22 outubro 2011

Leitura da imprensa

Está a ser cada dia mais difícil, mais dura, direi mesmo mais dolorosa, a leitura da imprensa diária de que ainda não desisti ´malgré aquele fascínio pelos noticiários televisivos ou mesmo de rádio. Culpa da minha queridíssima professora que está prestes a festejar os seus 93 anos límpidos nos seus raciocínios, memórias e projectos( ! ! !)... Culpa dela, dizia eu, porque ,professora de português, história e geografia em simultãneo no colégio de meninos e meninas que frequentei logo que saí da 4ª classe da chamada Instrução Primária,ela exigia que nos habtuássemos a ler os jornais dos nossos pais, pelo menos uma vez por semana e depois soubéssemos "contar" o que tínhamos lido... Isto, por cerca da época da Guerra de Espanha.
Adquirem- se hábitos, assim . Mas com o que se cresce, o que se vive, com o que tudo se vai formando e desformando , ler os jornais hoje é muito diferente de então. Acontece que agora me está ficando em cada dia uma sensação de boca seca, de garganta apertada e aquela insegurança de não ter a certeza de coisa nenhuma, pelo diz e contradiz quanta vez em duas páginas seguidas... Como poderia eu fazer agora um relato do que li à minha antiga professora para ela fazer dali uma aula ? ... É mesmo aí que está o mérito do "nosso tempo" dir-me -ão :a liberdade da imprensa. E lembro-me de Fernão Lopes e o seu escrúpulo...
Mas todo este "discorrer", porque hoje no meu jornal surgiu algo que adoçou a minha boca (às vezes há horas felizes, como na lotaria). Páginas ou separatas culturais todos eles acham que têm e ao lê-las as sensações não se descrevem facil ou desapaixonadamente. É uma outra história... O meu jornal , ao sábado, insere e assim lança alguns novos poetas, sem barulhos, sem alardes, sem pretensões, e eu gosto deste jeito simples de se nos oferecer...E precisamente estou aqui a chamar a nova poetisa ao convívio dos meus leitores, porque me caíu tão bem lê-la no meio de tanta"desgraceira" que me sufoca. Ora leiam :
LAPINHA -PARA LORENA
Às 21h25a ilha fecha~
o último pássaro metálico
deixando para trás os portões
encerrados das lagoas.
É um tempo de aranhas
esquecidas das teias, aves
suspensas no voo,amigos
que invocam em silêncio as estações
e recrdam ainda a Criação,
camada por camada.

Sobre os homens desce então
uma redoma de nuvens,que a estrela
única vem selar.Cada um risca
as fronteiras do sonho com as sebes
de hortênsias ou muros de basalto,
esperando depois que as três
voltas do milhafre não o surpreendam
entre as espigas altas do mundo.

E o medo torna-se subitamente
navegável, mar de minúsculas
e carnudas conchas estendido
a nossos pés, para que possamos
sempre caminhar sobre
as águas.

INÊS DIAS DO JORNAL PÚBLICO

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