30 julho 2006

Momento Zidane

Ao sábado de manhã é obrigatório ver e ouvir os programas da UN IVERSIDADE ABERTA, na TV. Feitas as escolhas, sobre o sumário que nos dão, no início, há sempre aquela ou aquela "aula"que vai preencher alguns bons momentos da minha manhã. Para muitos ( oxalá ) é a informação que não terão oportunidade de receber noutro lugar ou hora, para muitos outros é o reavivar de memórias, o actualizar de conceitos. Para todos é a sedução exercida pelos nomes de alguns intervenientes que"iluminam" certas aulas em equipa com os professores titulares, ou a sós, quando aqueles assim o entendem. Assim, ontem, ouvi EDUARDO LOURENÇO, em conversa solta, sem pautas a marcar compassos, sem condução preconcebida por parte da inteligente interlocutora. E de Lourenço eu tenho sempre tido a impressão que aquele seu olhar vivíssimo, escondido lá por trás da rareza ou clareza das pestanas, está sempre vendo o mundo com um certo arzinho trocista...E sobre o que se passa em seu redor ele relativiza os factos "porque o Homem..." , "porque a História...", porque a sua agudíssima clarividência o traz em análises sucessivas, consequentes e coerentes, através da nossa velhíssima Europa a lembrar-se daquele "inimigo turco" do qual pouca gente se lembrará ! E é então que ele entra por dentro duma certa maneira de, actualmente e a qualquer nível, se olhar a VIDA como um jogo. Como tal, diz ele, interiorizámos que há apenas os dois polos e o intervalo entre eles só vai sugerindo as várias nuances da violência que será a resolução do diferendo. Parece que sempre terá sido assim, só que hoje há mais ingredientes, uma espécie de mais lenha para atear mais as "fogueiras". E então sucedem ao Homem situações, não premeditadas, mas incontroláveis, quando em zonas limite. Socialmente fala-se do stress...
Mas LOURENÇO chama-lhe um momento ZIDANE. Compreensível, pois. E mais, diz ele que todos, todos nós temos os nossos momentos Zidane !...

27 julho 2006

Da AMIZADE

Conta o Evangelho que, durante a última ceia que comia com os discípulos,Jesus se levantou da mesa, preparou-se, deitou água numa bacia e começou a lavar-lhes os pés,ajoelhado junto de cada um, enxugando-os depois com a toalha com que cingira a cintura. E foi Pedro que reagiu contra tal acto pelo que Jesus lhe terá dito:"Se eu não te lav ar os pés, não terás parte comigo". O que levou logo a que Pedro exclamasse "então,lava-me todo, cabeça e tudo "...
Desde sempre entendi que aquela expressão _ter parte com_se referia a algo que os uniria a todos, para além de tanto que tinham vivido juntos, para além daquilo a que hoje chamaríamos talvez camaradagem. Era mais união, intimidade. E parto sempre daqui para a AMIZADE.
Toda a rudeza daqueles homens que seguiram Jesus, talvez lhes não permitisse a sensibilidade para quanto os unira o viverem lado a lado o bom e o mau, as horas de cansaço e as horas de fraqueza, os fracassos e as alegrias, a fome e as sedes, os medos, os pés feridos, as surpresas...
Punham tudo em comum, sabiam os cuidados e os pequenos segredos de uns e outros...
E com todos os grandes e os pequenos momentos haviam construido algo a que só JESUS sabia dar um nome que lhes ensinou naquele gesto simbólico .
Claro que nós ,dois mil anos de sensibilidades apuradas, não pensamos assim a amizade.
Não " temos parte" com ninguém, porque somos amigos,sem partilha real e efectiva. Queremos amigos garantidos pela tecnologia, mas a distância entre nós todos é cada vez maior. Que sei eu do hora a hora, do silêncio ou do esgar com que reage ou chora o meu amigo, nos seus momentos a que nunca assisto ?
Para termos parte com alguém não deveriamos escolher outra palavra?
Percebemos quanto a palavra AMIGO vai estando gasta ?

