30 novembro 2008

Natal- preparativos

Paro aqui e agora para descansar um pouquinho da minha outra escrita mais densa e um tanto ou quanto enervante, vá-se lá saber porquê...Há talvez já uma semana que as nossas vidas, de todos, grandes e pequenos, mulheres e homens, entraram em aceleração e isto é uma coisa que me irrita e que me incomoda. Porque todos os anos digo a mim mesma que nunca mais caio nesta e afinal lá me vejo eu arrastada na enxurrada das combinações, das exigências, das datas concorrentes ou coincidentes, das coisas que é preciso fazer... A minha máquina de lavar a roupa, quando está quase a encerrar o programa, põe-se a fazer um enorme barulho surdo e a acelerar as rotações estremecendo toda ela violentamente. Não é problema nenhum, já mo disseram mais do que um técnico: é feitio dela ! ! ! Ora eu comparo- me a ela . Resmungo, canso-me, desorganizo-me tanto que, se paro ... até rio de mim mesma. Porqe me lembro da máquina...
E então é tudo isto porque aí vem a época do ano mais louca em despesismo, não despesismo só de compras, mas de convites, de encontros, de espectáculos, de visitas...Tudo, tudo o que o ser humano é capaz de inventar só para mostrar( e até acreditar) que não está e que o rumorejar do mundo à sua volta é a melhor desculpa para que se não encontre a sós com ele próprio o que seria afinal a melhor coisa que a época doNATAL poderia proporcionar a todos nós, uma vez que comemora o início de uma cultura judaico-cristã que nos veio dar a noção de que, sendo humanos, temos a maior das dignidades, por também sermos divinos... e que isso nos dá deveres de outra ordem.
Estou já a ouvir daqui os arautos da solidariedade, os amigos dos pobresinhos, sem abrigos, sem roupas, sem brinquedos, sem comida, e estou a pensar neles ,nas suas férias na Tailândia ou em Cancun mesmo que a época seja de trabalho para todos,nos queijos que só comem se forem de certo país ou nos vinhos que só bebem se, se, se... ou nas roupas que só aguentam se, se, se...
Como aguentaria ele, ser humano, perder um oportunidade destas para se mostrar e ser visto?
Não querendo entrar por aí ( que até é por onde vou tendo também amigos) volto `a minha ideia inicial sobre a acumulação de solicitações todas guardadas para esta época, porque ( é sabido desde o antigamente), ISSO tem que ver com a calculada maior abundância financeira ( os subsídios) e a maior predisposição de cada um para fazer gastos extraordinários. Claro que há lindíssimos espectáculos, os do La Feria, o Quebra Nozes,os modernos bonecos da tv transformados em personagens vivos e no gelo, os excelentes concertos das paróquias, e tantos outros de revisão e de saudade! Por exemplo, o do Carlos do Carmo...Este a provocar-me até um tão grande nó na garganta,pela recordação de certos momentos !.Éramos todos tão novos e ainda tão crentes nos poetas e nos sonhos !... É também agora a grande época das colheitas em Literatura. Multiplicam-se as "apresentações"do que foi sendo "cultivado" durante todo um ano, ou mais, qual delas com o apresentador mais "in", no momento, e com os mais originais complementos ,visando um marketing mais insinuante. E faz pena tanto acessório, porque os livros são até bons e actualmente muito bonitos, coisa que até há pouco tempo não preocupava muito autores ou editores.
Mas há, no meio de tudo isto, algumas coisas realmente novas, simples e alegres.Os anúncios televisivos , acabaram por vencer-nos e passámos a aceitá-los como um mal necessário, sendo quase todos de uma insensatês ou de um mau gosto desesperantes. Pois não é que surge agora um anúncio de telemóveis muito bem disfarçado e que, para meu gosto, é um verdadeiro achado de originalidade ? fala de meias,uma rosácea feita de peúgas coloridas, às riscas em todas as cores do arco-iris, agitadas num movimento delirante...Uma alegria para os olhos ! E, é claro, aparece com um pedido às avós para não oferecerem mais meias, neste Natal, em favor do tal telemóvel... Recordo um primo meu, hoje já avô, naturalmente, que, quando lhe perguntavam que prenda ele queria, nos seus cinco anos, ele respondia :_ " Roupinha, não; roupinha não ! " E sorrio com a recordação... Agora, ele teria de certo gostado mais desta "roupinha" do que do cinzentão e indiscreto telemóvel...Quem sabe ?...
Tantas e tão desviantes abordagens a uma época que desde sempre idealizei de simplicidade, amor discreto, esperança e confiança no " outro" como partes estruturantes da nossa dignidade ,daquela que depreendo quando leio no GÉNESIS, creio que no sexto dia da criação, façamos o Homem à nossa imagem e semelhança...E tudo então parecia que iria ser bom... Contudo, sempre, mais do que nunca, agora,temos visto o predomínio do ter e a frustração da minha, da nossa derrota no ser...
Vamos sempre cedendo à fraqueza, ao desânimo, ao cansaço ou à incapacidade... Mas seguimos.
Ainda acreditamos no Pai Natal , brincam connosco.Este senhor nórdico impôs-se e,como a muitas outras coisas, fomos tendo que aceitá-lo. Sabemos quem ele é, ele sabe quem nós somos, nada mais. Assim, à custa de tantas mixagens e de tanta mea culpa lá vamos chegando ao NATAL, ao que é muito nosso, de cada um de nós, e só cada um de nós é que sabe disso !!!

