18 agosto 2009

A Viagem

Quando ainda se não é Reformado e quando os empenamentos do corpo ainda não têm oitenta anos, viaja-se bastante e quase sempre férias são sinónimo de viagem.E a maior parte das vezes a viagem é pelo estrangeiro. Viagem pelo prazer de conhecer, viagem pelo gosto da aventura, viagem...porque,já agora, não é caro e todos vão, viagem porque "isto aqui" é uma pepineira, viagem porque dá imenso status no regresso,para contar aos outros que ou não vão ou também foram...Há ainda um outro pretexto ao qual a existência da União Europeia veio roubar muito da sua sedução :as compras.Ir algures lá fora para comprar alguma coisa porque cá não se encontra nada de jeito,é ainda uma boa razão porque afinal a União é apenas europeia...


Parando por aqui esta acidez toda do meu pretenso humor crítico, o que eu mais quero é fazer o louvor máximo ao poquê da alegria que me é dada quando amigos me levam a viajar pelo nosso país que está a ficar cada vez mais bonito, graças a obras de restauro e obras novas, graças a mimos de bom gosto em urbanização,graças a novas noções de urbanismo, civismo e cidadania.


Percebe-se que tem havido novas noções da parte das autarquias aplicadas não só à visão turística, mas muito a levar os habitantes a amar a sua terra, sentindo-se bem nela. Visitei e passeei em duas vilas: Vila de Rei e Vila Nova de Ourém. Que mimosas, cheias de avenidas e pracinhas floridas, arborizadas, onde as casas são vivendas rodeadas de jardins e muito bem cuidadas já sem aquele cunho de que, dantes, nos ríamos chamando-lhes maisons, e onde há pequenos cafés com esplanadas coloridas e quiosques a vender jornais. Não sei porquê ,alguns edifícios de andares com alturas proporcionadas às cotas envolventes,ficam bem encaixados ali e não encontramos sobresaltos ambientais, o que me parece extremamente tranquilizante para quem ali vive.


Por outro lado,descobri cidades das quais conhecera há muitos, muitos anos, os locais, posso dizer agora, os embriões. Torres Novas, mas principalmente, o Entroncamento ! Como é que, de um entroncamento de linhas férreas com a sua gare respectiva, mas sem mais nada que se pudesse considerar, em redor, dos anos 40 do século XX, brotou uma grande cidade, de grandes prédios, de muitas ruas, jardins e avenidas e lojas e restaurantes e cafés... e todas as características de uma cidade dormitório de Lisboa, graças à frequência de comboios cada vez maior , com horários úteis e rapidez desejável ?


Entra certamente na quase magia de tudo isto uma realidade dos nossos dias que me não encanta por muitíssimas razões mas com a qual parece termos mesmo que nos habituar : os grandes hipermercados internacionais ou nacionais que vieram instalar-se espampanantemente nestas localidades, antes deles apenas habituadas a escassas lojinhas de família onde o negócio, a conversa e bom entendimento iam mantendo a satisfação da clientela. Pelo que vi, o próprio hipermercado cria instalações para o seu pessoal, por vezes autênticos bairros, e assim se foram espraiando casas e se formaram núcleos urbanos inerentes àquela potente força comercial. E lá estão óptimas cidades com grande vitalidade, jovens, activas, modernas...Mas também pude aperceber-me de que a abertura aos bons e completos novos centros de estudo contribuiu imenso para engrandecer as velhas cidades onde se fixaram. Em Tomar há um enorme complexo de nível universitário como que a fazer frente aos monstros comerciais que lhe são vizinhos. É um Instituto Politécnico de grandes dimensões que me fez recordar o antiquíssimo e muito bom Colégio NunÁlvares de nívelsecundário e para onde iam estudar tantos rapazes que hoje são alguém por este país.Tomar está uma grande cidade e alindou-se com novas pontes, novos acessos junto às calmíssimas curvas do Nabão, e restauros de muito bom gosto. A igreja de Santa Maria dos Olivais tanto tempo quase soterrada e meio desmoronada, está agora desafrontada,elegante e à noite muito bem iluminada. No Convento de Cristo então os arranjos chegaram mesmo até à repintura da Charola! E a saída do hospital militar ali antigamente instalado permitiu a abertura de espaços agora usados unicamente com fins culturais e museológicos . Abriram-se esplanadas e restaurantes nas varandas do convento abertas sobre a mata particularmente perfumada. Houve o cuidado de promover espectáculos a aproveitar tanto cenário. E com tudo isto se aproximou tamanha antiguidade e tradição da modernidade de tanta gente que por ali vai.
Esta foi a minha enorme Viagem de férias. Há ainda um outro viajar que fiz e que cabe noutro contexto. Da ALMA.
Talvez porque lo que pasó no fué, está siendo como diz Octávio Paz.

1 comentário:

Joana disse...

"... lo que pasó no fué, está siendo..."

As coisas que se aprende consigo!



Jinhos.

P.S. Ir para fora cá dentro, cada vez mais e por todas as razões.