31 outubro 2006

Memória


Usos e costumes dos Estados Unidos que sempre foram suas tradições, têm sido,aos poucos,adoptados por nós, europeus, sempre fascinados pelo que vem de "alhures" ou então farejando negócios e lucros de que não nos podemos descuidar.É assim que eu vejo o aparecimento do Dia dos Namorados( que não existia quando eu namorei),a Noite das Bruxas ou Halloween e até o que já se vai imiscuindo Thanksgiving Day. Certo é que o Halloween parece ter feito a travessia do Atlântico primeiramente de leste para oeste,pois, pela sua origem céltica,teria acompanhado os emigrantes irlandeses do século XlX. Mas porque falo disto hoje? Hoje,Noite das Bruxas? Pelas máscaras, pelas abóboras recortadas,pelas recolhas de doces pelas crianças? Nada disso.
Porque esta "embruxada" data me fere e dói sempre da mesma maneira em cada um de tantos anos de solidão que se vão sempre repetindo...
Era no tempo da Guerra.Creio que pela presença de tantos americanos na Europa,essa festa apareceu entre nós,trazida por eles.Para mim,antes dessa época,era algo que nem existia.
E,coincidência de datas,nesse dia, nessa noite,festejei com alguém,pela primeirs vez,
o seu dia de anos que nunca mais deixaríamos de festejar durante cerca dos trinta
anos seguintes, os anos de todas as minhas memórias felizes...
Embora a nossa festa nunca tivesse tido nenhuma intromissão estrangeira,eu,anos passados, nunca deixo de"ouvir"aquele "...pero que las hay,hay."
Que não me abandone a FÉ e recuperarei àmanhã a alegria que ela me ensinou a retirar,
mesmo das minhas mais saudosas recordações...

29 outubro 2006

26 de outubro

de JUAN RAMON GIMENEZ
Cancion de Otoño

Por un camino de oro van los mirlos... Adonde '?
Por un camino de oro van las rosas... Adonde ?
Por un camino de oro voy...Adonde otoño ?
Adonde pájaros y flores ?...

24 outubro 2006

CATS


Os ingleses trouxeram mais uma vez os seus CATS a Lisboa.A minha paixão pelos gatos não permitiria que agora os perdesse aqui, como já tinha acontecido antes. Vira-os em Londres,haverá aproximadamente uns vinte e tal anos e reencontrei-os agora.
Diferentes como não é de admirar.Menos peles a tornarem os seus corpos roliços e fofos,ausência daqueles telhados velhos e assimétricos,substituidos aqui por enormes pedregulhos constituindo grutas entre si;arrisco-me a dizer que os muitos recursos à modernidade da electrónica não me pareceram trazer muitas melhorias ao trepidante da acção ou ao romântico de certos momentos que os excelentes cantores souberam tão bem transmitir.Na hora do " the time I knew what happiness is " foi realmente uma espécie de magia que se derramou sobre nós todos que éramos muitos naquela enorme plateia do COLISEU...São dois momentos inspiradíssimos que tocam os corações latinos ! E eu, como característico da minha idade,não consegui evitar o assomo da lágrima...Aliás, se virmos bem, toda aquela história vem carregada de coisas que doem aos velhos...Memories...Só mesmo o fofinho dos gatos terá comsigo esta carga ternurenta que nos amima quando já mais ninguém está perto para o fazer.
Não se imagina como se tem saudades daquilo que representa a serenidade do nosso gato enroscado no nosso colo, a dormir...A segurança,a paz...Também magoa, na vida, perder-se o "nosso" gato...Coisas minhas!

18 outubro 2006

Do LIVRO da MINHA SABEDORIA

Não ! Não quero que venham nunca mais,
com ar de quem dá esmola,
dar-me a mão.
Eu não sou a que pede,
a que suplica,
e a minha fome nada significa
no vosso dicionário de ideais.


Por que estranhos caminhos sinuosos
andam essas esmolas que me dais ?


Conheço bem palavras e sorrisos
com que,nas minhas costas, me matais...

( hipocrisia? ou só irreflexão ?)


...Quero enterrar meus dentes noutro pão
que me saiba às certezas que ignorais...

