22 fevereiro 2008

As Palavras

Um dos meus alunos anda ,neste momento, a trabalhar os poemas de Eugénio de Andrade. É um rapaz de quinze anos, apaixonado pelo mar e pelo desporto da Vela, filho de pais divorciados e com uma estuante alegria de viver. O seu professor da Escola tem uma vincada predilecção pela poesia, muito particularmente pela dos poetas modernos. Tenho portanto à minha frente duas linhas de força que devo procurar tornar concorrentes, quando, pelas suas naturais tendências, seriam divergentes,ou, numa hipótese mais optimista, seriam talvez paralelas... E então, tenho também de me defrontar com algumas perplexidades minhas ( não que não esteja já habituada a elas ) perante certas observações de uma juventude "talhada" de maneira bastante peculiar, sempre surpreendente, principalmente por nunca me ter deixado influenciar pelo que dela se diz de desabonatório...Ontem , Eugénio de Andrade dizia-nos aquela sua tristíssima frustração de despedida já gastámos as palavras, meu amor... E salta-me ao caminho esta observação:as palavras existem para não se gastarem.Senão para que servia tudo aquilo que os escritores tentam fazer?Lá veio então a minha quase irritação pelo que já ficou, parece-me, esquecido das nossas "discussões" sobre palavra falada /palavra escrita.Neste tempo de tanto suporte electrónico para a palavra falada, na cabeça de um jovem, formatada nas coisas práticas da vida actual, a perenidade do valor da palavra como tal pode ser ainda um factor de segurança e de estabilidade emocional...Que dirão os linguistas?

1 comentário:

Joana disse...

Ai, como me diz tanto este seu texto!!!

Esta linguista venera - é mesmo este o verbo pela desmesura da adoração - a palavra escrita, precisamente como "factor de segurança e estabilidade emocional".

As palavras não se gastam, não se podem, não se devem gastar. Numa altura em que nada é sólido, definitivo, eterno, que o sejam as palavras e os valores que elas veiculam!

(E é isso mesmo que o Eugénio diz... quando a palavra já não existir significante, não há nada, tudo terá morrido... certo?)

Jinhos.