21 março 2010

Quaresma 5

Manhã, muito cedinho, ainda enublado o céu de Jerusalém, ainda no ar aquele perfume misto de plantinhas humildes e árvores sequiosas, sai Jesus do Monte das Oliveiras aonde mais uma vez se retirara para orar pelo silêncio da noite de estrelas, e dirige-se ao Templo. Não seria sua intenção ficar cá fora, mas vê-se subitamente cercado de uma tal quantidade de gente que resolve parar por ali e sentar-se mesmo no chão para conversar com tamanho auditório... Vejo-o humilde ali, naquela posição, quase abafado pelo povo, e eu, cá atrás, espreito por entre escribas e fariseus e entrevejo-o calmo, talvez um pouco cansado, sem erguer a voz cadenciada, doce e forte em simultãneo, envolvente, a ensinar... Consigo ouvi-lo pois todos o escutam em silêncio... E,quando menos se esperava, um enorme reboliço ali atrás, uma mulher acossada por um grupo ululante,furando,furando em clamor de ameaças e insultos até tudo estacar frente a Jesus...Naquele código de justiça vigente, a mulher iria ser lapidada por acusação de adultério. E eu a olhá-la, miserável, assustada, ali de pé, frente àquele Jesus de quem certamente já ouvira a fama, suspensos todos com ela do castigo que lhe iria atribuir Aquele que só pregava justiça a todo o tempo... Escribas e fariseus não queriam senão colocar Jesus em situação difícil ali,publicamente, trazendo-lhe um "caso" difícil para se poder verificar da Sua coerência... Temi por ELE, confesso.
E aconteceu que vendo Jesus quase imóvel, e sendo agora a vozearia enorme, não consegui ouvir o que Ele falou, mas vi toda a gente começar a debandar, aos poucos, agora dois, logo um só, depois uns três e sempre assim até que só ficou a Pecadora, sempre de pé, frente a Jesus... Atrás de mim, outro curioso como eu disse-me: - ninguém se sentiu em condições de lhe atirar a primeira pedra, como ELE lhes disse... Ouvi então nitidamente aquela voz serena e doce que não se esquece, quando se tem a graça de a ouvir : ... não te condeno.Vai, e doravante não voltes a pecar !...
Nesta hora, Jerusalém já resplandecia para mim, sob um sol aberto e reconfortante que me iluminava os caminhos, mesmo por aquelas ruazinhas mais estreitas e sombrias por onde viera, antes daquele encontro junto ao Templo.

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