Há dias, num grupo de amigos, foi-me feito por um deles um reparo curioso : como é que, sendo a minha ocupação quase única ler e escrever, só muito raramente me vêem referir-me a leituras de autores actuais, best-sellers ou não, mas modernos ou, pelo menos, contemporâneos. Fiquei a pensar nisso e até tentei fazer um certo levantamento do que tinha escrito nesse campo . Deve haver uma multiplicidade de razões, tanto mais que a minha casa regurgita de livros. Uns que me oferecem, muitos, muitos, outros que vou adquirindo.E é de tal maneira que eles já se vão apossando de todos os meus espaços, mesmo os não disponíveis, e há aqui em casa livros a espreitarem-me por todos os cantos ou até mesmo do chão ou de cima de armários altos, ou de cadeiras, gavetas entreabertas, tudo como "anexos provisórios "das verdadeiras estantes,a rebentar pelas costuras... Dir-se-á que é uma autêntica balbúrdia, um desmaselo, uma desorganização... Mas não. É este o neu conforto, eu ia mesmo escrever consolo. Porque para além de gostar de ler, eu gosto de LIVROS. Aquele prazer de pegar num livro com ambas as mãos, virá-lo e revirá-lo para oVER bem e até...cheirá-lo, a sério !, seja ele antigo ou acabado de sair do prelo, esse prazer justifica a minha insensatez de ir sempre adquirindo mais um... Já me aconteceu, sim, perder as coordenadas e não encontrar um que me é necessário em certo momento. Até já me aconteceu perder definitivamente alguns. Porque os empresto e nunca me são devolvidos, coisa que me dói e me escandaliza, pela acção, pela perda, pela falta que me faz... Mas, embalada neste aspecto material, deixei fugir a ideia inicial deste post.
Pois, porque não falo deles ? Como comentadora, ou como crítica ou como simples recenseadora ? Principalmente porque, com os anos que já vivi, aprendi que as minhas "circunstãncias"( Gasset ) me levam ás vezes a perceber de uma nova maneira aquilo que tinha percebido numa anterior leitura de certo autor, depois porque verifiquei que tenho uma aptidão natural para "imitar" qualquer estilo pessoal e receio muito que isso depois apareça no que eu mesma produzo. A propósito contarei que tive na Faculdade uma professora francesa para uma "cadeira" de Francês Prático cujas aulas consistiram, na sua maior parte, em ser-nos dado a conhecer um autor francês e em seguida fazermos nós, alunos, um texto nosso de um tema todo outro mas escrito "á la manière de..." do autor que nos tinha sido apresentado. E posso dizer sem vaidade que eu fui a melhor aluna nessa actividade.
Falo das minhas leituras, sim, quando alguma consegue trazer-me para fora do meu mundo já estratificado ( talvez infelizmente ) académica, social ou intelectualmente, e esse trazer-me para fora poderá ser pelas boas ou pelas más razões. Falar delas apenas como recenseadora ou coleccionadora tão pouco é o meu estilo pessoal, mas citá-las ou aos seus autores isso faço muito e creio que até provará de certa maneira o que deles penso.
Curiosamente, e já que "estou com as mãos na massa", tenho hoje e aqui uma enorme vontade de contar de dois livros que me emprestaram e me levaram para um mundo todo novo e desconhecido para mim: OS PICOS DO EVERESTE, dos HIMALAIAS e de tudo quanto é alto, é pico, é cume, nos Andes, no Alaska, no Atlas, por tudo quanto é mundo, no Tibete, no Nepal ou noPakistão. O seu autor é o primeiro português a alcançar o Everest e chama-se João Garcia. Temos hoje e aqui a viver no meio de nós "ainda" um primeiro português a ousar passar um qualquer CABO das TORMENTAS ! E o que lutou para isso, o que suportou fisicamente( até amputações), o que sofreu moralmente (até a morte de um amigo a seu lado ), sem nunca desistir, sem nunca perder a esperança e... sem nunca se queixar ! Com uma simplicidade exemplar, narra as suas mais espantosas aventuras como se fossem os "passeios" mais naturais que nós damos,em férias, pela tardinha... Aqui está pois o exemplo dos tais livros de que eu entendo que merecem uma referência toda especial. Nem de propósito, lidos agora.
1 comentário:
olá. estive a ler o seu blogue. posso lhe dizer como só prova que o espirito não tem idade na forma e na maneira como escrevemos. tudo vive no mundo da letra, da palavra. sinceramente, gostei do que aqui está. sobretudo, quando voce se serve da escrita mais intelectual e menos pessoal. quando lemos o intelecto. pode , crer, vou segui-la aqui, acompanhar os seus textos.
Enviar um comentário