25 maio 2008

Nós e os lírios do campo

Nós, seres humanos, somos tão astutos que, se quisermos, podemos sim senhor "servir a dois senhores" e até a mais que dois, se isso se proporcionar. O único impedimento para tal reside muito simplesmente no carácter, na formação moral, na educação de cada um.
Hoje penso em quantos senhores servirá aquela Junta Militar que manda em Myanmar. Não tem ela servido as suas espantosas ambições políticas e privadas, fingindo que ajuda e serve aquele seu povo sofredor que afinal vem morrendo aos poucos, de abandono, por crueza e desumanidade de quem devia, pelo menos, consentir na ajuda oferecida pelo resto do Mundo ?
Fingir foi o verbo que usei, pois será ele sempre a imiscuir-se nas atitudes dos que sabem como servir a dois senhores sendo que, de um lado, está sempre o mesmo tirano ( ou sedutor )-o dinheiro, que sabe apresentar-se com múltiplos disfarces, e do outro lado está sempre também a fragilidade do Homem que tem todas as dificuldades em apenas se pautar por olhar os lírios do campo...

24 maio 2008

As Amigas

Esta semana, como acontece em muitas outras, sem convites, sem olhar a alternâncias, partindo da iniciativa que a amizade dita e permite, elas vieram.Cada uma, é assim: A primeira,
entra, tira o casaco, larga sobre os sofás da sala o que traz nas mãos e vai dizendo desculpas se chega mais tarde do que o previsto ou contando peripécias da arrumação do carro ou do percurso até cá e,logo a seguir, vai à casa de banho refrescar-se...está em casa ! Irradia energia ,optimismo, companheirismo... A minha casa fica logo cheia mal ela entra.

Diferente, é a que vem tarde, muito tarde, quase hora de jantar, explicando suavemente porque queria não deixar de vir, dizendo que vai estar só uns minutos, sentando-se quase à beira da cadeira e quase sussurrando saudades, lembranças, porque agora vive longe e já não podem ter lugar aquelas intermináveis conversas...Com o passar dos tais minutos, vai-se acomodando, conta, sublinha quase tudo com um sorriso ou mesmo uma risada feliz...Afinal passam horas. Estamos tão em sintonia que não queremos quebrar este circulo de relatos e confidências que, de uma para a outra, se não interrompe mais...Quando sai deixa-me a casa impregnada de solidariedade.

Mal contenho a sensação de plenitude que se expande no meu peito, por tê-las como amigas,tão sólidas, tão dentro da minha vida, tão sabendo de mim tanto! Isto chamo eu de alegria.

Era mais velha do que eu, julgava eu que mesmo bastante mais. Soube agora que não era tanta a diferença quanto parecia. Vieram dizer-me que morrera pouco tempo antes da notícia que me traziam.Serenamente, no meio dos seus arranjos matinais. Era alegre e quando aqui chegava sempre tinha uma forma engraçada de maldizer a minha escada.Sentava-se fundo no sofá, tomava o fôlego que perdera a subir a escada e tratava-me por um diminutivo que ela própria criara, " e a tua vida, como vai?"...Assim começava uma lenta tarde de conversa, porque ela não tinha pressa, nem eu tão pouco. Interessava-a saber fosse o que fosse que a deixasse "avaliar", "perceber" qual era realmente o meu estado físico e espiritual... Não vou aqui falar, não quero, da
falta, do vazio, a seguir ao choque da notícia dada à queima-roupa...Não presença.Ausência.
Experiência já vivida com vários graus de angústia e desamparo, pareceria que podia estar imunizada... Mas não. Não se está nunca, para grau nenhum.

Três amigas.E esta classificação está gasta e não me é suficiente.A tristeza que me deixa a que já partiu, sei bem que as duas outras tão mais novas vão ajudar a dulcificar...

Costumo rezar uma oração que diz " meu Deus, faz do meu lar o teu santuário". E tomo como resposta a este pedido cada vinda inesperada destas pessoas que têm parte comigo como dizia Jesus...

