27 julho 2012

Helena, a filha do Professor CIDADE,,

...Agora desaparece a  Helena. Os meus sentimentos perante a sua memória nada têm que ver com os que o desaparecimento do José Hermano Ssraiva, há dias, me suscitaram.  A Helena era companheira de curso, de trabalhos, de confidências, de idade,de preocupações... Ela fazia parte daquele grupo de raparigas e rapazes tais como o José Hermano Saraiva ou o Sebastião Gama ou o Lindley Sintra, que,  não sendo embora do nosso curso ou das nossas idades, tinham algumas aulas em comum conosco e,cá fora das aulas,acabávamos todos, muitos outros, por conviver, graças a muitas e diversificadas razões.Claro que entre as raparigas surgiam por vezes afinidades específicas e, de uma ou de outra forma, nasceram nesse grupo amizades para a vida. A Helena atravessou aí uma época de exaltação religiosa e acabou por me "arrastar"  a uma maior frequência possível da Igreja nas traseiras da Faculdade, sendo eu de uma família de formação sólida e prática serena de um catolicismo tradicional...Também frequentei a casa,ali muito próxima da Faculdade, conheci a Mãe e a irmã. Sendo o Pai nosso professor de Literatura Portuguesa,eu apreciava imenso a sua maneira de olhar a literatura como uma vedadeira História do país, filtrada por vertentes de múltiplas inclinações que o professor nos induzia a descobrir e desmontar. Quando chegou o fim dos fins, tirámos como sempre a tradicional fotografia do grupo com um só mestre, naquele incrível claustro com erva da altura das nossas pernas e ratos a correr pelos espaços. A Helena era a mais alta e ficou a rir, decerto a rir de qualquer coisa como era seu costume, não "para" qualquer coisa...
Depois seguimos... e fomo-nos perdendo. Casámo-nos, trabalhámos ,e fui sabendo dos companheiros, mais ou menos a miúde. A Helena com o seu carácter apaixonado entregou-se às suas preocupações socio-político- religiosas e dedicou-se  a tarefas verdadeiramente meritórias mas imensas...
Hoje sei pelo jornal que ela partiu.Gosto de poder pensar nela como era, quando éramos nós... Lembrá-la-ei daqui para a frente como simplesmente A HELENA...

22 julho 2012

FAZER COMPANHIA

Hoje é domingo quente, como têm sido e é próprio nesta época a que os antigos chamavam canícula e era compreendida entre 15 de Julho e 15 de Agosto. Por causa do calor, mas também por outras coisas, estamos cansados ( ou preguiçosos?) e por isso as pausas, as férias... No evangelho de hoje, (são marcos,6) Jesus convida os discípulos a fazerem juntos um descanso num lugar tranquilo... Porém viram-se inesperadamente rodeados por uma multidão que os seguira unicamente para ouvi-los... Certamente terá sido o seu aspecto que levou Jesus a compreender que se tratava de pessoas "perdidas" no rumo, desconhecedoras de tudo o que teriam ouvido dizer daqueles homens... E diz o evangelista que Jesus começou a "ensiná-los"... Bem! Ensiná-los!! Quem me dera ter sido um dos desse grupo! A verdade é que eles estavam como ovelhas perdidas e encontraram quem os amparasse para seguirem caminho... e por esta via o meu pensamento voou para o valor, o apreço que dou àquilo que chamo fazer companhia. Recordo que a palavra companhia provem do latim vulgar cum + panis, isto é: com+pão, o que deu lugar à palavra companha que se reporta à tripulação de um navio, a qual, muito tempo fechada no espaço de um barco, tinha que partilhar o alimento. Daí à palavra companhia, percebe-se como foi simples chegar e também a companheiro/ companheira. Há todo um sentido de reunião e partilha, intimidade e pluralidade quando se fala de companhia, disso não há que ter nenhuma dúvida. O que já me suscita algumas questões é o emprego do verbo adequado: fazer companhia será muitas vezes (ou sempre) "dar" companhia? A presença de um amigo que nos vem fazer companhia não será antes de tudo uma dádiva?


Para as ovelhas perdidas do evangelho a companhia e os ensinamentos de Jesus não foram como uma partilha, uma dádiva?

É bem como tal que eu me sinto acolhida no "barco" daqueles amigos que fazem a companhia que vêm dar-me...

20 julho 2012

PÁTRIA ANTIGA

          Que de uma pátria antiga
          se tratava
          foi-me herança
          encontrada
          quando vim...


          Que de uma pátria antiga
          eram os trilhos que pisava
          fui percebendo aos poucos
          ao perceber-me a mim.


          Que de uma pátria antiga
          eram a língua e os livros
          e os poetas
          aprendi, decorei
          e, apaixonada,
          os segui e adorei
          como a profetas...


          Que de uma pátria antiga
          sou pertença
          terreno, património
          erva daninha,
          não duvido.


          Nem espero que adormeça
          sem na sua textura me envolver....