25 julho 2006

Habitar sempre a sua própria casa__Que guerra?

"A CASA QUE NÃO CONSTRUISTE TORNAR-SE-Á TUA SE A "HABITARES".Guardei de memória esta frase lida num dos livros da Simone de Beauvoir. Não há nela nenhuma mensagem de vanguarda, mas muito simplesmente a constatação de tantos acontecimentos que de súbito nos "caem em cima", sem que aparentemente possamos intervir.Acontecimentos pessoais( uma doença, um fracasso, um acidente, a morte dos que amamos...), ou acontecimentos colectivos ( cataclismos, desastres, guerras...) . Mas, se os não construimos, só podemos fazer uma coisa : dar-lhes um sentido, "habitá-los", integrando-os na nossa história pessoal, aceitando-os como algo que nos transformou. Recomeçamos sempre e, com o que passamos a ser, sempre tentamos construir alguma coisa diferente,mas outra e inevitável.
Todos nós necessitamos, incessantemente, de apropriarmo-nos dos acontecimentos, de fazè-los nossos, senão a nossa presença no mundo seria uma desadequação insustentável.
Mas, em tudo isto,quem crê em Deus pode ir bastante mais longe, porque, ao descobrir o sentido dos acontecimentos, reconhece um novo tipo de relação com esse mesmo Deus. Nunca mais será aquele fatalismo__"...é a vontade de Deus, submeto-me..."__ mas será antes __"...graças,meu Deus, porque me ensináste esta outra forma de vida..."
E sabemos todos que somos de novo capazes de revigorar velhas forças para uma nova partida, para ,sempre, a nossa própria "casa"...
É com isto que contamos, nesta, mil vezes repetida, impiedosa guerra que não queremos...

23 julho 2006

VELEIROS

Petit bateau aux voiles transparentes
qui glisses sur l'eau bleue
comme un cygne rêveur,
petit oiseau marin,
couleur des roses blanches,
va loin, très loin,
chez les nuages ou les dieux,
chez les contes de fées...
Va chez les doux miracles
et glisse sur l'eau verte...
Je me laisse emporter
vers les gouffres ou les cieux
vers les cimes rêvées...


Este pequeno poema é extraído de um conjunto a que chamei "POEMAS COR DE ROSA" ,tão datados que devia ter algum pudor ao dar-lhes alguma visibilidade agora, que já até esqueci porque é que alguma coisa pode ser cor de rosa !
Porém, foi um tal agitar de recordações aquilo que vivi hoje, que até me permiti dar-me a este "luxo" de ir revisitar o que tão intensamente foi para mim cor de rosa noutras vidas...
Os grandes , majestáticos veleiros deslizavam num Tejo de dias de festa: azul como poucas vezes, aqui e ali manchado do verde que só se vê no fundo das esmeraldas verdadeiras, e liso e bem comportado, como costumo dizer, passado a ferro. E eram às dezenas, como pássaros poisados, os pequenos veleiros que, à volta dos grandes , pareciam brincar ( apetecia-me dizer retoiçar, como se usa para os petizes ). Parecia até que não haveria ninguém que tivesse uma qualquer casca de noz , com um mastro e um pano de vela, que tivesse ficado em terra!
Era um hino à alegria ! Os grandes senhores de toda a festa , velas de várias cores, do verde ao preto (!!!), de várias geometrias e impulsos, embandeiraram-se de mil maneiras, uns finos e longuissimos, outros mais encorpados, proas altas, e fendiam aquelas águas oferecidas, sedutoras, com uma espécie de amor, carinhoso e suave... Será que aos respectivos países eles vão levar esta maresia tão só nossa? Esta recordação que a nós nos fica ?...

21 julho 2006

Que guerra é esta ?

