25 dezembro 2006

NATAL

de António Gedeão :
H OJE É DIA DE SER BOM...

A época das BOAS FESTAS

Foram passos, pelo saibro
que rangia...
Em revoada,
as aves levantaram.
Voaram soltas.
loucas
e,indecisas,
pairaram...
Até parecia
não lhes apetecer mais liberdade !
E, a pouco e pouco
o bando regressava
à suave penumbra que acolhia...
NATAL !
Pousa os teus passos devagar!
A indecisa revoada louca
das coisas que já foram, algum dia,
fica à solta, a pairar,
e o seu retorno
às veredas reais,
em cada ano
vai doendo mais...

24 dezembro 2006

Oração no Presépio

Faça-se em mim, Senhor,
como em MARIA,
esse terreiro aberto,
aceitação
da palavra de um Anjo
que anuncia...
Para que "tudo guarde"
e a semente germine
no cálido interior do coração,
p'ra que a Tua Vontade
seja a minha também
como em MARIA,
eis-me aqui debruçada,
incenso e mirra,
tentando partilhar as dores de Tua Mãe...
Cântico e oração,
quero o fluir fecundo
da minha voz. agora,
p'ra levar-te, meu Deus,por aí fora
e anunciar ao mundo
que eu também
tive um filho em Belém...

17 dezembro 2006

Domingo "GAUDETE"

Da carta de S.Paulo aos Filipenses

Alegrai-vos !O Senhor está próximo.Não tenhais qualquer preocupação! E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos...

16 dezembro 2006

Meditações de Advento


Depois de Isaías nos anunciar que"assim como a terra faz brotar os germes e o jardim faz germinar as sementes, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor diante de todas as nações", lemos também em Samuel que "já David morava em sua casa e o Senhor lhe concedera estar tranquilo diante de todos os seus inimigos", quando foi o próprio David que chamou a atenção para a desigualdade que havia entre a sua "casa de cedro" e a" tenda" onde tinha sido colocada a ARCA DO SENHOR. Por isso mesmo ,DEUS anuncia então ser sua própria atribuição estabelecer um lugar para o seu povo se fixar e, com ele,David na casa que o Senhor fará para ele como para um rei desse povo. É daí que irá brotar o verdadeiro TEMPLO onde o Senhor habitará...
E fica-se a pensar como eram( são) grandiosos os planos de Deus para nós,homens, na medida em que, tendo sido criados como filhos de Deus e irmãos de Jesus,somos aqui e agora esse templo vivo destinado à eternidade. E também à TRANQUILA CONVIVÊNCIA, enquanto portadores das sementes de justiça que o Senhor quer que germinem em nós...

10 dezembro 2006

Iluminações de Natal em LISBOA


Lisboa adormeceu, já se acenderam mil velas... Era assim que começava e começa uma daquelas ondulantes e saltitantes marchas que reproduzem o espírito popular e boémio desta cidade pelos "Santo António's", nas ruas e, em qualquer época, nos palcos do Parque Mayer, quando ele era uma realidade e não um simples "vestígio", como agora é. Tenho a certeza de ter ouvido lá, pela primeira vez, este retrato cantado da noite farrista e poética mas já me não lembro muito bem onde é que se acendiam as mil velas: ou era nos altares das capelinhas ou nos das colinas... Isso agora saltou na minha memória por causa das espampanantes iluminações que contornam, sublinham, recobrem ou simplesmente invadem ruas, praças, largos, escadinhas, recantos, tanto na Baixa como nos bairros mais periféricos... É de facto uma féerie onde há coisas muito bonitas e imaginativas e outras de relativo mau gosto. Jogar com design, alegorias, cores e luzes não deve ser para as capacidades de qualquer um... Por exemplo, na Avenida da Liberdade foi usada uma cor azul que, junta com o prateado, resulta fúnebre... Mas depois há uma enorme, enormíssima árvore no Terreiro do Paço, isto é, um gigante cónico sempre a mudar de efeitos tanto em cor como em motivos da época, e que enche a praça de luz. E de povo! Lisboa gosta de "música e fardamentos novos", como se diz por graça, mas é verdade. Lisboa vem "ver", quando há qualquer coisa diferente e, meu DEUS, agora é festa ! Também eu fui "ver" e gostei de ter ido...

05 dezembro 2006

Advento


Senhor! Estás chegando ?
Dizem-me que virás
e alvoroça-me a espera...
Quando, quando será?
Por agora, só sei
Que virás como um Rei
A transformar as dores em alegrias
E a colocar a Paz
aonde há guerras...
Disse-mo um Isaías
Que em teu nome nos diz
o que dirias
se o teu reino de Amor
fosse na Terra já...
SENHOR!
Quando, quando será ?

30 novembro 2006

Sophia de Mello Breyner —— 3 momentos


Era quase no inverno aquele dia,
tempo de grandes passeios
confusamente agora recordados —
— A estrada atravessava a terra ao meio
E em rigorosos muros de pedra e musgo a mão deslizava —
Tempo de retratos tirados
de olhos franzidos sob um sol de frente,
retratos que guardam para sempre
o perfume de pinhal das tardes
e o perfume de lenha e mosto das aldeias...

A respiração de Novembro verde e fria
incha os cedros azuis e as trepadeiras
e o vento inquieta com longínquos desastres
a folhagem cerrada das roseiras...

Um pálido inverno escorria nos quartos
brancos de silêncio como a névoa.
Um frio azul brilhava no vidro das janelas.
As coisas povoavam os meus dias
secretas, graves, nomeadas...

23 novembro 2006

Recordações na cidade pelo nevoeiro

Extracto de memórias que tenho em livro.
Exemplo de meteorológicas sugestões foi hoje,em Lisboa,dia cinzento de Novembro,finamente embrulhado em nevoeiro, um friosinho fino a entrar-nos pelas narinas... ...E eu,pela rua, a caminho da Place Schumann, descendo até ao Berlémont, manhã cedo...Lá dentro, os elevadores, as alcatifas e as salas cujos quentinhos emanam dos madeiramenos que tudo revestem e parecem apenas feitos para abafar os nossos gestos e vozes. A grande bancada oval ou cicular com os seus apetrechos de som, ouvidos e olhos ávidos das nossas sempre diplomáticas palavras...E o respeito,muito respeito cívico imposto pelas bandeirinhas e tabuletas com nomes e símbolos que nos identificam e representam tantos outros países,como o nosso, em procura e por nosso intermédio, de tantos e tão necessários entendimentos ! Creio que nós, os intervenientes nesta estupenda e grandiosa missão de criar unidade a partir da multiplicidade, de fazer união do que, até então,era só individualismo( uns e outros às vezes utópicos), creio que nós nos sentimos todos mais ou menos intimidados perante aquelas bancadas envolventes de uma "bocarra" central,espaço vazio como uma goela de bicho,símbolo para muitos ,como para mim, do enorme vazio que tanta cabeça pensante dificilmente alguma vez conseguirá preencher satisfatoriamente, pelo menos enquanto actuando de forma tão aséptica e impessoal quanto nós o vamos fazendo, ali quase só números para as estatísticas da Eurostat,também ela asséptica e fria! Para nos sentirmos humanos, vale-nos o que, por detrás de nós,se desenrola de actividades logísticas várias: os tradutores,semi-murmurando nos seus camarotes; os secretários com os seus carrinhos atulhados de actas,notas,comunicados,estatísticas,mapas, memorandos, que metodicamente vão distrsbuindo;as hospedeiras com carrinhos mas estes com cafés,chás,águas e bolachinhas para todos os gostos, espalhando um rasto cheiroso que nos conforta e dá uma nota quase doméstica a toda aquela parafernália de profissionalismo e eficiência... ...
Depois,é o retorno ao cinzento frio nevoento exterior...Bruxelas anoitece introvertida,tal como amanhece.
Vamo-nos sózinhos ou em pequenos grupos,pelos boulevards super-povoados,super-iluminados, ou retomamos as auto-routes de saída para as banlieues que nos permitem ouvir o marulhar ao longe das matas húmidas e aromáticas como,por exemplo, a caminho de Waterloo...
É aqui que regresso à minha Lisboa de NOVEMBRO,hoje meteorologicamente disfarçada de cidade europeia,desligada, por este dia, dos ventos e marés cheirando a Áfricas e Índias...

19 novembro 2006

Amadeo de Sousa Cardoso

Eu, que sou a mulher dos nevoeiros, posso dizer que fiquei embriagada de cor agora, na GULBENKIAN. Haverá já mais de trinta anos sobre o meu primeiro contacto directo com Sousa Cardoso,em Amarante, quando precisamente se instalava um museu muito incipiente, com pouco mais que meia dúzia de quadros apenas a mostrarem-no sem nenhuma outra preocupação que não fosse essa, porque ali era a sua terra( Manhufe ), porque quem pensava nessas coisas, entendia que ali era o seu lugar. Aliás, foi também por essa época que tive a "graça" de visitar a casa de Teixeira de Pascoais que a família conserva intocada na parte do que eram os seus aposentos com aquela famosíssima janela donde se abrange a majestade do Marão... Na verdade, se não houvesse por ali tanta beleza natural perfeitamente esmagadora, será que nestes dois homens "enormes" teria brotado da mesma forma tanto "estilo",tamanho virtuosismo? Não será correcto admitir que certos caldos de gestação são propícios ao apuramento das sensibilidades?
Voltando a Lisboa,avenida de Berne, agora. É o que se chama uma exposição "à séria", como os jovens gostam de dizer. Houve o cuidado de deixar em destaque as múltiplas influências que Amadeo recebeu em Paris nesse princípio do século XX em que convergiam para aquela cidade os artistas das mais variadas nacionalidades com os seus apports específicos,mas procurando todos as grandes directivas de uma modernidade que se traduzia por vários -ismos e transbordava para todas as formas de arte. Cubismo,futurismo,uns vislumbres de arte nova,algum exotismo,tudo isso marca uma espécie de secções na exposição, permitindo-nos "arrumar" melhor o nosso conhecimento de Amadeo. Mas,aprendizagens à parte, o que se traz de lá é um extraordinário banho de cor e de alegria.E é bom ter-se um tal património como nosso.Agora que tantas vezes nos vamos sentindo defraudados e entristecidos por isso...

14 novembro 2006

Outono___Miguel Torga


Tarde pintada
por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
que há tanta fantasia
neste dia,
que o mundo me parece
vestido por ciganas adivinhas,
e que gosto de o ver e me apetece
ter folhas, como as vinhas.

11 novembro 2006

São Martinho

Dia de São Martinho !___Vai-se à adega e prova-se o vinho. Ouvimos dizer isto com mais ou menos variações regionalistas, mas sempre com a mesma intencionalidade. Os franceses dizem :Pour la Saint Martin, tue ton porc et goûte ton vin. Mas também há esta maravilhosa pausa nas chuvas a que chamamos Verão de São Martinho...E hoje temo-lo em Lisboa, radioso, com uma luz única,só mesmo desta época... Dizem também os franceses que à la Saint Martin, la neige est en chemin:si ele n'y est pas le soir, elle y sera le matin e os espanhóis dizem que por San Martino el invierno viene de camino... Sempre a ancestral ligação à Terra, às coisas da Terra, aos conhecimentos empíricos do tempo e das produções correlativas e daí às festividades pagãs às quais se "colaram" as grandes celebrações religiosas dos cristãos...Todos os católicos amamos a belíssima simbologia da semente que é preciso que morra para que a planta renasça, por exemplo... Mas há coisas menores às quais acabamos por até já deixar ofuscar a real religiosidade em prol das quantas relações populares que se foram tecendo à sua volta.Quem se lembra de que São Martinho pode considerar-se o primeiro pacifista porque,pertencendo a uma família de militares, se recusou a combater numa guerra que considerou injusta e se apresentou voluntariamente para seguir no seu cavalo, na frente da legião a que pertencia, sem a espada e apenas erguendo uma cruz, recusando-se assim a matar alguém, mas não se furtando à presença, só que numa outra espécie de combate ? A situação da partilha da capa da sua farda é bem mais conhecida, porque a ela se tem sempre associado a bonita ideia de que o Verão surgiu porque Deus o teria querido recompensar e ao mesmo tempo proteger do frio que a dádiva da capa o faria sentir...Também se relaciona este Verão extemporâneo, em França, com o funeral do então já bispo de Tours, falecido em 8 deNovembro de397. Como se formou um enorme cortejo para, em dois dias de viagem, acompanhar o corpo do bispo, milagrosamente se teria estabelecido um tal calor, que, não só os peregrinos não sofreram com as intempéries, como até brotaram rosas nos jardins !... Sempre uma aura de mistério a relacionar os factos objectivos com transcendências que o povo guarda para enriqucer a sua elaboradíssima cultura... E as nossas preocupações de verdade histórica e coisas semelhantes...? Dia se São Martinho é o calor e a bondade e a paz e as coisas boas da Terra que nos são oferecidas.Não é bom ?

05 novembro 2006

Medo

Será porque envelheci? Será porque estou mais precavida? Será porque me chegam ao ouvido mais histórias ?... Hoje,no meio da gente anónima, de dia ou de noite, em espaços mais ou menos concorridos, mais ou menos iluminados, tenho MEDO, desconfio...Assim, em abstracto...Que saudades de quando tinha por lema "GUARDA:FORSE ACCANTO A TE C'É UN ANGELO !"

02 novembro 2006

CHUVA

Esta chuva não é só mágoa.
É companhia.
Andou comigo hoje, todo o dia,
uniforme, cerrada, obcecante...
Não me deixou sózinha um só instante !
Como um mau pensamento que persiste,
como a dor que nos dói suavemente,
como essa lágrima a que se resiste
inexplicavelmente...

