30 junho 2007

Concerto nos Claustros


Uma noite de lua redonda e céu brilhante,um ventinho rasante a cheirar a mares largos e o intermitente revoar de gaivotas piando,tão perto de nós era o rio,já quase mar!... E subia na noite a estridência metálica de Gershwin e Stravinsky a enrolar-se na renda de pedra dos claustros iluminados a luz e contra-luz em tons de águas-marinhas ou esmeraldas...E quando se desdobrou o coral de vozes múltiplas,frescas,plenas,vibrantes ou simplesmente murmurantes,a complementar frases da orquestra, levando a emoção ao climax imprevisto, foram realmente momentos de puro encantamento ! Faz precisamente um ano, ouviramos ,na Sé, um lindíssimo concerto dos alunos que finalizavam o ano lectivo da Escola de Música do Conservatório Nacional e foi já um enorme prazer sensorial. Este ano, nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos,todo o enquadramento sublimou ainda mais o inefável prazer de nos deixarmos "embeber" pelas maravilhosas interpretações e pelo interesse na coerência das peças escolhidas. Mais uma vez fico devendo todo este prazer à minha aluna Margarida que , de uma maneira muito inteligente ,está tendo uma excelente formação artística.

26 junho 2007

EXERCÍCIO DE GEOMETRIA

Está perdido por aí
Roto e cansado
O amor confiado
Que eu tinha a toda a gente
E queria ter
Só por acreditar
Num Homem linear
De que eram para crer
As formas que podíamos olhar.

Com o andar da Vida descobri
O poliedro multifacetado
Que pode ser o Homem quando olhado
Através de outros prismas diferentes
E o meu amor passou a refractar-se,
Procurando sofismas
Para dar-se...

O que porém tudo mais complicou
Foi entender, mais tarde,
Que, das três dimensões,
Grande disparidade
Havia entre o volume e a profundidade,
Entre o perímetro e a real estatura
E entre a área ocupada e a sua projecção...

Aí, meu coração peric litou.
Porque, em perplexidade,
Não sabia
Se escolhia o melhor
Quando optava
Por aquela dimensão
Que algo mais lhe dizia...
E o Amor que é cego, como se sabia,
Nas buscas e ajustes se rasgava
Ganhando ele também novas medidas,
Outras designações mais condizentes
Co’a refractada luz das ilusões perdidas
E a forma poliédrica das gentes...

24 junho 2007

Da AMIZADE( nº 2 )


Tenho ouvido muitas vezes a referência à maior ou menor capacidade de fazer amigos e até já encontrei este item em fichas de avaliação de desempenho de certos funcionários mas nunca me identifiquei com a pesquisa deste tipo de informação porque não consigo compreender a correlação de fazer com amigos ou amizade. FAZER pressupõe construir, fabricar, edificar, manufacturar e por aí fora.Também pressupõe um plano, um projecto, e não se compadece com improvisação se não enveredar pelo método das tentativas, das étapas ou das fases. Ora não é com nenhuma espécie de planificação que a minha amizade por alguém existe. Ela nasce como consequência de muitas consequências e depois desabrocha lentamente como aquelas corolas que são fotografadas por um processo especial que as acompanha no desdobrar de cada pétala muito suavemente, muito lentamente, até que a flor aparece em todo o seu esplendor...E depois vai-se cultivando, acarinhando...e é-se AMIGO, sem que tenha sido preciso fabricar nada.
Mas, porque se é amigo, é que sempre temos que fazer muitas e muitas coisas com graus de dificuldade variáveis, sempre com graus de exigência elevados.
E porque creio neste brotar da amizade, sem pretender grandes explorações metafísicas, sei que
ela é geneticamente ( ! ! !) um dom da minha alma, das nossas almas...
Já não digo um dom que Deus me deu...Mas não é que, em dia de SÃO JOÃO ( joão= dom de Deus), acabou de se abrir toda uma corola que, aos poucos andava a desdobrar as suas múltiplas pétalas ?

