31 março 2012

A sentença

Decididamente estavam a precipitar.se os acontecimentos... Proceder de uma forma que não é igual à das práticas correntes,ultrapassando mesmo em muito o expectável e conseguir com essa originalidade obter resultados espantosos, era naqueles tempos tão difícil de compreender que se tornava impossível de aceitar... O Evangelho de S. João ( 11 - 45-56) conta-nos hoje precisamente como e porquê foi exarada num curto momento a sentença de morte de Jesus, pela parte ainda não oficiosa dos poderes -fariseus e Sumos Sacerdotes -. A ocorrência da ressurreição de Lázaro causou um tal abalo em todas aquelas estruturas que ,uma vez informados dela,« a partir desse dia resolveram dar-lhe a morte » E os discípulos, a partir de então conseguiram que Jesus não mais andasse em público sózinho e retiraram-se todos para Efraim, cidade no deserto.
Não estivessem à porta as festividades da ´PÁSCOA judaica, não houvesse aquele aglomerado de gente a subir a Jerusalém procurando a purificação em festa, não teriam talvez os Sacerdotes receado a reacção punitiva dos colonizadores romanos, e não teria talvez acontecido daquela maneira a derrocada desde a Glória dos RAMOS até á morte na CRUZ, o mais aviltante dos castigos para o mais exaltante dos Homens...





30 março 2012

Esta é uma época, uma terra, uma religação

Esta é a época doce do rebentar das mais tenras folhas das árvores, do reflorir das giestas pelos campos fora, do renovo da vida, deixando para trás a morte da semente. Da humildade dos matizes roxos e amarelos que em formas variadas vão atapetando os chãos, eleva-se geralmente um especial vapor perfumado de maceração que inconfundivelmente nos diz que estamos na PÁSCOA.
Às vezes ela vem chuvosa e fria. Porém, límpida.
Experiência incomparável é então penetrar nos espaços meio escondidos entre montanhas e densas matas verdes que as estradas parecem violar ! A um virar de curva, numa subida imprevista, num topo inesperado, estender o nosso olhar sobre uma extensa várzea, descobrindo, a montante e a juzante, o serpentear intermitente dessa estrada que nos leva por dentro das intimidades das roseiras bravas ou nos guinda até aos pedregosos cimos que o musgo aveludado torna cor de chumbo ! De tão belo, este mundo chega a parecer-nos irreal.
Quebra-se o encanto. trespassada a serra, nos encontros fortuitos com as águas que nos surgem a escorrer sobre fragas e a marginar laranjais cujos perfume e colorido nos acordam para uma realidade que ainda poderia ser o jardim do EDEN, se não fosse a presença um pouco´adiante de uma imponente obra de engenharia. E a barragem do caminho pela verdadeira manta ondulante de um rebanho de ovelhas, elas em sua casa, nós os intrusos...
É assim quando a Páscoa não nos colhe nos esplendores habituais da Primavera , mas sim nas inexplicáveis razões de ternura pela nossa Terra,onde ,qualquer que seja a latitude, acolhemos o esperado renascer da sementinha...

25 março 2012

A Parábola da semente

sabemos todos quão longe podem chegar as multiplicações a que uma pobre sementinha pode vir a dar origem...
...se cair na terra e não morrer, fica só ela, mas se morrer dará muito fruto...

21 março 2012

Dia da POESIA

... e há poetas que são artistas
e trabalham nos seus versos
como um carpinteiro nas tábuas !

Que triste não saber florir !
Ter que pôr verso sobre verso como quem constrói um muro,
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Qúando a única casa artística é a Terra toda
que varia e está sempre bem e é sempre a mesma...



Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade...
...Esse é o destino dos versos....
... ... ...Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão ?

... ... ... Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor, o seu pé dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico...como o UNIVERSO !


PESSOA, EM ALBERTO CAEIRO, IDENTIFICA-SE COM O POETA QUE É, O QUE NEM SEMPRE É VISÍVEL ATRAVÉS DAS SUAS VARIAS ROUPAGENS. E NO DIA DA POESIA , AQUI ESTAMOS A ENTRAR NO SEU "MAR",LEVADOS POR ESTA ÁGUA QUE SEMPRE SERÁ SUA. TAL COMO ELE PENSAVA.

