo outro mas escrito "á la manière de..." do autor que nos tinha sido apresentado. E posso dizer sem vaidade que eu fui a melhor aluna nessa actividade.
Falo das minhas leituras, sim, quando alguma consegue trazer-me para fora do meu mundo já estratificado ( talvez infelizmente ) académica, social ou intelectualmente, e esse trazer-me para fora poderá ser pelas boas ou pelas más razões. Falar delas apenas como recenseadora ou coleccionadora tão pouco é o meu estilo pessoal, mas citá-las ou aos seus autores isso faço muito e creio que até provará de certa maneira o que deles penso.
Curiosamente, e já que "estou com as mãos na massa", tenho hoje e aqui uma enorme vontade de contar de dois livros que me emprestaram e me levaram para um mundo todo novo e desconhecido para mim: OS PICOS DO EVERESTE, dos HIMALAIAS e de tudo quanto é alto, é pico, é cume, nos Andes, no Alaska, no Atlas, por tudo quanto é mundo, no Tibete, no Nepal ou noPakistão. O seu autor é o primeiro português a alcançar o Everest e chama-se João Garcia. Temos hoje e aqui a viver no meio de nós "ainda" um primeiro português a ousar passar um qualquer CABO das TORMENTAS ! E o que lutou para isso, o que suportou fisicamente( até amputações), o que sofreu moralmente (até a morte de um amigo a seu lado ), sem nunca desistir, sem nunca perder a esperança e... sem nunca se queixar ! Com uma simplicidade exemplar, narra as suas mais espantosas aventuras como se fossem os "passeios" mais naturais que nós damos,em férias, pela tardinha... Aqui está pois o exemplo dos tais livros de que eu entendo que merecem uma referência toda especial. Nem de propósito, lidos agora.

23 maio 2010

Pentecostes

Das coisas que mais me foram difíceis de adoptar enquanto menina de catequese foi esta percepção de uma abstracção tão poderosa que consegue, além de ser o elo de união entre o PAI e o FILHO, o é também entre ELES e nós, a presença dELES em nós. E depois acabei por entender chamar-lhe AMOR, não conseguindo agora já lembrar-me se isto foi descoberta minha ou se fui conduzida até aí. Com o amadurecer da Vida e com oconhecimento sempre mais aprofundado das leituras bíblicas e suas correlativas, o Espírito Santo foi ganhando um lugar cada vez mais importante na constituição da minha Fé.
E é por isso que a sua celebração no dia de hoje me põe tão feliz.
Cinquenta dias depois da Ressurreição, os Apóstolos recebem o que lhes havia sido prometido, o paráclito, a garantia da união, o respaldo para as suas acções daí por diante.Agora já não encontro aqui aquele inefável e poético espírito de Deus que pairava sobre as águas dos dias da Criação. Fui-me habituando a pensar na pomba branca de um Jesus catecúmeno e eis que o Pentecostes me traz as pequenas línguas de fogo individuais. É um crescendo deliberado de aproximação a uma representação material mais assertiva e actuante... Que nós humanos vamos recebendo e transformando numa mistura a que só sabemos chamar AMOR. Com todos os seus dons, se tivéssemos a Graça de possui-los todos, seríamos as criaturas de Deus mais dignas de ser amadas... Acredito que o ESPÍRITO SANTO zela por isso !

16 maio 2010

Ascensão

...elevou-se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos.( Actos dos Apóstolos).
Tão simples quanto isto ! São Lucas, São Mateus e São Marcos referem unanimemente que Jesus chamou os Apóstolos para reuni-los à sua volta num tão importante momento,para o qual aliás os tinha preparado. Foi junto de Betânia, um local onde tivera amigos ( lembremos Lázaro e a sua família )mas suficientemente fora de olhares curiosos e quem sabe pouco merecedores de uma revelação assim...Diz São Paulo que Deus o sentou à sua direita lá nos Céus e também que tudo submeteu aos pés de Cristo e pô-lo acima de todas as coisas...
E cá ficámos nós a imaginar pela enésima vez a situação, o acontecimento, tentando sem sucesso entender, porque não é alcançável pelo nosso entendimento, pelo menos enquanto estivermos aqui, fora da tal nuvem...
Dos mistérios da minha Religião este é um dos mais belos, o mais artisticamente depurado, o mais suave, o que nos abre caminhos para cima, para uma outra luz...
Talvez o que torna mais autêntico tudo o que quer dizer a palavra ESPERANÇA.

