30 agosto 2006

Quando o verão era "TODO" verde


Fui menina, rapariga e senhora num tempo em que a Terra não ardia e os verões eram pujantes e prometedores.E agora,procuro fazer recuar a minha memória até ao dia em que houve um primeiro sinal de uma coisa que afinal podia acontecer, mas na qual nós nunca tinhamos pensado...Sei que, como de costume, as minhas coordenadas eram entre pinhais e o mar. E,ao cair da noite,viemos muitos para a rua, todos os que eramos vizinhos, e faláva
mos uns com os outros, porque a televisão ( já havia televisão ) noticiara um enorme fogo num pinhal...Não! Não era ali, mas com tanto calor, quem sabe?...E cada um, seu pormenor, seu medo ...__A partir dessa noite, dese dia, nunca mais houve verões iguais aos de antes ! Calmos,de dias e noites longuíssimos, cheios de vagares e de pequenos prazeres,de pasmaceira...Instalou-se aquele "poder ser"...
E os confrangimentos dos porquês e das culpas...E as dores das dores daqueles que quase ardem com os seus pobres haveres a fundirem-se em cinza...E o pânico dos animais acossados que, a fugir, levam em si o fogo para mais lugares...E o ir para a frente dos que lá vão para salvar e às vezes não conseguem salvar-se a si próprios...E, e, e...Um sem fim torturante que nos marca os verões que, agora, não são mais pujantes e prometedores. Só mesmo quem atravessar as paisagens negras a perder de vista, com um ou outro tronco retorcido como um pedaço de carvão de pé, pode entender a mágoa desta saudade que é afinal aquilo de que falo hoje...

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