20 setembro 2007

LEITURA

Uma das realidades com que se batem os pr ofessores de Português neste tempo em que vivemos é que os alunos não gostam, não querem,não se fixam a LER.
Portanto, para eles, ler um livro completo é algo de impensável. Claro que estou cansada de procurar fazer um levantamento das razões por que tal fenómeno se gerou e se fixou, mas o conhecê-las não me ajudou em nada para a descoberta da melhor maneira de as combater. E então o que me espanta é a ingenuidade ( ou será apenas hipocrisia ? ) com que nos programas oficiais surge uma “coisa” chamada CONTRATO DE LEITURA pela qual os professores vão procurar comprometer os seus alunos a lerem, ao longo de um prazo de tempo contratado , um ou mais livros que ou eles próprios indicam, ou vêm já sugeridos no manual. Será uma tentativa e até podia vir a colher alguns frutos...Mas, para meu grande pasmo, os livros sugeridos são muitos de autores estrangeiros nem sempre representativos de alguma coisa útil e com traduções nem sempre exemplares. Há sugestões, por exemplo, para HARRY POTTER...
E é perante um panorama destes que, quase em simultâneo, nos aparecem duas notícias felizes no âmbito da Literatura Portuguesa..No meu tempo de escola lia-se AQUILINO RIBEIRO e na obra vastíssima os romances prendiam , da primeira à última página. Era eu que já gostava ou seria mesmo o seu modelo que também me estimulava para a utilização de uma língua escrita especial e diferente da de todos os outros escritores que eu conhecia ? Bem, com uma enorme polémica à mistura, as ossadas de Aquilino vieram agora tomar lugar no Panteão Nacional. Temos motivo para nos orgulharmos porque estão pensando em gloriar um expoente da língua nossa tão amada trabalhada com tal mérito que até não teria sido demais se o seu autor tivesse recebido um Prémio Nobel.
A outra notícia vem da Alemanha onde ANTÓNIO LOBO ANTUNES esteve presente num Festival de Literatura em Berlim onde foi apresentado como “ o maior escritor português da actualidade “ e foi longamente aplaudido por uma enorme assistência. Num post que escrevi quando lhe foi atribuido o Prémio Camões, no mês de Março, podem ler-se as razões do meu contentamento por esta notícia de agora.
É minha obrigação falar de tudo isto aos meus alunos. Conseguirei que desistam de ir procurar onde se vendem os famosos resumos que proliferam como cogumelos nas sombras das grandes árvores ?

3 comentários:

Joana disse...

Claro que consegue! :)

Aplaudo consigo o Lobo Antunes, quanto ao Aquilino, pena é que a totalidade das suas obras, ou pelo menos as duas que me interessam não estejam disponíveis no mercado, muito embora seja com agrado que registei que cada fnac cá de cima tem uma meia dúzia delas...

Jinhos.

Paulo disse...

«A Ideia, sumo Bom, o Verbo, a Essência» (Antero)
Cícero foi dos primeiros a afirmar que o discurso metáfórico era abrangente, justificado primeiro pela necessidade e só depois pela agradabilidade (Se Oratore, III, 38)

Eu gosto de uma língua perfeita pois só assim pode ser transparente: ao estar isenta de ambiguidades, remeteria cada palavra para um objecto determinado, um referente preciso.
Só assim se pode falar com propriedade.
Mas, também, sei que se fosse sempre assim, jámais haveria um discurso romântico daqueles que, por vezes, nos deixa o olhar "ceguinho de choro", logo o Mundo seria menos bonito...

Beijo
Paulo

PS: Gostei de passar por aqui...

Anónimo disse...

"E minha obrigação falar de tudo isto aos meus alunos".
Espírito iluminado, mente brilhante.
Encontrei nesta frase a fórmula bastante para apaziguar a inquietação em que me tenho debatido ao ser forçado pelo limite de idade a afastar-me fisicamente dos meus alunos.
Aqui expresso gratidão pelo reforço recebido e peço licença para juntar as lições de clarividência, sabedoria e equilíbrio de Sinestesias à lista permanente de links ao dispor dos visitantes do Securitas.