29 janeiro 2011

Antes de janeiro acabar

Que sorte ,no decorrer de uma semana em que uma área do meu computador resolveu negar-me a sua colaboração, ter tido quem me possibilitasse fazer bonitos "embrulhos"( para mim foram como presentes de Natal ) com revisitas a Sophia de Melo Breyner, tão minha contemporânea, e a um distante São Tomás de Aquino ( século Xlll), mas qual deles para mim um pilar da cultura e da concepção que tenho dos deveres sociológicos de cada um de nós !
Se tempos houve em que muito mais se cultivava a "casa" ou melhor, o estar nela, o viver nela,isso foi uma das coisas que acabou talvez quando as mulheres começaram a trabalhar profissionalmente. Hoje ninguém pensa em visitar amigos. Só se vai à casa deles por convite para uma qualquer refeição. Se não houver esse convite pode bem acontecer que amigos, conhecidos ou até familiares passem mais de um ano sem se verem (vivendo todos na mesma cidade ). E chega a dar-se a triste circunstância de alguns só se reencontrarem, quando um deles parte do mundo e o outro lá se apresenta no velório por dever social... Bem ;deixemos esta crua realidade e lembremos, nos tempos do Eça ,a visitinha em que se entregava á empregada que abria a porta o cartão de visita ( até este nome era por essa razão) para que o levasse a anunciar quem vinha... Que era surpresa e não convidada para nenhuma refeição. Puro interesse de amizade...
Isto surgiu na sequência do meu pensamento em que verifico que em qualquer "buraquinho" de tempo livre de obrigações de trabalho, todo o mundo começa logo a pensar em...SAIR... e nunca em gozar o conforto de uma casa que hoje em dia muitos desejariam ter sem poderem.
Pois, graças a essa fixação no SAIR, as estações de rádio adquiriram o feliz hábito de, mesmo de manhã muitíssimo cedo, nos lembrarem datas ,exposições e toda a espécie de eventos comemorativos das mesmas e assim podemos nós, os mais distraídos, fazer as nossas escolhas ou planos de participação, conforme os nossos gostos ou interesses e de forma a preencher fora de casa umas horas livres de trabalho. De tal modo isto de se ter que sair se tornou imperativo, que até para as crianças os pais têm como obrigatório desandar com elas para fora de casa, levando-as seja lá para onde seja...E também estão começando a surgir espectáculos e organizações curiosíssimas só para crianças ( concertos para bébés a partir dos dois anos, por exemplo). Creio que, para uma nova forma de se estar na vida, em mobilidade, como agora se usa pensar, estamos de facto em presença de muita e engraçada criatividade. Para uma boa conversa há as tertúlias, os encontros no café ou no bar;para uma boa música há concertos mais ou menos tranquilizantes ou electrizantes e tumultuosos, conforme o tipo de estímulo que se procura, nada disto hoje se faz de portas adentro e pronto. A casa é para pouco mais do que para dormir ! ! ! Ou então vivê-la em solidão... Um eremitério !E haverá( concluo eu) poucos que conheçam então o gosto dos eremitas. Como disse ao começar este post, saborear Sophia em plena abertura para admiração e até com uns salpicos de fugitivas recordações de encontros pessoais e depois entregar em paz o espírito à meditação de um lucidíssimo santo, é, pode ser, a melhor evasão de momentos muito, muito esgotantes e até dolorosos...
Porque não descubro realmente em toda a actual ansiedade para sair senão uma tremenda necessidade de EVASÃO...
Que quase sempre decorre do "não querer" cada um encontrar-se cara a cara comsigo mesmo...

2 comentários:

Unknown disse...

Boa Noite!

Amei seu post, gostaria que me desse a sua autorização para, posta-lo no meu blog, darei todos os creditos!!
Desde já,

Obrigada
Rita

Maria de Lourdes Beja disse...

RITA: com certeza que só tenho que envaidecer-me se puder servir-lhe para uma qualquer citação. Diga-me quando o fizer, para eu ir ver se estou de acordo com o"uso" que lhe deu...
Com toda a simpatia, Mª de Lourdes