31 outubro 2006

Memória


Usos e costumes dos Estados Unidos que sempre foram suas tradições, têm sido,aos poucos,adoptados por nós, europeus, sempre fascinados pelo que vem de "alhures" ou então farejando negócios e lucros de que não nos podemos descuidar.É assim que eu vejo o aparecimento do Dia dos Namorados( que não existia quando eu namorei),a Noite das Bruxas ou Halloween e até o que já se vai imiscuindo Thanksgiving Day. Certo é que o Halloween parece ter feito a travessia do Atlântico primeiramente de leste para oeste,pois, pela sua origem céltica,teria acompanhado os emigrantes irlandeses do século XlX. Mas porque falo disto hoje? Hoje,Noite das Bruxas? Pelas máscaras, pelas abóboras recortadas,pelas recolhas de doces pelas crianças? Nada disso.
Porque esta "embruxada" data me fere e dói sempre da mesma maneira em cada um de tantos anos de solidão que se vão sempre repetindo...
Era no tempo da Guerra.Creio que pela presença de tantos americanos na Europa,essa festa apareceu entre nós,trazida por eles.Para mim,antes dessa época,era algo que nem existia.
E,coincidência de datas,nesse dia, nessa noite,festejei com alguém,pela primeirs vez,
o seu dia de anos que nunca mais deixaríamos de festejar durante cerca dos trinta
anos seguintes, os anos de todas as minhas memórias felizes...
Embora a nossa festa nunca tivesse tido nenhuma intromissão estrangeira,eu,anos passados, nunca deixo de"ouvir"aquele "...pero que las hay,hay."
Que não me abandone a FÉ e recuperarei àmanhã a alegria que ela me ensinou a retirar,
mesmo das minhas mais saudosas recordações...

29 outubro 2006

26 de outubro

de JUAN RAMON GIMENEZ
Cancion de Otoño

Por un camino de oro van los mirlos... Adonde '?
Por un camino de oro van las rosas... Adonde ?
Por un camino de oro voy...Adonde otoño ?
Adonde pájaros y flores ?...

24 outubro 2006

CATS


Os ingleses trouxeram mais uma vez os seus CATS a Lisboa.A minha paixão pelos gatos não permitiria que agora os perdesse aqui, como já tinha acontecido antes. Vira-os em Londres,haverá aproximadamente uns vinte e tal anos e reencontrei-os agora.
Diferentes como não é de admirar.Menos peles a tornarem os seus corpos roliços e fofos,ausência daqueles telhados velhos e assimétricos,substituidos aqui por enormes pedregulhos constituindo grutas entre si;arrisco-me a dizer que os muitos recursos à modernidade da electrónica não me pareceram trazer muitas melhorias ao trepidante da acção ou ao romântico de certos momentos que os excelentes cantores souberam tão bem transmitir.Na hora do " the time I knew what happiness is " foi realmente uma espécie de magia que se derramou sobre nós todos que éramos muitos naquela enorme plateia do COLISEU...São dois momentos inspiradíssimos que tocam os corações latinos ! E eu, como característico da minha idade,não consegui evitar o assomo da lágrima...Aliás, se virmos bem, toda aquela história vem carregada de coisas que doem aos velhos...Memories...Só mesmo o fofinho dos gatos terá comsigo esta carga ternurenta que nos amima quando já mais ninguém está perto para o fazer.
Não se imagina como se tem saudades daquilo que representa a serenidade do nosso gato enroscado no nosso colo, a dormir...A segurança,a paz...Também magoa, na vida, perder-se o "nosso" gato...Coisas minhas!

18 outubro 2006

Do LIVRO da MINHA SABEDORIA

Não ! Não quero que venham nunca mais,
com ar de quem dá esmola,
dar-me a mão.
Eu não sou a que pede,
a que suplica,
e a minha fome nada significa
no vosso dicionário de ideais.


Por que estranhos caminhos sinuosos
andam essas esmolas que me dais ?


Conheço bem palavras e sorrisos
com que,nas minhas costas, me matais...

( hipocrisia? ou só irreflexão ?)


...Quero enterrar meus dentes noutro pão
que me saiba às certezas que ignorais...

13 outubro 2006

Fátima

Hoje, Fátima.
Nunca fui a Fátima a pé. Nunca tomei parte em peregrinações organizadas.
Mas vivi em Fátima,por minha vontade, em vários períodos da minha vida. Em férias, por um mês, mais de uma vez. Em Natais e Fins de Ano. Em verões. Pela época de Todos ds Santos . Pelo meu aniversário.Sempre que posso...
Em menina,íamos de charrette,ao trote de uns cavalos elegantes que nos levavam com toda a comodidade; e era uma alegria de viagem por entre pinhais muito aromáticos e húmidos. Ás vezes acontecia chover e tudo se tornava mais difícil. Houve mesmo, de uma das vezes, um terrível problema: as elegantes rodas da charrette atolaram-se na lama até metade, o que significa que só se desatolariam puxadas e sem passageiros a fazerem-lhes peso. Lá foi preciso virem "salvar-nos", com grandes ralações para a minha Mãe e com grandes ataques de riso para mim e para as primas que iam connosco. Fátima era então um local lamacento com acessos por estradas poeirentas,se era verão, e cheias de poças de água e pedregulhos, quando a chuva não era tanta que criasse o tal lamaçal...
Quando agora me acolho em estalagens confortáveis ou nas CASAS das Religiosas que nos recebem com todos os saberes da hotelaria moderna, lembro-me das noites enrolada numa manta, com aquele friosinho da madrugada do alto da serra, encolhida contra o muro da Capelinha... Era bom ! Sempre senti, e continua a acontecer-me, que se respira leve em Fátima.
Que se medita com suavidade. Que é outro aquele mundo de perfume de estevas e alvoradas arroxeadas em céus por onde reboam os sinos , como voos de ave...A experiência de ver chegar o dia naquele espaço aberto, quase só nosso, quando não há senão a sugestão de um infinito puro
e o ressoar longinquo de pequenos ruidos a lembrar-nos o mundo, é inigualável, única...
Quero muito acreditar que, por se ter tornado "altar do mundo",não se tenham perdido as marcas dos meus pés que deixei na antiga e humilde lama, hoje tapada com o asfalto, porque esses eram os pés da minha ingénua e incipiente convicção de que a SENHORA me inspiraria para vir a ser uma grande mulher, no meu país ,que era então o meu único mundo.
Hoje, que sei o tamanho do mundo, sei também que sou apenas aquela mulher que continua a ser a dona desses pés...

08 outubro 2006

Do Livro do Génesis

«Não convém que o Homem esteja só» disse o Senhor Deus depois de o ter criado.
Entra-se assim nas Leituras próprias da missa do dia de hoje,a partir do Livro do Génesis. E depois o Senhor Deus trouxe várias possíveis companhias às quais o Homem foi atribuindo nomes para depois as conhecer,animais de toda a espécie...Só que a nenhum o Senhor Deus deu a capacidade de ser semelhante à sua primeira criatura num total de corpo e espírito que permitisse "entenderem-se" completando-se. E então criou a Mulher, do mesmo "material" de que era feito o Homem.E perceberam que eram de tal forma feitos um para o outro que passariam a ser um só, deixando mesmo Pai e Mãe para se unirem indestrutivelmente.
Já no Evangelho,da autoria de São Marcos, é Jesus quem explica aos fariseus que só a "dureza"dos corações deles os levara a admitir e permitir a separação daqueles que o Senhor Deus fizera "carne da mesma carne".
Sei que não é tempo, agora, de sequer se lançar qualquer discussão sobre a indissolubilidade do casamento cristão.Quanta água correu sob quantas pontes !!!
Mas encanta-me a singeleza, a pureza, a ingenuidade do GÉNESIS...
O Senhor Deus sabia quanto pode ser perniciosa a solidão. E tudo fez para desqualificá-la, considerando, isso sim, que é "conveniente" a companhia.
Mais uma vez me comovo por saber que, por aí, Deus também pensou em mim !...

