01 março 2007

KAROL-um homem que se tornou Papa

Escrevo hoje ainda sob a fortíssima emoção que me provocou o visionamento de um DVD que me foi oferecido por uma amiga "porque sabia que eu ia gostar".
Trata-se de um conjunto de dois discos realizado por Giacomo Battiano, com banda sonora da autoria de Ennio Morricone, e com o título KAROL_ O homem que se tornou Papa.
Claro que, como a minha amiga previra, gostei.Gostei muito. Mas sofri muito. Posso dizê-lo, mesmo correndo o risco de que quem acaso ler estas notas possa achar o emprego aqui do verbo sofrer,não só um exagero, mas também um lugar-comum.
A verdade é que eu não esperava ser assim subitamente posta em presença viva, real, do drama, da tragédia, que se abateu sobre a Europa da minha juventude e da qual nós, em Portugal , mal tacteámos apenas as franjas, mal nos démos conta de dores remanescentes de cada dor maior que se ia sucedendo a outra, e a outra,e a outra...
Na pátria de KAROL WOJTYLA ,aquele desprezo pelo ser humano, que foi manifestado desde o tirar a vida, até, em gradação regressiva, tirar as casas, as escolas,as igrejas, as cidades, e os alimentos, e os hospitais, e tudo, tudo, foi a manifestação mais repugnante que eu já esquecera de quanto o ser humano é também capaz de descer tão demoníacamente fundo...
Porque eu conheci gente "da guerra". Estudei com alguns que chegaram até à minha Faculdade, então ali a SÃO BENTO.Vi,passadas por baixo das mesas, as primeiras fotografias dos campos de concentração, tão inimagináveis que parecia que nos queimavam as mãos. Fui despedir-me de alguns que partiram para alistar-se nos seus países depois de deixarem aqui a família a salvo.
Logo que foi possível, já casada, fui a PARIS conhecer uma irmã da minha sogra que não arredara pé da sua casa em Montmartre, com ocupação, sem ocupação, agarrada àquele então lendário desamor de franceses por alemães.Levámo-la a jantar fora. Ainda não estavam reabertos muitos restaurantes, mas queriamos mimá-la, passeá-la...E no primeiro jantar surpreendi-a a,surrateiramente, meter na sua carteira os pedaços de pão que restavam na mesa. Como era possível ?...Depois de uma conversa carinhosa percebemos o seu " terror" doentio de ficar sem pão... E já não havia guerra! E havia muito mais terrores de que, como graça de DEUS ,nos fomos esquecendo...Isto é : pensamos que nos fomos esquecendo. O "meu"Saint Exupéry dizia depois de uma passagem por Lisboa, nessa época, que "Lisbonne en fête défiait l'Europe".Fazíamos a Exposição do Mundo Português e era mesmo uma festa. Mas não foi suficiente para apagarmos as nossas memórias dolorosas. Veja-se : basta que nos salte ao caminho um DVD e eis que tudo reaparece a parecer-nos que foi um mau sonho !
Pobre,sofredor, perseverante,não seria mesmo este o caminho da santidade de KAROL WOJTYLA ?

2 comentários:

Joana disse...

Em resposta à pergunta das últimas linhas do post: é bem possível que tenha sido esse o caminho... Nunca tinha pensado nisso!

Este verão vou a uma conferência internacional a Cracóvia! :P

Jinhos

P.S. Já escrevi no meu blog, e volto a fazer o mesmo aqui: sinto que estou a falhar consigo, mas hei-de reparar essa falha, não sei é quando...

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom