Se os humanos possuissem aquele olho multifacetado das moscas, mesmo assim teriam dificuldade em abarcar a pluralidade de acontecimentos que em seu redor pululam e fabricam, dia a dia,hora a hora, minuto a minuto, o caldo de cultura onde se desenvolvem as suas vidas.Somos , por isso, forçados, em épocas determinadas, a exercer um certo esforço de concentração para banir da nossa limitadíssima órbita tudo o que não converge para um dos temas a que queremos devotar-nos em pleno.Fazemos opções,claro que sim, e o Mundo segue, enquanto nós paramos um tempo, não só para pensar, mas também para agir mais conscientemente, segundo critérios nossos e sem dar lugar a desvios provocados tanta vez pelas solicitaçôes desse Mundo de todos os dias. Foi assim que me aconteceu neste período de Quaresma, Semana Santa e Páscoa. O Mundo foi fazendo de tudo: na área da política nacional ou na da internacional, na área da ciência desmultiplicada nos seus vários pelouros, na área social de todos os pequenos mundos, na área da música de qualquer quadrante, na área das Letras com cada vez mais pessoas a quererem contar ao Mundo as suas coisas ,e por aí fora. O Mundo é quase sempre previsível, se soubermos ir olhando para ele com a atenção que a nossa sabedoria recomenda ou permite, mas nem por isso deixa muitas vezes de nos surpreender quando faz movimentações mais bruscas. Enquanto eu estive toda entregue à minha Fé e às coisas de Deus, longe daqui, alguns devotos de uma outra divindade, calmos e serenos na sua entrega de fé,viram-se subitamente abanados,sacudidos, porque há, ligada às suas práticas religiosas,uma questão territorial que nunca esteve nem parece vir a estar resolvida.E não é que os seus algozes são os demasiado próximos vizinhos chineses? Na verdade, há já bastantes anos que nós temos podido vir a descobrir que há pelo menos dois tipos de chineses :aqueles espantosos filósofos da tranquila serenidade e densa sabedoria e os outros,políticos,estrategas, defensores musculados e vigorosos de uma corrente política que os tem isolado do resto do mundo. E agora? Lá estão os monges tibetanos a ver e a aguentar a dureza das caras feias do mesmo povo que mostra ao Mundo Ocidental um sorriso de orelha a orelha porque vai fazer com esse outro mundo todo o charme que se mostrar necessário para a realjzação dos Jogos Olímpicos em sua casa.Quando "regressei" dos meus recolhimentos e atentei bem no que estava a passar-se, apeteceu-me reler os lindíssimos poetas chineses, os seus pequenos conselhos de sabedoria, a suas irónicas meditações sobre as fraquezas humanas (excelentes traduções,claro, porque não estudei chinês).Não resisto à tentação de aqui transcrever algo que a todos nos deixa mesmo em perplexidade.
MENSAGEM AO REI LI-WANG
Do Sábio SHAO, no ano de 845 AC
Um Imperador sabe governar quando,sob o seu governo, se goza da Liberdade para:
_os poetas fazerem os seus versos
_os historiadores dizerem a verdade
_os ministros o aconselharem sem medo, desassombradamente
_os pobres se queixarem livremente dos impostos
_os estudantes aprenderem todas as lições do mundo e do espírito, com alegria e respeito
_os operários se orgulharemdas suas aptidões e se aplicarem só em trabalhos apropriados
_as pessoas comuns falarem de todos os assuntos sabendo que são ouvidas
_os velhos censurarem tudo o que lhes parece desgovernado,por amarem muito a ordem
Será que em 2008 ainda se lembram do Sábio Shao ?...
5 comentários:
dsvs
Será que os poetas conseguem sobreviver dos seus versos e os historiadores venderão se disserem a verdade, é a verdade apelativa?
Não vou continuar... mas cada vez mais parece que a sociedade se vai descuidando com o sentir da alma e do coração...
A verdade conveniente, a verdade calculada parece que se sobrepõe à verdadeira VERDADE...
é Vero?
Um beijo Vera
Claro que sim! Basta passar por cá para nos lembrarmos...
O Pedro Eiras, autor de "um Forte Cheiro a Maçã" é o Pedro, o meu mestre de Escrita Criativa. :) Quando regressar a Lisboa levo-lhe o livro :) (vá, EMPRESTO-LHE o meu, assim é melhor, não é?) :P
Jinhos com saudades, muitas.
Ha muito tempo eu li esse texto em um Enciclopedia porem, ele se apresentava assim:
“Um imperador sabe governar quando os poetas têm liberdade de fazer versos;
os atores, de representar;
os historiadores, de dizerem a verdade;
os pobres, de rosnar contra os impostos;
os estudantes, de aprender suas lições em voz alta;
os obreiros, de louvar a habilidade própria e procurar trabalho;
o povo, de falar de tudo
e os velhos, de pôr defeitos em todas as coisas”
– Mensagem do Duque de Shao ao rei Li-Wang, na China de 845 anos a.C.
Mauro Costa e Silva : não faz uma pequena ideia da quantidade de versões, adaptações ou variações sobre um mesmo tema que eu venho recebendo, enviadas por pessoas amigas que pensam que me estão enviando um original.Com ilustrações, com música, só o texto... Desde que estejam no domínio público, eu procuro partilhar tudo o que acho interessante...
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