01 outubro 2006

Por causa da TLEBS

...E agora vamos dizer aos rapazes e`as raparigas que "o poeta é um fingidor..." que "tudo vale a pena se...", mas que "têm que passar além do Bojador" para "passar além da dor"... É assim que tudo começa,mas servido com a especialmente recomendada TLEBS. Tenho uma certa desconfiança de que vai ser este o BOJADOR e não me parece que alguém vá "fingir que é dor" a primeira abordagem a este cabo... Quero,com muita força, que os que agora começam não se desencorajem nem se desencantem da belíssima realidade que é a poesia escrita nesta nossa tão musical e sussurrante língua portuguesa.Quero tanto que a amem que até tenho medo de não ser capaz de lhes mostrar o caminho desse amor... Creio que cada vez mais( mas desde sempre ) o ser humano precisa de uma relação apaziguadora com o mundo, com o cosmos, com o desconhecido, e essa relação só lhe será possibilitada através da beleza...Porque não da beleza de uma língua que a poesia pode tão bem modelar ?
E agora, se continuássemos, daqui a pouco aparecia-nos por aqui Platão ou Aristóteles...

23 setembro 2006

OUTONAL



Entro dentro do outono
pela floresta
que se enrola na bruma
e, túmida de vida,
vai macerando musgos e bolores
opaca, mansa
e quase adormecida...
Pelo chão,as velhas folhas desmaiadas...
E,ao passo dos meus passos silenciosos,
escuto estalidos breves
e crispados
de coisas que não esperam ser pisadas.
Bagas vermelhas, cachos. entre espinhos
flamejam, capciosos, defensivos,
a proteger as sebes e os espaços...
Mas são os cogumelos insidiosos
quem se esconde pelos cantos mais discretos !
Os tons do verde todos se matizam
sob a abóbada fulva, acobreada,
dos plátanos antigos
quase catedrais !
Adormece a floresta a aquietar-se
pra espessas, longas noites invernais...
Cumprem-se os ritos místico, secretos.
de donzela a guardar-se
para as festivas bodas estivais !...

17 setembro 2006

Abertura do novo ano lectivo

Esta sensação de estar no limiar de um qualquer acontecimento pelo qual se esperou, mesmo sem impaciência, mesmo sem curiosidade, nunca deixa de produzir uma certa turbulência na nossa alma...E O que é que estarão a sentir algumas centenas de professores novinhos "em folha" neste fim de semana que os separa do começo das actividades de um novo ano lectivo ?
Há , este ano, uma espécie de efervescência borbulhante em redor deste evento como nunca conheci, em tantos e tantos anos lectivos que iniciei ao longo da minha vida. Tantas vezes se ajustaram programas, tantas vezes se seccionaram de formas novas as fases da aprendizagem, tantas vezes se ensaiaram novas pedagogias, mas o núcleo duro dos professores mais experientes e a tímida turma dos que iam começar estiveram sempre lá,prontos a arregaçar as mangas e seguir...Não que não houvesse discordâncias com algumas inovações, mas mesmo com elas, fazíamos força para dar-lhes o nosso jeito...Queríamos ser capazes...
Tudo o que estou aqui a recordar, não é por nenhum daqueles "no meu tempo..." que são mais vezes ridículos do que úteis. É sim porque percebo que talvez agora ,tal como adivinho ou oiço,não vai poder haver tanta alegria como gostaria que houvesse nesta coisa lindíssima que é o encontro de gerações para uma espécie de passagem do facho...
Há projectos novos , mas há tanta perplexidade que tudo fica um bocado inquinado para apetecer... É difícil, está difícil... Materialmente,enleiam-se distâncias com pedagogias, casas com programas, livros com dinheiro, conceitos com práticas... Se ensinarmos agora aquilo que só se pode compreender mais tarde já é por si só uma desmotivação, o que não será juntar a isto, tudo o que não é "juntável" de que falei há pouco ?
Estamos pois no limiar de qualquer coisa que fervilha nas nossa cabeças, sem nos permitir aquela perspectiva que sonhávamos... Ao menos que não nos falte a esperança !...

10 setembro 2006

O PAPA

Quando em Lisboa se realizou o grande encontro de Tai-Zé, recebi em minha casa três estudantes polacos: duas raparigas e um rapaz, todos universitários, estando uma delas já aestagiar como professora. Só falavam bem o polaco.O inglês era uma ponte muito exígua por onde conseguíamos tentar algumas travessias de entendimento.Mas acabou por ser tudo muito bom o que foi acontecendo. Ficámos amigos. Houve até lágrimas à despedida.
Curiosamente, só o rapaz é que tem mantido contacto comjgo, escrevendo-me em bom inglês a que eu sempre respondo. Foi assim que, quando perdemos João Paulo ll , o Mariusz me escreveu a dizer que o mundo ficava um pouco mais triste...
A vinda de um papa alemão que quase todos os católicos conheciam como muito rigoroso e até algo duro,foi um sobressalto. E temos andado quase todos, mais ou menos a medo, a tentar conhecê-lo mediante o que ele vai fazendo que nós possamos "ver", sejam ele aparecimentos em público, sejam ele declarações ocasionais, sejam ele documentos de doutrina ou simples afirmações, publicações avulsas ou o que quer que seja...
E não é que ele se vai "deixando amar", cada dia um pouquinho mais ?
Hoje, em Munique,uma esplendorosa missa campal. Algumas pessoas minhas amigas vieram falar-me dos olhos do Papa.___Tu viste como o olhar dele se ria e se tornava tão enternecido com as crianças?___Bem, toda aquela envolvência da multidão que aplaudia, do desempenho fantástico da orquestra, da limpidez dos cânticos daquele imenso coral juvenil juntando-se inesperadamente a uma enorme pureza na simplicidade da celebração, tinham forçosamente que se traduzir na singeleza carinhosa da homilia e, consequentemente, no enternecimento do olhar do Papa. Para com todos, não só para as crianças.
Tudo o que se passou não foi mais do que um abraço que o Papa foi dar à sua Baviera. E esse abraço ajudou decerto a que o olhássemos também nós com um olhar mais terno.
É isto o que eu vou dizer ao Mariusz, quando brevemente lhe escrever.
Um pouquinho mais de amor, sempre, de cada vez...

05 setembro 2006

Fernão Capelo Gaivota — Ericeira

Todo este Agosto de Lisboa foi uma insistente provocação à nossa capacidade física de resistir... Cada vez me convenço mais de que nós, portugueses, somos gente do mar, dos nevoeiros do largo, dos ventos a saber a sal, excepção feita, está claro, para as gentes do Alentejo que devem ter guardado genes dos mouros ou para os transmontanos a quem as "TERRAS do DEMO" apetrecharam para os conhecidos "nove meses de inverno,três meses de inferno"...Nós, os outros, vencemos os quilómetros que forem necessários só para fugir, fugir, das securas e ardências mais ou menos violentas que nos sugam a energia (e a alegria), nas cidades.
Então, foi por isso que também eu tive a sorte de, uma bela manhã (sempre as manhãs !) abrir aquela janelinha de uma casa empinada sobre a falésia e ver, lá em baixo, o areal molhado pela maré que já recuara...Fugira de Lisboa para a casa de amigos que, ali, convivem com o mar como se fosse um dos "da casa". E então? Pois, não foi só o areal que me deixou colada à janela àquela hora...Fernão Capelo Gaivota estava lá em baixo !"...the gulls that were not night-flying stood together on the sand, thinking" — Certamente RICHARD BACH viu-as assim, como eu nunca as tinha visto. Eram algumas centenas, todas iguais, cobrindo o areal molhado, todas voltadas de frente para o ventinho norte e tão paradas, tão imóveis que se diria tratar-se de algum ritual ou então, como diz BACH estariam "pensando"... Só levantaram voo,todas em simultâneo, e passada uma larga meia hora. Para onde foram, decerto levavam algum daqueles sonhos do Jonathan Livingston Seagull...

