28 março 2010

Quaresma 6 - Ramos


Do Evangelho de São Lucas: Jesus,à frente dos discípulos, sobe a Jerusalém... ...
e toda a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus... ...
Não é difícil de perceber todo o reboliço e movimentação que esta subida provocava pelo caminho, para mais com a guarnição das numerosas grandes folhas de palmeira que cada um agitava, numa glória, enquanto elevava os seus louvores. Foi pois tudo isto um motivo de irritação para os fariseus e para os escribas que tentaram impor a sua indignação exigindo a Jesus que fizesse calar todo aquele aparato. E que lhes responde ELE ? Se eles se calarem, gritarão as pedras.
Quero muito guardar esta resposta de Jesus bem gravada na minha memória, no meu coração, em todo o meu potencial comunicativo, persuasivo mesmo, ser talvez até uma dessas tais pedras em quem Jesus confiava...
A subida é íngreme e vamos subindo, rodeados de fariseus e fariseísmos, não com a mesma voluntariedade de Jesus, mas tentando, tentando sempre... Bom é, por isso, que sejamos pedras e saibamos gritar... Será, como se diz, "meio caminho andado"

21 março 2010

Dia da POESIA

Os poemas antigos que fizemos,
sem sabermos porquê são sempre iguais.
Só repetimos coisas que dissemos,
a pensar que são novas e são mais...

Cheiramos outros cheiros mas sabemos
que perfumes assim são sempre iguais.
E sentimo-nos novos com o que temos
como se novos fossemos jamais !

De onde vem e porquê este sentido
de que após cada noite há outro dia ?
De o que foi ter-se-nos já perdido ?

Viver é crer na secreta magia
de poder-se passar além do permitido.
.Quem nos leva pela mão é a POESIA.

Quaresma 5

Manhã, muito cedinho, ainda enublado o céu de Jerusalém, ainda no ar aquele perfume misto de plantinhas humildes e árvores sequiosas, sai Jesus do Monte das Oliveiras aonde mais uma vez se retirara para orar pelo silêncio da noite de estrelas, e dirige-se ao Templo. Não seria sua intenção ficar cá fora, mas vê-se subitamente cercado de uma tal quantidade de gente que resolve parar por ali e sentar-se mesmo no chão para conversar com tamanho auditório... Vejo-o humilde ali, naquela posição, quase abafado pelo povo, e eu, cá atrás, espreito por entre escribas e fariseus e entrevejo-o calmo, talvez um pouco cansado, sem erguer a voz cadenciada, doce e forte em simultãneo, envolvente, a ensinar... Consigo ouvi-lo pois todos o escutam em silêncio... E,quando menos se esperava, um enorme reboliço ali atrás, uma mulher acossada por um grupo ululante,furando,furando em clamor de ameaças e insultos até tudo estacar frente a Jesus...Naquele código de justiça vigente, a mulher iria ser lapidada por acusação de adultério. E eu a olhá-la, miserável, assustada, ali de pé, frente àquele Jesus de quem certamente já ouvira a fama, suspensos todos com ela do castigo que lhe iria atribuir Aquele que só pregava justiça a todo o tempo... Escribas e fariseus não queriam senão colocar Jesus em situação difícil ali,publicamente, trazendo-lhe um "caso" difícil para se poder verificar da Sua coerência... Temi por ELE, confesso.
E aconteceu que vendo Jesus quase imóvel, e sendo agora a vozearia enorme, não consegui ouvir o que Ele falou, mas vi toda a gente começar a debandar, aos poucos, agora dois, logo um só, depois uns três e sempre assim até que só ficou a Pecadora, sempre de pé, frente a Jesus... Atrás de mim, outro curioso como eu disse-me: - ninguém se sentiu em condições de lhe atirar a primeira pedra, como ELE lhes disse... Ouvi então nitidamente aquela voz serena e doce que não se esquece, quando se tem a graça de a ouvir : ... não te condeno.Vai, e doravante não voltes a pecar !...
Nesta hora, Jerusalém já resplandecia para mim, sob um sol aberto e reconfortante que me iluminava os caminhos, mesmo por aquelas ruazinhas mais estreitas e sombrias por onde viera, antes daquele encontro junto ao Templo.

19 março 2010

No Dia do Pai

Primeiro, a mão pequenina
aprende os gestos em cruz
e a boquita já murmura
Em nome do Pai...que era
Pai do Menino Jesus...