15 maio 2010

O PAPA

Com a vivência de três dias praticamente colada à televisão, coisa que nunca pensei ser capaz de fazer, consegui, sem o querer, criar uma espécie de sensação de evasão que me fazia, na noite de cada um desses dias, ter dificuldade em voltar à TERRA dos normalíssimos assuntos correntes. Foi com aquela curiosidade e interesse absolutamente normais que liguei o televisor cerca da anunciada hora da chegada do Papa a Lisboa. E depois, mérito da organização que calendarizou, escalonou todas as étapas do programa a cumprir, ou mérito da TV que se entregou toda inteira ao seu Serviço Público de mostrar tudo, como está acostumada a fazer nos jogos de foot-ball de algum gabarito, ou ainda mérito do personagem surpreendente que prendeu em si todas as atenções sem procurar fazê-lo, fiquei de televisor ligado um pouco mais, um pouco mais, um pouco mais... Até dispersarem os milhares de pessoas que estiveram no Terreiro do Paço, até irem para casa os rapazes e raparigas que foram cantar a serenata junto da Nunciatura... Que loucura ! disse para mim mesma, cansada como se tivesse andado por lá. E antes de adormecer pensei longamente sobre aquela sereníssima figura. RATZINGER,o Papa de quem não esperava muito, de quem gostava pouco, toda eu admiração, devoção e saudade de João Paulo II .
Lembrei o filósofo José Gil nas suas dúvidas sobre o humanismo a que nós, portugueses, nos habituámos a recorrer desde há séculos sem nos apercebermos do âmbito muito mais vasto e menos purificador que ele actualmente pode ter adquirido. Ratzinger veio cá dizer-nos que o HOMEM é muito mais complexo e que dessa complexidade há uma grande fatia que o próprio Homem tem menosprezado... Claro que no segundo dia, logo cedo ,lá fui verificar se a TV estava nas mesmas disposições e se se confirmaria o que eu estava a começar a pensar sobre O HOMEM VESTIDO DE BRANCO...E foi todo aquele estrondo de Fátima... Daquilo a que já sabemos chamar -se inteligência emocional brotaram até lágrimas nestes meus olhos que agora correm muito mais atrás do emocional que da inteligência ... Tal como teria acontecido àqueles pescadores dos barquinhos no Douro e a algumas mulheres que as televisões sublinharam ao perfurarem a compacta massa daquela Avenida do Porto. Mas daí até ver sumir-se no sombrio interior do avião aquela figura afinal frágil mas branca,( sempre), não me foi possível deixar de desejar não esquecer mais, com quanta aprendizagem colmatei o que sempre me falta sobre o Mundo e o Homem ...E sobre Deus, no meio deles.

09 maio 2010

Paz

Como rapidamente voou esta minha semana começada pelo inefável prazer de ir, de certa maneira, estimular com a minha presença os primeiros passos de um esperançoso grupo coral a estrear-se e acabada em dia negro, chuvoso e frio, com a lareira de novo acesa e eu a saboreá-la, em conversa com uma amiga !
Tanta coisa passou por mim destas em que nós, mesmo sem termos parte activa, nos sentimos envolvidos e, mais do que envolvidos, por elas sacudidos, marcados. No entanto, o verdadeiro remate de tudo foi hoje a palavra de Jesus no Evangelho de São João: deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.Não é como o mundo a dá que eu vo-la dou.Não deixeis que o vosso coração se perturbe ou tenha medo.Foi curiosamente o senhor bispo das Forças Armadas que, presidindo à tão bonita celebração lisboeta da festa da Senhora da Saúde, escolhida pelas tropas de Artilharia como sua padroeira, que explicou com uma clareza lapidar que diferença tem para nós, cristãos, esta paz de Jesus daquela que o mundo dá.Quem melhor do que um homem que,embora sacerdote, vive no mundo dos homens da guerra, para nos explicar a nossa Paz?E então desdobrou-se perante nós todo o catecismo do Amor que é de facto um tear diferente para tecer um diferente tecido...Na sufocante atmosfera do economicismo em que vivemos agora, como conseguiremos a paz do coração e do espírito enquanto não soubermos olhar
o Outro que sofre o mesmo que nós e não fizermos tudo o que está ao nosso alcance para que seja também sua a nossa Paz ? E, não sendo das Guerras que falámos até agora, foi por acaso um avivar de memórias, nesta semana,a celebração da data do fim da Segunda Guerra Mundial em vários países. Para a minha geração , quanta lembrança ! Mas tudo, tudo emoldurado pelo estremecimento colectivo dos preparativos para receber a visita do Papa,na semana que vai começar.Ninguém como os portugueses para anteciparem gozos e sofrimentos com uma volúpia jornalística que quase nos bloqueia...
Quero a Graça da minha Paz para ser em plenitude uma peça pacificadora dentro deste enorme torvelinho da vida que estamos vivendo...

