10 maio 2008

Reparo que o meu blog se vem mostrando cada vez mais como um memorial de datas memorializáveis o que o está transformando num ramal para onde se esgueirou a minha ideia- tronco inicial, que seria a de um registar das minhas "circunstâncias"( Gasset ), meditando sobre elas e o que delas advem, sempre que isso me fosse possível.E, corolário indispensável quanto a mim, seduzir leitores que eu queria interlocutores. Quantas vezes tenho lido a afirmação de alguns escritores de ficção de que, estando a escrever um romance, o personagem começa a ganhar vida própria e o primitivo corpus da história entra numa deriva que o autor não procurara !
Pois bem! A superabundância de dias votivos tanto ao amor,como à água, como à fome, como à família, como a todas as doenças( uma de cada vez), ou a todos os padroeiros de qualquer coisa( santos ou não), ou à mulher (mas não ao homem),ou à música, ou `a poesia...Às coisas mais contraditórias, desde que possam ilusoriamente sobrelevar a ideia de uma união global dos sentimentos do Homem sobre qualquer tema escolhido, esta falsíssima aposta numa pseudo-união de vontades celebrativas, acabou por me enrodilhar os meus dias de celebrar realidades ou memórias com os outros, os globais( quando não aconteceu a sorte da coincidência ). Entretanto passaram por mim e eu vivi coisas mais ou menos interessantes, admiráveis, repugnantes, esperançosas, decepcionantes, das quais não ficou no meu blog o mais ligeiro rasto. E, no entanto, todas elas foram deixando marcas nesta cera moldável que é a cave onde repousam as várias castas-reserva especial das memórias da minha vida.
Ninguém espera certamente que uma mulher de mais de oitenta anos tenha actualmente uma dinâmica de vida recheada de actividades em que predomine a motricidade física, mas espero que quem não sabe acredite que a motricidade espiritual, sentimental e até intelectual mais se apura quanto mais se degrada a agilidade do corpo. Pode assim acontecer que, como nos bons velhos vinhos-reserva, as qualidades se sublimem e de repente (?) os nossos olhos passem a ver o que antes não viam, o nosso entendimento se torne mais perspicaz... Por vezes eu chego a ter medo do que estou sendo capaz de compreender agora em situações, pessoas ou coisas que acreditava já conhecer há muito...
Mas afinal seria mesmo daquilo que não está cá que deveria ter sido feito, até agora, este blog?
É, sem dúvida, um caso a repensar. E os prós ? E os contras ?

1 comentário:

Anónimo disse...

Querida tia Maria de Lourdes,

um dia numa semana que passei a trabalhar num centro de dia, houve um senhor que me disse, que cada cabelo branco é como que uma história para contar ...

E acredito que a Vida nos dá histórias e sobretudo a sabedoria e a capacidade de a ir compreendendo e aceitando...

Obrigado pelas suas memórias... mesmo que não tenham sido o objectivo primeiro deste blog...

um beijo Amigo Vera