Junto à cama, pela manhã
e à noite, à cabeceira,
aprendeu a ajoelhar
pra falar com o Pai do Céu.

Mas ao da Terra, esse Pai
que pousa em sua cabeça
a mão quente a abençoar
e o acolhe nos braços
sempre que o fazem chorar,
também aprendeu a amar
mas de uma outra maneira
com outros,diferentes laços...

Crescer...é viver partindo!
Muitas coisas aprendendo,
mas tantas não entendendo...
Ó Pais da Terra e do Céu
ainda nos estais ouvindo?

14 março 2010

Quaresma 4


GAUDETE ! ! !

Hoje os senhores Padres paramentam-se de cor- de -rosa. É, no meio da contristação da quaresma, um parêntesis de alegria. Porque se fala com muita força e bons exemplos de como nós podemos sempre contar com a infinita misericórdia de Deus. E mais : São Paulo fala-nos em reconciliação depois de nos ter dito que o que era antigo passou; tudo foi renovado, porque Deus, por Cristo, reconciliou o mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens por ter identificado Cristo com elas, Ele que delas nos remiu, como sabemos.

E é assim que São Lucas traz o Filho Pródigo de volta à casa do pai que o recebe em festa ( o perdão, está claro ). Só temos que pensar bem na nossa reconciliação partindo de um antigo que merece ( ou não ? ) ser renovado...Gaudete !
Nota: reprodução do quadro de REMBRANDT, O REGRESSO DO FILHO PRÓDIGO

12 março 2010

Professores e Alunos

Foi há dois dias : a última aula do Professor José Gil. Foi lá tanta gente que se tornou necessário passar o som para os corredores por onde se teve que espalhar o auditório. O meu interesse pelo tema desta aula - A formação da linguagem artística e a Filosofia - e a minha admiração pela contribuição que este filósofo tem dado para se estudar Pessoa, além de muitas outras coisas, não vêm hoje aqui à colação. O que me traz ao desabafo, à meditação, é o facto de verificar que, quase em coincidência de datas, há um professor que se aposenta entre aplausos e há outro que se suicida, por não conseguir fazer-se respeitar pelos alunos que troçavam da sua figura e desrespeitavam de toda a maneira as suas aulas de...MÚSICA !
Entretanto, tomando conhecimento desta notícia, não foi possível deixar de associar a esta tragédia a do pequeno transmontano que primeiro diziam ter-se suicidado e agora já afirmam a sua não intenção de matar-se, naquele desespero de atirar-se à tumultuosa corrente do rio.Também este rapaz terá desistido,( mesmo que não fosse em definitivo) , de encontrar o respeito pela sua humanidade da parte dos outros com quem se via obrigado a conviver diariamente.
Então pergunto-me : que mundo é este das escolas, agora ?
Conheci por dentro, primeiro como aluna, depois como professora, escolas públicas e escolas privadas. Era outro tempo, bem sei. Mas porque há-de haver uma tão grande diferença entre os "tempos" como a que vai do viver para o morrer por causa de uma destroçante sensação de incapacidade de reagir contra, de fazer valer os seus valores, de proporcionar o discernimento em uns e outros ?
Dizem os sociólogos que os naturais instintos têm que ser sujeitos a educação para o social, dizem as religiões que o outro pode até ser uma projecção do divino, dizemos nós que por alguma razoabilidade se criou um código de Direitos do Homem. E não há quem pense e faça o MUNDO pensar em tudo isto ? Os jovens, as crianças que hoje se mandam às Escolas em que é que são diferentes daqueles que já gostaram de as frequentar? E o conceito escola - professor - crescimento - aprendizagem, deixou de ter dignidade ? E PRATICABILIDADE ?
Ou bater, falar grosserias, ignorar patamares é mesmo o que as famílias praticam e os jovens apenas reproduzem ?
Diz o Proessor José Gil :No meio da grande perturbação actual.......agarramo-nos... não já ao familiarismo que explodiu como meio envolvente, mas à família desfeita ainda pertinente como ideal imaginário que se remenda todos os dias com a ajuda de psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.
Ideal imaginário !... Que pena !