30 agosto 2006

Quando o verão era "TODO" verde


Fui menina, rapariga e senhora num tempo em que a Terra não ardia e os verões eram pujantes e prometedores.E agora,procuro fazer recuar a minha memória até ao dia em que houve um primeiro sinal de uma coisa que afinal podia acontecer, mas na qual nós nunca tinhamos pensado...Sei que, como de costume, as minhas coordenadas eram entre pinhais e o mar. E,ao cair da noite,viemos muitos para a rua, todos os que eramos vizinhos, e faláva
mos uns com os outros, porque a televisão ( já havia televisão ) noticiara um enorme fogo num pinhal...Não! Não era ali, mas com tanto calor, quem sabe?...E cada um, seu pormenor, seu medo ...__A partir dessa noite, dese dia, nunca mais houve verões iguais aos de antes ! Calmos,de dias e noites longuíssimos, cheios de vagares e de pequenos prazeres,de pasmaceira...Instalou-se aquele "poder ser"...
E os confrangimentos dos porquês e das culpas...E as dores das dores daqueles que quase ardem com os seus pobres haveres a fundirem-se em cinza...E o pânico dos animais acossados que, a fugir, levam em si o fogo para mais lugares...E o ir para a frente dos que lá vão para salvar e às vezes não conseguem salvar-se a si próprios...E, e, e...Um sem fim torturante que nos marca os verões que, agora, não são mais pujantes e prometedores. Só mesmo quem atravessar as paisagens negras a perder de vista, com um ou outro tronco retorcido como um pedaço de carvão de pé, pode entender a mágoa desta saudade que é afinal aquilo de que falo hoje...

24 agosto 2006

CARDAL


Lembro-me de que abria a janela de par em par e me entrava pelo quarto dentro o perfume das folhas das figueiras. Era um perfume acre e denso, trazido pela humidade do riacho de águas saltitantes e geladas àquela hora e à beira do qual se alinhavam duas ou três enormes figueiras.
Isto, era ainda lusco-fusco, acinzentado, da manhã que lá vinha.
Mais tarde, eu descia e "ia aos figos"...Já eram outros os cheiros e tudo, na manhã que aquecia, me convidava ou desafiava...
Tudo isto me vem invariavelmente à memória agora, quando, pela manhãsinha, abro as portadas para o terraço e, mais do que pela majestade do lago, lá em baixo, ainda pouco verde, meio lilás e embrumado, me sinto enfeitiçada por aquele perfume vegetal, mal definido, com cambiantes que vão das plantas de jardim aos arvoredos e às ervas bravas...Náo deixo de sorrir ao pensar na luta "ingente" em que se empenham agora os meus amigos contra uma nada pacífica invasão de toupeiras.Isto não é de amigo, mas eu entendo tão bem a volúpia dos animaisinhos a saborearem a frescura e os perfumes destas terras tão mimadas pelos donos.tão macias, tão convidativas !...Das gotículas frescas que o sol vai fazendo brilhar sobre cada planta, parece evolar-se uma humidade límpida e cheirosa e longe, lá muito longe dali, há gente que queima a lenha do primeiro forno, do primeiro pão do dia...
Já não tenho há muito aquela idade de"ir aos figos", mas fico-me a "saborear" todos estes desafios do dia que começa e eu tenho a Graça de poder viver...

22 agosto 2006

Revisitar o passado

Vou de encontro às paredes
como um cego
que viu e sabe que era ali...
Eu conheço a cidade !
Vivi cá !...
Contornava-se a Praça
e indo em frente...
...não!...Acho que não era por aqui...
Talvez na outra esquina. mais para lá...
Mas era a casa grande,logo em frente...
...e o Mosteiro...
Não me parece estarem como dantes...
E o Convento?
E o rio? Que eu sabia de cor
nas curvas e corredores de cada um?...
Sou como um cego:
Estendo a minha mão
e não encontro o sítio de apoiar-me
que eu julgava inserido na recordação
e possuia como certo...

Tudo agora está aberto
mas é da multidão...

14 agosto 2006

Férias

Um telefonema, à noite : Vamos buscá-la àmanhã...
Estes são aqueles amigos a quem Jesus nada teria que ensinar, quando lhes lavasse os pés!
Então, após uma correria de preparar os necessários, lá vou partilhar todo aquele conforto de franca convivência, sem ideias preconcebidas, e cheio de mostras de carinho... e a casa, e a paisagem, e os longos serões a contar as estrelas, e o espelho das águas, lá ao fundo...
Quando voltar, falarei das madrugadas enroladas na bruma que sobe da água e do friosinho dessa hora, só dessa hora... E talvez das longas conversas em redor da mesa, depois do jantar, sem pressas...

11 agosto 2006

Alcochete

Alcochete

Aconteceu-me uma vez uma manhã, manhãzinha, quase outonal, mas ainda morna, a permitir sentir todos os cheiros, ouvir todos os sons de vários tons, debruçando-me longamente sobre a margem quase deserta de um Alcochete ainda meio adormecido.
Era um mundo... De pureza, de “ab initio”, de paz !

Ontem, pleno Agosto, sol de fundir metais, a mesma margem, mas abeira-se o meio-dia...O mesmo Tejo ? Não. Está inchado, pela maré... E pela gente ! O povo tem calor, muito calor...e rebenta nas roupas reduzidas, nas dilatadas curvas indecentes que a cerveja gelada ajudou a impar... Rebola-se na areia meia seca e entra pela
Água como se fosse sua, a espadanar...
Não há aves marinhas pelo ar, nem a água murmura como da outra vez...Nem Lisboa tem bruma...E há apenas barulho a vozear ..

Pensei em ORTEGA Y GASSET...
O Homem e a sua circunstância.

06 agosto 2006

SOLIDÃO

Sofrer ou rir com os outros não chega nunca a projectar-me para lá da solidão . É um acto de vontade e às vezes é até o decalque de situações já vividas, aderência ocasional, fortuita, mas sempre comprovadamente impotente para me fazer sair abertamente de mim para o"outro", ou para trazer o"outro", em toda a sua verdade, até mim... Houve tempo ( mesmo "esse"tempo ) em que me julgava acompanhada, mas sei hoje que isso era uma ilusão, por pura imaturidade.
Compreendi depois que era demasiado ambicioso o crer-me em total sintonia e sincronia com as misteriosas cidadelas de silêncio de cada um dos "outros" e fui-me apercebendo dos imensos desfasamentos que iam construindo a minha solidão. Por acaso, vi uma vez que OCTÁVIO PAZ fala do"labirinto da solidão" como uma das causas primeiras da ausência de solidariedade.
Labirinto é de facto a palavra certa para traduzir esta espiral, com ilusórias possibilidades de saídas, em que nos vamos enrolando de tal maneira que já nem sabemos muito bem se sim ou não temos vontade de sair dela.
É que,às tantas, o estar-se ou o ser-se só passa a ser um pouco viciante... e cómodo !...