Estou,estamos todos horrorizados com o que o Homem é capaz de fazer,quando se convence que advoga causas que são as únicas válidas, sem qerer admitir que "o outro lado" tem também razões que julga válidas...Matar sem ouvir, ou,pelo menos, sem atender ao que ouve? Haverá o lado limpo, contra o lado sujo ? Tão simples quanto isto? João Paulo , o Papa, dizia que as ideias não se impõem mas apenas se propõem... É que, depois, há sempre a hipótese da inteligência, da ponderação, dos valores da honra, da dignidade, da humanidade, do amor da paz...
E se não houvesse armas?...

19 julho 2006

METEOROLOGIA

Estávamos a chegar ao limite suportável de uma enorme semana com temperaturas ambientes a rondar as margens dos quarenta graus, sem noites refrescadas.
E acordámos sob um calor embaciado mais sufocante do que o soalheiro.
Foi depois que se soltaram os ventos...Alucinados, desarrumados,medonhos, ameaçadores. Duraram talvez um quarto de hora a enrolar e desenrolar ramos de árvores, plantas amadas das donas de casa, em suas varandas, janelas timidamente entreabertas, saias de muita roda de raparigas vistosas...enfim, um tumultuar tão louco quanto absolutamente fora de qualquer expectativa. E como o calor continuou durante e depois, o bicho-homem teve medo. Mas de quê? O certo é que este "bicho da terra tão pequeno" já nem sabe muito bem de que é que tem medo.
Tem medo. E é assim mesmo!
São tantas as tragédias meteorológicas do mundo com que nos vemos envolvidos, afligidos, sacudidos, presenciais, graças a todos os meios globalizantes que são o benefício deste progresso que, por várias vias ,nos vai matando aos poucos, que em vez de sermos mais sábios e precavidos, vamos tendo mais medos e cada vez nos valemos mais da esperança...
Mas quem pode resistir à volúpia do perfume quente da terra molhada, humedecida de fresco, quando acontecem coisas assim em pleno verão?

16 julho 2006

Aleixo e ...Agostinho

Do Aleixo

Há tanto burro a mandar

em gente com competência

que às vezes chego a pensar

que a burrice é uma ciência...

De Agostinho da Silva

...e posto que viver me é excelente,

cada vez gosto mais de menos gente...

13 julho 2006

Quem "faz" um escritor?

Estou já a antever um enorme brouhaha levantado por todos aqueles que vão querer pesar bem cada um das quatro palavras que estão naquela pergunta;e também os quês e os porquês delas ditas por mim...E vou pensar , não em voz alta, mas em voz escrita.
Dos milhares de livros lidos até esta minha idade, faço agora um levantamento. Desde já, deixo à parte todos aqueles que usei para a minha formação,por onde estudei e que foram o alicerce de tudo o que hoje sei.Começaram por entrar na minha vida, ou citados ou aconselhados pelos vários tipos de mestres que fui tendo.A partir de certa altura, eu própria fui sabendo encontrar outros que ou lhes eram relativos, ou consequentes , ou complementares.
Mas os livros de lazer,de prosa ou poesia, como os tive? Como soube deles?
Todos os clássicos que respaldaram a minha formação cultural e literária, podem ser incluidos no grupo dos que atrás referi.
Porém, bem novinha, comecei a ler a Condessa de Ségur e o Júlio Verne que me foram apresentados numa espécie de tradição familiar.A par desses vieram também contos tradicionais e traduções de La Fontaine.
Já mais mulherzinha,eram as amigas do colégio que passavam palavra e, por étapas sucessivas, apareceram várias fontes de encantamento.Lembro um tal Max du Veuzit,capas azuis com letras de azul mais escuro,que hoje reconheço que seria o que agora chamamos literatura light, e que nós todas liamos ás escondidas.Felizmente fui descobrindo coisas melhores. Lá vieram as irmãs Brontë, a Florence Barcklay, a Pearl Buck , o Pierre Lôti, o Stephen Zweig, e muitos depois e de outras maneiras,traduções ou não ,que o meu aprendizado já ia permitndo o prazer que nunca perdi de preferir os originais.
Tudo isto para dizer que só na Faculdade comecei a ouvir falar de EDITORES e de EDIÇÕES.
Por causa dos nossos estudos comparados, por causa das nossas pesquisas. O valor relativo do editor ou da edição reportava-se à maior ou menor fidelidade ao texto original do autor ou à sua verdadeira situação na época ou no espaço.O editor era para nós,talvez,uma espécie de prova testemunhal...
E como tanta coisa mudou ,que nem já Camões saberia como cantar essas mudanças, a minha perplexidade cresce todos os dias, porque todos os dias constato,na leitura de jornais e revistas da especialidade, o aparecimento de novas e múltiplas editoras, sem que isso corresponda a uma mais ampla divulgação de ljvros novos.O editor não é raro , como naqueles tempos,claro...
Mas o editor anuncia-se,em fortíssimas pressões publicitárias, apresenta as suas performances e muita gente,toda a gente, conhece as coordenadas políticas em que se situa.
É assim que estou quase a chegar à razão da minha pergunta inicial.
Como actualmente é enorme toda a espécie de concorrência, como poderá o editor competir com os seus pares se não for pelos melhores trunfos que possa apresentar ? Escolherá os "seus" escritores, segundo critérios comerciais, como é óbvio.E então tratá-los-á como vedetas...
Infelizmente, há muito mais escritores do que estes "escolhidos" que se sentem excluidos, injustiçados . Mas ,como em todos os negócios, às vezes, por um acordo negocial, também outros são aceites para publicação .Mas ...não serão nunca vedetas.
É assim que me acontece às vezes encontrar um livro muito bom,por mero acaso, recentemente publicado mas de um autor de que nunca ouvi falar...
Tenho um desses na minha mão agora.

