28 agosto 2007

DORNES


...E quando eu já vinha toda cheia de lirismo acolchoado em todos os prazeres daquele impres-
sionismo que tem sempre as minhas preferências tanto na pintura, como na música, como nos Cesários pelos quais me apaixonei, acontece o tristíssimo episódio do falecimento do EPC que desviou do meu espírito toda a capacidade de encantamento com que Deus me dotou. E é aqui que entra algo que eu reputo de extraordinário e me é dado, assim, de bandeja, como soe dizer-se, pela net. Sento-me em frente do meu computador, completamente vazia, posso dizê-lo. E, recordando os meus passeios em férias, lembrei-me de que talvez a net me pudesse dar alguma informação histórica e sociológica sobre a vila de DORNES que, para mim fora já uma descoberta noutras férias e agora revisitara com um ainda maior enamoramento. De busca em busca, apresenta-se-me então, nem mais, nem menos do que um BLOG elaborado por apaixonados dornenses reunidos em torno de uma acesa disputa sobre a categoria autárquica da sua lindíssima terra.
E lá estava tudo e ainda mais , daquilo que eu procurava, um pouco por desfastio, naquela ocasião.Não resisti a apropriar-me de uma ou duas belas fotos sabendo como dificilmente obtemos bons angulos numa terra muito recortada como é Dornes.Vou tentar mostrá-las aqui,recomendando, no entanto, o Blog SALVEM A VILA DE DORNES.

25 agosto 2007

De vez em quando somos apanhados numa curva do caminho pacato que iamos percorrendo e desaba sobre nós, amarga, aquela imprevisibilidade, aquela instabilidade que, a toda a força, passamos a vida a querer esquecer ou disfarçar para podermos dar à nossa vida alguma alegria, algum estímulo.´Cristãos e Católicos temos o dever de não esquecer que o Filho do Homem virá na hora em que menos pensardes e que, como às jovens esposas da parábola, nos é recomendado :vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora ( Evangelho de São Mateus,24 e 25). Somos porém pouco dados a estas meditações, mesmo sabendo-as tão verdadeiras como mais nada neste mundo ! Ora estava eu há uns dias bastante irritada com o que o Eduardo Prado Coelho tinha publicado na altura do centenário de Miguel Torga, apetecendo-me discutir com uma certa ironia as opiniões por ele expostas,e estava ele já tão doente, tão doente, que hoje veio a falecer...A notícia da sua morte caiu no final do meu almoço. como bomba arremessada pelo jornalista da televisão. Conheci os pais do Eduardo,foram meus colegas, assisti ao namoro, depois ao progresso rápido do Jacinto que,mais antigo e já assistente, chegou a dar-me aulas, soube do casamento e depois do nascimento do bébé...Nunca perdi de vista a carreira do Eduardo. Uma vez encontrámo-nos em Sintra, ambos na recepção de um hotel onde iamos estar uns dias.Falámos um pouco de tudo e, nessa altura, ele já estava em Paris e estava casado,claro. Era um rapaz simpático, muito gordo, a resplandecer bem-estar consigo próprio. Era,pelo menos, tão inteligente como os Pais. Viamo-nos por aí,às vezes, em eventos do nosso interesse comum: livros e Letras. Fiquei muito chocada por os meus mais próximos últimos pensamentos para ele serem da natureza que foram. Mas creio na compreensão algures...

24 agosto 2007

Regresso

Como é que, na minha idade , ainda se regressa de férias(mesmo que pequeninas) com tanto entusiasmo renovador para banir alguns hábitos, para encetar outras formas de fazer ou dizer, para começar mesmo qualquer coisa não tentada antes, para largar uma pele, qual crisálida boasinha ou serpente traiçoeira ? Lembro-me perfeitamente de voltar de São Pedro de Moel, no tempo em que férias eram enormes espaços entre anos lectivos, com a cabeça a fervilhar de projectos, com um arrebatamento mal contido para contar como fora e como iria passar a ser tudo aquilo que o estimulante ar do mar e do pinhal me tinha levado a planear...Diga-se , em abono da verdade, que as companhias, a convivência descomprometida, o deixar abrir em leque tudo o que podia dissecar sobre fosse o que fosse , com outros que não eram “os de todos os dias”, me abria as portas todas, por onde a minha jovem curiosidade desejava entrar...E parece-me que é por aí que ainda germina o que, nesta idade, me traz de volta para casa com uma vigorosa sensação de poder renovar, de ser capaz... Isto, para dizer quão feliz me torna a convivência com os meus amigos que me recebem em sua casa, como se não “recebessem”, fazendo-me sentir “de lá”. É que assim se abre um enorme hiato entre o que eu estou cansada de ser e aquilo que, com eles, me parece que sou... E então quero “ser” essa que afinal tem uma casa onde se sente tão bem, que fica só, mas não é mau porque dá para pensar, que se acolhe dentro das suas rotinas como quem retorna ao útero materno...Estranhíssima maneira de tudo mudar, deixando tudo na mesma, não é ? Espantoso efeito destas deliciosas férias ! ! !