02 maio 2010

...que vos ameis uns aos outros.

Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros.Sim, como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. O sinal por que todos vos hão-de reconhecer como meus discípulos é terdes amor uns aos outros. Assim falou Jesus aos apóstolos no fim da ceia, já depois de Judas ter saído, segundo conta São João hoje.
E, a propósito, veio-me à memória o que contou o Guia que conduziu a visita que fiz ,com um grupo de professores, às Catacumbas em Roma. Nos fins do Império Romano, quando os Cristãos viviam como clandestinos, eram dadas ordens para as forças do Imperador atacarem violentamente qualquer reconhecido cristão que encontrassem sózinho em qualquer local, porque era certo e sabido que logo surgiriam de todas as sombras, de todos os cantos, vários outros para ajudá-lo, protegê-lo, mesmo com o risco de todos serem presos e torturados e este seria um bom processo para conseguir apanhar muitos cristãos de uma só vez. Porque todos se amavam uns aos outros até darem a vida uns pelos outros como lhes ensinara Jesus.
Já sabemos isto tudo há dois mil anos, mas gestos assim, neste decorrer do tempo, são os que podemos historiar, como gestos de heroicidade, que às vezes acontecem, mas tão extraordinariamente !...
No entanto, da grandiosa visão de São João, no Apocalipse, fica-nos hoje a ecoar:
O que havia anteriormente desapareceu: Vou renovar todas as coisas.
É com esta confiança que adquirimos força para persistir na nossa Fé.

01 maio 2010

As Maias

Quando eu era menina, era uso da minha Terra, da minha província, da minha gente, sair em grupos pela madrugada deste dia e ir "apanhar" o nascer do sol lá para os campos longe e não cultivados mas povoados de tufos de um arbustinho a que chamávamos maias, de pequenas flores amarelinhas, mas sem perfume. Era a celebração da chegada do mês de Maio : colher delas um bonito ramo e trazê-lo, todo flor, para dentro das nossas casas. E acreditava-se que quem não cumprisse este ritual ficaria amarelinho, pálido, todo o ano.
Tudo isto se prestava para toda a espécie de brincadeiras, namoricos incluidos, e o maior divertimento era ir atar um ramo às portas dos que tinham faltado, pressagiando-lhes assim um ano de fealdade..
Era um mundo onde ainda se não tinha perdido a inocência e onde as coisas mais simples, mais modestas, divertiam as pessoas só poque também elas eram mais simples e mais modestas.
Quanta complicação arranjámos depois, a pensar quanto somos ,quanto achamos que devemos ser importantes !
Se eu até fico agora envergonhada por não saber qual o nome e a família botânica
das belas maias que há por esses campos, coisa que, naquela época, nem sequer
molestava de longe a nossa fruição...