01 agosto 2006

AGOSTO E MIGUEL TORGA

Neste Agosto a começar e que durante toda a minha vida ( mesmo ainda menininha) tem sido sempre o condensado de todas as espécies de solidões, lembrei-me do meu querido TORGA que,por tantas vezes me pareceu "roubar-me" os sentimentos ...e as palavras !


Aqui,neste país e nesta hora,
Aqui, junto dos meus
Mortos ou vivos,
Aqui, de pés atados,
Mas livre, como os balões cativos
que pairam...ancorados.

30 julho 2006

Momento Zidane

Ao sábado de manhã é obrigatório ver e ouvir os programas da UN IVERSIDADE ABERTA, na TV. Feitas as escolhas, sobre o sumário que nos dão, no início, há sempre aquela ou aquela "aula"que vai preencher alguns bons momentos da minha manhã. Para muitos ( oxalá ) é a informação que não terão oportunidade de receber noutro lugar ou hora, para muitos outros é o reavivar de memórias, o actualizar de conceitos. Para todos é a sedução exercida pelos nomes de alguns intervenientes que"iluminam" certas aulas em equipa com os professores titulares, ou a sós, quando aqueles assim o entendem. Assim, ontem, ouvi EDUARDO LOURENÇO, em conversa solta, sem pautas a marcar compassos, sem condução preconcebida por parte da inteligente interlocutora. E de Lourenço eu tenho sempre tido a impressão que aquele seu olhar vivíssimo, escondido lá por trás da rareza ou clareza das pestanas, está sempre vendo o mundo com um certo arzinho trocista...E sobre o que se passa em seu redor ele relativiza os factos "porque o Homem..." , "porque a História...", porque a sua agudíssima clarividência o traz em análises sucessivas, consequentes e coerentes, através da nossa velhíssima Europa a lembrar-se daquele "inimigo turco" do qual pouca gente se lembrará ! E é então que ele entra por dentro duma certa maneira de, actualmente e a qualquer nível, se olhar a VIDA como um jogo. Como tal, diz ele, interiorizámos que há apenas os dois polos e o intervalo entre eles só vai sugerindo as várias nuances da violência que será a resolução do diferendo. Parece que sempre terá sido assim, só que hoje há mais ingredientes, uma espécie de mais lenha para atear mais as "fogueiras". E então sucedem ao Homem situações, não premeditadas, mas incontroláveis, quando em zonas limite. Socialmente fala-se do stress...
Mas LOURENÇO chama-lhe um momento ZIDANE. Compreensível, pois. E mais, diz ele que todos, todos nós temos os nossos momentos Zidane !...

27 julho 2006

Da AMIZADE

Conta o Evangelho que, durante a última ceia que comia com os discípulos,Jesus se levantou da mesa, preparou-se, deitou água numa bacia e começou a lavar-lhes os pés,ajoelhado junto de cada um, enxugando-os depois com a toalha com que cingira a cintura. E foi Pedro que reagiu contra tal acto pelo que Jesus lhe terá dito:"Se eu não te lav ar os pés, não terás parte comigo". O que levou logo a que Pedro exclamasse "então,lava-me todo, cabeça e tudo "...
Desde sempre entendi que aquela expressão _ter parte com_se referia a algo que os uniria a todos, para além de tanto que tinham vivido juntos, para além daquilo a que hoje chamaríamos talvez camaradagem. Era mais união, intimidade. E parto sempre daqui para a AMIZADE.
Toda a rudeza daqueles homens que seguiram Jesus, talvez lhes não permitisse a sensibilidade para quanto os unira o viverem lado a lado o bom e o mau, as horas de cansaço e as horas de fraqueza, os fracassos e as alegrias, a fome e as sedes, os medos, os pés feridos, as surpresas...
Punham tudo em comum, sabiam os cuidados e os pequenos segredos de uns e outros...
E com todos os grandes e os pequenos momentos haviam construido algo a que só JESUS sabia dar um nome que lhes ensinou naquele gesto simbólico .
Claro que nós ,dois mil anos de sensibilidades apuradas, não pensamos assim a amizade.
Não " temos parte" com ninguém, porque somos amigos,sem partilha real e efectiva. Queremos amigos garantidos pela tecnologia, mas a distância entre nós todos é cada vez maior. Que sei eu do hora a hora, do silêncio ou do esgar com que reage ou chora o meu amigo, nos seus momentos a que nunca assisto ?
Para termos parte com alguém não deveriamos escolher outra palavra?
Percebemos quanto a palavra AMIGO vai estando gasta ?

25 julho 2006

Habitar sempre a sua própria casa__Que guerra?

"A CASA QUE NÃO CONSTRUISTE TORNAR-SE-Á TUA SE A "HABITARES".Guardei de memória esta frase lida num dos livros da Simone de Beauvoir. Não há nela nenhuma mensagem de vanguarda, mas muito simplesmente a constatação de tantos acontecimentos que de súbito nos "caem em cima", sem que aparentemente possamos intervir.Acontecimentos pessoais( uma doença, um fracasso, um acidente, a morte dos que amamos...), ou acontecimentos colectivos ( cataclismos, desastres, guerras...) . Mas, se os não construimos, só podemos fazer uma coisa : dar-lhes um sentido, "habitá-los", integrando-os na nossa história pessoal, aceitando-os como algo que nos transformou. Recomeçamos sempre e, com o que passamos a ser, sempre tentamos construir alguma coisa diferente,mas outra e inevitável.
Todos nós necessitamos, incessantemente, de apropriarmo-nos dos acontecimentos, de fazè-los nossos, senão a nossa presença no mundo seria uma desadequação insustentável.
Mas, em tudo isto,quem crê em Deus pode ir bastante mais longe, porque, ao descobrir o sentido dos acontecimentos, reconhece um novo tipo de relação com esse mesmo Deus. Nunca mais será aquele fatalismo__"...é a vontade de Deus, submeto-me..."__ mas será antes __"...graças,meu Deus, porque me ensináste esta outra forma de vida..."
E sabemos todos que somos de novo capazes de revigorar velhas forças para uma nova partida, para ,sempre, a nossa própria "casa"...
É com isto que contamos, nesta, mil vezes repetida, impiedosa guerra que não queremos...

23 julho 2006

VELEIROS

Petit bateau aux voiles transparentes
qui glisses sur l'eau bleue
comme un cygne rêveur,
petit oiseau marin,
couleur des roses blanches,
va loin, très loin,
chez les nuages ou les dieux,
chez les contes de fées...
Va chez les doux miracles
et glisse sur l'eau verte...
Je me laisse emporter
vers les gouffres ou les cieux
vers les cimes rêvées...


