04 novembro 2007

Do jornal agora

Mais uma vez feriados encostados a fins de semana e alongados com "pontes"... Os portugueses, em Portugal, sempre tiveram pouca consciência de que, a produzir, a trabalhar cada um naquilo que melhor sabe fazer, engrandeceriam o seu país sem precisarem de grandes esfalfamentos.O sonho de uma vida de reformados ricos sempre pairou nas ambições de quaisquer trabalhadores que conheci ou de que ouvi falar. A juntar a este sonho, surgiu, creio que por volta dos anos sessenta, a verdadeira fixação dos portugueses pelas idas à praia mais ou menos durante todo o ano, mesmo que faça algum frio e mesmo que "a praia" não exista ali ao virar da esquina. A Serra, o pinhal, o "campo" deixaram de ser atractivos, vá-se lá saber porquê...

E esta atracção por tais padrões de vida, não fazendo muito alarido, acabou por influenciar um sem número de coisas da nossa vida quotidiana, descaracterizando um modo português de viver, tornando-o híbrido, imitativo e despesista.

Tudo isto me ocorreu a partir desta extraordinária maratona que consiste em ler os jornais de fim de semana. São quilos e quilos de papel, repositórios de um sem número de separatas, umas mais publicitárias que outras, tentando todas captivar a atenção do leitor que, provavelmente, já não se sentirá tão atraído pelas notícias, uma vez que elas já nem sequer desenvolvem as que a TV vai debitando durante a semana, provenientes que são, todas das mesmas agências noticiosas . No meio de cada feriado e ponte que proliferam na nossa terra, é sem dúvida uma árdua tarefa esta de ler os jornais. E o tempo escorre veloz, mesmo que só façamos leituras oblíquas para "escolher" o que ali vem que nos interessa ou convem ler. Lá se vão algumas páginas de um bom livro que teríamos podido estar a ler, não fosse o desejarmos ficar ao corrente do que de mais actual vai por aí, pelos arredores das nossas frustrações.

E como parece que o que vem nos jornais é que importa, "pensaram"as cabeças pensantes( que decidem o que, de futuro, todo o português deve saber), que há que dar lições de jornalismo aos jovens que, na escola, ainda mal sabem distinguir a prosa da poesia...
Ensina-se-lhes o quê,como,onde e porquê e depois dá-se-lhes, como trabalhos de casa ou testes para nota, a fabricação de notícias com obediência a todas as regras adjacentes.

É conhecida a relutância que os nossos rapazes e raparigas têm pela leitura de qualquer livro e então estimulam-se na exploração da literatura jornalística. Daqui a distinguirem um "Editorial" de uma "Crónica" e a analisarem uma" Entrevista"vai toda uma panóplia de conhecimentos que eu não sei quantos deles irão mais tarde sequer recordar, quanto mais utilizar...

E não posso deixar de perguntar-me : Que haverá de inconveniente nos nossos maravilhosos escritores? Esta cultura de feriados e pontes estará também a roubar-nos o tempo para eles até que os vamos deixando cair?...



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1 comentário:

Joana disse...

"Que haverá de inconveniente nos nossos maravilhosos escritores."
Resposta simples: Ensinam-nos a pensar: pensando, questionamos, questionando, criticamos. E normalmente a crítica, pelos menos nos outros países, é producente, leva a práticas de mudança.

Concordo em absoluto consigo, ainda há pouco reflectia na pobreza da programação televisiva de fim de semana. Inversamente proporcional em conteúdo ao acréscimo de papel nos jornais dos mesmos dias.

Jinhos