29 abril 2010

Sobre o Domingo do Bom Pastor

Criado que foi o hábito de deixar em post as minhas meditações sobre todas as Leituras próprias de cada Domingo, qual não é a minha perplexidade quando, falhando uma vez, me chegam reclamações pela falha...
Ora no último domingo, que era precisamente devotado ao Bom Pastor, aconteceu que fiquei sem ligação à net e consequentemente não me foi possível cumprir com esta já quase obrigação.
Escusado será dizer que não fiz texto algum nesse dia, mas ,entre muita leitura que fui buscar nesse a-propósito, reli um pequeno poema que ofereci ao meu Prior para, junto com outros textos de outros paroquianos, celebrarmos os seus ciquenta anos de sacerdócio , de Bom Pastor a exemplo de Jesus. De lá retiro uma passagem , esperando que me seja perdoado este pequeno roubo.
...E havia o rebanho. E há as suas ovelhas..
Pastor, como se diz de Jesus, no Evangelho,
dá, por sua vontade, a sua Vida
pela Vida delas, e as salvará.
E o Amor que lhes dá
é o que elas seguem.
Porque o reconhecem
por algo bem maior que a sua Voz !

Bom será recordar-se o Evangelho de São João, 10

28 abril 2010

Abril

Depois de ter-me visto privada do acesso`a internet durante todo um fim de semana alargado,é agora com uma certa volúpia (só conhecida pelos que dela se servem) que retomo a minha posição de bloguista (blogueira ? ). Empregando uma figura um tanto desairosa, direi que, à maneira de um pacífico ruminante, degluti uma substancial massa de assuntos que precisam absolutamente de ser regurgitados para adquirirem o real valor nutricional de que carece o equilíbrio das minhas sinestesias.
Este meteorologicamente extraordinário mês de Abril foi, como todos os outros, no capítulo das efemérides:todos os meus amigos fazem anos neste mês, e familiares mais próximos ou mais afastados, já falecidos uns, outros não. Sendo que o falecimento do meu marido foi neste mês, é a sua recordação de cada dia comum, avivada e elevada à máxima potência nesta época, por alguma razão que já desisti de encontrar. Instala-se uma mágoa que não é igual a mais nenhuma, e pronto!, todo o mês de Abril anda pelas margens desta fundura. Assim, é-me preciso fazer um esforço enorme para não me distrair de todo o resto.1, 4,7,8, 10, 12, 17,19, 21, 22, 23,27..., datas com pessoas que não posso, nem quero deixar de celebrar,umas porque estão vivas, outras porque já partiram e delas nos ficaram as saudades.
E pelos interstícios de tanta data surgiram os acontecimentos ocasionais que vão sempre quebrando as rotinas das maneiras mais inesperadas. Apareceu-me, por exemplo um novo membro daquela família artificial que eu tive, por via da minha madrasta que foi minha Mãe, desde os meus cinco anos. Uma jovem artista, desde há muito radicada em Nova York e que vem expondo as suas instalações em muitos mundos, mesmo orientais, preocupados com a Terra e com o que misteriosamente nós, humanos, herdamos dela enquanto nos fragmentamos em mil partes, na procura da sobrevivência talvez demasiado erradicados e urbanos. Foi um enorme prazer este encontro tão simples e descomprometido com alguém que tão bem sabe interpretar a nossa realidade tão complexa e comprometida...
Comprometida sim com as coisas grandes como a vinda do Papa e com as coisas ridículas como a guerra das nossas empregadas domésticas que consegue abalar a nossa estabilidade e exige um esforço suplementar no recurso às habituais doses
de bom senso para cada coisa, cada dia...Da vinda do Papa, por enquanto, este Abril-hall de entrada da nossa preparação receosa, mostrou-nos sobejos motivos de preocupação que ainda não me deixaram sentir o coração grande dentro do peito, como aconteceu aquando da visita de João Paulo II. Veremos depois se algo encaixa nas fragmentações de que se ocupa a minha nova Prima...
E houve a Música ! A Grande e a outra. Dizer que estive ao pé dela, a ver a gente que a ia ouvir e que eu me fiquei pelo estar perto daquilo que me encanta enquanto fui imaginando aquilo que ainda não conhecia...Explica-se mas, por agora, basta-me dizer que foi a Música assim como foi o 25 de Abril.
Estive. Em corpo e espírito. Mais em espírito. E acho que foi como eu queria que fosse.Porque fui EU que estive inteira com todas as forças que ainda vou tendo para amar, por cima de amar, por cima de amar, por cima de amar, assim mesmo,em camadas de Vida sempre nova e agradecendo-A a Deus em cada novo ABRIL.

17 abril 2010

Pela terceira vez...