20 junho 2007

Exames e Férias

Saramago,Camões,Stau Monteiro,Pessoa,Gil Vicente e um cortejo de recomendações, uma inquietação de dúvidas,um sobressalto de diz-se,diz-se,amontoaram-se todos neste último fim de semana ,constituindo uma montanha que aqueles a quem eu vou chamando os meus meninos,durante mais ou menos oito meses,queriam escalar afanosamente em algumas horas.Porque o exame estava aí,porque a sua juventude só então lhes permitiu compreender a seriedade da situação,porque só então se deixaram convencer pela realidade de que um exame é sempre uma étapa nas nossas vidas( e uma étapa que permite crescer,se for vencida) . Por tudo isto e por amor a eles foi a minha tarefa mais a de tranquilizá-los do que de a de entrar com eles naquela lufa-lufa de "não sei se me lembro ", " e se fossemos ver...", "aquilo que o professor disse naquela aula...". Foram mesmo uns dias de merecermos todos alguma boa recompensa. E afinal todos saíram contentes das provas. Este ano lectivo que começara com toda aquela turbulência da célebre TLEBS, acabou por trazer umas provas acessíveis para todos, sendo que até a comunicação social se fez eco das vozes de alguns professores que acharam que a prova do 12º ano era demasiado fácil. Quanto a mim, esta facilidade é ainda uma consequência da tal turbulência do início...É bem certo que VIVER é sempre fazer política !
Mas,agora, de repente, sou eu que realizo que entrei em férias... Quem me conhece sabe que não é uma das coisas de que mais gosto...

13 junho 2007

Santo ANTÓNIO

Aqueles santos e santas cujos historiais nos são presentes e onde tão edificantes exemplos poderiamos recolher para procurar imitar, sempre representaram para mim qualquer coisa de profundamente misterioso por me ser impossível imaginar em alguém, alguma vez, um estado de perfeita pureza. Mas, admirando-os e considerando-os sem nenhuma espécie de reserva, fico sempre aquém e por fora, mais espectadora do que discípula, tomando-os como referência em tantas circunstâncias da minha vida, embora incapaz de me ver na pele deles a tomar as iniciativas que eles tomaram de despojamento, de humildade, de coragem, de abnegação... E tem-me sido dito por quem sabe que nenhum santo decidiu que o iria ser e que, de nós, entre nós, podemos alguns estar já a percorrer o caminho da santidade porque a génese dessas vrtudes radica tão somente na nossa real capacidade de amar o outro e que só nessa especialíssima forma de amar pode estar a origem de todas as virtudes que algum dia poderão ser reconhecidas.
Seja-me pois permitido confessar que me sinto especialmente enternecida perante este SANTO ANTÓNIO que Lisboa festeja com uma exuberância perfeitamente pagã,pensando nele como um rapazinho da Lisboa do século XII que, esquecido de si, fugindo ao fácil, ao confortável, ao bom para si , amou sem medida, aproximando-se dos simples, sem nunca se furtar ao cumprimento das exigências mais duras. Foi certamente por tudo isso que ele foiadoptado pelo povo que o foi sentindo sempre mais um dos seus , aqui em Portugal ou em Itália, para lhe valer em situações difíceis, fossem elas males de amor ou perdas de qualquer espécie... Até o rei D. João V mandou erigir em sua honra o espantoso Convento de Mafra, porque a ele recorrera, pedindo um filho que tardava em vir ! E não é que o alistaram no exército agradecendo a sua intercessão nas vitórias alcançadas aquando da Restauração da Independência, sendo-lhe até atribuido salário e progresso na carreira militar , o que o levou até ao posto de tenente-coronel, por ordem de mais do que um dos nossos reis ?!
E é a esse inefável místico de cujo quarto irradiou uma noite, já perto da sua morte, uma luminosidade deslumbrante( dito por quem espreitou e viu) porque ele tinha nos braços , vivo, o pequenino Menino Jesus, é a ele que o povo reza o RESPONSO quando perde e quer achar um objecto qualquer e escreve quadras brejeiras por causa dos namorados, e ergue tronos de papelão com manjericos...Quão misteriosa, a santidade ! Se até os peixes alinharam à beirinha da praia para ouvir da sua boca aquilo que os homens não queriam ouvir, como será possível não amá-lo de uma forma diferente e não dizê-lo bem alto, cantando ou mesmo dançando, se nos ultrapassa o mistério que tudo isto encerra ?...

