13 junho 2013

SANTO ANTÓNIO E FERNANDO PESSOA

No ano de1195    nascia em  Lisboa um rapazinho que batizaram com o nome de  FERNANDO. De família, a nobreza do nome .De natureza, humilde.
Algum  tempo  mais tarde, em 1888, nascia também  em  Lisboa  um  outro rapazinho  a quem  também  batizaram  com o nome de FERNANDO.
Só  que este nasceu no dia 13 de Junho e aquele morreu no dia 13 de Junho, com 36 anos de uma piedosa vida que devotou a toda a espécie de santas obras, enquanto o outro viria a morrer com 47 anos de uma vida de dedicação ás letras e às mais exóticas extravagâncias filosóficas. Mas só pelas coincidências dos dias 13 do mesmo mês e a do nome de Fernando se  apresentam muito juntos nas memórias laudatórias de muita gente que tenha alguma instrução religiosa e suficiente cultura literária para, juntando-os, saber  separá-los. Até  porque ao primeiro não se lembrarão todos que se chamava  Fernando (de Bulhões), visto que é ANTÓNIO ( Santo António ) o nome que o eternizou .Agora, que Lisboa delira com festejos garridos, patuscadas, bailes, casamentos sumptuários, noitadas, desfiles e tudo o que a isto se liga, para celebrar o "seu" Santo António, pergunto a mim mesma se a doçura, a humildade, a enternecida caridade deste Santo não estarão exigindo dele umas excepcionais doses de paciência e de... perdão.
Se até o Fernando Pessoa se sentiu autorizado, nas suas QUADRAS AO GOSTO POPULAR  a  "meter.se" com o Santo, com um sorrisinho pouco próprio:
                                 Santo António de Lisboa
                                 era um grande pregador.
                                 Mas é por ser SANTO ANTÓNIO
                                 que as moças lhe têm amor.


10 junho 2013

Dez de Junho - pensar PortugaL. E Camões.

Dia de Camões ,
E porque ele pôs  Vasco da Gama a explicar  ao Rei de Melinde  onde geograficamente se situava o país donde vinha, lembrei-me subitamente daquela outra exposição geográfica, tão interessante, feita por Pessoa  :
                      A EUROPA jaz, posta nos cotovelos.
                      De Oriente  a Ocidente jaz, fitando,
                      e toldam-lhe românticos cabelos
                       olhos gregos  lembrando.

                       O cotovelo esquerdo é recuado;
                       O  direito é  em angulo disposto.
                       Aquele  diz Itália  onde é  pousado,
                       este diz Inglaterra  onde, afastado,
                       a mão sustenta em que se  apoia  o  rosto.

                        Fita, com olhar  esfíngico e  fatal,
                        o  Ocidente, futuro do  passado.

                       O  rosto com que fita...é  PORTUGAL.


Bom, mas isto foi apenas uma "gracinha" de que me lembrei, reveladora de  épocas, de personalidades, até de maneiras de amar !
Camões dizia assim ao curioso  rei de Melinde , pela boca de Vasco  da  Gama, os dois em frente de um mapa material, não esteticamente metafórico como o de Pessoa .
                 
                 Eis aqui, quase cume da cabeça
            de Europa toda, o Reino Lusitano,
            onde a terra se acaba e o mar começa
             e onde Febo repousa no Oceano...


             ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA
              á qual se o Céu me dá que eu, sem perigo,
              torne com esta empresa já acabada,
              acabe-se esta luz ali comigo !
 

Sabemos muito bem, dito em centenas de versos, assumido por uma tão aventureira vida, que o amor de Camões pela sua pátria era quase visceral e também sabemos que "tornou" enfraquecido e pobre tão pobre que "viveu de amigos",após o naufrágio e que o pagamento em dinheiro que lhe foi dado por Dom Sebastião, em recompensa de tão esplendorosa obra, chegou para ir quase que esconder-se a adoecer e morrer aos poucos, comendo as sopas que o velho Jau ia pedir de esmolas, sem ele saber... Quem viu um filme sobre a vida de Mozart deve lembrar-se da última cena em que se vê uma miserável carroça a transportar o corpo do músico e um cão  caminhando ao lado, solitário... Com Camões far-se-ia um funeral semelhante, tendo Jau no lugar do cão.
Aquele belo túmulo que existe no Jerónimos e os turistas visitam, não tem Camões nenhum. Nunca se soube dos seus restos mortais, tendo ainda por cima o terramoto de 1755 desmantelado covas e cemitérios e nunca se tendo mais sabido também do velho e fiel Jau.
Este dia de Camões parece fazer, em cada ano, que eu o ame e admire sempre um pouco mais. Pelas suas qualidades, pela sua humilde sabedoria, pelo seu desprendimento, pela sua arte, pela sua galhardia...E, acima de tudo pela maneira de  amar. A VIDA, AS MULHERES, O PAÍS .Morro com a  PÁTRIA , parece ter dito. na coincidência da chegada da governação espanhola. Pois eu acho que se pode dizer que alguma coisa da pátria morreu com ele para sempre !


