31 agosto 2008

São Paulo

Da Epístola de São Paulo aos Romanos, hoje :

Não vos conformeis com Este mundo ! Transformai-vos pela renovação da vossa própria mente !...

28 agosto 2008

Chuva de Verão sob um olhar antigo


Houve um único dia durante as minhas férias no campo que,depois de sempre com sol e quase sempre com vento, amanheceu sombrio e calmo,nuvens baixas sem descontinuidades, todas as cores da paisagem ensombradas por uma espécie de patine poeirenta,ficando o lençol de água do lago com a aparência gelatinosa e grossa de uma qualquer água de valeta... Da beleza que a luz acrescenta às coisas, se dúvidas tinha, ali tinha uma prova que mas tirava. Não tive porém nenhuma dúvida sobre a altíssima tensão a que a Natureza fica sujeita sob uma prolongada sequência de dias não só soalheiros, mas de calores muito intensos. Apesar de descolorida e baça, a vegetação parecia em repouso e no ar espalhou-se mais forte uma mistura de aromas frescos e identificáveis separadamente...Quando, quase a medo,caíram as primeiras gotas muito grossas de uma chuva que viria a tornar-se copiosa, pareceu-me que estava consumado algo como um encontro desejado de longa data...
A ver chover lá fora e com todas estas "impressões" gravadas, não demorou muito que não traduzisse tudo assim :


Hoje, sem ninguém esperar, cobriu-se o céu
e uma poeira ténue, acinzentada,
veio cobrir de manso, como um véu,
a paisagem que há muito era dourada.

Voluptuosa, a Terra estremeceu
sob a carícia meiga e inesperada.
Cheia de sede, sôfrega, bebeu
ébria,fora de si, transfigurada.

Foi distendendo os ramos, saciada,
cada árvore, cada planta, cada flor...
E à noite veio a calma perfumada,

húmida, densa, a recordar calor.
No ar, o aroma da terra molhada
será que entoava uma canção de amor ?...

25 agosto 2008

Jogos Olímpicos na China

Como certamente alguns milhares de portugueses, ontem, porque foi domingo, fim de férias e até fim de muitas outras coisas, sentei-me frente ao televisor SÓ para ver televisão. É muito raro fazer isto. Faz-se sempre qualquer outra coisa, enquanto no televisor escorre também qualquer coisa. Não ! Não pertenço àquele grupo de pessoas que não gostam que os outros saibam que elas vêem televisão. Eu vejo televisão. Quando sei que há para ser vista alguma coisa que me interessa ou me apetece ver. Sem complexos de culpa, sem medos de que me classifiquem de qualquer coisa menos honrosa para as minhas qualificações intelectuais, sociais ou até morais. Mas, como disse atrás, raramente estou sem me ocupar de alguma maneira física, isto também dependendo do valor que atribuo ao que surge para ser visto.
Assim, então, ontem quis ver o encerramento dos Jogos Olímpicos . Porque tinha visto as cerimónias da respectiva abertura, e ficara boquiaberta com tanto dourado, tanto prateado, tantos jogos de luzes, tantos vermelhos, tantos amarelos, tantas pessoas, tantas,tantas... Que cantavam em sons guturais agudíssimos, que dançavam em ritmos envolventes e inesperados ... Tantos, tantos, tantos...E ENTRETANTO tinha-se gerado um verdadeiro mundo quase surreal de vivências desconhecidas para mim, como para tanta outra gente, em que aos personagens se exigia apenas esta simples coisa : que fossem heróis. Ou talvez semi-deuses...Vi-os, espalhados por vários noticiários, a rir ou a chorar, tensos, gloriosos ou desiludidos e não me foi possível esquecer alguns daqueles esgares, durante muitos dias. O MEU mundo estava realmente a ser confrontado com algo que o abalava !E se eu já tinha convivido com notícias de Olimpíadas ! Com a minha idade...Porém, tinha posto na balança das minhas expectativas aquele meu gostinho curioso pelas coisas orientais, por aquela poesia tão capaz de sintetizar os mais complexos sentimentos em cinco ou seis sílabas das quais nós, ocidentais, ainda não sabemos se entendemos tudo...Pensava na leveza dos desenhos, na frescura dos temas... e tudo me saiu pesado e denso para uma forma agora tão dura e tão nova de se estar em qualquer forma de vida !
Foi por isso pois que quis, ontem, ver uma outra cerimónia.Para me certificar.
Hoje reli alguns dos meus poetas chineses.
Agora só tenho que procurar esquecer o drama que adivinhei através de algumas lágrimas difundidas pelos telejornais. E porque não lembrar mais vezes o sorriso bonito daquele português que nasceu longe e voltou da China, feliz ?
É tudo uma questão de equilíbrio de valores. Ou não?