11 março 2010

Viver -quando,como,onde,porquê

Faz precisamente hoje um mês que tive a alegria de me ter sido comunicada a publicação do meu novo livro VIVER - quando,como,onde, porquê. Parecendo talvez que sou espontânea e extrovertida, há certas emoções ( grandes ou extra - ordinárias ) que me estupidificam( do verbo stupeo latino) e é mesmo preciso tempo, espaço, para eu " entrar na real" como dizem os brasileiros.
E agora que já descongelei, posso falar do que foi escrevê-lo e "fazê-lo" e publicá-lo; depois, do que foi comunicar aos amigos a sua existência e por fim do que foi aguardar os comentários ou pelo menos aquelas mostras de regozijo pela realização de um amigo, que são expectáveis.
Antes de tudo, há que explicar que não fui eu que fiz este livro.Nem nunca o teria talvez publicado se não tivesse tido quem o fizesse, como tive.
Ignorava em absoluto que existisse uma empresa editorial a que se acedia pela Net que editava sob nossa encomenda e em condições financeiras completamente originais e atractivas, e ainda sem mais nenhum incómodo para o autor para além do descarregamento do seu texto no mail da editora. Tudo isso foi uma porta que me foi aberta por aquele que conheci como o "Professor para o uso do computador" e que pouco a pouco se foi tornando amigo, conselheiro, auxiliador, sempre atento e pronto tanto a "adivinhar" o auxilio de que estou precisando no momento, como a não se furtar aos incómodos que o prestar esse auxílio lhe possa trazer. Assim, foi ele que chamou a si todas as tarefas da construção do livro, em diálogo com a Editora, ficando para mim apenas os cuidados com os textos. E eis que nos surge algo em que não pensáramos antes : a CAPA.Sem dotes de designer mas com ideias sobre o que queríamos, lembrei então uma oferta que há anos me fora feita pela minha sobrinha VERA, especialista em ilustração de livros... Na troca de dois ou três e-mails transbordantes de simplicidade e boa - vontade, ficou esboçada a capa para cuja simbologia houve troca de opiniões, tendo vencido a do Professor: a força da Vida que sempre vai vencendo os obstáculos e contratempos.
E assim ficou feito o livro.
E assim nasceu a enorme carga de gratidão que eu quero que transpareça ,antes de todo o resto, daquele objecto-livro, quando qualquer pessoa lhe pegar para o ler. Qualquer pessoa... Daqui virão, e já vieram, algumas revelações...
É a tal situação em que o símbolo da capa é afinal válido, como insistiu o Carlos, o Professor. .

09 março 2010

Dia da Mulher

...e eu que não gosto lá muito dos dias de, não é que ontem me vi comovidamente a entrar nesse dia pelas mãos de quem certamente imaginou uma Maria de Lourdes que eu não pessoalizo ?!
Podia ter-se-me enchido o peito de vaidade. Mas ao que me levaram aqueles queridos tão queridos, foi a fazer uma minuciosa revisão de vida, lenta, `a lupa, e a ficar cheia de interrogações e muito mais preocupada com aquilo de que serei capaz na progressão do meu envelhecer...

06 março 2010

Quaresma 3

Hoje, quando menos esperávamos, no meio do frio da nossa invernia persistente, sai-nos ao caminho o reconfortante calor daquela sarça ardente que encheu Moisés de espanto e de responsabilidade... EU SOU !...Tinha agora sobre os seus ombros o peso daquelas palavras saídas do fogo, com a força do fogo !Protectoras, condutoras, mas tão estranhamente misteriosas !...
Do que depois foi,nem Moisés o podia prever naquela hora, naquele espanto...Tanta coisa aconteceu ! Se aquele povo tivesse procedido como o projecto de Deus concebera para o situar na vasta terra onde corria leite e mel, nada teria sido como foi.Nem Jesus teria convivido com a injustiça, a prepotência e as suas vítimas;não teriamcertamente morrido pessoas sob o desabamento da Torre de Siloé, nem tão pouco haveria figueiras estéreis na beira dos caminhos .
O que comprendi hoje foi que me é necessária uma serena mas férrea vontade de não cair,porque, como diz São Paulo, "os desejos perversos" de todos nos arrastam uns com os outros, mesmo os que pensamos que vamos estar sempre de pé, quando o Senhor Deus nos avisa com exemplos dolorosos de quão errado é o caminho que o seu povo está a seguir...
Em presença das trágicas calamidades que esta enorme invernia tem provocado
quantos soterrariam mesmo estas Torres de Siloé ?...