12 julho 2006

Um belo dia que aí vem ! Como dizia Madre Teresa de Calcutá : o ONTEM já foi; o AMANHÃ nunca é uma certeza.Só temos seguro o dia de HOJE. Vamos começar !...

10 julho 2006

Neste fim de semana, o convívio de amigos. Surpreendente foi o dizerem-me que encontram no que escrevo, inclusive no que já publiquei, uma tónica dominante acentuadamente mística !
Esta espécie de rotulagem foi-me dada por pessoas muito diferentes entre si e que eu sei que me lêem com "olhos" também muito diferentes.
Se isto é então verdade, é algo que me ultrapassa, porque eu não escrevo senão com a intenção de me libertar.Era o Freud que dizia que o peso de uma" culpa" não desaparece enquanto a não verbalizarmos...
E pergunto-me se, para além do que julgamos conhecer de nós, ainda existe um "mais fundo" um "mais íntimo", nunca confessado, que se nos escapa quando não estamos de sobreaviso...?
É pois preciso estar muito mais atenta !
Temo realmente que essas observações que me fizeram os meus amigos tenham vindo roubar a naturalidade da sensação de evasão que o escrever me proporciona.
Sinto-me agora enleada no medo da revelação de coisas que afinal nem eu ainda sei de mim...
Mas sei , isso sei, que não há que confundir fé com misticismo.

06 julho 2006

Acreditar, só por acreditar, torna-nos extraordinariamente dependentes.estranhamente comprometidos. Porque as razões do acreditar são de tal maneira subjectivas que não podemos descartar a sempre possível variabilidade condicionada pela evolução nossa ou alheia.
O porque acreditamos pode sempre diluir-se, desvanecer-se, ou, pelo contrário, pode consolidar-se, transformar-nos em crentes ou, o que será muito mau, fazer de nós uns fanáticos...
Por isso, é preciso não prescindir da dúvida, a bem da nossa liberdade...

05 julho 2006

Da minha relação com o sofrimento, a dor,
gostava de falar em línguas novas
com palavras que fossem desenhadas
pelo fogo de um olhar e, ao mesmo tempo,
ribombassem surdo,
como o longínquo estrondo do trovão...
... Bolhas a ser sinais
de uma qualquer fermentação...