14 agosto 2007

Férias

Chegou hoje o dia de abandonar as minhas viciantes rotinas para ir passar uns dias em casa dos meus amigos Teresa e João que fazem questão de oferecer-me ...hospitalidade na sua belíssima casa, plantada entre pinhais, numa vertente que escorre para um dos braços reentrantes em que se desmultiplica a enorme albufeira do Castelo de Bode.É uma paisagem de paz que contagia todos os habitantes da casa onde parece que é proibido inquietarmo-nos uns aos outros...Quem quer e pode, além de dormir,"retoiça" na piscina, estira-se na relva ou faz umas incursões exploratórias até à água da barragem. Sem falar no enorme prazer das longuíssimas conversas, moles, sem pressas, que podem ocorrer a qualquer momento do dia ou da noite, acontecidas a talhe de foice do que diz qualquer dos amigos presentes...Férias mesmo !E lá vou eu...

13 agosto 2007

Baptizado

Não posso, não quero, passar por cima do registo daquilo que foi a coisa mais enternecedora, mais engraçada, e, ao mesmo tempo, mais cansativa de tudo o que podia ter-me acontecido neste mês de Agosto. No dia 11, data marcada com antecedência de meses, foi a baptizar na igreja da minha paróquia do Campo Grande a primeira neta da minha empregada Valentina. Este baptizado foi projectado e programado até ao mais insignificante pormenor pelos pais da criança, emigrados no Luxemburgo, e por toda a família de cá, da parte do pai e da mãe da baptizada; e o espírito da festa foi alastrando como uma onda espraiada por toda uma família em diáspora por essa Europa fora...Claro que,para a "minha" Valentina, era impensável que eu não tomasse parte naquela que foi certamente a festa da vida dela. E eu não tinha olhos , nem sorrisos, nem emoção que bastassem para me maravilhar, naquele dia, com o que pode ser o verdadeiro amor de família, o espírito de comunidade de famílias de sete e onze filhos, todos dispersos, a acorrerem a um toque a reunir emanado de um país distante, porque um deles está feliz e quer que todos partilhem da sua felicidade!A cerimónia na igreja foi seguida com todo o respeito e cumpriram-se todos os actos tradicionais que acompanham a chegada de mais um cristão à casa do PAI.Quando, porém o senhor padre António sugeriu que se festejasse com um bonito coral de "parabéns" e muitas palmas esta chegada da ALÍCIA a mais esta enorme família cristã, foi uma explosão de alegria geral que só deixava prever como a alegria iria reinar daí para a frente. E foi. Nem quero falar na festa-banquete. Tudo o que é especialidade caboverdeana,tudo o que nos vários países onde vivem uns e outros foram aprendendo. tudo o que de Portugal já entrou nas tradições daquele povo, nada faltou.Foi uma orgia gastronómica! Num espaço amplo,cercado de jardins, cerca de trezentos parentes estiveram comendo e bebendo longamente,alegremente, e não vi um único deslize, algum abuso de bebida,alguma perda de compostura. Precisavam certamente de expandir as emoções dos encontros ? Pois foi assim que se entrou na dança e daí para a frente foi soberbo! Só quem já viu o povo caboverdeano dançar as suas próprias músicas,sabe da beleza de um tal espectáculo.A música parece que encarna naqueles corpos elegantíssimos de raparigas e rapazes e há uma mistura de movimentos e sons envolvente, inebriante... A vê-los, acabei por ficar tão cansada como se estivesse no centro daquela espécie de vórtice.Foram emoções a mais para quem, como eu, tem uma rotina serena e quase sem novidades. Mas um dia inesquecível com imensas lições que não podia supor ir ali receber.Estou mais uma vez grata à "minha" Valentina !