Este pequeno poema é extraído de um conjunto a que chamei "POEMAS COR DE ROSA" ,tão datados que devia ter algum pudor ao dar-lhes alguma visibilidade agora, que já até esqueci porque é que alguma coisa pode ser cor de rosa !
Porém, foi um tal agitar de recordações aquilo que vivi hoje, que até me permiti dar-me a este "luxo" de ir revisitar o que tão intensamente foi para mim cor de rosa noutras vidas...
Os grandes , majestáticos veleiros deslizavam num Tejo de dias de festa: azul como poucas vezes, aqui e ali manchado do verde que só se vê no fundo das esmeraldas verdadeiras, e liso e bem comportado, como costumo dizer, passado a ferro. E eram às dezenas, como pássaros poisados, os pequenos veleiros que, à volta dos grandes , pareciam brincar ( apetecia-me dizer retoiçar, como se usa para os petizes ). Parecia até que não haveria ninguém que tivesse uma qualquer casca de noz , com um mastro e um pano de vela, que tivesse ficado em terra!
Era um hino à alegria ! Os grandes senhores de toda a festa , velas de várias cores, do verde ao preto (!!!), de várias geometrias e impulsos, embandeiraram-se de mil maneiras, uns finos e longuissimos, outros mais encorpados, proas altas, e fendiam aquelas águas oferecidas, sedutoras, com uma espécie de amor, carinhoso e suave... Será que aos respectivos países eles vão levar esta maresia tão só nossa? Esta recordação que a nós nos fica ?...

21 julho 2006

Que guerra é esta ?

Estou,estamos todos horrorizados com o que o Homem é capaz de fazer,quando se convence que advoga causas que são as únicas válidas, sem qerer admitir que "o outro lado" tem também razões que julga válidas...Matar sem ouvir, ou,pelo menos, sem atender ao que ouve? Haverá o lado limpo, contra o lado sujo ? Tão simples quanto isto? João Paulo , o Papa, dizia que as ideias não se impõem mas apenas se propõem... É que, depois, há sempre a hipótese da inteligência, da ponderação, dos valores da honra, da dignidade, da humanidade, do amor da paz...
E se não houvesse armas?...

19 julho 2006

METEOROLOGIA

Estávamos a chegar ao limite suportável de uma enorme semana com temperaturas ambientes a rondar as margens dos quarenta graus, sem noites refrescadas.
E acordámos sob um calor embaciado mais sufocante do que o soalheiro.
Foi depois que se soltaram os ventos...Alucinados, desarrumados,medonhos, ameaçadores. Duraram talvez um quarto de hora a enrolar e desenrolar ramos de árvores, plantas amadas das donas de casa, em suas varandas, janelas timidamente entreabertas, saias de muita roda de raparigas vistosas...enfim, um tumultuar tão louco quanto absolutamente fora de qualquer expectativa. E como o calor continuou durante e depois, o bicho-homem teve medo. Mas de quê? O certo é que este "bicho da terra tão pequeno" já nem sabe muito bem de que é que tem medo.
Tem medo. E é assim mesmo!
São tantas as tragédias meteorológicas do mundo com que nos vemos envolvidos, afligidos, sacudidos, presenciais, graças a todos os meios globalizantes que são o benefício deste progresso que, por várias vias ,nos vai matando aos poucos, que em vez de sermos mais sábios e precavidos, vamos tendo mais medos e cada vez nos valemos mais da esperança...
Mas quem pode resistir à volúpia do perfume quente da terra molhada, humedecida de fresco, quando acontecem coisas assim em pleno verão?

16 julho 2006

Aleixo e ...Agostinho

Do Aleixo

Há tanto burro a mandar

em gente com competência

que às vezes chego a pensar

que a burrice é uma ciência...

De Agostinho da Silva

...e posto que viver me é excelente,

cada vez gosto mais de menos gente...

13 julho 2006

Quem "faz" um escritor?

Estou já a antever um enorme brouhaha levantado por todos aqueles que vão querer pesar bem cada um das quatro palavras que estão naquela pergunta;e também os quês e os porquês delas ditas por mim...E vou pensar , não em voz alta, mas em voz escrita.
Dos milhares de livros lidos até esta minha idade, faço agora um levantamento. Desde já, deixo à parte todos aqueles que usei para a minha formação,por onde estudei e que foram o alicerce de tudo o que hoje sei.Começaram por entrar na minha vida, ou citados ou aconselhados pelos vários tipos de mestres que fui tendo.A partir de certa altura, eu própria fui sabendo encontrar outros que ou lhes eram relativos, ou consequentes , ou complementares.
Mas os livros de lazer,de prosa ou poesia, como os tive? Como soube deles?
Todos os clássicos que respaldaram a minha formação cultural e literária, podem ser incluidos no grupo dos que atrás referi.
Porém, bem novinha, comecei a ler a Condessa de Ségur e o Júlio Verne que me foram apresentados numa espécie de tradição familiar.A par desses vieram também contos tradicionais e traduções de La Fontaine.
Já mais mulherzinha,eram as amigas do colégio que passavam palavra e, por étapas sucessivas, apareceram várias fontes de encantamento.Lembro um tal Max du Veuzit,capas azuis com letras de azul mais escuro,que hoje reconheço que seria o que agora chamamos literatura light, e que nós todas liamos ás escondidas.Felizmente fui descobrindo coisas melhores. Lá vieram as irmãs Brontë, a Florence Barcklay, a Pearl Buck , o Pierre Lôti, o Stephen Zweig, e muitos depois e de outras maneiras,traduções ou não ,que o meu aprendizado já ia permitndo o prazer que nunca perdi de preferir os originais.
Tudo isto para dizer que só na Faculdade comecei a ouvir falar de EDITORES e de EDIÇÕES.
Por causa dos nossos estudos comparados, por causa das nossas pesquisas. O valor relativo do editor ou da edição reportava-se à maior ou menor fidelidade ao texto original do autor ou à sua verdadeira situação na época ou no espaço.O editor era para nós,talvez,uma espécie de prova testemunhal...
E como tanta coisa mudou ,que nem já Camões saberia como cantar essas mudanças, a minha perplexidade cresce todos os dias, porque todos os dias constato,na leitura de jornais e revistas da especialidade, o aparecimento de novas e múltiplas editoras, sem que isso corresponda a uma mais ampla divulgação de ljvros novos.O editor não é raro , como naqueles tempos,claro...
Mas o editor anuncia-se,em fortíssimas pressões publicitárias, apresenta as suas performances e muita gente,toda a gente, conhece as coordenadas políticas em que se situa.
É assim que estou quase a chegar à razão da minha pergunta inicial.
Como actualmente é enorme toda a espécie de concorrência, como poderá o editor competir com os seus pares se não for pelos melhores trunfos que possa apresentar ? Escolherá os "seus" escritores, segundo critérios comerciais, como é óbvio.E então tratá-los-á como vedetas...
Infelizmente, há muito mais escritores do que estes "escolhidos" que se sentem excluidos, injustiçados . Mas ,como em todos os negócios, às vezes, por um acordo negocial, também outros são aceites para publicação .Mas ...não serão nunca vedetas.
É assim que me acontece às vezes encontrar um livro muito bom,por mero acaso, recentemente publicado mas de um autor de que nunca ouvi falar...
Tenho um desses na minha mão agora.

12 julho 2006

Um belo dia que aí vem ! Como dizia Madre Teresa de Calcutá : o ONTEM já foi; o AMANHÃ nunca é uma certeza.Só temos seguro o dia de HOJE. Vamos começar !...

