30 maio 2007

50 anos de Televisão

A nossa televisão oficial fez,a seu tempo, uma enorme comemoração pelos seus cinquenta anos de existência e, quase de forma institiva, nós, os que a vimos nascer, os que esperámos por ela com um certo entusiasmo e muita expectativa, comemorámos com ela muita coisa que, nas nossas vidas, começou logo, logo, a estar-lhe relacionado, quer por coincidência de datas, quer por aquisição de novos hábitos, quer por, preto no branco, nos aparecerem ali visíveis, quase palpáveis, coisas por nós sonhadas, imaginadas, ambicionadas e, pensávamos nós ,ínalcançáveis.
Mas alegrava-nos, em todas as suas revelações, às vezes trazia-nos mesmo coisas para fazer rir, muito ingénuas , óbvias, simplórias até, algumas vezes brejeiras, sem grandes pretensões, segundo creio.Era a televisão das famílias simples. E tinha publicidade, pois tinha, com slogans musicais que mais ou menos todos iamos cantarolando de cor : "candeeiros bem bonitos, cheios de cor e de brilho, só os vendem com certeza os Duartes pai e filho". Até ouvi uma vez o meu Pai a trautear isto, ele que nunca cantava ! "O senhor está constipado e ficou mal de repente, porque não teve cuidado, porque foi imprevidente..." e anunciava-se uma coisa simples, para a garganta, creio eu... Ora aí é que começa o que me leva hoje a só abrir a televisão para programas que escolho de antemão, para ver noticiários em épocas que os justificam ou para ver primeiras apresentações de novelas portuguesas para "sopesar" o seu valor ou interesse que possam justificar o continuar a vê-las ou não.A nossa televisão dos dias de hoje, ATERRORIZA-NOS .vive a meter-nos medo de quase tudo. Do conhecido e do desconhecido, do suspeitado, do provável e do improvável.No que se come, no que se bebe, no sol,na chuva, no calor e no frio, no que se anda e no que não se anda, no que se ouve, no que se olha, em tudo isto se vão descobrir perigos de aquisição de terríveis doenças, de epidemias, de alterações de ADN ,de desmultiplicações moleculares, de morte mais ou menos anunciada à la longue...No nosso país ou no fim do mundo, se alguém tiver dor de cabeça, é porque já aí vem uma endemia, uma pandemia, e vão moorrer os velhos, logo à cabeça, e os bébés talvez...E depois isto é dito e redito a todas as horas e a todos os propósitos e despropósitos, assim como uma lavagem ao cérebro...Tiram-nos a alegria de VIVER,com tais e tantas previsões e prevenções, com constantes deambulações por HOSPITAIS, com câmaras e microfones em cima de doentes vários e a escutar médicos mais ou menos insignes que só nos aconselham a ir a outros tantos médicos para ver se... Isto é um verdadeiro cerco, um ataque à nossa paz de espírito, um aliciamento à insegurança e ao medo. Que saudades daquela televisão que nos permitia chegar a casa, caír no maple preferido,`as vezes tirar os sapatos e fazer uns grunhidinhos de satisfação, esticando o corpo, alargando o sorriso e ver no écran falar da chuva ou do bom tempo, sem dramas, porque cansados de dramas já a vida de cada dia nos traz e de que maneira !
Creio que há uma ideia de que a cabeça de cada um de nós ficará leve se nos derem um binómio
de assuntos que vai desde palhaçadas sem classificação a casos de justiça puros e duros,aparentemente sem solução.E nessa convicção entram então,em vez dos hospitais, os tribunais.E lá vêm os dramas contados e recontados, e lá vem a frase "tenho comigo o sr. X que
assistiu..." E o encavacado sr.X a dizer que não era bem assim...e por aí fora. Creio que esta incidência nos casos de tribunal será para nos obrigarem a fazer exercícios de lógica, como acontecia nuns antigos programas do INSPECTOR VARATOJO...
Não há mesmo dúvida nenhuma de que estes cinquenta anos nos mudaram muito.Nós, o Mundo, a Vida... Mas, se há também coisas boas, o que me parece é que, mesmo essas, são um bocadinho menos doces...direi mesmo, mais amargas...