23 novembro 2008

ADVENTO 2007/2008

Tanta coisa acontece nos trezentos e tal dias de um ano e afinal nós não mudamos quase nada por causa disso ! Misterioso é como é que envelhecemos ! Quando se é mais novo, diz-se que crescemos mas, ao reconhecermos que muitas das nossas atitudes durante o ano vivido, até poderiam classificar-se de imaturas porque sempre tão iguais a outras anteriores , essa ideia de mais valia para nós fornecida pelo binómio acontecimentos / consequente aprendizagem de Vida, fica seriamente desacreditada .De Advento a Advento,o que mudou para mim?
Fiz mais um ano, graças a uma terapeuta chamada CATARINA ,tenho menos dores nuns sítios, mas vão-me aparecendo outras noutros sítios, dei as minhas lições a um mesmo número de alunos, tive o mesmo apoio logístico da "minha" Valentina, às vezes assessorada pela Natália que conheço há bem mil anos, privei com os meus amigos com as frequências habituais...Tive uma ou duas revelações surpreendentes, ´pelas quais, também surpreendentemente, ainda tive uma ou duas lágrimas para chorar ( as tais imaturidades ), Li muito, li tudo ( será que isto se pode dizer ?) , escrevi muito mas não escrevi tudo...ainda... Vi muito e sei que não se pode pensar ter visto tudo...
E também rezei muito...E nunca se reza tudo. Tudo...Mas o que será rezar tudo? Alguém o sabe? Tudo isto só para dizer que POSSO e quero repetir hoje aqui tudo, mas absolutamente tudo, o que escrevi precisamente no dia 24 de Novembro de 2007.
Apenas acrescentaria esta forma de oração de ADVENTO

Senhor ! Estás chegando ?
Dizem-me que virás
E alvoraça-me a tua espera...

Quando, quando será ?

Por agora só sei
que virás como um Rei
a transformar as Dores em alegrias
e a colocar a Paz
aonde há Guerra...

Disse-mo um ISAÍAS
que em teu nome nos diz
o que dirias
se o teu Reino de AMOR
fosse na Terra, já...

SENHOR!
Quando, quando será ?...

16 novembro 2008

...nós não somos das trevas !

