28 fevereiro 2009

Granada e Córdova

Qué hermosa esta granada, Platero! me la ha mandado Aguedilla, escogida de lo mejor de su arroyo de las Monjas. Ninguna fruta me hace passar, como esta, en la frescura del agua que la nutre. Estalla de salud fresca y fuerte. Vamos a comernosla?
Platero, qué grato gusto amargo y seco el de la dificil piel, dura y agarrada como una raiz a la tierra! Ahora el primer dulzor, aurora hecha breve rubí, de los granos que se vienen pegados a la piel. Ahora, Platero, el núcleo apretado, sano, completo, con unos vuelos finos, el esquisito tesoro de amatistas comestibles, jugosas y fuertes, como el corazón de no sé qué reina joven. Que llena está, Platero! Ten, come. Qué rica! Con qué fruicion se pierden los dientes en la abundante sazón alegre y rija! Espera qué no puedo hablar. Da al gusto una sensación como la del ojo perdido en el laberinto de colores inquietas de un calidoscopio. Se acabó!
[...]
Yo ya no tengo granados, Platero.
[...]
Caía el sol y los granados se incendiaban como ricos tesoros, junto al pozo en sombra que desbarataba la higuera llena de salamanquesas...
[...]
Granada, fruta de Moguer, gala de su escudo! Granadas abiertas al sol grana del ocaso !...

Juan Ramon Jimenez — Platero y yo


A verdade é que não sabia muito bem como começar este meu post. Estive sim quatro dias divididos entre duas belíssimas cidades da Andaluzia, dividida também eu entre o suave estremecimento das recordações avivadas e uma espécie de revolta pelo que o desenvolvimento, o progresso, a modernidade, fizeram ás minhas recordações. Isto é para ser dito e não escrito, e, mesmo dito, deveria ser segredado. Não terei o direito de ser tão egoísta que pretendesse que o mundo parasse para perservar as minhas recordações... Mas se, no local onde, sob as pequenas laranjeiras carregadas de frutos a ponto de perfumarem alguns metros em redor, onde, repito, aí se trocaram ternas promessas de vida a dois e, agora, se lá vai encontrar um novelo de estradas entrecruzadas com um estonteante movimento de carros, fica-se com pena de que o jardim de laranjeiras não possa mais ser uma marca do amor no mundo... Claro que há outros e muitos e mais ainda... As cidades crescem, como as crianças... Estamos um tempo sem vê-las e, quase sem sabermos como, já estão para casar...
Por pensar em crianças, noutra cidade, não na das laranjeiras, lembrei-me de que alguém de quem me enamorei há largos anos tinha nascido quase lá. Esta é a cidade das romãs. E o meu poeta nasceu em Moguer onde, criança mesmo possuia um burrito, seu companheiro e amigo. Daqueles amigos especiais que apenas as crianças têm. Juan Ramon foi muito depois Prémio Nobel de literatura e creio que o seu burrinho prateado, as brisas já mediterrânicas de Moguer e as preciosas romãs terão sido a base sólida do esplendoroso lirismo do seu testemunho de vida. Por isso iniciei com ele este meu post, repassado de Sol andaluz, de perfumes andaluzes, todo ele em clima e alma aquilo que passou por mim como um sopro benfazejo com que, pela mão dos humanos, Deus me quis presentear...

