Dia de Camões ,
E porque ele pôs Vasco da Gama a explicar ao Rei de Melinde onde geograficamente se situava o país donde vinha, lembrei-me subitamente daquela outra exposição geográfica, tão interessante, feita por Pessoa :
A EUROPA jaz, posta nos cotovelos.
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
e toldam-lhe românticos cabelos
olhos gregos lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado,
este diz Inglaterra onde, afastado,
a mão sustenta em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
o Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita...é PORTUGAL.
Bom, mas isto foi apenas uma "gracinha" de que me lembrei, reveladora de épocas, de personalidades, até de maneiras de amar !
Camões dizia assim ao curioso rei de Melinde , pela boca de Vasco da Gama, os dois em frente de um mapa material, não esteticamente metafórico como o de Pessoa .
Eis aqui, quase cume da cabeça
de Europa toda, o Reino Lusitano,
onde a terra se acaba e o mar começa
e onde Febo repousa no Oceano...
ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA
á qual se o Céu me dá que eu, sem perigo,
torne com esta empresa já acabada,
acabe-se esta luz ali comigo !
Sabemos muito bem, dito em centenas de versos, assumido por uma tão aventureira vida, que o amor de Camões pela sua pátria era quase visceral e também sabemos que "tornou" enfraquecido e pobre tão pobre que "viveu de amigos",após o naufrágio e que o pagamento em dinheiro que lhe foi dado por Dom Sebastião, em recompensa de tão esplendorosa obra, chegou para ir quase que esconder-se a adoecer e morrer aos poucos, comendo as sopas que o velho Jau ia pedir de esmolas, sem ele saber... Quem viu um filme sobre a vida de Mozart deve lembrar-se da última cena em que se vê uma miserável carroça a transportar o corpo do músico e um cão caminhando ao lado, solitário... Com Camões far-se-ia um funeral semelhante, tendo Jau no lugar do cão.
Aquele belo túmulo que existe no Jerónimos e os turistas visitam, não tem Camões nenhum. Nunca se soube dos seus restos mortais, tendo ainda por cima o terramoto de 1755 desmantelado covas e cemitérios e nunca se tendo mais sabido também do velho e fiel Jau.
Este dia de Camões parece fazer, em cada ano, que eu o ame e admire sempre um pouco mais. Pelas suas qualidades, pela sua humilde sabedoria, pelo seu desprendimento, pela sua arte, pela sua galhardia...E, acima de tudo pela maneira de amar. A VIDA, AS MULHERES, O PAÍS .Morro com a PÁTRIA , parece ter dito. na coincidência da chegada da governação espanhola. Pois eu acho que se pode dizer que alguma coisa da pátria morreu com ele para sempre !
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1 comentário:
olá!
é sim irmã, vivemos vidas dentro da mesma vida e ..outras vidas..paz na sua alma.
irmão antónio
: )
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