18 julho 2010

Receber a visita do Senhor

«Marta, Marta, andas inquieta e agitada com muitas coisas, quando uma só é necessária»( São Lucas 10,38.42).
Quando se faz uma ferida ou uma queimadura, corre-se a põr-lhe por cima uma pomada, um líquido, um bálsamo, na busca do alívio, da cura rápida, e normalmente obtem-se um bom resultado. Pois, sem correr e apenas no cumprimento da minha natural devoção de ouvir a missa dominical que a televisão nos proporciona às dez da manhã de cada domingo,foi hoje essa missa o bálsamo sobre uma grande ferida de cansaço, talvez, de enervamento doentio, de mal- estar geral, de medo, o grande medo que me invade sem escrúpulos quando sinto inseguranças físicas ou morais, todo um misto negativo que me cercou e envolveu no dia de ontem... Não sabia que a liturgia de hoje era, desde Abraão, todo um relato de como "receber" JESUS em nossa casa. O "RECEBER" social cujas regras nós trazemos como parte do nosso enxoval, quando montamos casa nossa, põe quase sempre as donas de casa no papel da MARTA do nosso Evangelho: inquietas e agitadas. E vemos que Jesus não o condena( lembremos só como ELE entendeu recompensar Abraão) Só que toda a inquietação pelas coisas materiais, sejam elas quais sejam, não pode, não deve, prescindir da espiritualidade que lhe é inerente mas nós esquecemos demais...Acção e contemplação para receber Jesus será a receita para toda a nossa vida com ELE e a partir dos seus ensinamentos... E também bálsamo eficaz se usado na devida proporcionalidade dos seus ingredientes.

14 julho 2010

Espanta-espíritos

Chegada e ultrapassada que foi a época de exames, a minha casa voltou à sua imobilidade natural ao seu persistente ar de casa cheia de espíritos que cohabitam comigo, colados às paredes e`as coisas e se encontram comigo a horas certas. Há os da manhã lusco-fusco, há os das quatro da tarde e há os de l'heure du loup que me mordem a alma e os da hora de deitar que me fazem sentir confortável... É esta a minha realidade a que já me habituei, mas que se agudiza até ferir nos fins de semana. Os sempre receados, temidos, fins de semana ! Vencê-los sucessivamente ( e depois estão sempre a acontecer, a repetir-se iguais, monocórdicamente ) é uma das grandes empresas da minha vida. Espero-os, adivinho-os, pressinto-os, desde a segunda-feira...É já quase uma fixação e por percebê-lo, tento "armar-me" para o novo encontro... Bem ,espero que as minhas férias me libertem. Isto é agora mais nítido para mim, porque, mais velha, estou mais cansada, e não tenho agora a "valentia" dos meus cinquenta anos, e estou por tudo isso mais carente, mas sempre olhando de frente para a vida. Ponho-me a escrever e as horas voam...
Por causa desses "voos" não tenho vindo dizer em posts as minhas alegrias com as boas notas dos meus meninos( houve mesmo 18s !), nem o meu neo-nato gosto pelo foot-ball / campeonato do Mundo, nem alguns almoços sociais em casas e locais frescos e bonitos com gente bonita que gosta de mim... Tudo porque estou a ESCREVER,mesmo. Elogiaram-me tanto o VIVER, que me entusiasmei . É o meu espanta-espíritos...Irei de férias limpinha dessa névoa que a solidão andou enredando à minha volta !

06 julho 2010

Matilde Rosa Araújo






Matilde: Hoje tem estado a passar tudo pela minha memória, sem dor, só com uma sensação de sem retorno, de vazio maior, sempre maior, na ressaca da notícia da tua partida, pela madrugada. Tudo. Os risos incontroláveis nas aulas onde o riso só cabia para nós, as lágrimas naquele canto do corredor, depois de uma nota imerecida, os teus à-partes sussurrados, os meus bilhetinhos trocistas só para te tirar"do sério"... E depois, os nossos penteados, as tuas golas de rendinhas brancas, o meu casacão de avesso aos quadrados... E os nossos desafios... Até nos zangámos, dois dias, por causa de um trabalho de latim... Lembrou-me a " REVISTA" que levámos à cena no Parque Mayer, no final do curso e cujos textos e poemas e letras a-brincar-com- tudo-nosso, para músicas em voga, foram na maior parte trabalho nosso, Matilde . E tu já só gostavas de escrever históriasinhas para ou de meninos... Foi tabém aquele ritual das FITAS... Tenho aqui a minha pasta, com tudo o que me escreveram já muito desaparecido. Mas o teu voto ainda o lemos bem :A tua simplicidade de menina-boa e a tua inteligência tão humana de Mulher,farão a tua felicidade longe das coisas pequenas mas construida com elas.Sou tua amiga para sempre MATILDE. Não me lembro como retribuí estas palavras na tua fita, mas se acaso não expliquei bem o quanto te estimava e apreciava o local em que me colocavas entre Menina e Mulher, acho que hoje, a esta hora já o saberás, lá onde se sabe realmente o que é «ser amiga para sempre». Até lá, amiga !

04 julho 2010

Sem armas nem bagagens

Jesus envia 72 discípulos-prégadores-missionários- embaixadores- delegados, cordeiros para o meio de lobos, segundo mais uma das suas metáforas... Seriam talvez trinta e tal cidades ou lugares, ou províncias a visitar, porque deviam ir dois a dois, suponho que para se ampararem mutuamente, porque, de resto, nada podiam levar que os amparasse : nem cajados, nem sacas, nem sandálias... A única arma que poderiam usar era uma palavra-chave : PAZ. E muitas recomendações sobre comportamento social, previstas que estavam várias hipóteses das maneiras como poderiam ser recebidos. Reaparece nestas previsões aquela ideia do pó que pode colar-se aos pés ou aos sapatos de quem vem e que deve ser sacudido ostensivamente se foi agreste a recepção feita aos visitantes. Foi com um sorriso mesmo divertido que pela primeira vez ouvi este conselho de Jesus. Pareceu-me uma ironia muito fina e algo até trocista. Mas pensando agora mais fundo...
Enfim,« dou-vos a minha Paz» era uma efectiva vontade de Jesus, mas tão difícil de fazê-la ser aceite ! Porque não compreendida.
Aí deveríamos nós hoje deixar sacos e sandálias e partir armados de PAZ...todos para todos, com ou sem pó nos sapatos... Sabemos que vai havendo cada vez mais entusiasmados jovens voluntários que partem com as suas grandes bagagens de ensino de Deus,mas, na verdade, é impossível de medir o que, de então para cá, a SEARA cresceu !