Pela terceira vez Jesus está junto daqueles que tanto conviveram e partilharam com Ele e pela terceira vez eles não reconhecem aquela aparência física... Apenas um pequeno gesto, um pequeno tom, um quase nada a que um deles é mais sensível que os outros, lhes vai abrir o caminho da revelação...Homens simples,ainda não pescadores de almas como fora prometido a Pedro, eles já iam sendo temidos por muito falarem publicamente da sua confiança, mais que confiança : crença, admiração, fé, naquele que havia sido crucificado tão cruelmente e já começavam a ser açoitados e escorraçados para não incomodarem tanto... Era o princípio.

Eram pois aqueles encontros que podiam fortalecê-los. O seu Amigo, o seu Irmão, não os deixava sós, como aliás prometera. Apenas era preciso que o reconhecessem, que o soubessem encontrar. Ele sempre estava por perto...

Isto não terá nada a ver comigo ? Conosco ?
Quando aquele Companheiro da refeição comida na praia pergunta por três vezes a Pedro uma confirmação do seu amor, era enorme a sua preocupação sobre se poderia confiar-nos a nós,ovelhas do seu rebanho, a quem fosse capaz de fazer por nós o que Ele tinha feito. Receava a humana fraqueza, até a que vem pelo cansaço do envelhecimento... Humanos, nós, andaremos conscientes de quanto cuidado amoroso nos continua envolvendo ?

14 abril 2010

CAFÉ

É bem verdade que se aprende durante toda a vida.
Acabo de saber que hoje é nem mais nem menos do que o DIA INTERNACIONAL DO CAFÉ.Oh pasmo ! Oh imaginação criadora de todas as globalidades ! Oh divindade protectora de todas as artes de vender !... Então eu, que sou a grande amiga do cafézinho , vivi todos estes anos da minha vida sem saber de tão glorioso dia comemorativo ? Mas como é possível?
E onde e como e porquê teria nascido esta ideia? No Brasil, em Timor, em São Tomé? Numa esplanada de Paris ao aroma do velho café-filtre ? Na Holanda, na Turquia ? Mil e uma possibilidades para uma HISTÓRIA que eu quererei conhecer.
Apenas,pelo há muito que o amo, e pelo conforto e aconchego que ele já me proporcionou tantas vezes, me inspirei, em tempos, fazendo para ele este poeminha que hoje acho que posso, que devo, dedicar-lhe como homenagem em dia próprio :

Da cháven pequena, torneada,
evola-se o perfume...
...um quase nada
a deixar-nos na boca
um travo quente-amargo,
um azedume
um pouco adstringente
que ao culto iniciático
nos prende.

Devagarinho, muito devagar,
vai-se bebericando,
entre a volúpia do saborear
e a sedução do que se está cheirando.

E quer-se companhia.
E apetece falar
tão molemente
como o deixar escoar
co'o tempo a fantasia
e nem se aperceber
que, aos poucos, arrefece...

Mas se acontece
beber-se de um só trago,
em correria,
porque se é distraído
e é pressa que se tem,
pode reconfortar,
pode mesmo aquecer...

O que porém
não vai deixar de ser,
é uma imperdoável
heresia !...

11 abril 2010

Ver para crer...ou já não?

E uma curiosa coincidência que, tendo este meu blog o nome de Sinestesias ( que tem tudo a ver com os sentidos humanos ), seja a liturgia do dia de hoje tão marcada pela relevância que a estes mesmos sentidos vem dar o evangelista São João. Em primeiro lugar, há o tão espantoso ouvir e depois ver que ele nos conta na sua Carta e pode ter sido a razão/origem da existência dos seus testemunhos..e OUVI atrás de mim uma voz potente, uma voz semelhante à da trombeta, que dizia : o que estás a VER, escreve-o num livro e manda-o às sete igrejas . Voltei-me então para OLHAR em direcção à VOZ que me falava. ... ... VI... ... e DISSE-ME: não tenhas receio,... ... escreve pois o que VIRES: os factos presentes e os que hão-de acontecer depois deles. Tudo isto claramente amalgamado no caldo de cultura da época em que era normal a VISÃO de grandiosidades e luxos decorativos próprios dessas regiões orientais e que encontramos no Livro do Apocalipse e, em última análise ,têm também tudo a ver com os sentidos. Mas é no Evangelho deste Domingo in Albis que, pela incredulidade de Tomé, vemos quanto nós, pobres, simples seres humanos, temos necessidade dos SENTIDOS, para nos situarmos até na nossa Fé. ... chega aqui o teu dedo e VÊ as minhas mãos, aproxima a tua mão e Mete-a no meu Lado... E só então Tomé acreditou.