          Porque uma pátria antiga
          é vida ... Que remoça
          e recomeça
          se a amarmos tanto que não possa morrer..


em memória de José Hermano Saraiva
retirado do meu livro Sinestesias

15 julho 2012

A MISSÃO

Amós respondeu a Amazias: eu não era profeta nem filho de profeta; era um simples pastor e cultivava figueiras. O Senhor--- é que me disse :vai, que hás-de ser profeta, no meu povo de Israel ! ( CAP. 7do LIVRO de AMÓS )
«JESUS chamou a si os doze APÓSTOLOS e começou a mandá-los em missão dois a dois.... ...Se algum lugar vos não receber, nem vos escutarem, ao sairdes de lá, sacudi o pó dos vossos pés, como testemunho contra eles. »Os Apóstolos partiram...( Evangelho de SÃOMARCOS , 6 )
Assim lembrava hoje a liturgia como foi o sinal de partida para a difusão do que havia de ser o nosso "código" de conduta e o sustentáculo das ansiedades espirituais inatas ( "então" não entendidas )de um povo ainda sem capacidade para perceber que o que então lhe era prometido por estes homens simples ,iria  perdurar por milhares de anos como a sua dignificação e a das suas descendências...
E aqui estamos nós hoje,século XXI, ainda na labuta de sermos recebidos , de sermos escutados e a termos tanto e tanto que sacudir o pó dos nossos pés...Àlguns de nós com uma imensa saudade daquelas figueiras que um dia teremos cultivado com AMÓS...

08 julho 2012

AMAR

Na sequência do que vinha dizendo no meu último post,todo esse amor reconfortante a que aí me referia é a dádiva que acaba por dar gosto à minha vida solitária,quando vem de outros para mim e é o que me leva a questionar-me sobre se eu  terei capacidade  retributiva, quanto mais não seja para cristãmente amar ao próximo como a mim mesma.
...como a mim mesma...Aí estará a chave da minha incógnita.
De muitas sobrinhas-netas, pela cadeia familiar do meu marido, uma há que há dias me telefona, quando é nosso hábito usarmos a net para contactar«...Tia, há muitos dias que não aparece no blog, passa-se alguma coisa ?» Ela tem uma filhinha de dois anos e está quase a ter uma outra; está a acabar mais um curso, tem trabalho num atelier seu, aos fins de semana vai com o marido ver os sogros que vivem a cento e tal quilómetros de Lisboa...e  tem tempo para dar por falta de uns desabafos de uma velha e distante tia,na net... Para mim, isto é AMOR. Já em tempo de férias, entram-me em casa em grupinho uns alunos que nem tiveram exames e puseram-me nos braços um enorme ramo de flores brancas «achámos que para si tinham que ser brancas »...para mim, isto é AMOR. Há um amigo que me dá todo o apoio em tanta coisa da quotidiana prática  que  nunca foi da minha formação para a Vida há sessenta e mais anos_ papeladas, aparelhos, modos de encarar e resolver coisas sérias e novas para mim ... Ele tem vários trabalhos que lhe enchem os dias, tem mulher, filhos homens,animais de casa e família em Lisboa e longe de Lisboa. Pois ,tendo eu algum problema pendente, daqueles que só com a sua ajuda  posso encarar, arranja tempo e espaço, para surpreendentemente me aparecer à porta de casa, de manhã cedíssimo, «podemos ver aquilo agora '» ou agarrar no telefone por todo um serão «vamos tentar resolver aquele caso ?»...e nem jantou, sei depois pela mulher ...Para mim, isto é AMOR.A minha empregada que, verficando ser aquele dia o da ESPIGA, e que ela não m'a trouxe pela manhã como desejava, apareceu.me na hora de jantar com a sua gente,a trazer um ramo de Espiga... Isto para mim é AMOR. Inúmeras acções pequeninas e imensas, bem grandes, vistosas como viagens à ESPANHA ou temporadas mascaradas de lazer, para ajudar-me, sob uma elegante forma plural. A amiga que,por acaso,precisava até de ir no seu carro a um local onde só num carro e acompanhada eu poderia ir ,nesse dia e nessa hora ,tudo, tudo é  AMOR DE LETRAS MUITO GRANDES que hoje é o suporte da vida que procuro viver assim,por eles e com eles ,mas sempre na sensação de nunca a nenhum destes amores poder dar a entender o enorme turbilhão que quase explode a cada passo deles...  O que se me enrola no peito  não é mais do que o pobre, o pobríssimo
AMOR  que a eles voto, mesmo sendo sem dúvida cristão...

06 julho 2012

SE EU NÃO TIVER AMOR SOU COMO UM SINO OCO E RACHADO... eram mais ou menos estas as palavras. E,de facto, não me parece possível viver sem aquele docinho que se anicha no nosso coração quando nos sentimos tocados pelo amor de alguém. Longe, longe, aquele amor de letra grande, dos arrebatamentos, das mãos trementes, das palavras ciciadas ao ouvido, da paixão da entrega, duma juventude onde tudo isso leva a uma necessidade de resoluções..
Falo agora do AMOR  da Vida nossa de cada dia, do amor ao outro, do amor que aquece, do amor que conforta, do amor com que se conta mas, egoísta, se deseja sempre mais, do amor onde se encosta a cabeça cansada, onde se pode afogar uma mágoa, uma simples dor, uma desilusão, um suspiro, um ai... Do amor que corre para nós porque adivinha, do que nos estende a mão quando nem nós mesmos nos apercebemos de que já vamos a cair...