24 fevereiro 2010

As flores que merecemos...


Completar-se-ão em Abril ciquenta e nove anos que vivo como condómina num prédio integrante de um bairro construido na época do Estado Novo com finalidades sociais. E, como tal, penso eu, foi atribuida a cada habitação uma minúscula fatia de terreno, nas trazeiras do prédio, chamando-se-lhe civicamente logradouro. Pouco mais ou menos três palmos por quatro de terreno, não é que permitem que demos asas a algumas fantasias botânicas e até bucólicas ? Logradouro é também para alguns a miniatura de uma lavoura de batatas, alfaces, favas e ainda por cima de árvores de fruto... Em suma uma pequena via de evasão muito bem pensada por quem concebeu o projecto que de certo tinha tanto de psicólogo quanto de arquitecto...
Pois bem. Agora que o Fevereiro se aproxima do fim com um curriculum de invernias desmesuradas e trágicas ( estou a falar do meu Funchal ), quando era costume estarmos já a pressentir a Primavera, olhei cá de cima o meu logradouro hoje de manhã, aproveitando uma pequena "aberta" na ventania e na chuva e_ ninguém me vai acreditar, paciência_ vieram lágrimas aos meus olhos e uma palavra de louvado seja Deus ! aos meus lábios : todos os alvíssimos jarros estão em flor, a cameleira, alvo de todos os meus orgulhos botânicos, coberta de rubras camélias e múltiplos botões, a alfazema transformada num tufo enorme e o abacateiro já criando a sua larga copa, meio verde, meio rosada, com porte já de arvoresinha que está começando a ser !... Quer dizer que a natureza cumpre. Apesar das granizadas, das geadas, das ventanias, do nosso abandono, porque durante estas intempéries nem nos aproximámos delas, as plantinhas cá estão, presentes, todas catitas, coloridas, garbosas, agora algumas a enfeitarem as minhas jarras e darem um ar de festa à minha casa, cumprindo rigorosamente o calendário.
Que lição tirar de tudo isto ? Quando eu tenho andado a pensar, desde o tsunami, passando pelos nevões mortíferos, pelas praias tragadas pelo mar, pelo terramoto do Haiti e por esta avassaladora derrocada da Madeira, tenho andado a pensar,repito, que a Natureza nos está a enviar algum recado, algum aviso, brotam-me "em casa" as flores,`a hora certa, nos dias certos, e mesmo quando eu mais preciso delas... e,talvez, quando menos as mereço ...

5 comentários:

Joana disse...

Ora essa, merece-as todas! :))))

(Há dias, na varanda, os meus jacintos deram-me uma sensação muito parecida. É bom que a natureza siga certa os seus ciclos.)



Jinhos.

MM disse...

Cara Maria de Lourdes Beja,

Porventura conhece melhor do que eu a surpreendente experiência de, após uma chuvada digna desse nome ou uma intempérie como as que temos tido, ficarmos mais susceptíveis à presença do sol e à forma como a Natureza absorve a chuva e a transforma em vivacidade e crescimento sob o olhar paterno do sol.

Talvez a precipitação e o sol sejam uma ponte privilegiada de ligação entre o homem e a Natureza.

Cumprimentos,

Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com

Giovana disse...

Ola! bela senhora, adorei sua narrativa, me fez sonhar um pouco e sair de minha rotina.

Um bater de asa e mt luz para a senhora.

http://givillardp.blogspot.com

Maria de Lourdes Beja disse...

Giovana: Muito obrigada pelo seu comentário e hoje venho retribuir os seus votos de muita luz porque é dia de Páscoa... fico à espera de mais notícias suas...

Maria de Lourdes Beja disse...

Giovana: Muito obrigada pelo seu comentário e hoje venho retribuir os seus votos de muita luz porque é dia de Páscoa... fico à espera de mais notícias suas...