12 março 2010

Professores e Alunos

Foi há dois dias : a última aula do Professor José Gil. Foi lá tanta gente que se tornou necessário passar o som para os corredores por onde se teve que espalhar o auditório. O meu interesse pelo tema desta aula - A formação da linguagem artística e a Filosofia - e a minha admiração pela contribuição que este filósofo tem dado para se estudar Pessoa, além de muitas outras coisas, não vêm hoje aqui à colação. O que me traz ao desabafo, à meditação, é o facto de verificar que, quase em coincidência de datas, há um professor que se aposenta entre aplausos e há outro que se suicida, por não conseguir fazer-se respeitar pelos alunos que troçavam da sua figura e desrespeitavam de toda a maneira as suas aulas de...MÚSICA !
Entretanto, tomando conhecimento desta notícia, não foi possível deixar de associar a esta tragédia a do pequeno transmontano que primeiro diziam ter-se suicidado e agora já afirmam a sua não intenção de matar-se, naquele desespero de atirar-se à tumultuosa corrente do rio.Também este rapaz terá desistido,( mesmo que não fosse em definitivo) , de encontrar o respeito pela sua humanidade da parte dos outros com quem se via obrigado a conviver diariamente.
Então pergunto-me : que mundo é este das escolas, agora ?
Conheci por dentro, primeiro como aluna, depois como professora, escolas públicas e escolas privadas. Era outro tempo, bem sei. Mas porque há-de haver uma tão grande diferença entre os "tempos" como a que vai do viver para o morrer por causa de uma destroçante sensação de incapacidade de reagir contra, de fazer valer os seus valores, de proporcionar o discernimento em uns e outros ?
Dizem os sociólogos que os naturais instintos têm que ser sujeitos a educação para o social, dizem as religiões que o outro pode até ser uma projecção do divino, dizemos nós que por alguma razoabilidade se criou um código de Direitos do Homem. E não há quem pense e faça o MUNDO pensar em tudo isto ? Os jovens, as crianças que hoje se mandam às Escolas em que é que são diferentes daqueles que já gostaram de as frequentar? E o conceito escola - professor - crescimento - aprendizagem, deixou de ter dignidade ? E PRATICABILIDADE ?
Ou bater, falar grosserias, ignorar patamares é mesmo o que as famílias praticam e os jovens apenas reproduzem ?
Diz o Proessor José Gil :No meio da grande perturbação actual.......agarramo-nos... não já ao familiarismo que explodiu como meio envolvente, mas à família desfeita ainda pertinente como ideal imaginário que se remenda todos os dias com a ajuda de psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.
Ideal imaginário !... Que pena !

2 comentários:

MM disse...

Cara Maria de Lourdes Beja,

Achei deveras perspicaz e pungente esta contiguidade de retratos singulares sobre o transversal tema do ensino/educação.

Nesta manhã, acabo agora de ler o segundo registo escrito da autoria de professoras com menção à autoridade nas escolas.

No outro, tal como desde já concretizo neste, quero partilhar a minha solidariedade para com a falta de autoridade vivida pelos professores nas escolas, agravada pelo acumular de funções que extravasam a óptica funcional imediata da profissão.

Estamos a necessitar de pensar a escola, cada vez mais.

Cordialmente,

Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com

Maria de Lourdes Beja disse...

MM: Acho curioso como encara sempre as coisas com tamanha preocupação e seriedade, o que não é vulgar em pessoas tão jovens como, no entanto, me parece ser. Muito obrigada pelas suas visitas ao sinestesias.