26 abril 2009

São Nuno de Santa Maria

«O grande Pereira», «o fero Nuno»,«...Nuno,qual...o fortíssimo leão»,«Nuno,que,como sábio capitão, tudo corria e via e a todos dava com presença e palavras, coração», pois este Nuno assim visto por Camões, foi hoje canonizado por um Papa de nome Bento, tal como fora beatificado por outro Papa de nome Bento também. Sendo notável toda a sua carreira militar em que,de simples "conde das cavalariças/ cavalos,cavalaria"( condestável, etimologicamente e por influência do inglês constable medieval), chegou a chefe supremo de todo o exército e figura maior da hierarquia da corte, é ainda muito mais notável o quanto a sua fé, a sua dedicação a Nossa Senhora o fez, depois de viuvo, procurar "apagar-se" numa humildade que o esconde dentro do hábito carmelita, de onde quase nada volta mais a ouvir-se sobre ele...
Pois agora aí está, mais um dos Santos e Santas da Corte dos Céus, a fazer-nos pensar a nós em como são misteriosos os juizos de Deus e os seus desígnios e em quê e em quanto e em como teremos que dar volta às nossas vidas se quisermos sequer imitar um Santo assim...

25 abril 2009

25 de ABRIL

Eu vi Abril por fora e Abril pordentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido ( Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer...

Manuel Alegre

24 abril 2009

24 de ABRIL



Le taparia el tiempo
con rosas, por que no recordara.

Una rosa distinta,
de una imprevista majia,
sobre cada hora solitaria de oro
o sombra,
hueco propício a las memorias trajicas.

Que, como entre divinas y alegres
enredando rosas, granas ,blancas
que no dejarán sítio a lo pasado,
se le enredara,
con el cuerpo,
EL ALMA...


de Juan Ramon Gimenez

18 abril 2009

Prendas

As prendinhas que trocámos com os nossos amigos tiveram sempre um qualquer significado, a menos que não fossem de ou para amigos mesmo, dos verdadeiros.
Com o andar da vida, acabámos por ter,a cada passo,na nossa casa uma presença qualquer daquele ou do outro ,várias vezes multiplicadas...A jarrinha do último natal em que... A moldura daquele dia de anos que... A taça, a caixa,a chávena...Isto para não falar dos utilitários como a máquina de café, a torradeira, o jogo de facas, o espremedor de fruta...E também a coquetterie dos lenços de seda, das caixinhas de comprimidos, do alfinete de pedras...
Bem! Isto tornou-nos possuidores de inúmeras coisas carregadas de significados vários mas que nós, no seu conjunto, acabamos por já nem gozar...
Combinámos então,entre amigos, no alvorecer desta avassaladora idade do consumismo, passarmos a só nos presentearmos com bens perecíveis, como produtos para nos lavarmos, para aperfeiçoar a nossa apresentação física, para comer ou beber, para escrever, e também flores, plantas e livros Tivemos algumas dúvidas sobre a classificação dos dois últimos citados.As plantinhas,se as tratarmos bem, far-nos -ão companhia longo tempo, são mesmo uma companhia com a qual até podemos falar( ! ! !). Sobre a durabilidade válida dos livros é que haverá muito a dizer.Pondo de parte o quanto fisicamente se deterioram, é claro que o seu conteúdo é persistente...quando o é! Porém cada vez estou encontrando mais livros perecíveis. Ninguém certamente está a pensar num CEM ANOS DE SOLIDÃO, nuns LUSÍADAS, num GUERRA E PAZ, numa MADAME BOVARY ou mesmo num MEMORIAL DO CONVENTO.
Mas quanto é publicado apenas arrastado pela esteira dos redemoínhos de uma moda, social, política, moral ou religiosa, ou até de certas inovações puramente literárias, uma vez diluida essa actualidade, passa a ser de facto também um perecível. E,por isso, ´poderá também entrar na categoria das prendinhas de desgaste previsível.E oferecemo-las uns aos outros com essa quase certeza.
Não me querendo deixar entrar pelo campo dos livros em que se estudava e são declarados perecíveis pela via governamental , olho para os livros de agora com uma certa desconfiança quanto à sua utilidade prática.Ocuparão um lugar nas minhas estantes tal como as prendinhas de antes da combinação dos perecíveis.
E não é que agora me vêm oferecer um livro como nunca tive, onde eu própria caibo em duas linhas e cuja classificação só pode ser CURIOSIDADE ?
Com uma admiração toda nova ( onde já vai na minha memória o que me vi obrigada a consultar na antiga Torre do Tombo!), vejo-me com um livro todo dedicado ao estudo da árvore genealógica das famílias que se entrecruzaram até chegar ao mundo a geração do meu marido ! Um dos seus dois laboriosos autores entendeu assim agradecer-me algumas conversas que tive com ele sobre tanta memória, tanta história... E, parafraseando alguém, digo eu ««que farei com este livro?»» Quão estranha profissão a deste simpático autor !
Genealogista! Quem conhece ?
Sempre,cada dia, coisas novas...Até nesta tão bem "arrumada"teoria das prendinhas que desalinho agora, a descobrir avôs e avós insuspeitados a viverem as suas vidinhas lá para trás do sol-posto, sem suspeitarem que de longinquos tempos e espaços alguém os andava a espreitar...