17 maio 2008

Família

Não sei como, não me lembro de, em outros anos, se ter comemorado o Dia da Família. Para mim, o dia da Família foi sempre um dos complementos bonitos do dia de Natal. Mas, entendendo bem o alcance político - social de governos actuais, face ao envelhecimento das populações e entendendo ainda melhor a acção da Igreja face à ignorância propositada de valores que hoje é incutida nas práticas sociais, resolvi fixar-me um pouco sobre tudo isto. E aconteceu que dei comigo a recordar quem? Pois a minha sogra. Francesa de Paris, inteligente e trocista, espirituosa e mordaz, tinha aquele jeito parisiense que era capaz ou de nos cativar ou de nos gelar, com a mesma graça de um sorriso sempre a propósito. Foi ela que um dia me ensinou este provérbio francês que eu não sei se tem um português correspondente:
Les amis on les choisit; la famille on la subit.
E ficaram por aqui as minhas meditações sobre esse tal dia...
Não sobre a família !

11 maio 2008

Pentecostes/ Espírito Santo

· FORTALEZA · CIÊNCIA · PIEDADE · CONSELHO · SABEDORIA · HUMILDADE · ALEGRIA ·
Tivesse eu sido dotada com estes sete dons essenciais, que ser humano não seria !!!

10 maio 2008

Reparo que o meu blog se vem mostrando cada vez mais como um memorial de datas memorializáveis o que o está transformando num ramal para onde se esgueirou a minha ideia- tronco inicial, que seria a de um registar das minhas "circunstâncias"( Gasset ), meditando sobre elas e o que delas advem, sempre que isso me fosse possível.E, corolário indispensável quanto a mim, seduzir leitores que eu queria interlocutores. Quantas vezes tenho lido a afirmação de alguns escritores de ficção de que, estando a escrever um romance, o personagem começa a ganhar vida própria e o primitivo corpus da história entra numa deriva que o autor não procurara !
Pois bem! A superabundância de dias votivos tanto ao amor,como à água, como à fome, como à família, como a todas as doenças( uma de cada vez), ou a todos os padroeiros de qualquer coisa( santos ou não), ou à mulher (mas não ao homem),ou à música, ou `a poesia...Às coisas mais contraditórias, desde que possam ilusoriamente sobrelevar a ideia de uma união global dos sentimentos do Homem sobre qualquer tema escolhido, esta falsíssima aposta numa pseudo-união de vontades celebrativas, acabou por me enrodilhar os meus dias de celebrar realidades ou memórias com os outros, os globais( quando não aconteceu a sorte da coincidência ). Entretanto passaram por mim e eu vivi coisas mais ou menos interessantes, admiráveis, repugnantes, esperançosas, decepcionantes, das quais não ficou no meu blog o mais ligeiro rasto. E, no entanto, todas elas foram deixando marcas nesta cera moldável que é a cave onde repousam as várias castas-reserva especial das memórias da minha vida.
Ninguém espera certamente que uma mulher de mais de oitenta anos tenha actualmente uma dinâmica de vida recheada de actividades em que predomine a motricidade física, mas espero que quem não sabe acredite que a motricidade espiritual, sentimental e até intelectual mais se apura quanto mais se degrada a agilidade do corpo. Pode assim acontecer que, como nos bons velhos vinhos-reserva, as qualidades se sublimem e de repente (?) os nossos olhos passem a ver o que antes não viam, o nosso entendimento se torne mais perspicaz... Por vezes eu chego a ter medo do que estou sendo capaz de compreender agora em situações, pessoas ou coisas que acreditava já conhecer há muito...
Mas afinal seria mesmo daquilo que não está cá que deveria ter sido feito, até agora, este blog?
É, sem dúvida, um caso a repensar. E os prós ? E os contras ?

01 maio 2008

Dia da Espiga

Um ramo de símbolos, uma tradição:a papoila é a alusão a uma saúde vibrante que permitirá receber todos os estímulos, a espiga não poderia ser senão o PÃO nosso de cada dia. o raminho de oliveira é o precioso oiro líquido,talvez relacionado com os sagrados óleos que ungem os homens nos grandes momentos da vida-a entrada e a saída-princípio e fim, o malmequer amarelo, na sua simplicidade, está conotado com o oiro/dinheiro e talvez seja uma mensagem para que compreendamos o seu quanto baste sem ostentações, e por fim uma alusão ao vinho, tido religiosamente como o sangue que nos corre nas veias enquanto garante de vida.
Uma aliança entre a pujança da natureza e os grandes trabalhos do Homem, e assim, uma síntese a lembrar-nos que, pelas coisas simples, manteremos a nossa dignidade de seres humanos.