28 maio 2007

Se se atender às datas verificar-se-á que fiz aqui um intervalo maior do que o que é habitual nas minhas" considerações registadas".E embora os intervalos nem sempre signifiquem mudanças. este corresponde mesmo a mudanças. Decidira não continuar a pertencer àquela geração a que certa publicidade se refere dizendo que está ou quer "assapar" até por me parecer que isso não é coisa para a minha idade, e mudei para uma empresa que alia o telefone fixo de casa ao nosso computador e me parece ser uma coisa mais "à séria", como também agora se diz. E, mais económica também, o que náo é despiciendo. Só que as alterações cumpriram certas fases e depois a minha saúde resolveu também fazer pausa e pôs-me a pouco mais que pão e água por alguns dias. E, num regime desses, nem sei se se pensa, quanto mais se se escreve...
Que dá para deitar contas à vida, isso dá. E acendem-se projectores mais ou menos potentes sobre zonas também mais ou menos escuras que, no nosso ritmo diário normal de "passar por", não chegamos a encarar. É bom. Fica muita coisa muito evidente. E uma certa irritação por não termos sidos atentos, na hora certa...

19 maio 2007

Superstição?

Serei mesmo supersticiosa ? Não devo sê-lo. Não quero sê-lo. Mas ... suspeito que, mascarada com aquele apego ao que é tradicional, está mesmo a superstição,em práticas inocentes que, se as não concretizo, me deixam, no mínimo, incomodada.
Aconteceu agora, na quinta feira da Ascensão.
Todos os meus amigos conhecem já a Valentina. É mais do que aquela pessoa a quem chamamos uma empregada. É uma amiga.Toma conta de tudo aquilo que eu, a pouco e pouco, vou deixando de poder fazer e também de tudo aquilo que ela entende que me é útil, agradável, consolador, e por aí fora. É alegre, disponível, sempre atenta,porque, quando não está na minha casa, telefona, quer saber se "já não me dói", se "não quero que venha cá" etc.,etc.. Ora no Dia da Espiga,durante a manhã em que ela esteve cá em casa, nem eu, nem ela nos lembrámos desse velhíssimo "hábito" de adquirirmos um bonito ramo cheio de simbolismos, nesse dia. Quando eu mais tarde me apercebi da falta, fiquei incomodada. Mas já não podia fazer nada. Os tais raminhos, vendem-se pela manhã nas paragens de autocarro e pouco mais. Uma estranha
sensação de perda não me largava...
E não é que, às oito e tal da noite me aparece a Valentina, toda risos e divertimento, empunhando um belo ramo de Espiga e brincando comigo, como faz muitas vezes ,"desta vez a Senhora esqueceu-se mesmo !..."
Deste tão encantador gesto e da minha tão reconhecida alegria naquele momento, nasceram vastíssimos planos de interrogações que se estão ainda prolongando e me fazem reconhecer quanta coisa há para destrinçar nos nossos comportamentos afinal tão misteriosos...

15 maio 2007

Para não esquecer o meu latim

CREDO
Credo in Deum, patrem omnipotentem,creatorem caeli et terra. Et in Jesum Christum filium ejus unicum,Dominum nostrum, qui conceptus est de Spirito Sancto, natus ex Maria Virginis, passus sub Pontio Pilato,crucifixus,mortus et sepultus est; descendit ad inferos,tertia die ressurrexit a mortuis, ascendit ad caelos, sedet ad dexteram Dei Patris omnipotentis, inde venturus est judicare vivos et mortuos. Credo in Spiritum Sanctum,sanctam ecclesiam catholicam, sanctorum communionem, remissionem peccatorum, carnis ressurrectionem, vitam aeternam.Amen

13 maio 2007

Fátima

Milhares de luzes. Milhares de lenços brancos.
Cada um não podia aperceber-se da grandiosidade do conjunto.Era UM, no meio de muitos mil...
Por isso o culto da nossa religião se presta em comunidade. Por isso o nosso aprendizado fundamental é o da humildade. Por isso o nosso comportamento social é o da solidariedade.
Porque em cada UM, quanta dignidade!...

