25 abril 2011

25 de ABRIL




A soma dos dias 24 e 25 de Abril é para mim uma das piores operações de toda a matemática que, a partir de certa altura, passou a ser estruturante da minha vida. Misto de dores e alegrias, lágrimas e recordação de gritos de alegria pela primeira vez ousados, em plena rua, há uma espécie de cansaço que por demais me vai inibindo, agora. É como se os sentimentos doessem...Como se só o pensamento chegasse para viver, ou a memória... e o silêncio das coisas...

Bem , só ganhei hoje coragem para reler coisas que já escrevi, nos meus livros, nos meus blogs..

Por exemplo, há quatro anos deixei num post coisas do Sementes e Frutos, com fotografias feitas pelo meu marido no 25 de 74. Soube-me bem ir reencontrar-me lá...E para hoje, apenas mais um sinal :um grande, simbólico e radioso presente que me trouxeram logo de manhã, muito cedo, refrescante , a explodir de alegria ali e agora a encher-me a casa, partindo de uma grande jarra bem no centro da sala...

24 abril 2011

24 de Abril e também Domingo de Páscoa


DO AFAGO


Do afago, a memória, o arrepio, a mistura da pele e o sentimento. Sempre, lá bem no fundo, o ser carente ! Sempre, seja animal ou seja gente, fica aquele cordão umbilical...Um milagre da mão que tocou docemente, modificando, só pelo tocar, toda a deriva de uma certa história...

22 abril 2011

Sexta-feira santa

De ALEXANDRE HERCULANO: amo-te ó cruz... ... ... quando junto ao cipreste alvejas...

Fotografia tirada por mim em Fátima, no Calvário dos Húngaros

21 abril 2011

Quinta-feira da Semana Maior

Era uma devoção, não sei se um preceito, mas surgiu hoje na minha memória com uma doce e triste sensação de saudade : neste dia de quinta-feira santa costumava ir com a minha Mãe fazer o que se chamava "visita" a sete igrejas que, embora já prontas para a celebração da ÚLTIMA CEIA, estavam de portas abertas para receber estas visitas dos fiéis. Cresci e não me apercebi de quando é que essa prática começou a ser abandonada. Nunca mais ouvi que isso se fizesse em alguma parte. E, perdida a recordação, também foi perdido o interesse por procurar saber a razão daquele costume. Era também um acto social em que as pessoas se encontravam e lembro-me das pequenas conversas já fora da igreja, claro, tal como hoje à saída das missas.
Passado que foi o tempo da introdução nos actos de culto, pela mão dos pais, sucederam-se-me tantos anos de altos e baixos na minha relação com o DEUS da minha iniciação cristã !
Mas uma Fé mais adulta, posso dizê-lo, foi-se sedimentando, graças a muitíssimos e de várias naturezas , os tipos de"ingredientes" de onde também não ficou de fora o estudo e o querer saber...Por tudo isto, estando atenta, acabo muitas vezes por encontrar, quando menos espero, mais um tijolo para este meu edifício sempre em construção...
Hoje, no jornal que leio habitualmente, um jurista ( Pedro Lomba ) falou-nos de forma quase técnica sobre o "processo" de Jesus, pondo o enfoque principal nos esforços feitos por todos os que nele entraram para incriminar aquele que na verdade apenas queria que compreendessem que o "mundo" dele era outro, não tendo conseguido nunca ser compreendido. E de tal maneira essa dificuldade é a pedra base de todo este drama revivido agora por nós cristãos, que o jurista só pode concluir ( e nós com ele ) que «a nossa relação com o processo de Jesus é e continua a ser, em grande medida, a relação de quem não compreende» E nesta perplexidade cada vez desejamos mais esse outro Mundo, desencantados com o que temos e entendemos...

17 abril 2011

Domingo de Ramos


Quando em Jerusalém o povo, na rua, cantava louvores, dansava, gritava e agitava ramos de palmeira para festejar a chegada de Jesus que assumidamente subira à cidade montado num burrico e rodeado de discípulos, a alegria geral era tão esfusiante que irritou os fariseus e aqueles que o podiam fazer ordenaram a Jesus que fizesse parar e calar todo aquele alvoroço. E qual foi a resposta de Jesus? Se eu os mandasse calar, estas pedras falariam por eles...

Precipitou-se depois deste dia toda a quase inacreditável tragédia que levou Jesus à morte sem julgamento e por imposição dos testemunhos daquela mesma multidão que antes o havia gloriado. Não se ouviu mais falar em cantos e danças durante muito tempo, mas creio bem que as tais pedras guardaram em si sonoridades daqueles laudes de um dia e, logo que foi possível ,repercutiram em música esses antiquíssimos ecos. Desde imemoráveis épocas monacais os cãnticos acompanharam a liturgia e estimularam as sensibilidades dos fiéis. Por isso eu descubro encantada que um programa religioso da net dos nossos dia-a-dias pensou em convidar uma maestrina portuguesa para nos trazer Bach, Haendel e Stravinsky como fundos musicais das nossas orações de agora e que, coincidência ou não, se cria `na cidade, neste tempo de particular meditação religiosa cristã, um laico e popular conjunto de concertos a que se dá o nome de Dias da Música, onde, numa didática de difusão de géneros, se dá possibilidade a todas as associações de sensibilidades conformes ou não com a espiritualidade de cada um de nós. Portanto, eu creio firmemente que as pedras ficaram mesmo a desempenhar a incumbência que lhes atribuiu Jesus naquele Dia de Ramos e falam-nos á sua maneira, numa linguagem espiritual ,principalmente quando há quem deseje que nos calemos...

