Alguém sabe o que é viver-se numa grande cidade que até é apelidada de caótica pelos jornalistas da pequena crónica urbana e por aqueles que nela suam "suor e lágrimas" em horas de ponta, e nessa mesma cidade descobrir-se único e só habitante do seu prédio, rodeado de prédios vazios na totalidade, no coração de uma avenida deserta, com um ou outro carro a passar a espaços largos e sem cão, nem gato e principalmente sem pessoas a pisarem passeios ou asfalto ? Alguém viveu alguma vez uma experiência semelhante ? VIVEU, insisto. Não se trata de nenhum pesadelo, daqueles em que sentimos os pés colados a um chão sinistro, numa rua negra... Não : isto de que falo vivi-o eu em pleno Domingo de Páscoa nesta cidade de Lisboa onde pode acontecer esta coisa espantosa de toda a gente do mesmo prédio sair, sair mesmo da cidade, sendo esta migração geral num bairro, num quarteirão, numa freguesia... Assomar a uma janela, de tarde como de noite ,e ver tudo fechado, olhar as bordas dos passeios para os quais, quando dá jeito, até sobem os carros, e não ver lá nem um só estacionado, e ver de vez em quando passar um autocarro dos transportes públicos, a uma velocidade vertiginosa porque não há "clientes" nas paragens, isto adquire foros de pesadelo mesmo.
Não quero, não devo, especular sobre as várias realidades que subjazem neste acontecimento.Afora os medos reais que isto suscita, atropelam-se as conjecturas sociológicas e até políticas.Que se diz, que se explica e como, àquele ÚNICO que ficou, naturalmente só porque não PODIA ir ? Repare-se que este não poder engloba TODAS as circunstâncias impeditivas...
A pensar, quando se fala em solidariedade.
2 comentários:
Lindo... me identifiquei com o poema, e inconscientemente cri que fora feito para o meu ser!
Gostei do seu blog...
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