29 junho 2010

Centésimo décimo aniversário


No mesmo ano em que nasceu o meu Pai, nasceu, um mês depois, o homem a quem não me repugnaria chamar o terceiro Homem da minha vida. Antoine de Saint-Exupéry. Como para mim um e outro se vão da lei da morte libertando, fosse isso possível e eu organizaria uma enorme festa para celebrar o centésimo décimo aniversário do nascimento destes homens aos quais fiquei devendo o núcleo da minha personalidade, da minha capacidade de viver amando, da minha filosofia existir esperando.

27 junho 2010

Exigência

Algumas ausências nas minhas considerações de domingo não significam senão falta de tempo e nunca falta de missa. Agora é tempo de férias. Tenho uma amiga que anda em plena ultimação da sua tese de doutoramento e quase desapareceu do seu blog, mas escreveu nele a frase «outras escritas» o que eu achei uma excelente justificação/explicação. Acontece que também eu ando noutras escritas, não de doutoramento, mas trabalhosas. E só tenho que pedir a Deus que me vá ajudando, permitindo que eu faça um bom uso desta liberdade que me é oferecida pelas férias e de que tanto se ocupa São Paulo hoje, na sua Carta aos Gálatas. Não passa sequer pela minha cabeça entrar no grupo daqueles de que São Paulo diz « se vos mordeis e devorais mutuamente, tomai cuidado em não vos destruirdes uns aos outros». Esta é, está sendo infelizmente, uma realidade dos nossos dias, mas há para nós a escolha de nos deixarmos«conduzir pelo espírito» e é certamente por aí que iremos. Mesmo que nos venha a acontecer como São Lucas nos conta neste Evangelho que aconteceu a Jesus: ser rejeitados. Como aí vemos, não só os Samaritanos o não quiseram receber, como outros a quem Jesus convidava para companheiros, se mostraram tão renitentes a deixar as suas rotinas, os seus hábitos, que Jesus não pôde contar com eles. Pensei aqui muito na sempre latente discussão sobre o celibato dos padres...«Quem tiver deitado as mãos à charrua e olhar para trás não serve para o Reino de Deus» são as palavras atribuidas a Jesus então. E guardei da liturgia de hoje uma tensão de exigência que vai acompanhar-me muito tempo.

22 junho 2010

Cansaço

Entre os feriados, exames e respectivas exigências de alteração de horários, adaptações de boa-vontade, ora para ajudar os alunos no seu último forcing antes das provas, ora para me ajudar a mim própria a aliviar o cansaço que estes abanões na rotina já me vão causando, a minha disponibilidade para vir encarar-me no blog, secou. E até para vir pôr em letra redonda o meu carinho pelo meu Santo António, no dia de festejá-lo, tive que ficar-me por lhe erguer um simulacro dos antigos tronos, o mais ingénuo e kitsch que consegui arranjar, procurando não ser confundida com o folclore de lantejoulas e cetins com que me parece quase o desvirtuam por aí... Foi assim que, de cansaço em alívio e de alívio em cansaço, passaram todos os dias até àquele em que,à hora de almoçar, nos vieram anunciar a morte de José Saramago. Claro que me chocou imenso. Sabia que ele estava debilitadíssimo. E a minha cabeça estava repleta do "como ele pensava" do "onde ele queria chegar " do seu conhecimento dos Mundos, da sua agressividade ainda defensiva... porque o Memorial do Convento estava há semanas mais presente na minha obrigação/devoção de o transmitir incólume aos alunos, do que quase o meu velhinho livro de orações... Quando tive mais espaço mental, fui rever o que duas das suas
"aparições" na TV, em momentos algo contundentes, me tinham levado a registar neste blog.
Curioso que esses posts, ambos revelam que esse grande Nobel, me inspirou piedade...
Acho que Deus sempre soube porquê.
Então agora retomo funções de férias. Estou de novo a tentar escrever. Consegui atender ao telefone uma amiga, sem lhe dizer que tenho pressa. E hoje, sósinha na minha cozinha, como nos tempos de muito antigamente, fiz compota de alperce, a minha preferida...
Do tumulto que nos chega de fora po causa do foot-ball mundial,já duas ou três vezes estive a
deixar-me envolver, sempre naquele intuito de observar como o Homem pode ser generoso e dar-se por causas, todo corpo e também alma...Ponto é que creia...