            

            


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06 junho 2013

1 de junho - ALMOÇO em Santo Estevão

De tantas mudanças na minha vida, uma em que até já nem me lembro de pensar foi a dos passeios aos fins de semana, muitas vezes só ao domingo, para arejar pensamentos. esquecer os piores momentos da semana acabada, ou pura e simplesmente ver o  MAR...Eram pequenos passeios e o mais que podia apetecer-nos era parar num sítio onde pudéssemos tomar um café a olhar para uma vista repousante. Por vezes saíamos de casa já com um programa traçado e aí íamos talvez almoçar e um pouco mais longe, mas sempre com duas orientações dominantes :uma vista calma e uma não muito longa distância. Hoje conheço muita gente que troça deste género de "passeios de domingo". Passou de moda. As pessoas descansam de outras maneiras, às vezes cansando-se...
E a que vem isto ?
Pois a um almoço de sábado para que fui convidada e em que ,embora não fôsse para ver o mar, me senti transportada para emoções  parecidas a essas  tão antigas, calmas, amigas, repousantes .rodeada de atenções e cuidados postos em mim de maneira  a me fazerem sentir feliz, coisa que na minha idade vou perdendo o hábito de esperar...
Quem vai poder distinguir estes arvoredos, não sabendo nada de silvicultura ? Pois circulámos por uma bela estrada que segue do lado sul do Tejo por mais de trinta quilómetros sempre pelo meio de arvoredos de espécies variadas e de relvados( pastagens ?)  frescos, densos, tratados, deixando escapar-se,ao passarmos, os vultos de algumas construções, mas também de animais( cavalos, touros) Em suma : aqueles quilómetros todos. vivos e pujantes eram nem mais nem menos do que uma coisa enorme que sempre conheci pelo nome de Companhia das  Lezírias
Pois Santo Estevão com a amorosa casa que esperava por mim é encastoada em  arvoredos  desses, sonorizada por milhares de cânticos de tonalidades variadas, de milhares de aves que de todos aqueles espaços escolhem as suas preferências para nidificar  juntando-se a tudo o  perfume da multiplicidade de verdes, um cenário ideal para emoldurar pessoas que estavam felizes.
Não tinha eu então,no meio de tanta coisa boa, razão para voltar perto da noite para a minha casa, sentindo- me um mulher feliz  ?
Até porque a felicidade de quem fazia anos e dos que lhe prodigalizavam tamanha alegria, irradiava como o aroma  de  um fruto que colhemos e matou por esse dia a nossa sede de vida contente e em paz ! ! ! 
 

02 junho 2013

2 DE JUNHO


Escolhi as açucenas. E  brancas. Era a simbologia sim senhor, mas era também  o cumprimento de um sonho de adolescente. O que eu não sabia ou não lembrei, era que os estames amarelinhos polinizavam em amarelo, ao mais suave toque... imagine-se o que foi de riscos amarelos em todas aquelas lindas roupas de quem não queria deixar de abraçar  a noiva ! Mas depois lá ficaram elas aos pés da imagem de Nossa Senhora, cumprindo a sua missão de mensageiras  reverentes  e advogadas de todas as minhas "causas".
Começou ali, a partir delas, o desenrolar  de uma vida nova que antes eu não poderia ter conhecido. Foi há 66 anos !  Hoje também está um dia lindo e também faz  vento...Neste constante rolar da Terra, vamos passando pelos mesmos referentes, sempre tão iguais nesta nossa memória !   Nós é que já não somos os mesmos: com tantas circunvoluções o físico vai sempre se desgastando nas múltiplas fricções... Resta porém o sol, o vento, a açucena... e lúcida memória que dá, isso dá, um tom sempre mais dolorido á saudade...

Um casamento

Foi primeiro um namoro de seis anos. Depois foi sempre assim, sob sol ou chuva, sob calor ou frio...