29 novembro 2009

1ºDOMINGO DE ADVENTO

Creio que quem acaso usar vir por estas bandas, ler o que vou escrevendo, já tem como certo que eu só me dedico a esta ocupação ao domingo e quase exclusivamente para meditar por escrito sobre os textos litúrgicos desse mesmo domingo.Mas esta é apenas uma meia verdade,que hoje, primeiro domingo do ADVENTO deste ano, me pareceu ser tempo de explicar. Na verdade, o meu grande gosto é mesmo escrever sobre as leituras bíblicas por me parecer que é sempre necessário e pertinente, trazê-las para os dias de hoje e pensá-las à luz que ilumina a nossa vida de todos os dias, porque evangelhos, cartas, salmos, profecias e actos me aparecem com pessoas como nós a vivenciá-los, apenas com a diferença de que nós temos connosco a carga de 2000 a 3000 anos de mudanças civilizacionais, muita HISTÓRIA,muito mais MUNDO, muita ocidentalização, tudo em muito maiores números, sendo nós sempre a mesma matéria de quando Deus viu que tudo era BOM..Tão longe esse Génesis e como nós ficámos, por dentro, sempre tão frágeis perante todas as serpentes que cercam a ÃRVORE DA VIDA ! É pois sempre nesse espírito que me parece quase obrigatório escrever aos domingos, o que escrevo.
Porém, o meu "diário" é múltiplo, como o de todas as pessoas, só que nem sempre o meu tempo livre de obrigações me permite este luxo de sentar-me a contar o que aconteceu no meu em redor mais próximo.
Até estive doente e me tratei graças à assistência que veio dar-me uma médica da AMI a que recorro sempre que preciso, e a uma amiga que chamei para me sentir acompanhada nos meus medos, e à minha Valentina que reza rezas que só ela sabe, enquanto me serve a canja e os seus estimulantes "já vai ficar boa ".
Passado esse "cabo Bojador", como o Pessoa diz que se passa "além da dor", eu lá passei... E senti que merecia mais mimos, exactamente como quando ,em menina, convalescia de um qualquer sarampo ou bronquite...E porquê? Porque,
se partira a perna da antiquíssima mesinha baixa que eu sobrecarregava com pilhas de livros, todos "em actividade de serviço", e a minha amiga saíu, sem me dizer ao que ia , e foi pelas lojas a encontrar-me algo que era sonho antigo nunca concretizado: achar-me um fogão eléctrico à justa medida da boca da minha lareira, daqueles que simulam labaredas, lenha e tudo, para, funcionando ali, além de me aquecer, fazer esquecer a ausência da velha mesinha que ocupava o espaço demasiado próximo à lareira. Se isto não é mimo é o quê ? Mas aconteceu também que o meu professor de computador me "mimou" trazendo-me prontos uns pequnos desdobráveis com passagens de vários posts sobre o ADVENTO que tinha espalhados pelo blog e que preparara para agora partilhar com os meus amigos.E foi óptimo poder fazê-lo.
E agora aqui estou eu, após ter acendido a primeira das quatro velas que hão de alumiar-me nestas quatro semanas até ao Natal, declamando como o SALMO, fazei-me, Senhor, caminhar os vossos caminhos, ensinai-me o vosso rumo, econduzi ao caminho os pecadores, orientai os humildes na justiça e aos pobres guiai os seus passos. Dias virão...dizia hoje Jeremias.

22 novembro 2009

...o Vosso Reino

É verdadeiramente fascinante como nos envolve uma atmosfera rescendendo á grandiosidade com que Sâo João visionava as suas apoteóticas cenas do Apocalipse, através de todas as leituras deste dia que encerra um ano litúrgico a render preito à realeza de Jesus, enquanto Filho de Deus nosso Pai!
Imaginamos Daniel nas suas visões da noite a presenciar, entre as nuvens do céu, aquela entroni- zação da figura de Homem ,mal definida, junto do divino Ancião. Ecoam aos nossos ouvidos, do Apocalipse, a ELE a glória e o poder pelos tempos sem fim, enquanto todos os olhos, mesmo os que o trespassaram, O vêem caminhar entre nuvens, clamando com a sua voz poderosa Eu sou o Alfa e o Ómega, aquele que é, que era e que há-de vir...A melodia do Salmo ofusca-nos o olhar perante O Senhor vestido de majestade, REI num trono de luz.. E,por fim, com que dignidade se passa aquela conversa entre Jesus e Pilatos, sabendo bem como seriam interpretadas as palavras que dissesse É como dizes, sou Rei! Dói-nos pensar que Pilatos sabia muito bem que aquele rei não era deste Mundo, mas mesmo assim foi preciso Jesus lembrar-lhe que só o ouviriam aqueles que fossem amigos da Verdade...
É razão para termos orgulho na nossa pertença a uma religião com uma FÉ nascida nas mais luminosas e espirituais crenças e nas mais puras convicções feitas certezas...