16 abril 2011

Uma das muitas coisas que não vieram a acontecer como eu esperava ( leia-se imaginava ) quando me reformei, e aliás deixei bem vincada essa esperança na introdução - quase justificação - do meu livro VIVER, foi a transformação da durabilidade do decorrer dos dias. Agora, como dantes, o tempo voa, as unidades métricas deste sistema pós-laboral são afinal tão curtas e voláteis como as anteriores e, sem muito bem percebermos como, damos conosco a ter vivido mais mês sobre mês, mais ano sobre ano. Isto para dizer que, num abrir e fechar de olhos, vejo outra vez chegado o Domingo de Ramos. De como vivi toda esta Quaresma não entendo que seja matéria para aqui e agora. Mas vivi-a. Não voou com o tempo. E é até por isso que hoje, que não é nada mais que o sábado anterior ao dia dos RAMOS, eu senti necessidade de registar um facto que ficou a martelar na minha cabeça como em outras quaresmas não ficara nunca. É que, diz São João-cap.Xl- após a "enormidade" da ressurreição de Lázaro, a figura, os gestos, a presença de Jesus se agigantaram de tal maneira que os pontífices e os fariseus compreenderam o "perigo" que aquele homem representava para o seu mundo e « desde aquele dia tomaram a resolução de o matar ». Nasceu pois ali aquela brutal torrente de acontecimentos que galgou por cima de todos os actos de amor, devoção ,humildade,e honestidade arrastando no seu caudal toda a brutalidade que veio a abater-se sobre aquele a quem também chamamos cordeiro pela fórma como foi por fim .imolado. Repetir tudo o que me veio à cabeça sobre como se tecem destinos a partir de um quaquer critério e como daí podem advir julgamentos farisaicos, sem se cuidar do que eles podem trazer ao mundo, não é também para ser feito aqui e agora. Amanhá é o dia em que a espontaneidade do povo vai ovacionar Jesus. Com esse povo vamos também estar...

08 abril 2011

Marta e Maria , as novas vizinhas

Já é conhecida por todos os meus amigos a teoria que defendo sobre o que eu própria classifiquei de vicinidade.Não se pode negar que os vizinhos que habitam sob o mesmo telhado que eu, que entram pela mesma porta principal no acesso a suas casas como eu, que usam as mesmas escadas e patamares que eu, e tudo isto ao longo de algumas dezenas de anos, constituem comigo,dentro da nossa cidade, do nosso bairro, da nossa avenida ou rua, uma célula social bem definida, para começar, sendo depois de entrar em linha de conta com todos os factores sentimentais e de sociabilidade que acabam sempre por uni-los mais ou menos uns aos outros conforme as suas regras educacionais, culturais ou pura e simplesmente convivenciais e de carácter. É assim que vivendo eu num prédio (a alturas tantas transformado em condomínio) há mais de cinquenta anos, não posso, num mínimo de humanidade, alhear-me das pequenas alegrias ou grandes tristezas que têm perpassado ao longo das vidas das famílias cujos corações quase oiço bater ao meu lado... Já morreram alguns. Entretanto vieram outros para os espaços que esses deixaram abertos. Houve obras, modernizações,mas os mais velhos foram ficando sempre iguais a si mesmos, acolhendo os mais novos recém-vindos com prazer e curiosidade pela novidade...Jovens casais a tornarem até o prédio mais alegre, mais vivo... Tão vivo que acaba um deles de dar a este mundo a beleza maior que é uma nova vida. E não uma, mas duas ! Pois é : agora temos duas novas vizinhinhas, uma chamada Marta e outra de nome Maria. Uma alegria ! Um refrescamento ! Um credo na Vida ! Uma Primavera a brotar de facto, muito mais eloquente do que milhares de rodriguinhos literários...Teve Jesus duas amigas, irmãs de Lázaro, que também se chamavam assim. E Ele as acompanhou e deu provas públicas de quanto as estimou sempre, com o seu Amor que náo era como qualquer outro. Oxalá seja também um Amor assim que acompanhe estas duas minhas novas vizinhas que ,para já ,são símbolo das alegrias quase pascais de que todos estávamos a precisar...

02 abril 2011

...da alegria

Há mesmo uma atmosfera de ausência de alegria ou sou apenas eu que a cultivo e a deixo envolver o meu mundo ? Mas sou capaz de jurar que ando à procura do que pode parecer-se com aquilo que me trazia sempre pronta a um "bon mot", um bom sorriso ou mesmo uma boa gargalhada. Nos jornais, nas revistas, nos programas de televisão que anunciam humor... E nada ! Olho-os através das minhas lentes, será por isso ? A notícia, o comentário, o improviso que nos chegam começaram entretanto a ser por mim classificados dentro da respectiva capacidade de ou me ralarem muito, ou me assustarem apenas ou de terem em si mesmos uma certa carga de tristezas antigas que até se transformam em memórias carinhosas ... E mais não posso fazer para aguentar-me à tona desta maré invasiva de desencanto que, qual tsunami, arrasta comsigo TUDO o que era alegre e/ou nos dava a alegria de viver q.b Sei que há alguns que não conseguem sequer o esforço da tentativa... Que nos salve a esperança que nos vem pela Fé! Hoje, lembrei João Paulo II que morreu num 2 de Abril, e o seu exemplo de vida, rememorado ,proporcionou-me um dos tais momentos carinhosos que ajudam dulcificar muito do que nos amargura...