20 agosto 2008

Regresso


Voltei ! Após quinze dias passados em casa de amigos, onde me sinto tão bem, aqui estou de novo no meu canto que não é mais do que, como dizia RÉGIO, ... aquela casa singela à qual quis ( e quero) como se fora feita pra eu morar nela... Terei muito que contar, do muito que vi e meditei, mas hoje apenas quero marcar presença . E mostrar um pouco do ambiente natural que me envolveu e no qual me apeteceu tantas vezes poder diluir-me...

03 agosto 2008

Do Livro de ISAÍAS, hoje

Porque dais dinheiro por aquilo que não é pão
e o produto das vossas canseiras por aquilo que não sacia ?

02 agosto 2008

Fait-divers

Pela manhã, cedinho, entre o segundo ou terceiro golo de café e a primeira dentada no pãosinho fresco, a bomba : acabam de assaltar o primeiro andar, aqui por baixo de nós...agora, agora mesmo...entraram por esta janela que estava aberta, levaram uma mochila que estava em cima da mesa e o telemóvel que lá estava perto...
Não é fácil de descrever o que se sente numa situação destas. Mas...agora? Aqui, mesmo por baixo da mesma janela que eu também tinha acabado de abrir...Mas como, se estas salas são viradas para os quintais dos prédios que, aqui são mais fundos do que o nível da rua que passa ao lado, se todo o perímetro de quintais está marcado por vedação de redes novas, sem rupturas?... Então só podia ser um ladrão ágil, jovem, leve, porque,`além de pular de alto teve ainda que trepar pelo gradeamento que protege as janelas do rés-do-chão, o que lhe forneceu a base do salto para cima,com que alcançaria a janela aberta do primeiro andar...Atropelam-se as conjunturas, uns vizinhos vêm à escada, fala-se tudo, mas...e os assaltados ? Um jovem casal. Primeiro chamaram a polícia que veio logo,porque a esquadra é pertíssimo, e foi a presença dos polícias na escada que levantou o burburinho... Depois, muito à pressa,já de saída para declarações na esquadra, falaram com alguns de nós enquanto desciam... E ficou a pairar para mim : mas como saíu o ladrão ? Viram-no ? ... Ninguém soube mais nada. E todos ficámos amedrontados, cada qual a pensar nas suas melhores soluções de defesa.
Durante todo o resto do dia se ficou a congeminar no como e quando e porquê e ...e...e...
Era noite quando o casal regressou e, por respeito, ninguém mais os procurou. Sabia-se que eles não tinham outro telefone senão o móvel que lhes fora roubado, por isso, nem telefonar era possível. Não sei também explicar como é que só no terceiro dia depois do assalto conseguimos falar com os assaltados.Já haviam recuperado os seus cartões que iam na mochila e que foram encontrados pela polícia, já tinham conseguido um novo telemóvel ao qual foi atribuido o número do anterior e com imensa calma, mas revelando muita apreensão, explicaram que haviam deixado as janelas abertas, durante a noite,por causa do calor, que dormiam e só foram acordados pelo bater da porta para a escada, por onde afinal o assaltante saíu sem ninguém dar por isso. E ficámos sabendo que o tal "agora", "agora" de cerca das nove da manhã do burburinho, fora provavelmente aí por entre as seis e meia e as sete horas da manhã...
Todos os vizinhos ficaram com esta realidade bem presente: janelas abertas são uma sedução para quem veja que pode entrar por elas, sair de nossas casas sem ninguém se intrometer é também sempre possível mesmo sendo-se ladrão. Vamos acautelar-nos mais. Foi uma grande lição !