15 novembro 2009

...às nossas portas...

A grande notícia do Evangelho de hoje vai integrar-se naquela frase que recordamos sempre de João Paulo II não tenhais medo ! Jesus afirma aos discípulos : ficai sabendo que o Filho do Homem está perto, mesmo às vossas portas, quando acontecerem todas as calamidades que associamos a um fim de mundo e de que Ele falou como tão inevitáveis quanto de data imprevisível. Portanto, temos a sua promessa de que estará a velar por nós, mesmo às nossas portas. E, ao longo das nossas vidas, não temos nós todos tido já provas de que Ele estava lá, mesmo não se tratando de nenhum fim de mundo?...

14 novembro 2009

Gerontologia

Depois de uma semana com alguma agitação, chamemos-lhe social, em que fui festejada por amigos com um dîner en ville, com direito a bolo de velas e pessoas a cantarem o "parabéns a você", e em que eu pópria recebi amigas para matar saudades conversando em redor da mesa de um almocinho gostoso, e em que ainda me vi enredada no completar de um prolongado tratamento no dentista, tudo isto concertado com o cumprimento dos horários das minhas lições, eis que chega o fim de semana que eu destinara para repouso físico e silêncio propiciadores da minha atenta dedicação à correcção de umas cinquenta e tal páginas da tese que a minha amiga Irmã Conceição está a elaborar para o seu mestrado em Saúde/ Gerontologia e me vai trazendo aos bocadinhos. Se alguém lê este post, não vai certamente pensar que eu corrijo alguma coisa de matéria tal. Eu sou apenas professora de português... Mas o que eu tenho aprendido como geronte !... Hoje travei conhecimento com dois autores,Matheus Papeleo Netto e Ferreira Novo que, para além de alguma coisa que conhecia do doutor Daniel Serrão, me deixaram cheia de conhecimentos sobre mim mesma no campo da psicologia das pessoas de idade. "Coisas que o meu coração estava a pensar" como diria o poeta, mas que não sabia que podiam ser mesmo tomadas como coisas sérias. Dos autores que referi, atrevo-me a citar algumas passagens que a minha amiga recolheu e reformulou :No seu contexto social, o idoso sente-se senhor da sua vida e das suas decisões, semdo este aspecto fundamental para a recuperação do seu equilíbrio emocional... Ou então :Pelo conteúdo das suas emoções e sentimentos percebe-se que os idosos interiorizarão o envelhecimento como algo negativo e em consequência disso deixam de lutar por uma vida mais saudável...é que, além da perda do vínculo profissional e do papel social que desfrutavam, há sempre uma baixa considerável no seu rendimento como pessoas físicas e intelectuais acrescida por vezes com a dos seus rendimentos financeiros...Bem. É de facto uma análise muito certeira dos problemas próprios dos gerontes e fico feliz por ver que há quem se preocupe com isso e, como esta religiosa da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, procure os meios científicos para lhes tornar o caminho menos duro e sofrido... Bom seria que todo este mundo globalizado no culto do que é jovem, esbelto, esperto e desportivo, percebesse que...as pessoas idosas, graças às experiências já feitas, podem dar à sociedade qualidade de vida, estabelecendo relações significativas que podem ajudar os mais novos a construir uma verdadeira sociedade de justiça e bem-estar e até de liberdade para todos.
Bom foi mesmo este dia de cinza e humidade em que me foi possível enrolar-me em silêncio e conforto para pensar em paz, tal como eu gosto !

08 novembro 2009

As VIÚVAS

Não, eu ainda não sou a viúva de Sarepta, nem tão pouco aquela outra viúva a quem Jesus distinguiu do meio da multidão de pagantes que Ele observava junto da Sala do Tesouro.O que me interpelou nas leituras do dia de hoje foi o facto de, tanto o profeta Elias, como São Marcos, terem escolhido viúvas para suas propostas de modelo a seguir, e viúvas como sinónimos de pobreza extrema, mas também de abnegação e conformação extremas... Mas também de extremo abandono, visto que, pelo facto de não terem o apoio do marido falecido se vê que o não teriam de mais ninguém... Não cabe aqui sequer falar de estado social, mas da solidariedade e consequente partilha que Jesus incentivava nos que O seguiam. Claro que estávamos ainda nos alvores de tudo isso em Sarepta com Elias, mas com Jesus, lá estava já então a resplandecer o valor do que se dá, parte de nós, comparado com o valor do que se dá porque não nos faz falta nenhuma...E é tão grande o fosso que separa uma coisa da outra que aí Jesus achou mesmo necessário chamar a atenção para os fingimentos daqueles que, com aparências importantes e luxuosas, consomem os bens das viúvas, por entre simulacros de longas rezas. Como já tenho dito mais vezes, Jesus sabe mesmo ser duro,quando lhe parece ser preciso.
Não posso deixar de imaginá-LO hoje, ali sentado à porta de uma tesouraria de Finanças, a dizer estas coisas e a olhar piedosamente por quantas viúvas cada dia mais vão ficando mesmo sem as tais duas moedas...
Teriam mesmo passado dois mil e dez anos...?

