08 julho 2007

7-07-2007

É curioso como nós sentimos que, quanto mais vamos avançando na idade, menos os outros nos vão conhecendo, mas também menos nós vamos tendo necessidade de nos darmos a conhecer.
Confesso que é até um certo prazerzinho perverso o apercebermo-nos de quanto se estão a enganar a nosso respeito ao atribuirem-nos gostos, qualidades, defeitos, manias, que já poderão ter-nos qualificado alguma vez, numa vida que ficou para trás, mas que, no momento actual, tiveram a sua deriva natural e são já outros... É que se vai perdendo tanta coisa com o andar da vida, que é com uma espécie de avareza que nos resguardamos e guardamos só para nós este tesouro de, afinal, não sermos bem aquilo que eles pensam saber de nós...
Tudo isto me ocorreu agora, justamente pela contrária! Houve quem se lembrasse do meu fascínio pelos veleiros que é de sempre e, este, perdura. Levaram-me pois a vê-los, agora que se está a realizar o Campeonato do Mundo dos barcos que irão depois às Olimpíadas. Naquele mais mar que rio e ainda rio a encontrar o mar, de Cascais para o Guincho, é deslumbrante a presença das velas, a sua leveza e a sua capacidade de tornear os ventos, uns ventos ferozes, desabridos que podem ser desafio mas que também lhes podem ser indispensáveis... Todo este encantamento puramente estético da minha parte tem que ver com uma nunca satisfeia ambição de espaço aberto, de liberdade que não significa isso de que se fala e que eu creio que só quem anda no mar é que conhece.
E porque o vento era um excesso, e porque tivemos que estar sempre dentro e por detrás de vidros embaciados de sal, regressámos a outros confortos.
Tinhamos todos na cabeça a data de 7-7-2007. Uma incessante campanha produziu os seus efeitos e ninguém podia deixar de estar curioso pelo resultado de duas auscultações, uma só aos portugueses, outra a todos, de todo o Mundo, para que, sob um colossal consenso, o Mundo e o nosso país passassem a ter os seus Colossos de Rodes ou os seus Jardins suspensos de Babilónia... Uma estação de televisão fez a festa estrondosa e conheceu-se resultados no meio de muita música, muita luz, muita cor... Por acaso(seria?) uma outra estação de televisão fazia-se eco das enormes preocupações ambientais que, ameaçadoras, nos aconselham comedimento e engenho para poupar. POUPAR tudo, senão... Assim, encantada com o que me pareceu um bom prenúncio de possibilidades de entendimentos mundiais, desde que o que suscita esse entendimento seja reconhecidamente uma mais-valia para a Humanidade, não consegui contudo libertar-me da angústia de compreender que o ESPAÇO de cada um de nós está, minuto a minuto, a ficar mais restrito, sem que muitos de nós nos apercebamos disso...

1 comentário:

Joana disse...

É verdade. (E assustador, não?)

Jinhos.