28 outubro 2009

26 de Outubro


Não era justo que deixasse de registar as alegrias. Sós. Simples e estremes. Pois elas existem e inundam-nos a alma surpreendentemente, assim como um clarão de relâmpago,mas duradouro, não fugidío...
Lusco-fusco de primeiras horas do dia de aniversário. Abro a janela de par em par, porque não faz frio e ainda não há barulho. E eis que me vejo, que me sinto, envolvida por uma nuvem que descera suavemente sobre a minha casa. a minha rua, a minha cidade.afofando, envolvendo devagar, como eu já uma vez contei que experimentara,há anos à beira-mar. Foi tão reconfortante este abraço, que chorei de felicidade. Por vezes tem-se direito a ser místico ou talvez só poeta...Senti-me abraçada pelas lembranças, senti aquelas manifestações de carinhos de que fiquei privada há tantos anos... Pareceu-me, sim, que se
debruçavam sobre mim de dentro daquele nevoeiro todas as ternuras terrenas já perdidas, vindas não sei de onde...
...Não conseguirei explicar-me melhor...
Entretanto, cresceu a manhã.Como nos contos de fadas, quebrou-se o encanto.
A verdade é que passei um dia feliz, acompanhada de boas amizades e com a alma muito mais leve do que o meu corpo que os anos todos vividos vão carregando mais e mais...E quando acabei ficando de novo só, lembrei-me de um daqueles encantadores poetas japoneses cuja simbologia e poder de síntese eu tanto aprecio, que reza assim:
Le papillon est vieux
mais son âme sur les chrysanthèmes
folâtre...
tradução de G.Renondeau

1 comentário:

Joana disse...

Que bonito, que bonito, que bonito! Tudo.

Sabe que essas coisas, assim, ocultas mas presentes, e nossas tão nossas, são para poucos, para os corações maiores apenas... :)





Jinhos.