Veio o primeiro 1º de Maio, depois da revolução.
Uma mole imensa de povo veio para a rua, nesse dia !
Todos se falavam, muitos se abraçavam, mesmo sem nunca se terem conhecido
E riam alto, e cantavam, formando rapidamente grupos espontâneos . Surgiam de todas as direcções, sendo, no entanto, o estádio da avenida Rio de Janeiro o grande polo de atracção porque era aí que estava programada a enorme concentração, em que os dirigentes dos partidos dos “trabalhadores” iriam aparecer juntos e em pessoa para falarem àqueles cujo DIA se festejava...No entanto, era tal a multidão que, às tantas, já se não conseguia entrar sequer no estádio. E então, como lava escorrente de qualquer cratera, deslizava pelas ruas...Atravessou Lisboa, em cortejo, uma faixa da largura das avenidas, apenas com a palavra LIBERDADE preenchendo toda a sua área. Era de tal forma majestática e conduzida com tal andamento de pompa, que não havia quem não experimentasse uma certa forma de emoção, vendo-a passar.
Não houve uma briga, um desacordo, em todo aquele dia. Lágrimas sim ! Viam-se muitas em rostos de pele seca com olhos pisados e expressões tensas ; deslizavam sem controlo possível, tal como aquela LIBERDADE que parecia escorrer e ia vindo ao encontro de todos nós...
Era uma enorme emoção colectiva !
Por isso se gritavam slogans copiados de revoluções estrangeiras, na convicção de que o povo seria quem iria passar a ordenar.
O certo é que, nesse dia, ninguém pensava que, conquistada a possibilidade de se viver em democracia, os homens da Revolução , e os outros, iriam mostrar quão difícil é aprendê-la.
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