09 outubro 2007

CARDAL _ a ponte

É sempre bom a mão amiga que se nos estende. Às vezes precisamos dela deseperadamente .
Nisto do dar e precisar, diz-se que quem precisa, precisa sempre e quem dá, não pode dar sempre. Se esta tão sábia sentença é verdadeira em termos de bens materiais,já não é tanto assim em termos da amizade, com o seu caudal de bens inerentes ( previsão,subtileza, desprendimento, paciência, aceitação, etc.,etc.) Sei, por experiência própria, que a mão amiga, a amiga mesmo, está sempre lá, onde eu a sei.Não pode,é claro, adivinhar as minhas situações de carência-desespero, mas algumas vezes houve já em que as previu e se me estendeu tão oportunamente que eu pensei que havia ali "feitiço"...
Estamos pois num aproveitamento de três dias de férias numa daquelas pontes que reis e santos tanta vez oferecem ao povo quando a data da sua celebração vai cair a jeito de desdobrar os dias chamados inúteis da semana. Desta vez, por acaso, até se celebrava o desaparecimento dos reis, precedido de acções nada dignas de se celebrar. Bem; mas foi feriado bom, brilhante, morno, sem vento, lindo ! E a casa da Teresa e do João estava lá, de braços abertos, à nossa espera, assim uma espécie de ilha de bem-estar e paz no meio de um mundo ruidoso e agressivo de que,na ocasião, estávamos cansados.Janelas abertas sobre o vale em cuja concha cintila o límpido azul das águas da albufeira fragmentada em vários braços reentrantes , envolvência de verdes em plena pujança, mesmo sendo outono, pios, grasnados, latidos longínquos, a enrolarem-se no marulho das ramagens,descida lenta do sol a desdobrar-se em incontáveis tons de rosa e lilás...e, da nossa parte, uma tão premente vontade de não mexer nem as pálpebras, não vá quebrar-se o encanto ! Uma premente necessidade de agradecer a Deus esta oferta inesperada de um mundo límpido que podemos guardar na alma...
Esperar silenciosamente
pelas coisas
sossegadamente...
Sabe de outra maneira
e é diferente
aquele acontecer
que não nos chega
atabalhoadamente...
E sentir que afinal algo espera por nós indefinidamente, indefinidamente...

1 comentário:

Joana disse...

Também estive na minha ilha. (A minha mãe faz anos no dia de São Francisco de Assis). Maravilho-me com a escrita e folgo em saber que teve umas mini-férias muito bem passadas. :)

Jinhos.