31 maio 2010

OS VELHOS

Parece ter chegado enfim o tão ambicionado calor com que o português sonha para poder marchar, de armas e bagagens, para os famosos sábados e domingos de PRAIA, ainda que não seja época, ainda que morram alguns afogados e outros de coisas de pele, ainda que se amontoem numa promiscuidade de refegos, barrigas e tops-less e regressem segunda feira ao pé dos que não foram, todos escarlates, ó pá, a água estava óptima !, e com a convicção de que também podiam viver sem praia mas não era a mesma coisa...
Isto para dizer que, como não faço nem nunca fiz parte desta família de praiantes ansiosos, me quedei por casa a adiantar o trabalho de revisão com que ajudo uma amiga na sua Tese de Mestrado. Trata-se de algo que tem que ver com GERONTOLOGIA, PSICOLOGIA e CUIDADOS CONTINUADOS. E de tal maneira o tema me prende há já algum tempo, que nem dou por as horas passarem, quando estou a trabalhar nele. É verdade que ali leio em letra de forma,como usa dizer-se, aquilo de que me reconheço ao mesmo tempo inspiradora, força motriz,e material de pesquisa e observação. Que a pessoa idosa,naturalmente reformada, vê e sente que as suas forças diminuiram, e que, além de ter perdido o trabalho, perdeu com ele o seu status, e parte do seu dinheiro e que, por causa de tudo isso, a sua vida social se vai retraindo também, é um punhado de verdades a que não podemos fugir. Que, se acresce a tudo isto uma situação de doença, é então maior a degradação, e que, se o pano de fundo para o total for a solidão, é sem dúvida urgente que algures na cadeia social,alguém ou alguma coisa estenda a mão a estas pessoas que até querem VIVER e não serem arrumadinhas, muito ordeiramente num sítio onde sejam pouco visíveis e não incomodem os outros...
É disto que trata a minha amiga, quando depois propõe soluções muito humanas,todas na base de ser dada a essas pessoas idosas a dignidade que lhes é devida quanto mais não seja como seres humanos únicos e irrepetíveis até ao fim de suas vidas. E é tão interessante como ela faz entrar o carinho, a esperança, o estímulo, a conversa, a presença e até o afago, no grupo mesmo das medicações( se houver algum caso de doença ) ! O idoso ou o doente são para ela os amigos, tal como tinham sido os seus,de infância.Merecedores de igual tipo de relação.
Dou comigo a pensar, em certos dias, quando suspendo o trabalho «quando eu for velha, quero que me tratem assim...» Que não me empurrem, que não me cataloguem,que não me ignorem,mas que não me vigiem...Apenas que eu caiba na mulher que sempre fui e me tratem como a TESE da minha amiga vai propôr... Só que um pouco mais diminuida então ! ! !E mais, muito mais carente, como estou ficando cada dia mais, agora...

1 comentário:

MM disse...

Cara Maria de Lurdes Beja,

Estou em crer que os diagnósticos e as alterações relativamente à forma de lidar com a dita 3ª idade estão mais do que teorizadas.

O mundo académico não deve servir meramente para grandes livros, relatórios, artigos, etc. Deve lançar-se sobre a sociedade tentando convencê-la das mudanças que preconiza para solucionar imperfeições que nela identifica.

Penso que o desafio não é problematizar a questão da velhice e encontrar soluções plausíveis, o desafio é pô-las em prática verdadeiramente.

Até breve.

Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com