Foram precisas a simplicidade de criança, a confiança de fieis seguidores, a aprendizagem da convivência com o Espírito, a não entendida experiência dos êxtases, para que ,como disse então Jesus ressuscitado, fossemos dos que são felizes por acreditarem mesmo sem terem VISTO.

Não posso deixar de pensar em Saint-Exupéry quando diz que o essencial é aquilo que se não. Em toda a liturgia de hoje adivinhei o segredo de ter a vida em nome de Deus,por via exclusivamente da minha Fé, se bem que insuspeitadas SINESTESIAS tivessem preparado o meu caminho.



08 abril 2010

Pesadelo e realidade

Alguém sabe o que é viver-se numa grande cidade que até é apelidada de caótica pelos jornalistas da pequena crónica urbana e por aqueles que nela suam "suor e lágrimas" em horas de ponta, e nessa mesma cidade descobrir-se único e só habitante do seu prédio, rodeado de prédios vazios na totalidade, no coração de uma avenida deserta, com um ou outro carro a passar a espaços largos e sem cão, nem gato e principalmente sem pessoas a pisarem passeios ou asfalto ? Alguém viveu alguma vez uma experiência semelhante ? VIVEU, insisto. Não se trata de nenhum pesadelo, daqueles em que sentimos os pés colados a um chão sinistro, numa rua negra... Não : isto de que falo vivi-o eu em pleno Domingo de Páscoa nesta cidade de Lisboa onde pode acontecer esta coisa espantosa de toda a gente do mesmo prédio sair, sair mesmo da cidade, sendo esta migração geral num bairro, num quarteirão, numa freguesia... Assomar a uma janela, de tarde como de noite ,e ver tudo fechado, olhar as bordas dos passeios para os quais, quando dá jeito, até sobem os carros, e não ver lá nem um só estacionado, e ver de vez em quando passar um autocarro dos transportes públicos, a uma velocidade vertiginosa porque não há "clientes" nas paragens, isto adquire foros de pesadelo mesmo.
Não quero, não devo, especular sobre as várias realidades que subjazem neste acontecimento.Afora os medos reais que isto suscita, atropelam-se as conjecturas sociológicas e até políticas.Que se diz, que se explica e como, àquele ÚNICO que ficou, naturalmente só porque não PODIA ir ? Repare-se que este não poder engloba TODAS as circunstâncias impeditivas...
A pensar, quando se fala em solidariedade.

04 abril 2010

Domingo de Páscoa

...a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o ESPÍRITO DE DEUS movia-se sobre a superfície das águas...
Foi a partir daqui que tudo começou para nós, porque sucessivamente Deus foi vendo que tudo era bom.
Até que o Homem entrando na deriva desta sucessão, foi ocupando os seus lugares, ora tentando guiar-se a si próprio, ora deixando-se guiar, nem sempre talvez como Deus havia visto que era bom...
E chegámos à extraordinária, à espantosa, à misteriosa história de Jesus.
Que celebramos há milhares de anos, arranjando conotações com esse Universo criado - ...dois grandes luzeiros, o maior para presidir ao dia e o menor para presidir á noite...e colocou-os no firmamento dos céus. Seguindo o luzeiro menor, e tendo a terra deixado de ser informe e vazia, festejamos a Passagem, a PÁSCOA desse Jesus como nós o entendemos
Vem marcada a lilás
a Primavera !
Talvez a roxo, dos passos, dos lírios,
dos PASSOS,
dos círios,
dos Compassos
de uma interminável Procissão
de uma densa Paixão
que despenha pelos muros as glicínias
lágrimas grossas a escorrer lilás...

Pietá ainda
pelo drama da SEMENTE
que morreu,
toda a terra se alinda
pela glória dessa flor que RENASCEU !...