Na sua carta aos de Tessalónica dizia hoje São Paulo : Nós não somos da noite nem das trevas.
E como depois, São Mateus desenvolvia no seu Evangelho, a tão conhecida parábola dos TALENTOS, parece-me ser de liminar evidência que nós, os cristãos, temos, no mínimo, a obrigação de fazer bem feito e de uma maneira transparente aquilo para que fomos dotados. E o fazer bem feito conterá sempre em si uma enorme percentagem de utilidade, rendibilidade, para ter alguma razão de existir. Se assim não for, então seremos como aquele, dos três, a quem a insegurança e o medo de falhar, levaram à opção de cruzar os braços e esperar.
Mais uma vez sou levada a reconhecer que não é fácil retirar o ensinamento correcto dos conceitos expostos nos Evangelhos. Quantas vezes a argumentação do evangelista me tem levado por caminhos de que mais tarde percebo dever retroceder ! Mas hoje foi mesmo São Paulo que me veio elucidar.
Quanto burburinho, quanta perturbação temos vindo a viver ultimamente sobre o fazer ou não fazer, bem ou mal feito, algumas coisas que só algumas ou mesmo nemhumas pessoas sabem fazer ! Como é que não se percebe que não podemos ser das trevas ?...

08 novembro 2008

Uma bela manhã

Há manhãs e manhãs. Aquela em que a primeira notícia que ouvi no meu pequeno rádio de cabeceira, foi a confirmação e os ruidos da apoteose da eleição do novo presidente da AMÉRICA, foi uma daquelas manhãs positivas em que nos apetece dizer, como aprendemos com ele, yes, we can. Não posso dizer que acompanhei as várias fases da campanha, mas sempre que ouvi e vi aquele homem, tão jovem ainda, tão exposto (sentia sempre uma espécie de arrepio porque me lembrava de Luther King ), a transmitir-nos aquela imagem de força sorridente e feliz, aquela confiança nas possibilidades suas e de todos nós, ficava bem disposta, parecia até sentir-me mais nova, mais capaz...Era assim como uma indução de energia que nos permitia voltar a ter algumas esperanças... Lembrei-me então, e já o disse a alguém, de uma frase que se gravou na minha memória, pelo 11 de Setembro, escrita no Le Monde : aujourd'hui nous sommes tous des américains. Aí unia-nos a dor, o horror, o dó, a indignação e até o medo. Pois agora une-nos, acima de tudo um extremo cansaço de todo o inesperável em que as políticas de alguns políticos transformaram este nosso mundo e esta nossa vida que é única ,sem sequer pensarem que lamentavelmente,nós , os mais velhos, não temos já tempo para "viver" outra melhor... Mas o jovem O'BHAMA , mesmo reconhecendo a realidade, ainda conseguiu fazer renascer a nossa esperança, fazer reavivar todas as forças humanistas, se calhar irmãs daquelas que once upon a time levaram os inexperientes navegadores para os mares desconhecidos...Ele veio fazer o Mundo acreditar de novo em todas as capacidades do Homem, porque mostra que ele é o primeiro a acreditar e desta vez não vai ser para o desconhecido que este novo Humanismo vai atrair os modernos desbravadores... Foi num bonito discurso de assunção da nova função que completou a sua acção de fascínio sobre nós todos. Ouvi-o na televisão já pela hora do almoço... Decididamente esta fora uma bela manhã ! ! !...

02 novembro 2008

Datas



As datas ! As datas e a sua pressão sobre a nossa memória...sobre as nossas recordações ! E a nossa subserviência... Porquê ainda ?


Afectos, gratidões, afinidades, encontros e desencontros, dias felizes, dias sofridos, perdas, achados ...e o amor, os amores ... saudade sempre ! ! !


E foi o 31 de Outubro , e foi o 1 de Novembro, e é o 2 de Novembro... Cada um, sua borbulhante preia-mar a esparzir-se sobre a secura de tantos, tantos, areais que se julgam desertos...


Reza-se, claro. Que seria de nós sem aquela certeza de que algures... ... Um dia... ou hoje, hoje mesmo , a nossa recordação encontra eco onde talvez «memória desta vida se consente »...


Com uma enorme braçada de crisântemos vamos sem bem saber a quais, aonde, porque as lágrimas que procuramos reter nos não deixam ver bem. preferenciar caminhos...