07 abril 2007

Tríduo Pascal

Como eu gostava de que todos os meus amigos que, quase orgulhosamente, se dizem ateus compreendessem que a FÉ não é uma coisa que se aprenda, que se estude, que se imite, que se deduza... Tenho suportado alguns afrontamentos mais ou menos subtis, não directamente por causa da minha FÉ, mas por causa da prática do culto que a ela corresponde. Chegaram já a questionar-me pela incoerência,(quanto a eles) entre as minhas práticas de culto e a minha inteligência. Supor, calcular, depreender sobre exigências ou reacções da sensibildade do "outro" é sempre falível e os meus amigos ainda não entenderam isso. Até porque, com um conhecimento superficial e primário da História da religião que professo,é claro que não podem compreender o que significa, por exemplo, ouvirem-se determinadas partes das LEITURAS e da própria MISSA, umas vezes de pé, outras não. Este seria um tema que me faria alongar muito, o de explicar o que já desisti de explicar-lhes, quando o que eu queria era mesmo falar destas celebrações do TRÍDUO PASCAL nas quais venho tomando parte ao longo da minha vida, sempre com igual sensação de pobríssimo acto de contrição e simultânea declaração pública da minha indefectível dedicação a esse JESUS que, esse sim, me foi "APRESENTADO", logo que nasci, por uns PAIS que eu fui vendo adorarem-no enquanto eu fui crescendo e aprendendo o Mundo... Quanto a actos de culto, tenho presenciado como é fácil aos Homens praticarem-nos por causas que nada têm que ver com aquela fundíssima dignidade que pode fazer de um de nós uma criatura sublime... E que eu creio que é a nossa parcela DIVINA!
Estivemos pois a rememorar aquela extraordinária ceia da qual emanaram todas as lições de humildade, de comunidade, de amor total, de paciência, de comprensão e,depois, estivemos postos em presença da CRUZ. Foi notável, como nos é tão preciso o silêncio para melhor "ver". No dia seguinte ao do movimentado Lava-Pés, foi uma longa e silenciosa fila de adoradores da CRUZ que nos permitiu pensar como CAMIILO PESSANHA "Oh quem pudesse deslizar sem ruido//no chão sumir-se como faz um verme..." Perfilou-se perante nós e a nossa pequenez a imensa solidão daquele CRISTO injustiçado, injuriado, torturado, só porque acreditou que nós o mereciamos...
E revivemos as grandes figurações das procissões que nessas horas o povo acompanha pelas ruas

O CRISTO, AO ALTO, ALONGA OS MAGROS BRAÇOS NUS
[...]
PENDENTE DA CRUZ NEGRA, ENVOLTO EM LUAR FRIO
[...]
E O CRISTO AVANÇA, Á LUA, ESPLÊNDIDO E CHAGADO

(José Régio)

A fortíssima marca que nos encharca a alma irá, como é costume, aligeirar-se com o festivo tilintar dos sinos da noite da nunca compreendida RESSURREIÇÃO...
É matéria de alma e disso os meus amigos nunca saberão nada !

1 comentário:

Joana disse...

Entendo-a bem!... Páscoa, Fé, Culto, religião... tudo uma questão de 'saber'-'sapere' na acepção latina mais etimológica de 'saborear', 'sentir'.

Não tive oportunidade de lhe desejar uma quadra em pleno, mas já percebi que assim foi. Ainda bem.

Jinhos.