"Hoje é o dia de ser bom" diz António Gedeão numa das suas mais amargas ironias, esta sobre o dia de Natal em casa de uma família de classe média- alta do seu, do meu, do nosso tempo.Dia de ser bom tão contemporâneo e contraditório que o menino-herói dessa família exulta de felicidade a utilizar em delírio os presentes que recebera, alvejando ruidosamente toda a gente da casa que, colaborante, simula alegremente morrer,atirando-se para o chão depois de " ferida" pela bela arma-presente de Natal que o menino mostra saber manejar eficazmente...
Queria, com muita vontade, afastar de mim os pensamentos que, nem só por causa de Gedeão,me assaltam nestes "dias de" que a nossa sociedade global nos prodigaliza agora, a todos os pretextos, com verdadeiros "lembretes" para que aquilo que simbolizam não deixe de interpelar todo o Mundo. Mas, para meu desgosto, uma espécie de grande tsu-nami comercial invadiu todas as praias das nossas mais afectuosas memórias e os "dias de"são muitas vezes um enorme carnaval ou um festival de aparências"que é de bom tom "manter.
Culpas? De quê ? De quem ?
Mas hoje eu só tenho que cantar hossanas,porque tenho o meu "dia de": 11 de Fevereiro.Nossa Senhora de Lourdes. Parafraseando o meu amigo Sebastião da Gama, pela FÉ é que vou. Foi este o nome que me deram e que uso como quem usa um brazão de fidalguia porque ele é o que me resta como herança espiritual de uma Fé talvez ingénua que deu a este meu nome uma categoria de mensagem que eu sempre receio não ter sabido interpretar.
Mas é esta a herança que recebi de alguém de quem mais nada pude guardar...
E não é que, por causa da irradiação espiritual de tudo o que os simples humanos têm experimentado em redor daquela gruta perto dos Pirinéus, pela fervorosa devoção a Nossa Senhora, se decidiu fazer do seu dia o DIA MUNDIAL DO DOENTE ?´
É pois mais um "dia de" no dia de hoje . Mas ,se entre os dois anteriores existe uma forte e séria razão de conexão, eis que nos surge anexo um outro "dia de" que aqui caiu apenas por razões de conveniências várias dos senhores políticos. É dia de votações para um REFERENDO, apanágio democrático de que o povo não deve prescindir, de vez em quando.
É muita coisa grave para um só dia!!!
Vota-se, opinando sobre a Vida ou Morte, tentando desembaraçarmo-nos da teia de sentimentos, conceitos e preconceitos que as nossas formações morais e sociais enredaram à nossa volta. Mas, a par,vamos ter que pensar mais na morte do que na vida, se queremos ajudar outros( ou que nos ajudem a nós) a pacificar a aproximação dessa meta inevitável...
Não é natural que espere que NOSSA SENHORA DE LOURDES me indique o melhor caminho?
2 comentários:
Natural? Naturalíssimo. Pena é que grande parte das pessoas tenha feito ouvidos de mercador a esse apelo...
Concordo consigo na proliferação assustadora de "dias de" e no facto de, entre tanta efeméride, a mais importante, a de raiz, ter passado quase despercebida - não fosse esta sua postagem e uma rápida menção na minha missa de Domingo passado.
Bem mais importantes serão "os NOSSOS dias de", as nossas datas pessoais, sem consumismos, mas com celebrações condignas - nem que seja por dentro.
Jinhos.
P.S. Não me esqueço de Lisboa. ;)
Eu sei, Maria de Lourdes. Nunca mais me esqueci, nem de si nem das suas Sinestesias. Passo muitas vezes por aqui, sorrateiro, para ler o que escreve. Só não comento porque não sou muito de comentar o que é bom.
Mas... um destes dias levo-lhe mais um bocadinho. Depois (não sei se já lhe disse) manda-me a conta :-)
Afectuosamente
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