21 agosto 2009

Alexandre O'Neill e Jorge de Sena

Hoje é dia de lembrar ALEXANDRE O'NEILL . Conheci-o, como dizia Bocage, magro, de olhos azuis( ?), carão moreno, um homem inteligentíssimo, de sorriso um pouco enviezado, espirituosamente trocista e às vezes tão cáustico quanto lúcido.Mas,de educação esmeradíssima, era capaz das maiores delicadezas de coração, embora gostasse de arvorar-se em irreverente surrealista ( há mar e mar, há ir e voltar); enquanto produzia se uma gaivota viesse trazer-me os céus de Lisboa...letra de fado inspirada num sentimento muito carinhoso, era duro a dizer por exemplo mais podre que um sentimento que pudesse apodrecer ao sol - o tempo de ficar só...
Ou perfilados de medo...irónicos fantasmas à procura do que não fomos, do que não seremos. O'Neill era "uma pessoa". De corpo inteiro e de quem se gostava.

É espantoso! Quando estava aqui a lembrar alguém cuja memória se liga ,para mim , a uma época, cai-me nas mãos o jornal de hoje a trazer-me notícia de alguém que trago no meu novelo de saudades muito perto de O'Neill. Alguém que escreveu isto: Não hei-de morrer sem saber
qual acor da liberdade
Eu não hei-de senão ser
desta Terra onde nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença
qual será ser livre aqui.
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade
É quase um crime viver.
mas embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade...

.


Trata-se de Jorge de Sena. A notícia diz que o seu corpo vem finalmente para Lisboa, depois de incontáveis démarches da sua incansável mulher, mãe dos seus nove filhos, que nunca se conformou com toda a incompreensão de que foi vítima o grande poeta, romancista, historiador e professor que se viu levado a radicar-se nos Estados Unidos onde leccionou e dirigiu departamentos na Universidade da Califórnia, vindo a morrer lá, em 1978 . Desde essa data, estava enterrado no cemitério da cidade onde viveu- Santa Bárbara, e, ao conseguir-se agora que o que pode restar do seu corpo venha encontrar por fim a "terra" da sua raiz, podemos pensar que algures ele poderá enfim saber qual a cor da liberdade.
Não é estranhíssimo, vário e tonificante o despenhar da cascata das recordações ?


1 comentário:

Joana disse...

É.

Mas é bom lembrar pessoas que o são de facto. E ficam connosco e com os vindouros para sempre.

(Uma raridade hoje em dia!)


Jinhos.