09 novembro 2010

Neste São Martinho(dia 11)

Entrou Outubro e saiu sem me ter permitido aqueles arrobos de voluptuosidade a que por muitos anos me habituou. Anda nas bocas do mundo aquela espécie de refrão-conclusão das meditações sobre os temas mais díspares da nossa actualidade ... isto já não é o que era... Pois não ! Nem mesmo a entrada do Outono. Tivemos um Outubro às vezes doce, ás vezes chuvoso e frio, sem alternâncias previsíveis, e sem aquela doçura de temperatura, brisas e aromas a que nos habituara quando era o que era... E começámos Novembro com os esplendores de um Verão de São Martinho precoce que, tendo deslisado inesperadamente para invernias já até de neves na Serra, nos leva a pensar ,que não virá a ser possivel recordar no dia 11 aquela amenidade que permitiu o longo cortejo fúnebre que acompanhou Martinho, Bispo de Tours, à sua última morada, já sendo rigorosa lá a invernia e acontecendo um tal súbito verão que até desabrocharam rosas nos jardins que o cortejo foi bordejando...Antes o frio nos faz pensar na partilha da capa do vigoroso militar Martinho com o pobre quase nu encontrado na estrada.
É nesta volta do caminho que o nosso pensamento deriva para quantos milagres de bondade, de piedade até, nos seriam bem-vindos, homens e mulheres deste nosso país tão sofredor agora !Por muito que nos queiramos alegrar com a repetição dos provérbios relativos à época que em qualquer país falam do porco, das castanhas e do vinho, tudo são hinos a uma abundância que a nossa realidade actual não consegue entoar...Deles só se aproveita o anúncio do frio que está na hora de chegar. É por causa de tantas incertezas e incumprimentos meteorológicos que eu, « bicho da terra, tão pequeno » me tenho encontrado, não direi insegura, mas como que flutuante ao sabor do quotidiano e dos momentos, tão sem espaço para aquelas meditações longas que ajudam a nivelar os desgostos e as alegrias e a ir guardando-os todos dentro do nosso coração como nos ensinou Nossa Senhora, nas suas secretíssimas tribulações por causa de ter um Filho chamado Jesus. É um aprendizado doloroso. Mas não deixei de rir quando todos esperavam que risse e de chorar quando eu própria não podia impedir-me de o fazer.
E aqui estou acompanhando o meu mundo não desistindo nunca de acertar pelo dele o meu calendário sentimental...

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