10 junho 2007

Camões e Eu

Eis aqui, quase cume da cabeça
de Europa toda, o Reino Lusitano,
onde a terra se acaba e o mar começa
e onde Febo repousa no Oceano.

ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA
à qual, se o Céu me dá que eu, sem perigo,
torne, com esta empresa já acabada,
acabe-se esta luz ali comigo.

06 junho 2007

CRIANÇAS


Creio que já afirmei com muita clareza o quanto aborreço esta cércea que se tornou sintoma de globalidade e que dá pelo nome de "o dia de ". Sem podermos ígnorá-lo, porque a poderosa máquina comercial agita a comunicação social nesse sentido, aí somos nós arrastados na onda das comemorações maiores ou menores, conforme o grau de intensidade desse tsu-nami... Chego a pensar que já ninguém prescinde desses lembretes porque dá outro sossego não ter que carregar com mais aquela preocupação :" não me posso esquecer do dia da Mãe", p. e. . E porque lá passou mais um Dia da Criança que agora, segundo creio, também acumula com mais uma ou duas dedicatórias (Já não vão chegando os dias para serem de dedicação exclusiva!), aconteceu que me afundei em comiseração por aquelas mães que agora, agora mesmo, estão a sofrer daquela espécie de amputação que é volatilizar-se-lhes, como por magia ,aquele filho que elas tinham ali agora mesmo, aquele filho que elas nem sequer puderam ver morrer, se é que morreu( será? )... E multiplicaram- se de repente casos com crianças, todos dolorosíssimos, e reavivaram-se casos de mistérios tão antigos, nunca esclarecidos, e subitamente o Mundo apareceu cheio de crianças que ...Era mesmo oportuno celebrar este tal dia? Em nome de quê ? Da esperança? Ou da desesperança ? Da dor dos pais ou do sofrimento das crianças? Porque , nunca tendo tido a Graça de ser mãe, dei em passar muito tempo a observar, a escalpelizar os procedimentos dos filhos dos outros, daqueles pequenos seres que eu achava mesmo intrigantes, misteriosos até.Percebi que, desde que nascem, as crianças vão adquirindo "humanidade"( não descobri uma palavra melhor), por aquisição de hábitos. Tal como se habituam às horas das mamadas ou das papas, habituam-se a um horário de dormidas ou dos banhinhos e também se habituam às caras, às vozes, aos braços que as envolvem, aos beijos e carinhos dos que lhes são próximos. E nós, adultos, achamos que esse habituar-se é já afecto. Mas quando será que realmente nascem os afectos ? Os afectos puros, aqueles que não advêm do físico, que não podem relacionar-se com qualquer tipo de proveito, poderão acontecer ainda antes daquelas idades em que choram, no silêncio dos seus quartinhos, quando sonham ou imaginam que se separam do Pai ou da Mãe ? O mundo infantil, da pureza sempre ingénua, afectiva, límpida e generosa é pura ficção dos adultos. A única diferença entre, por exemplo, os ressentimentos e aversões infantis e os dos adultos reside no facto de, nas crianças, tudo ser deveras pouco duradouro. No entanto, se solicitadas por causas idênticas, sempre podem repetir-se com igual ou superior intensidade e requinte as suas manifestações negativas. Parece-me que a criança não odeia, não tem capacidade de elaborar uma pulsão de ódio, mas é capaz de persistir numa qualquer rejeição com violenta persistência. E é também capaz de criar e utilizar métodos para imposição da sua vontade, perfeitamente por si mesma catalogados, desde cenas de gritos e lágrimas escandalosas, em público, às manifestações de histeria com repercussões desastrosas para todos os envolvidos. Embora as suas reacções sejam espontâneas, do seu íntimo podem brotar manifestações de um ego interesseiro e calculista que ela sabe manejar com uma mestria insuspeitável . Exibe uns ademanes naturais, uns olhares oblíquos ou velados, uns sorrisos aliciadores, em espantosos joguinhos de sedução que a nós, adultos, ou divertem ou enternecem, levando-nos a pensar mas quem lhe ensinaria isto? Também nos "a propósito" de certas conversas embora saibamos que são puramente imitativos, denunciam as crianças uma espantosa capacidade de associação, muito mais precoce do que nós imaginamos. E , ao vê-las actuar nos primeiríssimos tempos das suas relações em sociedade, damos connosco a pensar como ela é esperta e inteligente! E entramos gostosamente nos seus esquemas carregados de charme mas, misteriosamente, quão cheios já de duplas intenções ! É claro que, pela vida fora, tudo se vai aprimorando pela educação, pelos exemplos próximos , sendo que aquele ronronar que sabem fazer, como os gatinhos satisfeitos, se vai transformando em palavras, e se vai moldando até pelo habitat.
Cabe aos adultos estar atentos, ser hábeis junto das crianças, nunca se permitindo certo tipo de manipulações que as adulterariam e, de genuinas que são, passariam a ser apenas crueis arremedos de gente grande.
Por isto tudo, nesta efeméride deste ano, com os acontecimentos que nos têm horrorizado, eu não poderia deixar de partilhar a amargura sem remédio das pobres mães, mas dos meus pensamentos não consigo afastar a perspectiva de sofrimentos de tantas crianças, por me parecer que sei adivinhar nelas mais essa misteriosa capacidade de sofrer, na sua forma tão peculiar, sendo infantil... Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor ?