10 julho 2006

Neste fim de semana, o convívio de amigos. Surpreendente foi o dizerem-me que encontram no que escrevo, inclusive no que já publiquei, uma tónica dominante acentuadamente mística !
Esta espécie de rotulagem foi-me dada por pessoas muito diferentes entre si e que eu sei que me lêem com "olhos" também muito diferentes.
Se isto é então verdade, é algo que me ultrapassa, porque eu não escrevo senão com a intenção de me libertar.Era o Freud que dizia que o peso de uma" culpa" não desaparece enquanto a não verbalizarmos...
E pergunto-me se, para além do que julgamos conhecer de nós, ainda existe um "mais fundo" um "mais íntimo", nunca confessado, que se nos escapa quando não estamos de sobreaviso...?
É pois preciso estar muito mais atenta !
Temo realmente que essas observações que me fizeram os meus amigos tenham vindo roubar a naturalidade da sensação de evasão que o escrever me proporciona.
Sinto-me agora enleada no medo da revelação de coisas que afinal nem eu ainda sei de mim...
Mas sei , isso sei, que não há que confundir fé com misticismo.

06 julho 2006

Acreditar, só por acreditar, torna-nos extraordinariamente dependentes.estranhamente comprometidos. Porque as razões do acreditar são de tal maneira subjectivas que não podemos descartar a sempre possível variabilidade condicionada pela evolução nossa ou alheia.
O porque acreditamos pode sempre diluir-se, desvanecer-se, ou, pelo contrário, pode consolidar-se, transformar-nos em crentes ou, o que será muito mau, fazer de nós uns fanáticos...
Por isso, é preciso não prescindir da dúvida, a bem da nossa liberdade...

05 julho 2006

Da minha relação com o sofrimento, a dor,
gostava de falar em línguas novas
com palavras que fossem desenhadas
pelo fogo de um olhar e, ao mesmo tempo,
ribombassem surdo,
como o longínquo estrondo do trovão...
... Bolhas a ser sinais
de uma qualquer fermentação...

O por dentro das feridas materiais
traz ao corpo que as tem a dor pior,
tortura mansa da humilhação
de assistir-se a si mesmo,
causa e efeito,
progresso esconso da degradação...

Despudorada e nua, vem a dor...
E aprofundam-se os espaços abissais
entre aquilo que morre e o que é infinito.

Desmorona-se o que era tão bonito
na história da humana condição...

Estigma que a ferro em brasa foi marcado
— jogo de luz e sombras, perda e esperança —
porque é também de carne este ser limitado
que nasceu também Deus,
só porque foi criado
à sua semelhança ?...


02 julho 2006

E afinal os rapazes ganharam o tão esperado JOGO !
Contagiada por tudo o que o vinha envolvendo, eu "estive" na TV,a vê-lo.
E vi esta coisa lindíssima : aquele jogador que me parece ser o mais novo de todos eles, consegue, com a sua jogada, garantir o triunfo da sua equipa e, logo, logo, levanta os olhos, a cabeça,a mão,para o alto e ...murmura !!!Todo o seu corpo é uma ascenção para um ALTO onde ele sabe que é ouvido, que é visto...
Podia esperar tudo menos esta imagem assim,no meio de toda aquela parafernália de forças, manhas,desafios,violências. E não consegui conter uma lágrima de emoção perante aquela explosão de FÉ, tão genuina quanto imprevisível.
E um pouco mais tarde, já com a poeira da refrega mais assente, surge-me um outro "herói",o responsável por toda a glória dos outros, aquele que aparou com as suas mãos possantes todas as investidas dos seus atacantes , o que tinha razões bem fortes para uma bem humana vaidade,
ao ser perguntado sobre a quem dedica esta vitória , responde com os olhos húmidos,que ao
seu filho,à sua mulher e...aDEUS ! Assim, na mais natural das simplicidades.
Afinal o foot-ball é bonito!
Eu é que não sabia...

01 julho 2006

Todos os amigos com quem falei,todas as notícias de jornais,rádio ou televisão, nestes dois ou três últimos dias me mostraram, em gradações variadas, uma enorme ansiedade pela chegada do dia de hoje que ,como uma mulher grávida, traz no seu ventre um importantíssimo jogo de foot-ball.Para mim, apenas mais um deste Campionato a decorrer e no qual, naturalmente, se têm sucedido as vitórias e as eliminações.
A minha formação e a informação na área desportiva sempre foram quase nulas. Por isso sei muito pouco acompanhar, como talvez deveria, aquele grupo de rapazes que a TV nos mostra juntos com a bandeira e o hino deste meu país que eu tanto amo.E agora amo-os a eles todos.Não quero que lhes aconteça nenhum mal :são fortes, saudáveis, bonitos...e parecem-me um tanto ingénuos, se acaso os oiço falar.Têm de muito bom uma enorme crença na defesa de certos valores, e isso tem muito a ver com a preservação da nossa consciência de povo , de nação.
E então vejo-os, oiço-os, sinto-os, a viver toda esta ansiedade porque aí vem um SENHOR JOGO,e fico-me a pensar :como terá sido para eles este escoar de tempo, até hoje?
Para depois daquilo a que os obriga a sua função de jogadores, o que lhes fica nas horas de expectativa? Será que nas suas cabeças ou nos seus corações há a noção de um relógio como este
meu?


O RELÓGIO DE SALVADOR DALI


Como do tempo estou andando atrás,
hoje porque me falta e já se esvai,
àmanhã porque, em esperas, me parece demais,

entendo que é a VIDA que se escoa
entre dois ponteiritos deslizantes
sobre um surrealista mostrador

que,indiferente e flácido ,entretece
os segundos e as horas e as deshoras
da nossa vida toda, até um dia...

Dia da soma de tantas demoras,
das chegadas falhadas,
das partidas tardias...

Eu é que então não estarei mais aí.
Ter-se-ão já escorrido todas as minhas horas...
Estarão já derretidos os meus dias...

28 junho 2006

Vivida Ontem uma experiência não experimentada há já alguns anos e que me fascinou.

Um concerto na Sé, na "esmagadora" Sé de Lisboa. Uma primeira audição da Missa nº 2 em mi menor de Brukner, um austríaco da 2.ª metade do século XIX que, quanto a mim, traz ainda na sua "bagagem" uma esteira de Beethoven e Berlioz e até de Mozart na grandiosidade das suas Missas e de outras peças religiosas. Uma pequena orquestra de sopros, estridentes, estrondosos e suaves, quanto baste... Três grupos corais: o de Câmara, do Instituto Gregoriano de Lisboa, o Coro Peregrinação do Conservatório Nacional e o total e imenso, belíssimo, grandioso, da Escola de Música do Conservatório Nacional. Não sei de música quanto baste para dizer seja o que for sobre os primores ou os deslizes das execussões. É até possível que tenha havido deslizes. Tratava-se de uma festa de encerramento de um ano lectivo das Escolas apresentadas. Mas sei, sim, que a música, a forma como nos foi oferecida, a quantidade de raparigas e rapazes a tomarem tão a sério as suas interpretações, a alegria com que o faziam, o espírito de equipa e de entreajuda que demonstravam nas mais pequenas coisas, me revigoraram e permitiram que as minhas medidas de alegre confiança nos jovens voltassem a poder passar para cima das distantes abóbadas da velha SÉ... Até porque fiquei a dever tudo isto à minha aluna Margarida que é uma das parcelas daquele imenso coral e para quem a prática da música nunca foi impeditiva de nada... Apenas uma coisa me ficou depois a criar interrogações: Como é que não há notícias sobre acontecimentos desta envergadura??? Poderia alguma comunicadora de notícias perceber que "isto" não é menos PORTUGAL e é até bastante exemplar e construtivo???...

09 junho 2006

Responde presente


Aguardem notícias. Agora é que vão ser elas...