14 fevereiro 2009

´Camões




...e como duram as velhas paixões!
Parecerá que estou a escrever isto hoje porque a ganância comercial, a certa altura, percebeu que seria proveitoso ir buscar o costume estrangeiro de celebrar um dia dos namorados, na data de hoje. Mas não. Até porque há já alguns dias que ando neste enlevo de reviver uma antiga paixão. Deverei dizer melhor :um velho amor. Porque de paixão a amor vai uma grande diferença, como se sabe. E quem é o eleito, quem será? É CAMÕES.Não sei bem se os LUSÍADAS. Talvez os dois, pois não há um sem o outro. E não é mesmo a LÍRICA que consegue arrebatar-me.
É preciso chegar ao décimo segundo ano do Secundário para que os alunos portugueses retomem o contacto, este já interessado e consciente ,com o maior poeta da sua terra, com o mais belo poema dedicado àqueles que esta terra fizeram SUA. E é preciso, para que isto aconteça, que se veja( o que está entrando pelos olhos ) que a MENSAGEM de Fernando Pessoa é filha de sentimentos paralelos, nunca concorrentes, por estar grávida de intenções intencionalmente e completamente distintas das de Camões ( perdoe-se o "intencional " pleonasmo)Mas os doutos programadores das coisas que os jovens portugueses devem conhecer para cultura futura pensaram ( e bem ) que, nesta étapa dos seus estudos, PESSOA devesse chamar Camões a terreiro... Para amá-lo ? Seria bom, porque quando se ouve pessoas responsáveis reduzirem as suas memórias dos Lusíadas a um "pacote" de enfadonhas "orações", como eu já tenho ouvido, há a obrigação de responder a tal enormidade :«...o coração sujeito e dado ao vício mole se faz e fraco e bem parece que um BAIXO AMOR OS FORTES ENFRAQUECE» sendo que se a «pátria está metida no gosto da cobiça e da RUDEZA» ela não sairá mais de «hua austera, apagada e vil tristeza »
É pois agora a minha oportunidade de tornar conhecido aquele inabalável amor à ditosa pátria, aqui, quase cume da cabeça de Europa toda, e aquele enorme orgulho em pertencer-lhe que faz Camões colocar na boca de outro o seu desejo de voltar de onde estiver, para nela acabar os seus dias. A intensidade de sentimentos, a arte no domínio da língua e, com esta, da frase que estrondeia com a "trombeta castelhana" e estremece de suavidade junto da "formosíssima Maria" ou da "mísera e mesquinha", a abundância da informação científica e de conhecimentos práticos e técnicos, a perspicácia na interpretação das lendas, dos mitos e da História , tudo são
razões para uma admiração tão apaixonada que os portugueses não têm sabido cultivar.
Pudessem os meus alunos veícular este amor até novas gerações e essas a outras e assim por diante !... Porque dura, dura mesmo, esta paixão, quando começa...

11 fevereiro 2009

Nossa Senhora de Lourdes

Avé Maria pequenina

Salvé Maria menina !
Salvé Maria tão pequenina
que mal ouso aconchegar-me
no teu regaço de luz !
Salvé Maria que Deus chamou
de entre as meninas de Nazaré !
Avé Maria silenciosa,
mesmo naquele SIM da tua fé !
Avé Maria que hás-de guardar-me
agora e sempre
e até naquela hora
em que, contigo, hei-de encontrar JESUS !...

07 fevereiro 2009

...também a surpresa.

Ki no Tsurayuki

Poeta japonês, morto em 945- Seculo IX - um dos grandes autores de tanka ( poema de não mais que cinco versos,de uma extrema capacidade de síntese e de uma profunda densidade de expressão dos sentimentos ).
Adaptação de uma tradução francesa de G. Renondeau

On sait bien que du lendemain
Nul d'entre nous n'est sûr,
Mais ce fut avant le soir
Aujourd'hui même qu'une amie
Nous donna tant de chagrin...

02 fevereiro 2009

Senhora das Candeias

...Se chora, está o Inverno fora; se rir, está para vir.
Esta sabedoria meteorológica de que dependem quase sempre as várias étapas das tarefas rurais, é uma das fontes tradicionais que mais prazer me dá consultar e...usar !
Dia da Senhora das Candeias... Como é que um rasto de luz, tão belo na sua simbologia cristã, chegou até à convicção popular de que a fertilidade da terra se acertaria com as bençãos desta sua presença ou ausência...? « Eu sou a Luz do Mundo »... Somos um povo que o sabe.