04 junho 2007

De Eugénio de Andrade

Apenas um rumor

E no teu rosto aberto sobre o mar
Cada palavra era apenas o rumor
De um bando de gaivotas a passar...


Despedida

Colhe
Todo o oiro do dia
Na haste mais alta
Da melancolia...


Sobre a casa

Não há senão a casa viva do olhar
À beira do crepúsculo.
Não há senão
A vereda quase triste das palavras..


Palavras

Que fizeste das palavras?
Que contas darás tu dessas vogais
De um azul tão apaziguado?

E das consoantes, que lhes dirás,
Ardendo entre o fulgor
Das laranjas e o sol dos cavalos?

Que lhes dirás, quando
Te perguntarem pelas minúsculas
Sementes que te confiaram?

02 junho 2007

Seriam sessenta anos

Há sessenta anos contados hora a hora, era também, como hoje, uma bela manhã de sol. Em casa, todos nos levantámos cedo
A nossa casa, Avenidas Novas, fins dos anos trinta, era grande,com quartos e salas espaçosos acompanhados pelo longo corredor,cozinha ao fundo, casa de jantar à direita, guarda- vento
de vidro craquelé com batentes de mola a resguardar a zona da entrada e das salas"de receber".
Mas existia apenas uma única casa de banho. Havia quarto de "criadas" mas não era hábito fazer-se mais do que uma casa de banho...
Dizia eu que, naquele dia ,todos em casa começámos a movimentarmo-nos cedo, segundo um horário fixado no sentido de a casa de banho ficar absolutamente livre a partir das onze horas.
E porquê? Porque era essa a hora em que alguém viria armar sobre os meus fartos cabelos o
vaporoso e simbólico véu de noiva cingido pelo seu diadema de flores e botões de laranjeira...
Sim ! Era o dia do meu casamento !
Um pouco antes das onze horas, já vestira a saia do meu lindíssimo vestido, composto de duas peças em seda moirée,quase branca, quase pérola. A saia, direita à frente, abria atrás,sobre a cintura, aquilo que, em linguagem de costura, se chama um "macho"e que depois ia abrindo em
múltiplas pregas que davam roda à saia e formavam,por fim, a cauda.Sobre isto, havia o casaquinho, muito justo,todo ele abotoado,até ao remate do pescoço, desde a cintura, por dezenas de pequeníssimos botões, tal como as mangas, com botõesinhos desde a mão até ao cotovelo.Foi um trabalhão para abotoar tanto botão, mas era uma coisa muito vieux-style que
eu adorava,tal como o enorme laço que ,na aba do casaquinho,atrás, dava a ideia de que as pregas que iam formar a cauda se despenhavam dali, como se de uma cascata se tratasse...
Mas ,a estas horas, já a casa começara a encher-se de amigos e pessoas de família, uns que nos acompanhariam à Igreja, outros que vinham só para ver "a menina",tais como todas as vendedeiras "freguesas"( naquele tempo iam vender-nos tudo a casa, desde o peixe à fruta), as criadas já reformadas e as empregaditas das lojinhas próximas. Havia entretanto um crescendo de enormes arranjos de flores,por todos os cantos.Como era moda da época,fazia-se a exposição dos presentes recebidos: eram as "corbeilles".Para isso se destinava uma das salas devidamente decorada e fora preciso estudar e criar espaços de circulação tal como também na sala de jantar,porque os chamados "copos de água"nessa época, eram servidos e feitos em casa.Essa também uma razão para a mistura de cheiros e perfumes que se esgueirava por todos os cantos da casa, juntamente com pessoas em corridinhas que abriam e fechavam portas...