O por dentro das feridas materiais
traz ao corpo que as tem a dor pior,
tortura mansa da humilhação
de assistir-se a si mesmo,
causa e efeito,
progresso esconso da degradação...

Despudorada e nua, vem a dor...
E aprofundam-se os espaços abissais
entre aquilo que morre e o que é infinito.

Desmorona-se o que era tão bonito
na história da humana condição...

Estigma que a ferro em brasa foi marcado
— jogo de luz e sombras, perda e esperança —
porque é também de carne este ser limitado
que nasceu também Deus,
só porque foi criado
à sua semelhança ?...


02 julho 2006

E afinal os rapazes ganharam o tão esperado JOGO !
Contagiada por tudo o que o vinha envolvendo, eu "estive" na TV,a vê-lo.
E vi esta coisa lindíssima : aquele jogador que me parece ser o mais novo de todos eles, consegue, com a sua jogada, garantir o triunfo da sua equipa e, logo, logo, levanta os olhos, a cabeça,a mão,para o alto e ...murmura !!!Todo o seu corpo é uma ascenção para um ALTO onde ele sabe que é ouvido, que é visto...
Podia esperar tudo menos esta imagem assim,no meio de toda aquela parafernália de forças, manhas,desafios,violências. E não consegui conter uma lágrima de emoção perante aquela explosão de FÉ, tão genuina quanto imprevisível.
E um pouco mais tarde, já com a poeira da refrega mais assente, surge-me um outro "herói",o responsável por toda a glória dos outros, aquele que aparou com as suas mãos possantes todas as investidas dos seus atacantes , o que tinha razões bem fortes para uma bem humana vaidade,
ao ser perguntado sobre a quem dedica esta vitória , responde com os olhos húmidos,que ao
seu filho,à sua mulher e...aDEUS ! Assim, na mais natural das simplicidades.
Afinal o foot-ball é bonito!
Eu é que não sabia...

01 julho 2006

Todos os amigos com quem falei,todas as notícias de jornais,rádio ou televisão, nestes dois ou três últimos dias me mostraram, em gradações variadas, uma enorme ansiedade pela chegada do dia de hoje que ,como uma mulher grávida, traz no seu ventre um importantíssimo jogo de foot-ball.Para mim, apenas mais um deste Campionato a decorrer e no qual, naturalmente, se têm sucedido as vitórias e as eliminações.
A minha formação e a informação na área desportiva sempre foram quase nulas. Por isso sei muito pouco acompanhar, como talvez deveria, aquele grupo de rapazes que a TV nos mostra juntos com a bandeira e o hino deste meu país que eu tanto amo.E agora amo-os a eles todos.Não quero que lhes aconteça nenhum mal :são fortes, saudáveis, bonitos...e parecem-me um tanto ingénuos, se acaso os oiço falar.Têm de muito bom uma enorme crença na defesa de certos valores, e isso tem muito a ver com a preservação da nossa consciência de povo , de nação.
E então vejo-os, oiço-os, sinto-os, a viver toda esta ansiedade porque aí vem um SENHOR JOGO,e fico-me a pensar :como terá sido para eles este escoar de tempo, até hoje?
Para depois daquilo a que os obriga a sua função de jogadores, o que lhes fica nas horas de expectativa? Será que nas suas cabeças ou nos seus corações há a noção de um relógio como este
meu?


O RELÓGIO DE SALVADOR DALI


Como do tempo estou andando atrás,
hoje porque me falta e já se esvai,
àmanhã porque, em esperas, me parece demais,

entendo que é a VIDA que se escoa
entre dois ponteiritos deslizantes
sobre um surrealista mostrador

que,indiferente e flácido ,entretece
os segundos e as horas e as deshoras
da nossa vida toda, até um dia...

Dia da soma de tantas demoras,
das chegadas falhadas,
das partidas tardias...

Eu é que então não estarei mais aí.
Ter-se-ão já escorrido todas as minhas horas...
Estarão já derretidos os meus dias...