09 maio 2007

Robert Schuman e Jean Monnet

Seria uma coisa de estranhar que, havendo actualmente dias votivos para tudo, não houvesse um para celebrar esta realidade chamada EUROPA e cuja definição me parece tão difícil de elaborar. Pois é hoje, o tal DIA da EUROPA. Ouvi no noticiário da Rádio.Nunca me esqueci, nem esquecerei daquela figura carismática,sempre vestida de escuro,esguia,calva e de nariz agudo que anunciou a constituição da Comunidade do Carvão e do Aço em 1950, o senhor Robert Schuman. A Guerra ainda nos estava tão próxima, eu tinha acabado de vir de Londres onde ainda havia tantos daqueles tapumes que cercavam a enorme cratera que fora um bairro inteiro, e uns senhores chamados Schuman e Jean Monnet estavam a preocupar-se em arranjar mecanismos para fortalecimento de uma Europa onde não voltasse a ser possível acontecer tamanha calamidade.Jean Monnet congeminou mesmo a ideia de uns Estados Unidos da Europa, sendo Schuman partidário de uma política inspirada na Doutrina Social da Igreja, e Monnet o economista por excelência. Dos trabalhos de ambos foram nascendo esboços e aparecendo projectos que entusiasmaram muitos europeus. Parecia-nos que a tal realidade Europa seria a garantia da concretização de muitos sonhos. Caberá aqui falar em UTOPIA?.
Foi então no dia 9 de Maio que Schuman nos apresentou um primeiro modelo de UNIÃO,cujo texto inicial havia sido redigido por Monnet. E esta Europa que hoje temos começou por aí.
De 1950 a 2007, seria exequível manter os pressupostos de então ?

06 maio 2007

Dia da Mãe

Mãe de todas as Mães,
Nossa Senhora !

Não que para falar~te
haja um dia, uma hora,
mas hoje apenas vim para acolher-me
ás dobras do teu manto,
na dor de recordar
as Mães que não perdemos
pela saudade,
e As outras, As de agora,
deste inquietante mundo
de filhos tão dispersos
tão diversos,
( tantos cuidados, dor,
inquietações ou lágrimas de glória )
mas Filhos muito amados
teus, também...

Só por laços de amor
vim suplicar-te agora,
Mãe de todas as Mães,
Nossa Senhora !...

01 maio 2007

1º de MAIO

Veio o primeiro 1º de Maio, depois da revolução.
Uma mole imensa de povo veio para a rua, nesse dia !

Todos se falavam, muitos se abraçavam, mesmo sem nunca se terem conhecido
E riam alto, e cantavam, formando rapidamente grupos espontâneos . Surgiam de todas as direcções, sendo, no entanto, o estádio da avenida Rio de Janeiro o grande polo de atracção porque era aí que estava programada a enorme concentração, em que os dirigentes dos partidos dos “trabalhadores” iriam aparecer juntos e em pessoa para falarem àqueles cujo DIA se festejava...No entanto, era tal a multidão que, às tantas, já se não conseguia entrar sequer no estádio. E então, como lava escorrente de qualquer cratera, deslizava pelas ruas...Atravessou Lisboa, em cortejo, uma faixa da largura das avenidas, apenas com a palavra LIBERDADE preenchendo toda a sua área. Era de tal forma majestática e conduzida com tal andamento de pompa, que não havia quem não experimentasse uma certa forma de emoção, vendo-a passar.
Não houve uma briga, um desacordo, em todo aquele dia. Lágrimas sim ! Viam-se muitas em rostos de pele seca com olhos pisados e expressões tensas ; deslizavam sem controlo possível, tal como aquela LIBERDADE que parecia escorrer e ia vindo ao encontro de todos nós...

Era uma enorme emoção colectiva !
Por isso se gritavam slogans copiados de revoluções estrangeiras, na convicção de que o povo seria quem iria passar a ordenar.
O certo é que, nesse dia, ninguém pensava que, conquistada a possibilidade de se viver em democracia, os homens da Revolução , e os outros, iriam mostrar quão difícil é aprendê-la.