12 abril 2009

Pão Ázimo

Logo de manhã,com cuidado por causa da diferença horária,estive em frente da televisão porque procuro sempre não perder a transmissão das cerimónias no Vaticano que sei que vão dirigir-se urbi et orbi.Está sempre lindíssima a decoração daquela enorme esplanada frente à Basílica,com montões de flores e plantas verdes que a Holanda capricha em oferecer.E depois é todo aquele aparato de solenidade...
Não, não estou a falar de luxo.
Mas do cerimonial com que nesses dias os cristãos enfatizam
aquilo que deu o cariz verdadeiramente extraordinário às razões da sua fé. Claro que além de uma imensidão de público do mais heterogénio (quantos só turistas?) a figura central de tudo o que se ali passa é o Papa. E ouve-se, da sua sabedoria, que cremos divina, aquilo que nem sempre sabemos
interpretar ou por vezes aquilo que estava a faltar-nos como estímulo... Quantas vezes sem mesmo nos termos dado conta disso.
Hoje aprendi.Melhor: percebi.
Comi pela primeira vez PÃO ÁZIMO aquando da minha primeira viagem a Israel. Ao procurar saber como se fazia,explicaram-me que a única diferença para o nosso pão era apenas a de não levar fermento. E entendi porque era baixinho e maciço.Vim depois a comê-lo mais vezes sem nunca mais pensar no como era feito. Nunca tinha pensado que haveria uma relação entre ele e a História da minha fé.Quando oiço da boca do Papa «de tal modo a Páscoa é o partir para uma NOVA VIDA completamente nova, que até se deixou de fazer pão com o fermento, porque este tem que ser retirado de uma massa anterior e, por isso,velha». Não foram estas as palavras textuais, que não fixei. Mas foi esta a "novidade" para mim. Alguém me lembrou que há também uma explicação segundo a qual os judeus, ao fugirem precipitadamente do Egipto,não puderam dar tempo para fermentar ao pão que estavam a fazer...
Não teria nunca sabido isto de outra forma, creio bem.
Que mais coisas novas virão ainda acrescentar o que já sei, depois desta Páscoa da qual apenas esperava reforçar a minha solidez interior??? Banirei o fermento?

10 abril 2009

6ª FEIRA DE PAIXÃO


Deixai, deixai passar o homem forte,
o ungido do Senhor.
Se a cruz que arrasta agora é cruz de morte,
também é cruz de Amor !

Morres tu, mas a ideia que deixáste
não morre, como a luz em fim de dia,
nem o fogo do céu que em ti ardia,

nem o exemplo sublime que legáste !


in A senda do Calvário

ANTERO DE QUENTAL

05 abril 2009

Cerimónias de RAMOS

Este deslizar das semanas durante a Quaresma torna-se-nos mais sensível porque é um caminho que se percorre e no qual se vão eliminando etapes. Chegámos hoje ao domingo de Ramos e, sendo aquele em que começa verdadeiramente a tragédia da morte mais injusta e cruel alguma vez executada sobre um ser humano, as cerimónias de igreja, neste dia, tornam-se alegres e festivas, já pelas cores vermelhas dos paramentos, já pela manipulação dos enormes ramos de folhas de palmeira, tão elegantes, tão graciosos, a ondular ao ritmo de todos aqueles cãnticos entoados em procissão. Imaginar a figura daquele JESUS materializado no filme de Mel Gibson, montado num burrito assustado com a gritaria do povo circundante, a procurar romper pelo meio de uma turba enrodilhada em gritos e palmeiras, em correrias para ver melhor o que parecia festa, imaginar a paciente doçura daquele que se sabia condenado sem crime, fez-me sentir subitamente uma tristeza tão dilacerante que só tinha uma vontade: fugir, sair, procurar outras cores da alegria, arrancar de mim toda a imagem da dor,da dor toda, ou antes, de toda a DOR... (e lá, na ponta de um banco, não é que se senta o que resta, em disformidade, daquela que foi a ninha alegre amiga cujo esgar,como sorriso, ainda veio ter comigo?)

02 abril 2009

Livro infantil - ilustração


Tenho uma sobrinha que faz lindas ilustrações e desenhos em livros infantis e não só... Aqui está uma amostra do que ela fez com uma amiga,quando estiveram em São Tomé integradas nos Leigos para o Desenvolvimento...