01 fevereiro 2008

Carnaval

Aí estamos nós chegados àquela época do ano em que há ,por tradição ,que cumprir uma série de rituais que , na totalidade e no particular, me desagradam profundamente. Todos os que me conhecem sabem que, em nenhuma época da minha vida, pactuei com qualquer dos tipos de celebração desta exteriorização de liberdades reprimidas e ,por calendário, agora consentidas. Penso que atitudes como esta minha devem principalmente radicar-se na educação que se teve e não posso deixar de recordar como, sempre, os meus Pais me mostraram diversos carnavais,de acordo com as minhas fases de crescimento, como coisa para se ver, mas não como coisa para nela se tomar parte.É certamente assim que se fomentam qualidades críticas e até admito hoje colocar a mim própria questões sobre este modo de educar do qual, aliás, em muitos outros campos das práticas sociais, nunca me senti vítima. Mas se hoje me sinto inclinada a entrar por este domínio da educação para os relacionamentos sociais é porque com uma certa perplexidade vejo alguns dos meus alunos( e não só dos mais novos ) prepararem afanosamente modos de se disfarçarem para a "festa" mascarada do último dia de aulas nas escolas, antes do começo das pequenas férias de Carnaval. E, ouvindo-os, o que querem encarnar ? Não são BELAS, mas sim MONSTROS, não são FADAS, mas são BRUXAS, ou então QUASIMODOS, VAMPIROS, FRANKENSTEINS... E vêm-me à memória aquelas mastronças que têm tanto de DRAG-QUEENS como dos populares CABEÇUDOS e que muito popularmente representam por todo o país o obsceno-inocente. Como realmente as pessoas se cansaram da BELEZA e se comprazem no FEIO ! UMBERTO ECO que , para fazer as suas HISTÓRIAS tanto da BELEZA como do FEIO , com tanto cuidado procurou documentar-se em historiadores, filósofos e artistas, através das várias visões do mundo, ao longo dos séculos, não conseguiu mais do que reconhecer que é nos olhos de quem olha que a beleza e a fealdade se instalam ; e que esses olhos são "enformados" em múltiplas contingências da época das suas vivências. Que pensar pois desta nossa época, em que, desde as crianças pequeninas até aos adultos mais velhos, cada vez mais se desdenha a BELEZA e se entroniza o FEIO ? Que vamos "libertar" neste CARNAVAL ?...
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2 comentários:

Anónimo disse...

Se se soubesse como é bom. Como ajuda a viver. Como ajuda a rir, o saber olhar o mundo com olhos de beleza, talvez houvesse mais pessoas a tentar olha-lo assim...
Beleza gera beleza...
um beijo grande e amigo Vera

Joana disse...

Concordo consigo. Também não gosto do Carnaval, mas nem é por isso. É por tudo: são os filmes no cinema, a música, os livros, as peças de teatro, as exposições, a televisão... quanto mais tenebroso, triste, metálico, , amargo, seco, mais... interessante! Não bom, não bonito: interessante porque marca, o que importa é o impacto.

É pena!

Jinhos.