29 dezembro 2011

Também no Natal, Camões

Tanta, tanta coisa se diz, se canta, se reza, se escreve, se lê sobre o Natal e o que a esse acontecimento anda ligado e ainda há possibilidade de alguém dizer « o quê ? ele também ?» e o «ele» é nem mais nem menos que CAMÕES. Ora leiam :
DOS CÉUS À TERRA _ dos céus à terra desce a mor beleza,
une-se à nossa carne e fá-la nobre-
e sendo a humanidade dantes pobre
hoje subida fica à mor alteza.

Busca o Senhor mais rico a mor pobreza
que a no mundo o seu amor descobre
de palhas vis o corpo tenro cobre
e por elas o mesmo Céu despreza.

Como? Deus em pobreza à Terra desce.
O que é mais pobre tanto lhe contenta
que este somente rico lhe parece-

Pobreza este presépio representa.
Mas tanto, por ser pobre, já merece,
que quanto mais o é, mais lhe contenta...

Este nosso "príncipe" sabia do que falava no seu conhecimento da pobreza e como vemos sabia bem o que sentia neste reconhecimento da cristã preferência pelos pobres !






20 dezembro 2011

Uma semana antes do Natal

Assim como nem tudo são alegrias, também nem tudo são tristezas nesta vida que temos para viver. ! ! ! Com notícias arrasadoras a caírem-nos sobre quaisquer réstias de bonomia ou esperança em cada contacto com seja o que for que fale com ou para o POVO, era para estarmos agora encolhidos nos nossos cantos, todos murchos e cinzentos sem vontade de viver, quanto mais de festejar !...Pois não é que invertemos a marcha e cada um abriu sorrisos como janelas para o belo "jardim" que é o gostar da VIDA e de vivê-la agora e já, já que é NATAL ?Então começámos a visitar-nos uns aos outros, a ir ao encontro de coisas bonitas de se ver, a recordar sem lágrimas coisas alegres ( algumas até cómicas ) de passados envelhecidos, a arejar fatiotas bem bonitas que haviam deixado de apetecer... e tudo simples,tudo fácil, sem constrangimentos... Vieram ver-me pessoas que quase tinha esquecido, chamaram-me ao telefone pessoas que me pareceu chegarem de outro planeta, convidaram-me para almoços (terão compreendido enfim que a minha idade já não permite que aceite jantares ), almoços com ementas preparadas para mim, levaram-me a livrarias e a falar com gente de ljvros, a casas de chá e margens do Tejo e, cúmulo dos cúmulos,levaram-me a ouvir música e a revisitar Lisboa ao
sol...Tudo isto dito na primeira pessoa quase não dá para recordar quantas pessoas estavam em todos estes cenários, mas estavam sim senhor, muitas e risonhas e interessadas e interessantes, conforme os a-propósitos. Estaria realmente um gigante a gritar no deserto que a VIDA é um presente com características divinais ? Certo é que, com a alma mais leve, muitos muitos de nós decidimos entregar-nos a uma espécie de volúpia de AMAR e com o peito límpido e aberto estamos a abeirar-nos da celebração da festa milenar da chegada da ESPERANÇA...

14 dezembro 2011

CONCERTO DO CORO DE CÂMARA DE LISBOA

Dia Mundial dos COROS, 11 de Dezembro de LISBOA.Basílica dos Mártires.O Chiado como uma festa. A animação de inúmeras pessoas risonhas, leves, falando alto, encontrando-se e desencontrando-se na entrada e saída de todas as lojas que se iluminaram e abriram portas para receber visitas... Desde o Largo de Camões ao Chiado, ao São Carlos, à rua do Almada e por todas aquelas redondezas pensou-se e armou-se festa , o que me fez alegremente recordar as tardes de compras de Natal da minha juventude, com a minha Mãe e com amigas, e em que por remate nos íamos sentar estafadas em volta de uma mesa na Império ou na Garret a tomar chá ou chocolate com as respectivas torradas. Como a chamada Baixa entristeceu, na mudança de tipo de vender e comprar que se foi instalando durante todos estes anos! Porém neste domingo de agora foi uma linda recordação e um magnífico introito para o principal do dia : o concerto do CORO DE CÂMARA DE LISBOA. A escolha do magnífico palco barroco que é a Basílica dos Mártires foi muito feliz pois quanto a mim esta é uma época barroca por excelência e as peças que na primeira parte foram interpretadas creio que também coincidiam com este conceito. Um coral de "anjos" diria eu, num ambiente próprio. Prelúdio de uma quase bem-aventurança a sensação que trouxemos connosco, no ressoar daquelas vozes que eu não tenho nenhuma reserva para as qualificar de inebriantes...



13 dezembro 2011

APESAR DE... (GAUDETE !)

Dói por dentro,
na alma,
esta certeza
de ir reconhecendo
os meus pontos finais.

Perfila-se-me crua
impiedosa
esta constatação
de se estarem esboroando
os meus Natais.

Não mais presépios com Deus pequenino
e seus focos de luz
direccionais.
Não mais o aroma do pinho
recamado de bolas e festões,
nem mesmo as braçadas do azevinho
agora irrepetíveis...

Tudo ficou por aí,
disperso pelos caminhos invisíveis
do eu deixar
perder-se o gosto e o jeito de enfeitar.

Resta-me apenas,
em forma de cristais indefiníveis,
um polvilho de lágrimas que brilha
se acaso me ponho a recordar...

08 dezembro 2011

MISTÉRIO

Está quase vencida a metade do tempo de meditação especialmente votada ao MISTÉRIO religioso do NATAL. Acendemos vela a vela por semana a semana.E a nossa arte ou capacidade semiológica soube encontrar vários sinais que mais não são senão o extravasar da nossa intrínseca e nunca satisfeita necessidade de encontrarmos quem nos ame, quem nos comprenda, quem nos "mime", quem dê às nossas vidas a substãncia que valerá a pena "salvar". Afinal procuramos sempre esse enigmático MENINO JESUS que acalentamos numa avassaladora onda de ternura e chega, em cada ano, sempre quando parece que mais precisamos do calor de um amor como não há... Lembro uma passagem de GEORGES BERNANOS:O INFERNO É JÁ NÃO SE PODER AMAR.Tenho esta constatação de memória e, embora ela me ocorra muitas vezes, em circunstâncias da vida para mim sempre surpreendentes por imprevisíveis,parece-me que ,agora, ela surge com toda a propriedade, como uma verruma a perfurar todos os meus gestos íntimos de boa vontade e alguma confiança ainda...
Sendo este o dia de celebrar a espantosamente misteriosa CONCEPÇÃO que haveria de nos oferecer a fonte de todas as esperanças, não podemos deixar de reconhecer que uma das sustentações maiores de todo este maravilhoso alvorecer da nossa fé e religião, é a HUMILDADE.

Estamos num mundo e num tempo em que « é demasiado fácil falar de pobreza espiritual e encher a boca de palavras piedosas, e depois não ter falta de nada, ter uma casa segura, despensa bem fornecida e várias contas no banco.»( do Irmão CARRETTO ,com. de Jesus) e perante a dor de assistir a um tal extremar de posições à nossa volta, mais denso se nos mostra este doce mistério do NATAL mais desejamos envolvermo-nos nele, como nestes silenciosos dias de nevoeiro que quase miraculosamente nos têm sido oferecidos...