19 março 2012

DIA DE SÃO JOSÉ




COM A ENTERNECIDA MEMÓRIA DE MEU PAI, SEMPRE...

17 março 2012

A MORTE NO TÚNEL

Vejo-me agora forçada ( e direi que quando menos o desejaria ) a fazer um apuramento muito sério sobre o peso e o volume que tem e tem tido na minha vida a MORTE.
A MORTE, essa coisa abstracta que nos acompanha sempre, fazendo parte intrínseca da tecitura do pano de fundo do palco onde vamos "representando" a VIDA, a nossa vida. Nascida cristã, acho que soube sempre que a morte era o caminho por onde iria chegar um dia junto de Deus. Menina, ainda muito menina, foi-me explicado que a Morte era APENAS um FIM de uma presença aos nossos olhos. Com os conhecimentos da catequese, soube então MELHOR que a Morte abriria aos que desapareciam o seu lugar na presença de Deus e consequentemente no gozo da VIDA ETERNA. Com o meu desenvolvimento em conhecimentos e curiosidades adquiri muito depressa a noção de que a Morte é algo de que se tem MEDO e algo que se deve evitar a todo o custo, muito embora a minha religião me fosse sempre mostrando que , depois do exemplo de CRISTO, a MORTE só pode ser uma LIBERTAÇÃO. E a Vida vive-se, vai-se vivendo nessa convicção. Quantas presenças foram sendo arrebatadas do meu "palco", deixando lugares vazios sem remédio no meio da "minha representação" ! ! ! Quanto MEDO !Quanta noção de impotência ! Quanto frio das mãos vazias !
E a MORTE, essa coisa abstracta, continua a desafiar-nos sempre, ultrapassando as filosofias, as convicções,as crenças ... a fé... No Evangelho de São Mateus diz-se que virá na hora em que menos pensardes...Foi assim com aquelas crianças no tunel da SUIÇA. Como pensar naquele massacre, sem remexer todos os escaninhos mais íntimos do nosso edifício filosófico, religioso...e,já agora, HUMANO ? ! ! !

11 março 2012

DIÁLOGO SUBSEQUENTE À EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO

... ...mas ele póprio não se fiava neles, porque os conhecia a todos e não precisava que lhe dessem informações sobre ninguém. ELE BEM SABIA O QUE HÁ NOS HOMENS !
DO EVANGELHO DE S. JOÃO 2,3-25

08 março 2012

No DIA DA MULHER. Memórias

Um relance,
um lapso fugidio
e um PASSADO,todo,
irrompe
como a torrente de um rio
ou bicho desgovernado...


Desses anos anulados
restavam só horas mortas
e a poeira a cair...


Dos castelos que depois iriam vir
ficaram vultos loucos e alados,
nas nuvens que se vêem
ao poente...


Era a esses que, então,
chamávamos Presente...


Tecido terso,
rara tecitura
de estuantes cordões umbilicais !


Farrapos
longos haustos,
simples ais,
cada fase na outra se entertece.


Alguma...cada uma, será pra nunca mais ?...

04 março 2012

Monte Tabor

ABRAÃO !... aqui estou, Senhor!
ISAAC.
ELIAS
MOISÉS
PEDRO
TIAGO
JOÃO
«ESTE É O MEU FILHO MUITO AMADO !»(no qual pus a minha complacência)
Todos os nomes citados ( não o de Jesus,porque envolto nesta carinhosa e transcendente apresentação de "entre nuvens" ), são os pilares sobre os quais a liturgia de hoje nos propõe a construção de alguns dos mais intensos momentos da nossa preparação quaresmal. Desde o sacrum facere radical de ABRAÃO, ao temor e pasmo dos discípulos no TABOR, à surpreendente solidão da figura agigantada de JESUS depois de tamanha revelação, fica para nós a receosa incerteza de sermos capazes e "suficientes" para mudar tanto nos padrões desta "vidinha" que estamos habituados a viver como boa...

No alto de montanhas embrumadas
sonhei erguer também a minha tenda,
mas de nuvem nenhuma ouvi falar-me
aquela voz que eu queria a consolar-me.

De Tiago, de Pedro ou de João,
o silêncio também que Jesus queria...
Gritei, interpelei, nos meus desertos
e apenas encontrei pra mim abertos

os submissos caminhos de Abraão
e a conturbada estrada que subia...