28 agosto 2010

Registo

Este meu post toma hoje a forma de registo de uma certidão de nascimento.
Dia 26 de Agosto de 201o, pelas 8 horas da manhã, "nasceu"na minha casa um GATINHO, sexo masculino, pelagem tigrada, um escasso palmo de comprimento do pescoço para baixo, longa cauda, nariz cor de tijolo, longos traços negros a prolongarem os olhinhos vivíssimamente curiosos e duas orelhas sempre em riste a captarem o mínimo ruido...
Uma graça, uma gracinha mesmo !
Como acontece isto na casa de alguém que há trinta e tal anos garantia e jurava que não queria repetir as experiências adquiridas com dois anteriores gato e gata cujas companhias totalizaram nada menos de vinte e oito anos ?
Pois bem: 1º- foi um acto de caridade para o gatinho abandonado pela mãe,transformado num presente que me foi feito. 2º-foi a minha esperançosa expectativa de que agora uma companhia a abrir para a dedicação e carinho me faria guarda contra uma promessa depressiva que me assustava. E como é carente este pequenino ser que se vê de repente a viver em casa, com portas. mobílias, almofadas, obrigações a aprender e comida que ainda nem bem pode mastigar, mas que o entusiasma !
Para as minhas memórias já desbotadas, todas as suas atitudes são graciosas, cómicas ou elegantes... É uma sequência de pequenas maravilhas a que vou assistindo e de novo tenho que ir orientando no caminho de um mínimo civilizado.
Para dormirmos à noite, eu na minha cama e ele na sua, é uma empresa complicada.
Mas com muitos mimos, lá vamos, ao som dos seus já sonoros rom-rons...
Por isso - e era o que faltava dizer - ele chama-se Rom-Rom.
E vai seguir-se uma história que terá o seu fim que este gatinho um dia saberá contar...

20 agosto 2010

Livros e releituras

Seria já uma obrigação, se não fosse uma coisa tão prazeirosa ( a tentar escrever a palavra brasileira, será assim ? ), isto de nos fornecermos de leitura para férias. Às vezes aproveitamos o lazer para conhecer novos autores, outras vezes pomos "em dia" o que os autores conhecidos foram publicando e pode também acontecer termos vontade de reler algo que há muito ficou lá entalado na estante, a amarelecer, a descolorir-se na lombada e apenas a recordar-nos um prazer que tivéramos há muito... Nestas férias, porém, eu decidi- me por uma qualidade mais do livro que do autor, como critério de escolha. A propósito, quero recordar aquela história que se conta como anedota de novos-ricos pretendendo a ilustrados e que passou de verdade com alguns pormenores bem ridículos, por um marceneiro que fez alguns trabalhos para mim.Alguém precisa de ornamentar o novo escritório ou a nova biblioteca da novíssima casa vai à livraria comprar certinhos n metros de livros, exactamente quanto medem as prateleiras das estantes que acaba de adquirir; o meu marceneiro teve que fazer uns ajustes nas estantes novas daquele seu cliente. Pois bem : a minha escolha da leitura de férias não foi pelos metros, mas pelos gramas. Procurei dos livros que queria reler por motivos muito variados, os mais pequeninos e mais leves, que não sobrecarregassem a minha bagagem. Devo dizer que tenho uma pequena paixão por livros pequenos, pequeninos, mesmo.Seria despropositado contar aqui as edições pequenas de grandes livros que tenho adquirido, quando as encontro.
Curiosamente, não sendo assim por serem edições especiais, encontram-se maravilhosas edições pequenas de traduções francesas de poetas japoneses. Mas deixando mais ou menos clara a razão do meu critério de escolha das leituras de verão, reli : um pequeno PAPALAGUI, que adoro,um obcessivo Desprezo de MORAVIA, um divertido Marmequer de MIA COUTO, as apaixonantes Nourritures Terrestres deANDRÉ GIDE, um colectivo curioso de primeiros autores de e sobre a CIDADE DE BRAGA , e dois encantadores japoneses Primeira Neve de ISSA KOBAYASHI e uma Anthologie de la Poésie Japonaise Classique. Todos juntos, os meus escolhidos,não deveriam ter ultrapassado o peso de um quilo. Não os pesei, claro está. Mas( usando agora um banalíssimo lugar comum) o que deles ficou de ensinamentos, de constatações, de "material" que vai ajudar-me a reencarar o MUNDO, pesa pelo menos tanto quanto a minha imensa necessidade de o fazer talvez de uma nova maneira...

11 agosto 2010

Férias de fogo

Aconteceram pois uns dias de férias. Se chamarmos sempre férias a uma interrupção temporal e local ou geográfica das nossas vivências habituais... Muda-se de terra, de casa, de horas, de comidas,de ocupações, de companhias, e com este mudar dizemos que fizemos férias. Até agora, eu nunca me tinha lembrado de que há efectivamente a possibilidade de surgirem factores intervenientes que podem corromper totalmente a realização das expectativas que nor malmente adicionamos àquelas perspectivas de mudança,tais como respirar ar novo, dormir sonos repousantes, distender os nervos mais ou menos crispados pelas contrariedadesinhas do dia-a-dia comum, sentir a liberdade, soltar-se, enfim... Pois é. Pois foi ! Veio o tórrido calor dos 40 graus, noite e dia, veio o obcecante odor a madeiras queimadas, veio a total e absoluta ausência de brisas matinais ou noturnas, veio o acinzentado dos verdes circundantes e o abaixamento nunca visto da água do lago à nossa frente... E a nossa roupa a mudar mais de uma vez por dia, por encharcada de suor, e a nossa preocupação pela ingestão de água e a não exposição ao que chamáramos antes ar livre ... Bom, só bom, as noites de veludo, convidando a dormir na relva, no chão...
Parece-me que era a informação que me faltava sobre a minha situação de velha senhora e senhora velha : não tendo trazido de nova o hábito de me despir e banhar em mar, rio ou piscina, não me é possível agora atenuar o sofrimento do calor, passando as piores horas, quase despida e a entrar na piscina a cada momento. Isso o faziam os meus amigos com quem estava e para eles eu percebi que toda aquela agressão da Natureza era bastante mais suportável.
Regressada ao conforto do ar condicionado da minha casa, aqui estou resistindo a esta infernal canícula com que este Verão nos tem presenteado. Lisboa está seca e poeirenta, mas mesmo assim pode ajudar-nos melhor do que esse martirizado país interior que tiranizou as minhas férias...