Estava programado que eu sairia para a Igreja ao meio dia e quarenta e cinco e,ao meio dia certo, chegou o meu ramo de noiva, um bouquet de açucenas fresquíssimas que pareciam acabadas de colher. A minha Mãe apareceu deslumbrante num vestido preto,longo e muito drapeado, e com uma capeline preta guarnecida de plumas de vários tons de verde-água,muito esvoaçantes. E lá veio o meu Pai, lindo na sua farda de gala,com espada e tudo...
Como não se sabia sequer que um dia viria a existir uma coisa chamada telemóvel, não houve comunicações nervosas entre famílias de noiva e noivo .Tudo havia sido combinado, programado e rigorosamente cumprido.Alguém me disse a certa altura que o CARLOS ´já chegara à Igreja. .As nossas casas,de ambos, eram a meia dúzia de metros da Igreja de Nossa Senhora de Fátima.
Cheguei e,ao sair do carro, apercebi-me de que fazia um vento desalmado;segurei o toucado com a mão disponível, porque a outra ia agarrada ao braço do meu Pai.E, frente às escadas que tinham sido cobertas por uma passadeira vermelha,tivemos a surpresa de que o vento,incidindo de lado, enfunava cada degrau como se fosse um pequeno balão.Rapidamente a espada do meu Pai deixou de ser apenas decorativa e os dois,de braço dado ,fomos subindo degrau a degrau , tendo o meu Pai previamente aplanado com a espada cada espaço onde eu devia poisar o pé... Lá dentro, ninguém percebia porque levávamos tanto tempo a subir uma talvez dezena de degraus
O meu NOIVO ! Esguio,elegante,a envolver-me toda com o olhar e o sorriso que só eu lhe conhecia...O altar, os genufluxórios, NÓS. À nossa frente o senhor padre Augusto, franciscanonosso conselheiro,confessor e amigo;à minha esquerda os meus Pais e agora Padrinhos;à direita do noivo, o seu irmão e aVera sua mulher, seus Padrinhos.Recebemo-nos nas bençãos de Deus,no amor de Jesus,"até que a morte nos separe"...Olho,por acaso,para a esquerda e vejo escorrerem pelas faces do meuPai lágrimas grossas,silenciosas,que caíam sobre as medalhas e o azul da sua linda farda...Foi como um sinal de partida para o meu choro,soluçado, nada silencioso,que pôs o meu noivo na mais dilacerante aflição:" não estás feliz?"perguntava. E eu estava,sim,muitíssimo feliz, mas com uma nova realidade para o resto da vida:o peito manchado de lágrimas de um Pai ,elas só memória e presença de quanta pequena ou enorme coisa só por nós dois vivida na outra vida que tiveramos com AQUELA que fora o seu primeiro amor e minha MÃE,tão nova nos deixando sendo eu quase ainda bébé!Eram lágrimas só nossas, de um amor que ali mais ninguém recordaria.
Terminada a cerimónia,foi a festa,os votos dos amigos,as brincadeiras,as fotos...Sei que nada comi embora me aparecessem nas mãos vários pratos com coisas moito apetitosas que várias pessoas vinham generosamente trazer-me. Tinha sim aquilo a que se chama um nó na garganta, de felicidade, de emoção,de coração a transbordar de amores diversos...
Saímos,por fim.Ia começar finalmente a "nossa" vida !
Do "Ficarmos sós", claro que não se conta, porque é o secreto património de encantamento a que na vida todos temos direito.