07 novembro 2009

O Ocidente e a sua filosofia

Estando,como estou, contente com a minha posição de reformada, pela liberdade( libertação) e outras coisas, às vezes tenho saudades daqueles areópagos internacionais em que tomava parte por obrigação profissional que me permitiam contactar, à margem dos trabalhos, com pessoas de outros mundos, já nessa altura a darem passos bem mais largos do que a minha perna, em formas de estar na vida que me deixavam perceber estarem a começar a envelhecer não só os Sartres, como os Jakobson, pela força de circunstâncias de uma Europa que me embalara, jovem ratinho de biblioteca, tanto neles como em estimulantes Barthes, mesmo sem os ter compreendido muito bem. Posso dizer que nesses encontros aprendi mais de Sociologia e Antropologia do que me tinha sido posível fazê-lo no meio das minhas literaturices.O certo é que tenho agora a certeza de que ,nessa época, me não enganava e esta Europa está mesmo a aculturar-se a olhos vistos...E nós, os daqueles tempos, seguramos com todas as forças as memórias possíveis( com que sonoridade se teceram despedidas a C. Lévi-Strauss há dias falecido ), porque sentimos que é uma parte do que nós somos que está a periclitar... Se falo nisto agora, é porque ontem um meu aluno que por sinal fez no ano passado, com êxito, a cadeira de Filosofia, me perguntou à queima-roupa «afinal, professora, o que é bem ao certo a FILOSOFIA ?» Falávamos de dois dos heterónimos de Pessoa. E não é que eu fiquei ali embarçada ao tentar dar-lhe de forma sucinta e quimicamente pura uma definição de algo que para mim está a ficar cada vez mais híbrido, mas também mais descaracterizado ?Pensei apelar a uma reconfortante inspiração grega mas duvido se não será antes e apenas que seja só uma pontinha de ummundo todo outro que esteja chegando até mim e por isso sinto que me fará falta ir por aí vê-lo mais de perto? Não será mesmo ?

02 novembro 2009

...repousem lá no Céu eternamente


Parafraseando o meu Camões, ele também com todos relembrado, ...se lá do assento etéreo onde subiram, memória desta vida se consente...


...e se virem que pode merecer-vos alguma coisa a dor que me ficou...saibam quanto, em várias medidas ,me faltais e me dói a saudade para sempre...


01 novembro 2009

Dia de todos os Santos

Habituados como estamos a que quase tudo o que é muito, ou grande ,nos seja apresentado em MILHÕES, é com um certo sorriso que lemos nos textos bíblicos aqueles setenta vezes sete, ou o desmultiplicar dos cidadãos de Sodoma e parece-me que, com a sua pretensão de grandiosidade, no APOCALIPSE,.
São João, ao usar o número cento e quarenta e quatro mil, estava mesmo a querer transmitir-nos a noção de um muitíssimo grande número dos que já estariam marcados por Deus, tendo-lhe parecido ser possuidor de termos de avaliação insuficientes para calcular sequer a grande multidão que ninguém podia contar que surgiu depois, proveniente de todas as nações, povos e línguas... Com uma extraordinária noção da espectacularidade dos ambientes visionados, São João põe ali perante o majestático senhor DEUS todos os que vinham da grande tribulação...E o ambiente era de festa, de louvor e de paz ali conseguida enfim...
Estávamos ainda a saborear esta ideia de uma possibilidade de virmos a engrossar a fila dos cento e quarenta e quatro mil, quando o Evangelho nos transporta para aquela maravilha de, com o Lago Tiberíades aos pés, nos sentarmos por ali sob as árvores e flores que as envolvem, ouvindo a pausada e doce voz de Jesus ensinar-nos como poderemos ser bem-aventurados...
Penso que se fosse possível eu ter lá estado,talvez tivesse tido a ousadia de agradecer-lhe a VIDA que é ainda o meu quinhão de santidade, daquela que nos deu o Senhor DEUS, pela força do Espírito Santo...