13 outubro 2006

Fátima

Hoje, Fátima.
Nunca fui a Fátima a pé. Nunca tomei parte em peregrinações organizadas.
Mas vivi em Fátima,por minha vontade, em vários períodos da minha vida. Em férias, por um mês, mais de uma vez. Em Natais e Fins de Ano. Em verões. Pela época de Todos ds Santos . Pelo meu aniversário.Sempre que posso...
Em menina,íamos de charrette,ao trote de uns cavalos elegantes que nos levavam com toda a comodidade; e era uma alegria de viagem por entre pinhais muito aromáticos e húmidos. Ás vezes acontecia chover e tudo se tornava mais difícil. Houve mesmo, de uma das vezes, um terrível problema: as elegantes rodas da charrette atolaram-se na lama até metade, o que significa que só se desatolariam puxadas e sem passageiros a fazerem-lhes peso. Lá foi preciso virem "salvar-nos", com grandes ralações para a minha Mãe e com grandes ataques de riso para mim e para as primas que iam connosco. Fátima era então um local lamacento com acessos por estradas poeirentas,se era verão, e cheias de poças de água e pedregulhos, quando a chuva não era tanta que criasse o tal lamaçal...
Quando agora me acolho em estalagens confortáveis ou nas CASAS das Religiosas que nos recebem com todos os saberes da hotelaria moderna, lembro-me das noites enrolada numa manta, com aquele friosinho da madrugada do alto da serra, encolhida contra o muro da Capelinha... Era bom ! Sempre senti, e continua a acontecer-me, que se respira leve em Fátima.
Que se medita com suavidade. Que é outro aquele mundo de perfume de estevas e alvoradas arroxeadas em céus por onde reboam os sinos , como voos de ave...A experiência de ver chegar o dia naquele espaço aberto, quase só nosso, quando não há senão a sugestão de um infinito puro
e o ressoar longinquo de pequenos ruidos a lembrar-nos o mundo, é inigualável, única...
Quero muito acreditar que, por se ter tornado "altar do mundo",não se tenham perdido as marcas dos meus pés que deixei na antiga e humilde lama, hoje tapada com o asfalto, porque esses eram os pés da minha ingénua e incipiente convicção de que a SENHORA me inspiraria para vir a ser uma grande mulher, no meu país ,que era então o meu único mundo.
Hoje, que sei o tamanho do mundo, sei também que sou apenas aquela mulher que continua a ser a dona desses pés...

08 outubro 2006

Do Livro do Génesis

«Não convém que o Homem esteja só» disse o Senhor Deus depois de o ter criado.
Entra-se assim nas Leituras próprias da missa do dia de hoje,a partir do Livro do Génesis. E depois o Senhor Deus trouxe várias possíveis companhias às quais o Homem foi atribuindo nomes para depois as conhecer,animais de toda a espécie...Só que a nenhum o Senhor Deus deu a capacidade de ser semelhante à sua primeira criatura num total de corpo e espírito que permitisse "entenderem-se" completando-se. E então criou a Mulher, do mesmo "material" de que era feito o Homem.E perceberam que eram de tal forma feitos um para o outro que passariam a ser um só, deixando mesmo Pai e Mãe para se unirem indestrutivelmente.
Já no Evangelho,da autoria de São Marcos, é Jesus quem explica aos fariseus que só a "dureza"dos corações deles os levara a admitir e permitir a separação daqueles que o Senhor Deus fizera "carne da mesma carne".
Sei que não é tempo, agora, de sequer se lançar qualquer discussão sobre a indissolubilidade do casamento cristão.Quanta água correu sob quantas pontes !!!
Mas encanta-me a singeleza, a pureza, a ingenuidade do GÉNESIS...
O Senhor Deus sabia quanto pode ser perniciosa a solidão. E tudo fez para desqualificá-la, considerando, isso sim, que é "conveniente" a companhia.
Mais uma vez me comovo por saber que, por aí, Deus também pensou em mim !...

01 outubro 2006

Por causa da TLEBS

...E agora vamos dizer aos rapazes e`as raparigas que "o poeta é um fingidor..." que "tudo vale a pena se...", mas que "têm que passar além do Bojador" para "passar além da dor"... É assim que tudo começa,mas servido com a especialmente recomendada TLEBS. Tenho uma certa desconfiança de que vai ser este o BOJADOR e não me parece que alguém vá "fingir que é dor" a primeira abordagem a este cabo... Quero,com muita força, que os que agora começam não se desencorajem nem se desencantem da belíssima realidade que é a poesia escrita nesta nossa tão musical e sussurrante língua portuguesa.Quero tanto que a amem que até tenho medo de não ser capaz de lhes mostrar o caminho desse amor... Creio que cada vez mais( mas desde sempre ) o ser humano precisa de uma relação apaziguadora com o mundo, com o cosmos, com o desconhecido, e essa relação só lhe será possibilitada através da beleza...Porque não da beleza de uma língua que a poesia pode tão bem modelar ?
E agora, se continuássemos, daqui a pouco aparecia-nos por aqui Platão ou Aristóteles...