28 janeiro 2012

Um livro-- uma surpresa

Dos vários livros que recebi de presente entre o meu aniversário e o Natal, tendo embora feito uma combinação com todos os amigos para que acabássemos com a troca de presentes, em atenção à época em que vivemos, quero assinalar especialmente um : A MENINA É FILHA DE QUEM ? de Rita Ferro. Uma autobiografia da autora, mas também da sua época, como se uma época fosse um "corpo" que se decide despir para ser visto em todas as suas fraquezas e vícios e ridículos e manias...E cumulativamente como se fosse também ,em largos traços, uma parte da minha própria biografia, uma vez que ela é quase, quase, a minha época, com uns ligeiríssimos desfasamentos. Quero particularmente citar aqui ,com o devido respeito pela autora, um rol de"deveres" sociais de que Rita Ferro se faz eco e que foram tão meus como dela e cujo esquecimento nos dias de hoje eu acho que é só de lastimar, porque, naquele tempo, nos tornavam mais leve e doce o viver quotidiano.
Tem três dias para agradecer um jantar, no máximo.
Nunca se recebe,em casa, de tailleur,~
Não se entra em casa de ninguém sem abotoar os botões do casaco,
Quando uma senhora se aproxima... ...saltas como uma mola ( a um rapazinho sentado)
Não se tira a gravata nem o laço nem mesmo no fim da festa,
Se(as meninas) um dia forem convidadas para jantar... as suas mãos nem se aproximam da carteira...
Não se diz ele ou ela se nos referimos a alguém mais velho ou nos mereça c onsideração...
Vão sempre despedir-se da dona da casa( onde estiveram numa festa qualquer)
Não se vai à missa de manga á cava...
Não se trata um tio por"você"
Encantada por ver estes conselhos em letra redonda, tomei a liberdade de vir aqui citá-los porque há certos procedimentos a que assisto hoje que me deixam chocada mas sempre tenho que resistir à tentação de acusar o erro e nada dizer ... Talvez que esse "calar" seja um preceito do tempo de agora ! ! ! Ver por exemplo um membro do governo que NUNCA abotoa o casaco nem nas ocasiões mais solenes, ver entrar na igreja de uma cidade algarvia e assistir à missa duas raparigas em bikini, ouvir e ver um jovem tratar o PAI por você, assistir a um almoço onde aparecem avulsas pessoas de certa idade e os jovens presentes e à mesa nem fazerem ao menos o simulacro de se levantarem das suas cadeiras... Experiências que naquela hora da geração da RITA FERRO e da minha ninguém por certo terá tido!
Por isso o meu prazer ao ler este livro que me caíu nas mãos em boa hora !

22 janeiro 2012

Naufrágios e Naufragos

Como quase sempre, ao domingo, depois da missa, disponho de um razoável espaço de tempo para aqui vir dar forma de letra a algumas ideias que povoam a minha cabeça com maior ou menor preponderância, às vezes por toda uma semana, outras vezes à maneira de "assalto à fortaleza", por uns momentos, e ainda, muitas vezes, como "residentes" por quase toda a vida...como "resistentes"...
Hoje, as motivações mais próximas são tais e tantas, que as ideias regurgitam... Celebrou-se religiosamente a memória de um mártir cristão do século 3 ou 4 - São Vicente - cujo corpo atirado ao Meriterrâneo dentro de qualquer espécie de barca, veio encostar a Sagres com dois corvos negros por companheiros misteriosamente presentes e insistentes tanto ou tão pouco que até Afonso Henriques, ao trazê-los a todos para Lisboa deu azo a que tais aves tivessem lugar nas insígnias da cidade.O corpo de Vicente esteve "fora", por algum tempo e por razões algo cautelares, mas a cidade acabou por os abraçar aos três, com honras e carinhos. E de barcos á deriva, de corpos neles perdidos e achados , imediatamente se agiganta na nossa cabeça o espantoso naufrágio de um verdadeiro monstro marinho, há dias, "entalado" por negligência gritante entre costas rochosas de Itália que, segundo quem sabe, eram mais do que conhecidas por tudo quanto vive e navega por aquelas paragens... Claro que dentro do monstro não havia santos certamente, mas, de um momento para o outro todos foram transformados em mártires... E onde e qual o mistério dos míticos corvos que ali faltaram ?...