12 agosto 2007

Miguel Torga__100 anos

A minha ligação familiar com Joaquim Guilherme Gomes Coelho(Júlio Dinis) nunca me fez experimentar uma proximidade tão afectiva como a que sempre me prendeu a Miguel Torga a quem apenas me ligaram umas dúzias de palavras escritas e trocadas numa sempre cerimoniosa cordialidade.Foi ele quem indicou a meu PAI,numa conversa de amigos comuns dos dois, em COIMBRA, uma editora que ele acreditava que aceitaria de bom grado publicar a minha primeira meia dúzia de sonetos que eu ensopara da influência de Florbela e achava bons para mostrar.Foi ele quem, uma vez publicados os tais sonetos, teve a paciência de me escrever umas palavras de estímulo e alguns conselhos sobre as vicissitudes a que fica sujeito quem alguma vez decide editar. Tantos anos passados,tenho verificado que,nos compêndios dos meus alunos, Torga é sempre atirado para um muito recôndito plano, como se não valesse muito a pena sequer lê-lo, quanto mais estudá-lo. E qual não é o meu espanto quando há dias leio um artiguinho de Eduardo Prado C oelho no qual, aliviando a consciência a dizer bonitas coisas sobre o cidadão irrepreensível,corajoso , intransigente, e digno,se permite dizer que"por motivos que não serão fáceis de explicar, a obra poética de Torga nada tem a ver com a poesia que hoje se escreve em Portugal". .Diz mais "os seus versos deixam-me quase sempre num estado de indiferemça e nunca me dão o prazer da leitura..."Como assinante do Jornal de Letras, fiquei feliz ao verificar que este jornal dedicou a Torga e ao seu centenário quase todo o número de 1 de Agosto,mas Prado Coelho,sob a diplomática capa de achar isto justo em termos de história literária, não resiste a dizer que"num contexto intelectual não muito estimulante, o aparecimento das obras de Torga e até de Régio foram uma novidade tão retumbante que .em termos só de história literária ,valia a pena o relevo dado pelo Jornal de Letras.E pronto ! Fiquei então agora mesmo a saber que a intelectualidade estimulada não gosta de Torga e o considera um poeta( ? ) de 2ª que ficou a dever alguma notoriedade principalmente à época política em que apareceu tão corajoso e digno a dizer algumas coisas que mais ninguém dizia. Bem, isto daria para armarmos uma interessante polémica, se , em vez do filho se tratasse do pai Prado Coelho de quem fui aluna e que recordo com respeito. Por agora quero apenas afirmar com toda a força que amo oTorga a ponto de ter a ousadia de sonhar seguir o seu modelo. Realmente a poesia que hoje se faz em Portugal,marca uma época nova, mas não vamos desgostar-nos de Camões só porque tivemos a graça de encontrar Sophia... E, do tempo dos sonetos, quero mesmo deixar aqui o que se segue:
A MIGUEL TORGA

Homem inteiro és.Na tua fé
a mesma seiva pura que há na terra.
Quando, junto de ti, a Vida erra,
sofres por ela ser tal como é.

Sofres.Descrês.E blasfemas até.
É o não poderes nada que te aterra.
Mas na crença no Mundo que te encerra
é que tu, naufragado, encontras pé.

Irmão de homens e plantas e animais,
podes ,nos teus penhascos ver ainda
promessas novas de que esperas mais...

E todas as verdades principais
hão-de vir-te ao caminho.E a sua vinda
é que te abre os caminhos por onde vais.

08 agosto 2007

Uma data,uma memória

Dos amigos que fomos perdendo ficaram-nos sempre alguns instantes,quase sempre fugazes, que temos a sensação de ter roubado da esteira das suas vidas e que adquiriram para nós o valor de um pequeno tesouro que, de maneira quase avarenta, vamos revisitando, recontando, para nos certificarmos de que não nos estará faltando alguma peça. Na bolsa das recordações, a morte é sempre uma mais valia ! Como me surpreendo hoje a compreender tão bem e até a corroborar opinões, conceitos e exigências daqueles que, em sua vida, julguei com dureza( ás vezes com raiva) e até combati !... Saudade,gosto amargo de infelizes... como diz o poeta.Não há datas marcadas na nossa forma de ser amigo, ou filho ,ou viuvo, mas as datas,recorrentes, quando vêm ao nosso encontro, põem-nos esse tal gosto amargo,não na boca, mas na alma. É por isso que´são bons os tais instantes roubados, flashes que dão uma luminosidade única à nossa mais tímida recordação...

04 agosto 2007

Crepúsculo

Afinal há mais abordagens e outras juventudes...E eu nunca deixo de ter novas coisas a aprender!...




1-Do poeta grego AGELLOS SIKELLIANÓS



E eu tinha os olhos cheios
mas tão cheios de luz,
que,se fechasse as pálpebras,
ela jorraria como pranto,
como pranto- abrindo-se
em flores orvalhadas.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro,aligeirando-o
como à árvore o vento
que lhe atira os frutos
ao chão,e aí,
libertas,as folhas
frondejam nas alturas
com um novo frémito.
A luz cavava sulcos
em meu cérebro e corria-me
pelas veias,lenta,calma...

2-DO POETA JAPONÊS FUJIWARA TEIKA

Por cobertura,
quando o vento do outono entardece
na noite que espera,
a dama da Ponte da Saudade
estende o luar...



Tradutores: 1-José Paulo Paes
2-Stephen Reckert