30 janeiro 2007

NEVE ?

Foi no domingo. Manhãsinha, o frio era "de rachar".Às sete da manhã ouvi dizer no rádio "quatro graus". Imediatamente saltei da cama e fui ver o céu, de que eu gosto sempre, por aquelas horas. E vi : estava a clarear o céu das neves das europas onde já "gelei". E fiquei à espera da neve... Só que ela faltou ao rendez-vous aqui pelas avenidas demasiado urbanas e aquecidas,para seu gosto. Foi deixar-se cair lá para as periferias e para os arrabaldes mais distantes, tímida,esfarrapadinha e para mais com o assédio de um chuvinha irritante que achou por bem vir estragar-nos a festa a todos... Foi tudo pouco, menos o frio que atacou a cidade, mas foi notícia !...
E então Lisboa resolveu aquecer-se. Ligou tudo o que tinha à mão para dar calor. E agora, que já somos todos muito civilizados, temos tudo eléctrico : é a embriaguês dos electro-domésticos ! É a cozinha, é para o banho, é para as limpezas, é para a barba e cabelo e principalmente para os ares condicionados e os outros quentinhos e não condicionados... Em suma : a grande fornecedora dos nossos confortos, aquela a quem todos pagamos para nos acalentar com todos estes mimos, ao alvorecer do dia seguinte de toda esta orgia de calores ,REBENTOU.
PRONTO! agora,não vai haver mais nada de comodidades !Arranjem-se como puderem! E os lisboetas tiveram uma amarga segunda-feira que se arrastou aos saltos de vem e vai electricidade até perto das onze da noite. Isto no meu bairro...Onde, em cúmulo, mesmo em frente de minha casa, deflagrou um incêndio num último andar habitado por uma senhora que vive só, isto na mesma hora em que tinhamos constatado que a energia eléctrica nos tinha abandonado.Toda a parafernália dos bombeiros e polícia provocou os normais ajuntamentos de grupinhos comentadores e suspeitosos , todos esfregando as mãos e batendo com um pé no outro ou no chão, o que sempre foi a melhor maneira de se sacudir um tal frio e a tal hora...Felizmente. para alegria geral, o incêndio foi rapidamente dominado e a senhora foi levada ao hospital apenas por causa da inalação do fumo. Excesso de frio ou de calor ?
Lisboa não tem vocação para os INVERNOS. Que fazer ?...

23 janeiro 2007

O mundo ficou mais triste

Creio que todas as pessoas que têm convivido comigo desde sempre( ainda vivem algumas do tempo da meninice) se lembrarão de me ouvir afirmar que me não assustava a situação de envelhecer, mas que me assustava e muito pensar que certamente teria que ir vendo envelhecerem, perderem qualidades e, enfim, desaparecerem as pessoas que me eram queridas nessa época de juventude: os pais, os amigos muito mais velhos que sempre tive, os professores e as figuras públicas que admirava nessa idade.O que eu faria, se tivesse poderes mágicos, seria conservá-los todos, jovens, bonitos, admiráveis...
Mas a Vida foi-se encarregando de me confrontar com essas perdas que eu tanto receava.
Foram decaindo primeiro e desaparecendo depois, os mais velhos e também alguns da minha geração, para minha grande dor/surpresa/revolta, sem remédio...
Hoje, para me enganar a mim própria, brinco com a evidência do que me espera para àmanhã(?) ou depois de àmanhã(?)...E vou dizendo que, em cada hora, estou mais um lugar à frente naquela fila que todos conhecemos... Mas vou chegando a essa posição porque vão desaparecendo aqueles a quem Deus já abriu a porta...
Há uma semana foi aquele Prior da minha paróquia que se perdera há dez anos nas espirais da Alzheimer. Num post deste meu blog,em outubro do ano passado, referi que um meu amigo polaco me escreveu quando da morte de João Paulo ll, dizendo que o mundo ficara mais triste por isso ter acontecido. Foi o que imediatamente me ocorreu quando soube do desaparecimento daquele Padre Armindo que, em certa época da minha vida, foi mais do que um esteio, um recobro, para todas as minhas inseguranças, todos os meus desânimos.
Tal como noutras ocasiões, os católicos temos tido ultimamente perdas cujo vazio não estará tão cedo ao nosso alcance preencher. Estou a pensar no Irmão Roger de Taizé e, hoje mesmo, no Abbé Pierre dos Emauz. O Padre Armindo, era, como eles, generoso,despojado, atento aos infelizes e necessitados, com um coração maior que o que é apenas humano...
Não há dúvida de que, sem eles, o mundo está mesmo a ficar mais triste!...