15 janeiro 2012

O nosso corpo

«NÃO SABEIS QUE O VOSSO CORPO É TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO ?» da 1ª carta de São Paulo aos Coríntios que fez parte da liturgia deste primeito domingo do Tempo Comum
São Paulo entendeu, no seu apostolado junto dos "pagãos", não só catequisar ,falando da grandeza do amor de Deus como lhe fora revelada na sua conversão, mas também "educar", para erradicar comportamentos que por si só obstruiam ou destruiam a integração dos catequisados na prática da nova doutrina.É pois assim que explica que quem pratica a imoralidade contra o seu ´próprio corpo , procede contra aquilo que o SENHOR criou e "animou "amorosamente com o SEU próprio Espírito.
É este, quanto a mim, um dos vectores mais apaixonantes da minha religião e da minha Fé. E leva-me a meditações de ãmbito alargadíssimo. A saúde e a doença, a vaidade e o desleixo, a sexualidade e o amor. o pudor e a ostentação tudo cabe dentro dos cuidados de tratamento e conservação a que nos obriga esta espantosa realidade de sermos a"residência" escolhida para a divina presença neste mundo que não é apenas um conjunto de valências físicas. E temos disso provas cada dia das nossas vidas...

12 janeiro 2012

O feio e a beleza

Preciso de perguntar às minhas eis-alunas que vão sendo umas senhoras e se transformaram em amigas jovens e também a alguns dos rapazes ("doutores" ou "engenheiros" em formação ) que me mandam e-mails e boas-festas e coisas assim, que coisa é mesmo ,hoje e agora ,ser "moderno".Não estou a pensar em "escolas"que flutuam entre o artístico e o sociológico, entre o ideológico e o político-social, entre o científico e o empírico. Estou muito simplesmente e muito terra-a-terra a PRECISAR de compreender que praga ou que mau agoiro caiu sobre a BELEZA para que todas as escolhas recaiam sobre o feio ou horrível. desde os brinquedos de criança até às produções dos que reconhecemos artistas em diversíssimos ramos, passando pelas roupas, os cabelos, as atitudes e... as palavras ! ?Será realmente preciso escrever com todas as letras os mais indecentes palavrões ao descrever ou contar uma estória como muitas outras, só que a borbulhar como um esgoto entupido graças à baixeza dos vocábulos escolhidos para contá-la ? Será que um grupo de rapazes ou raparigas sãos e escorreitos que resolveram fazer música em conjunto se sentem mais felizes com a produção de uns sons entrechocados sem vislumbres de qualquer melodia, do que se todo aquele "barulho" fosse algo mais do que isso mesmo, ritmado e alegremente são e escorreito como eles próprios não querem sentir que o são ?
Tenho há alguns anos um interessantíssimo "tratado" do UMBERTO ECCO sobre a História do Feio que me levou a compreender porque quase é necessário adaptarmo-nos à existência da fealdade do mundo e como e quais e quantas têm sido ao longo da História as adesões e as reacções do Homem às suas expressões artísticas ou não.«Porém estas e estes meus futuros doutores, músicos, cientistas, economistas, professores, não fazem já parte daquilo que o ECCO investigou.E depois vem alnda a pergunta : é "moderno" ser feio ? Porquê ?
E para grande consolação da minha alma, tenho de MIA COUTO esta afirmaçâo:A Beleza tem qualqer coisa de religioso : é ela que nos religa às coisas.

Nota - O verbo latino religare é que está na origem da palavra religião.
ao

03 janeiro 2012

Alvorada

Há muitos, muitos anos, escrevia eu um poeminha inspirado no iniciar de um novo ano: do Ano Novo espero as alvoradas de manhãs que até hoje esperei em vão...Pois bem. Fico admirada, mas ainda hoje me apetece dizer a mesma coisa, embora as "alvoradas", as "manhãs" e a minha "espera" tenham agora a circunscrevê-las um muito outro caldo de cultura. Mas cá estou, de frente para o que aí vier. Ouvi há dias alguém dizer que, ao percorrermos um caminho, só lhe conheceremos a beleza se olharmos em frente ou para os planos que o ladeiam, porque se pusermos os olhos só onde pomos os pés, nenhum encanto terá a caminhada -só pedras ou buracos... Que bela perspectiva ! Pese embora todo o medo de cair com que a idade das minhas pernas me assedia constantemente, quero mesmo fazer esse exercício de olhar em frente ; só com essa atitude valerá a pena a VIDA ,agora que aqui cheguei.
Muitas coisas fazem parte dessa prática e creio não me enganar se, amando cada dia mais este país onde nasci e me fiz gente, amar cada dia mais a "gente" que se foi também fazendo "gente" noutros compassos, bem sei, mas foi podendo ser tão "bonita"...Falo de jovens e não jovens, falo dos que foram valentes e dos que sofrem e dos que não sofrem, dos que continuam sendo valentes e sorriem, e cantam e escrevem...
Tenho neste momento cinco jovens autores, já premiados,alguns, a fazerem parte da paisagem do meu caminho a percorrer agora. Vieram como prendas de Natal, que bom !
São algumas das alvoradas de manhãs que sempre continuo esperando...Também neste Novo Ano 2012.