10 junho 2010

E CAMÕES?

Meu Deus, como são misteriosos os mundos em que nos encontramos ! Não consigo explicar, nem sei de quem consiga, mas paira no ar, desde os alvores de Junho, um ar de festa, uma espécie de descompressão, que faz as pessoas andarem de levante, expressão muito usada na minha juventude e que significava qualquer coisa parecido com de cabeça no ar... Há imensos feriados e dias santos e toda a gente vai passear, viajar, sair, andar,dançar, cantar,festejar, com múltiplos concertos, feiras, exposições, espectáculos, encontros, congressos, mostras, em suma, tudo o que menos seria de esperar viesse instalar-se debaixo daquele mar de nuvens negras que nos taparam todos os horizontes ainda há menos de quinze dias e do qual nos tinham dito que seria para durar pelo menos um ano ou dois, pois no país não havia mais dinheiro nem mesmo para mandar cantar um cego( outra expressão dos tais tempos em que se dava umas moedas na rua a ceguinhos que lá estavam com uma concertina e tocavam para nós se lhes déssemos a esmola que os ajudava a viver). Pois bem ! Esses ceguinhos, felizmente já têm outras vias de ajuda, mas nós é que os vemos substituidos por caríssimos grupos de rapazes e raparigas de muito originais apresentações que vêm de todas as partes do mundo "cantar" ´como vedetas dos tais encontros, concertos, etc, etc. E tudo isto custa dinheiro do que nós julgávamos que não havia, mas afinal há...Pois então, uma pessoa anima-se e vai com as outras, que bom ! Esquecer aquelas arrelias dos IRS, dos IVA, das portagens, das Escolas...
E assim, de festa em festa, acontecem coisas inesperadas. Por exemplo, hoje,e muito bem, houve uma linda festa por ser o DIA DE PORTUGAL( e DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES). Isto é, com tanta coisa na cabeça, pelo menos EU ainda não ouvi fazer nenhuma referência a Camões. Claro que era muito importante mostrar ao povo coisas bem concretas que, mesmo no meio do grave ,até dão para animar. Mas em detrimento de um memorialsinho de Camões é que eu acho muito triste ! Houve uma linda parada militar, houve belos discursos, houve condecorações... Mas a tal raiz, o tal "amor da PÁTRIA" de quem tanto mereceu e tão pouco recebeu dos seus compatriotas lá se vão ficando por aí diluidos em memórias que não "dão" para festas...Mas quem sou eu para não entrar também no que para aí está para vir ainda e é tão colorido, tão alegre e tão tonificante: o nosso querido, queridíssimo Santo António?! O que por aí vai de alegria já programada nesta Lisboa que o adora! Assim Deus nos ajude e lá cantaremos também pelo menos uma quadra que fale do SANTO, de manjericos e de cravos ao luar...

05 junho 2010

Um homem da Ciência e da Fé

Era uma pessoa extraordinariamente introvertida, prova quase sempre de uma inteligência lúcida, como tenho podido constatar na minha experiência de vida. Essa sua lucidez tomava uma certa forma de pudor com que nos abordava, não sendo mais do que o enorme respeito com que cada ser humano era por si encarado. Tímido, dizia-se. Distante, dizia-se também.Mas quando entre si e o outro se abria qualquer espaço de afinidade, intelectual, sentimental, carinhosa mesmo, premiava-nos com um sorriso tão pleno,tão quase doce,quase ingénuo na sua genuinidade , que ali mesmo nascia toda a nossa vontade de confiar. Era vê-lo com as crianças ...Não havia como não adivinhar toda a sua sensibilidade. E como se enternecia no reconhecimento de fragilidades nossas que não sabíamos vencer...
Foi este o Homem, o Sacerdote, que agora perdemos. Professor, doutor, engenheiro,filósofo, pensador... conselheiro e...humilde.
Padre João Resina.

02 junho 2010

2 de Junho


De Eugénio de Andrade :


Correr do tempo ou só rumor do frio

onde o amor se perde e a razão de amar;

- surdo, subterrâneo e impiedoso rio,

para onde vais sem eu poder ficar ?