16 janeiro 2007

Os nevoeiros,de SINTRA ao GUINCHO


Eu vi o nevoeiro vir do mar.
Era como um regaço que se abria
afofando, envolvendo devagar.
De tão salgado e denso de maresia,


espalhava um gosto de algas pelo ar!
Tão estranho ficou tudo, que parecia
a paisagem dos sonhos, sem lugar,
imaterial,mal definida e fria.


Jardins suspensos na bruma coalhada
ruas, praias cinzentas onde havia
vultos sem voz, com gestos de veludo...


Na paz da hora única,embruxada,
real era-me apenas a poesia
que eu quase via evolar-se de tudo !...

09 janeiro 2007

O Prazer do recomeço

Terminada em definitivo esta época de férias, lá me apareceram hoje de novo as companhias dos meus velhos GIL VICENTE, CAMÕES,JUAN ROIZ DE CASTELO BRANCO, com os seus cortejos de Indias, Galizas, frades jerónimos, flamejantes e manuelinos e ,a pairar( até por cima do meu velho Platão) sobre tudo isto, o extraordinário brilho dos meus poetas, a graciosidade que se foi beber ao galaico-português, o"polposo" que se apanhou de PETRARCA, por Sá de Miranda, tudo graças a uma língua musical e dúctil, colorida e viva,já naquelas idades... E o prazer imenso de "ver"nascer,crescer,desabrochar, nas raparigas e nos rapazes, a curiosidade e já o quase amor pelas coisas tão bonitas que estão a descobrir como suas também...
É bom recomeçar !

07 janeiro 2007

Dia de Reis

Este sobressalto de estarmos em festa quase permanente,em festa muito pagã, muito de comeres e beberes, muito de" comprares",muito de esperarem que demos, muito de decepções nos "receber", muito de quase desejarmos que se esqueçam de nós e de,paradoxalmente,nos ofendermos se acaso nos esquecem,esta festa " porque é costume", felizmente está hoje a chegar ao fim... Estou feliz,no rescaldo de uma gripe com todos os seus requesitos próprios que habitualmente me deixam um rasto de desânimo e falta de paciência, mas que, desta vez, pela coincidência de datas,me estão a estimular para "mesmo" vida nova.E é bom.
Os Reis Magos (padroeiros da minha Paróquia),depois de terem visto e adorado aquela tão estranha novidade de um menino ser DEUS, OU FILHO DE DEUS, o que vinha a dar no mesmo,partiram dali por outros caminhos,não só para evitarem encontrar Herodes, mas também porque eles intuiram que dali para a frente havia que enveredar por outros caminhos e não cair na limitação de repetir o já visto e sabido...É por isso que,cansada de repetir mil vezes o déjà vu destas Festas que têm que ser BOAS.eu me sinto hoje particularmente feliz...Recebi de um jovem sacerdote moçambicano um pequeno presépio que cabe na concha das nossas duas mãos e é constituido por um casal negro sentado sobre as suas pernas dobradas,tendo a figura feminina ,embrulhado nos seus panos,tão coloridos como os das roupas dos pais,um minúsculo bébé muito negrinho,tudo numa atitude tão simples e tão cheia de expressão, que me inspira uma enorme ternura...Há sempre caminhos novos a descobrir!

01 janeiro 2007

ANO NOVO

Em 1957 publiquei um pequeno livrinho de poesia e nele incluí,inspirada na entrada de um novo ano :


São sempre as mesmas doze badaladas
e é sempre a mesma a minha comoção !
Do Ano Novo espero as alvoradas
de manhãs que até hoje esperei em vão...

Enfeito a alma de flores encarnadas
e ateio fogueiras de São João
onde arremesso as decepções passadas
e onde aqueço de novo o coração...

E a vertigem da esperança recomeça
mais intensa,mais doce e tentadora,
a prometer-me tudo o que eu quiser...



E eu de novo bendigo essa promessa
que torna cada vez mais sedutora
esta vida que tenho p'ra viver !

O que verifico é que,passada tanta coisa que, naturalmente fui queimando na fogueira, ainda me apetece subscrever este soneto,sem lhe fazer nenhuma alteração.